A ESTRUTURA HIERÁRQUICA DA IGREJA
Tradução: José Fernandes Vidal
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- "Nossos apóstolos também sabiam do ofício do episcopado através de Nosso
Senhor Jesus Cristo, pois houve uma discussão a respeito. Por essa razão,
portanto, como obtiveram um conhecimento antecipado disso, eles indicaram
aqueles [ministros] já mencionados, e posteriormente lhes deram instruções,
para que quando algum deles falecesse, os outros aprovassem homens que os
pudesse suceder no ministério" (São Clemente de Roma, 1ª Epístola aos Coríntios 44,1-2; ~96 dC).
- "De comum acordo, elejam para vós mesmos bispos e diáconos, homens que são
do agrado do Senhor, de cordial disposição, desapegados do dinheiro, honestos
e bem treinados, pois eles, também, vos prestarão o serviço sagrado dos
profetas e pregadores" (Didaqué 6,24; ~100 dC).
- "Cuidado para que todos obedeçam ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai, e o
presbiterato como aos apóstolos, e prestem reverência aos diáconos como
sendo instituição de Deus. Que os homens não façam nada relacionado à
Igreja sem o bispo. Que seja considerada uma apropriada Eucaristia aquela
que é (celebrada) seja pelo bispo, seja por alguém a quem ele a confiou.
Onde o bispo estiver, ali esteja também a comunidade (dos fiéis); assim como
onde Jesus Cristo está, ali está a Igreja Católica. Não é legal sem o bispo
batizar ou celebrar festa de casamento; mas tudo o que ele aprovar, isso
será aprovado por Deus, de modo que qualquer coisa que seja feita, seja segura
e válida" (Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses 8; ~110 d.C).
- "Hegésipo e os acontecimentos que ele relata - em seu quarto livro
de Memórias que chegou até nós - nos deixou um registro completíssimo de sua
constatação. Neles, conta que numa viagem para Roma, encontrou um grande
número de bispos e que recebeu a mesma doutrina deles. É apropriado ouvir o
que ele diz depois de fazer algumas observações sobre a Epístola de
Clemente aos Coríntios. Suas palavras são as seguintes: 'E a Igreja de Corinto continuou em sua
fé verdadeira até que Primo se tornasse bispo de Corinto. Eu conversei com
eles em minha viagem para Roma e permaneci com os Coríntios vários dias,
durante os quais nós estivemos mutuamente recordando a verdadeira doutrina.
E quando cheguei a Roma permaneci ali até o tempo de Aniceto, cujo diácono
era Eleutério. E Aniceto foi sucedido por Sótero, e esse por Eleutério. Em
cada sucessão, e em cada cidade se confirmou que foi pregado de acordo com a
lei, os profetas e o Senhor'" (Hegesipo, em fragmento na História Eclesiástica de Eusébio
4,22; ~180 dC).
- "Então, segundo minha opinião, os graus dos bispos, presbíteros, diáconos
aqui na Igreja, são imitações da glória angélica, e daquela providência que -
as Escrituras dizem - espera aqueles que, seguindo as pegadas dos apóstolos,
viveram na perfeição da retidão de acordo com o Evangelho" (Clemente de Alexandria,
Stromata 6,13; 202 dC).
- "Nosso Senhor, cujos preceitos e recomendações devemos observar, descrevendo
a honra de um bispo e a ordem de Sua Igreja, falou no Evangelho, dizendo a
Pedro: 'Eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha
Igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. Eu te darei as
chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos
céus; e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.'
Daí, através do passar dos tempos e sucessões, a ordem dos bispos e a
hierarquia da Igreja permaneceu, de modo que a Igreja está fundamentada
sobre os bispos, e cada ato da Igreja está controlado por aqueles mesmos
administradores. Desde então, está fundamentada na lei divina. Eu me admiro
de que alguns, com atrevida temeridade, preferiram me escrever como se
escrevessem em nome da Igreja; isso quando a Igreja foi estabelecida sobre
os bispos e o clero, e todos os que permaneceram firmes na fé"
(Cipriano, Epístola 26,33 [aos proscritos]; 250 dC).
- "E antes de receberdes a graça do episcopado, ninguém vos conhece; mas após
vos tornardes um deles, os leigos esperam que lhes leveis o alimento, ou
seja, as instruções das Escrituras... Porque se todos pensassem que são
vossos atuais conselheiros, como vos tornaríeis um cristão, se não
houvesse bispos? Ou se nossos sucessores herdassem o modo de pensar, como
os cristãos estariam aptos a se manterem unidos?" (Atanásio, Epístola 49,2.4 [a Dracôncio];
~366 dC).
- "O Santo Apóstolo Paulo dando a forma de indicar um bispo e estabelecendo
por suas instruções uma inteiramente nova qualidade de membro da Igreja,
ensinou com as seguintes palavras o somatório de todas as virtudes que leva
alguém à perfeição: 'manter firme a palavra de acordo com a doutrina da
fé, ser apto a ensinar a sã doutrina e a preparar mantenedores. Porque há
muitos homens desregrados, faladores vãos e enganadores'.
Assim ele destaca que as virtudes essenciais de uma boa disposição e de
moralidade são as únicas proveitosas para um bom serviço do sacerdócio se,
ao mesmo tempo, não faltam as qualidades necessárias para saber como pregar
e preservar a fé, porque alguém não é corretamente feito um bom e proveitoso
sacerdote simplesmente por uma vida inocente ou por um mero conhecimento da
pregação" (Hilário de Poitiers, Sobre a Trindade 8,137; 359 dC).
- "O objeto imediato de minha solicitação é a seguinte: fique dispensado
pelo velho censo o clero de Deus, presbítero e diáconos"
(Basílio, Epístola 104 [a Modesto]; 372 dC).
