A g n u s D e i

PATRÍSTICA E FONTES CRISTÃS PRIMITIVAS
Proto-Evangelho de Tiago
Tradução: Carlos Martins Nabeto

VI

1. A menina se fortalecia a cada dia que passava. Quando atingiu os seis meses, sua mãe a colocou no chão para ver se conseguia ficar de pé. Ela andou sete passos e voltou para o colo de sua mãe. Pegando-a, disse [Ana]: "Glória ao Senhor! Não andarás mais nesse chão até que eu te apresente ao Templo do Senhor". Fazendo um oratório em casa, não permitia que nada de vulgar ou impuro se lhe tocassem nas mãos [de Maria]. Convocou também algumas meninas hebréias, todas virgens, para brincarem com ela.

2. Completando a menina seu primeiro ano, ofereceu Joaquim um grandioso banquete. Convidou os sacerdotes, os escribas, o Sinédrio e todo o povo de Israel. Apresentando a menina, os sacerdotes a abençoaram com estas palavras: "Ó Deus de nossos pais: bendiz esta menina e que seu nome seja glorioso e eterno por todas as gerações". O povo todo respondeu: "Amém, amém, amém". Joaquim também apresentou a menina aos príncipes e [sumos] sacerdotes que a abençoaram assim: "Ó Deus altíssimo: volta teus olhos para esta menina e conceda-lhe uma bênção perfeita, não sendo-lhe necessária qualquer outra [bênção] no futuro".

3. Sua mãe levou-a para o oratório e deu-lhe de mamar. Entoou então um hino ao Senhor Deus: "Farei um cântico ao Senhor, meu Deus, porque me visitou / Afastou de mim as injúrias dos inimigos e me deu um fruto santo que é único e múltiplo a Seus olhos / Quem levará aos filhos de Rubem a notícia de que Ana amamentou? / Ouvi! Ouvi, ó Doze Tribos de Israel! Ana está amamentando!" E deixando a menina repousar na câmara existente no oratório, saiu e passou a servir os convidados; terminada a ceia, [os convidados] saíram alegres e louvando ao Deus de Israel.

VII

1. Os meses foram passando para a menina e quando ela completou dois anos, Joaquim disse a Ana: "Vamos levá-la ao Templo do Senhor para cumprirmos a promessa que fizemos, para que o Senhor não reclame e nossa oferenda se torne inaceitável a seus olhos". Ana respondeu: "Vamos esperar que ela complete três anos, para que não venha sentir saudade de nós". E Joaquim respondeu: "Vamos aguardar".

2. Quando completou três anos, Joaquim disse: "Chame as meninas hebréias, virgens, e que, duas a duas, tomem uma lâmpada acesa para que a menina [Maria] não olhe para trás e seu coração se prenda por algo fora do Templo de Deus". E assim foi feito e subiram ao Templo do Senhor. Então o sacerdote a recebeu, a beijou e abençoou-a. E disse [à Maria]: "O Senhor engrandeceu o teu nome diante de todas as gerações. No final dos tempos, manifestará em ti Sua redenção aos filhos de Israel".

3. Então fez [Maria] sentar-se no terceiro degrau do altar e o Senhor derramou Sua graça sobre ela. Ela dançou e cativou toda a casa de Israel.

VIII

1. Então seus pais foram embora cheios de admiração e louvaram ao Senhor porque a menina não olhou para trás. E Maria passou a ficar no Templo como uma pequena pomba, recebendo seu sustento das mãos de um anjo.

2. Entretanto, quando completou doze anos, os sacerdotes se reuniram e disseram: "Maria atingiu os doze anos no Templo. O que devemos fazer para que ela não macule o Santuário?" Então disseram ao sumo sacerdote: "O altar está a tua disposição. Entra e ora por ela pois o que o Senhor te revelar, isso será o que deveremos fazer".

3. O sumo sacerdote colocou então o manto com as doze sinetas, adentrou ao santo dos santos e orou por ela. Mas eis que um anjo do Senhor lhe apareceu e disse: "Zacarias, Zacarias! Sai e chama todos os viúvos do povoado; que cada um traga um bastão e a quem o Senhor mostrar um sinal, este será o seu esposo". Então os mensageiros percorreram toda a Judéia e se apresentaram ao soar da trombeta.

IX

1. José separou seu bastão e se reuniu aos demais [viúvos]. Então cada um pegou seu bastão e foram procurar o sumo sacerdote. Este pegou todos os bastões e, adentrando ao Templo, pôs-se a orar. Ao concluir as orações, pegou os bastões e devolveu-os aos seus respectivos donos, mas em nenhum deles manifestou sinal algum. Contudo, quando José pegou o último bastão, uma pomba saiu dele e pôs-se a sobrevoar-lhe a cabeça. Então o sacerdote disse: "A ti caberá receber sob teu teto a Virgem do Senhor".

2. Mas José respondeu: "Tenho filhos e já estou avançado na idade; ela, porém, ainda é uma menina. Não quero ser zombado pelos filhos de Israel". Então argumentou o sacerdote: "Tema ao Senhor, teu Deus, e recorde do que Ele fez com Datã, Abiron e Coret: a terra se abriu e eles foram enterrados em virtude de sua rebelião. Tema também tu agora, José, para que o mesmo não aconteça à tua casa".

3. Então ele, cheio de temor, recebeu [Maria] sob seu teto. Depois disse-lhe: "Tomei-te do Templo e deixo-te agora na minha casa, mas prosseguirei as minhas obras. Voltarei em breve, mas o Senhor te protegerá".

X

1. Os sacerdotes se reuniram e decidiram fazer um véu para o Templo do Senhor. O sacerdote disse: "Chama as moças imaculadas da Tribo de Davi". Os ministros saíram e após procurarem, encontraram sete virgens. Então o sacerdote recordou-se de Maria e os mensageiros a buscaram.

2. Depois que foram levadas para dentro do Templo, disse o sacerdote: "Vejamos quem bordará o ouro e o amianto, o linho e a seda, o zircão, e o escarlate e a púrpura real". O escarlate e a púrpura real couberam a Maria; esta as tomou e levou para sua casa. Nessa época, Zacarias ficou mudo e foi substituído por Samuel até que recuperasse a voz. Maria tomou o escarlate em mãos e pôs-se a tecê-lo.