A g n u s D e i

PATRÍSTICA E FONTES CRISTÃS PRIMITIVAS

PROTO-EVANGELHO DE TIAGO

Estamos diante de uma obra que suscitou muita controvérsia: o "Proto-Evangelho de Tiago", também conhecido como "Livro de Tiago" ou, ainda, "A Natividade de Maria".

Sua autoria é atualmente tida como desconhecida, embora o autor se identifique como Tiago (cf. XXV,1), provavelmente para oferecer um certo grau de credibilidade ao seu escrito. Os críticos, porém, não concordam que esta obra tenha como autor um judeu em virtude do desconhecimento que o autor parece ter da religião judaica.

A data de composição é tão discutida quanto a sua autoria, variando de 60 dC até o fins do séc. II. Boa parte dos estudiosos crê que a obra tenha surgido antes mesmo dos Evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, motivo pelo qual, a partir do séc. XVI, passaram a chamar a obra de "Proto-Evangelho", isto é, "primeiro Evangelho".

Seja como for, o fato é que tal escrito gozou de grande estima entre os primeiros cristãos, incluindo grandes figuras eclesiásticas como Clemente de Alexandria, Orígenes, São Justino e Santo Epifânio. Também notável foi sua contribuição para a Mariologia e a liturgia da Igreja.

A obra se inicia com o nascimento de Maria Santíssima, sua consagração no Templo, o casamento com José, a concepção de Jesus, a visita dos Reis Magos e a perseguição e matança das crianças inocentes.

Alguns pontos chamam a atenção: os nomes dos pais de Maria: Joaquim (I,1) e Ana (II,1); esta é estéril (II,1); Maria é consagrada ao Templo aos 3 anos de idade (VII,2) e lá fica até completar os 12 anos (VIII,2); José é então escolhido para ser o esposo de Maria (IX,1), embora fosse velho e tivesse filhos, por ser viúvo (IX,2; cf. Mc 6,3 e paralelos); a anunciação feita por Gabriel é extremamente semelhante ao que lemos em Mateus e Lucas, embora possua maior riqueza de detalhes (XI); o mesmo se pode dizer do episódio em que Maria visita sua parente Isabel (XII); em virtude de sua gravidez inesperada, é interpelada, juntamente com José, pelos representantes do Templo (XV e XVI); indo para Belém, terra de José, por ocasião do censo, Maria vem dar à luz ao seu Filho em uma caverna e uma parteira é chamada para os serviços de parto (XVIII,1); para espanto da parteira, Maria permanece virgem mesmo após o parto de Jesus (XIX e XX); a visita dos Magos também segue próxima ao Evangelho de Mateus; por fim, quando Herodes manda matar as crianças, Zacarias, pai de João Batista, é assassinado no Templo, acusado de ter escondido seu filho, que também contava com poucos meses de idade (XXIII e XIV).