- "Deveis saber que esse Fausto veio a mim com cartas do Papa, referindo que
ele pode ordenar bispo" (Basílio, Epístola 121, [a Teódoto]; 373 dC).
- "Não há, contudo, tal estreiteza na excelência moral da Igreja Católica de
modo que devesse limitar meu apreço à vida daqueles aqui mencionados. Pois
que quantos bispos conheço mais excelentes e santos, quantos presbíteros,
quantos diáconos e ministros dos divinos sacramentos, de todas os tipos,
cujas virtudes me parecem mais admiráveis e mais dignas de recomendação em
virtude da dificuldade maior de preservá-las em meio das múltiplas
variedades de homens e nesta vida de distúrbios!" (Agostinho, Sobre a Moral da Igreja
Católica, 69; 388 dC).
- "Quem pode testar a si mesmo pelas regras e padrões que Paulo estabeleceu
para bispos e presbíteros, de que devem ser temperados, serenos, não dados
ao vinho, não violentos, aptos a ensinar, irrepreensíveis em todas as
coisas, e além do alcance dos maus, sem encontrar considerável desvio da
linha reta das regras?" (Gregório de Nazianzeno, Em Defesa do sua Exaltação, 69;
389 dC).
- "Você encontrará ali o diácono, encontrará o sacerdote, encontrará o
sacerdote principal [i.é, o bispo]" (Ambrósio, Dos Mistérios, 2; 391 dC).
- "Para finalizar, é bom - penso - examinar as altas qualificações em vossa
eleição, para que aquele que for indicado para a Presidência possa ser
adequado para o posto. Agora as injunções apostólicas não nos direcionam a
procurar por um elevado nascimento, saúde e distinção aos olhos do mundo,
entre as virtudes de um bispo" (Gregório de Nissa, Epístola 13 [à Igreja de Nicomédia]
~390 dC).
- "Martinho, [bispo de Tours,] então, vestido com seus paramentos, entrou
para oferecer o sacrifício a Deus. E eis que, à luz do dia - estou para
narrar algo maravilhoso - quando estava ocupado em abençoar o altar, como é
usual, nós vimos um globo de fogo arremessado de sua cabeça, de forma como
se projetado para o alto, a chama produzindo uma cabeleira de
extraordinário tamanho.
E, embora tenhamos visto isso acontecer num dia memorável, no meio de uma
grande multidão de gente, somente uma das virgens, um dos presbíteros, e
apenas três dos monges, testemunharam a visão: mas por que os outros não
viram isso é assunto que não cabe a nós julgar... Tenho às vezes dito,
Sulpício, que Martinho costumava vos contar que tal abundância de poder não
lhe fora concedido só quando era bispo, mas como contou tê-lo possuído antes
que tivesse alcançado o cargo.
Agora, se isto é verdade, ou melhor, já que isto é verdade, podemos
imaginar quão grandes coisas realizou, sendo apenas um monge, sem nenhuma
testemunha, e guardou consigo; pois vimos que, quando bispo, realizou tão
grande maravilha ante os olhos de todos.
Muitos, não há dúvidas, desses anteriores acontecimentos foram conhecidos
pelo mundo, e não puderam ser escondidos, mas - dizem - foram inumeráveis os
que evitava ostentar, guardando em segredo e não permitindo chegar ao
conhecimento dos homens, porque como ele transcendia as capacidades de um
simples homem, numa consciência de sua própria eminência, e se desviando
da glória do mundo, ficava contente simplesmente em ter os céus como uma
testemunha de sua obra" (Sulpício Severo, Diálogos 2,4; 400 dC).
- "Aos bispos companheiros e diáconos: 'O que está acontecendo? Há vários
bispos numa única cidade? Certamente não. Mas chamam os presbíteros de
bispos. Pois eles, no entanto, intercambiam os títulos, e o bispo era um
diácono. Por essa razão escrevendo a Timóteo, ele ( São Paulo) disse a um
que era bispo: 'Exercei vosso ministério'; pois aquele que é bispo
demonstra por seus sermões: 'a ninguém imponhais as mãos
inconsideradamente', e de novo: 'o carisma que vos foi
concedido com a imposição das mãos dos anciãos'. Contudo,
os presbíteros não devem impor as mãos sobre um bispo'"
(João Crisóstomo, Homilia aos Filadélfos 1,1; ~404 dC).
- "Pois nos dias primitivos da fé, quando somente uns poucos, aqueles que
eram os melhores, foram conhecidos pelo nome de monges, que como tinham
acolhido este modo de vida através do evangelista Marcos de santa memória, o
primeiro a presidir a Igreja de Alexandria como bispo...
Mas muitas vezes isso os levou a um desejo de tomar as santas ordens, e um
desejo pelo sacerdócio ou diaconato. Isso significa que se um homem, mesmo
contra sua vontade, recebe esse ministério, deve exercê-lo com tal
santidade e correção que seja capaz a se pôr como exemplo de santidade mesmo
aos outros sacerdotes; e que ele se sobreponha sobre todo o povo, não
somente por sua maneira de vida, mas também por seu ensinamento e pregação.
Isso leva um homem, mesmo quando fica sozinho e mora numa cela, a percorrer
em pensamento e imaginação a habitação e mosteiros dos outros e a fazer
muitas conversões sob o incentivo da exultação mental"
(João Cassiano, Institutos 2,5; 11,14; 435 dC).
- "Theotokos [=Mãe de Deus], mas não no sentido imaginado por certa heresia ímpia que
sustenta que ela deva ser chamada a Mãe de Deus não por outro motivo,
mas apenas porque deu à luz àquele homem que posteriormente se tornou Deus,
exatamente como falamos de uma mulher como mãe de um sacerdote, ou mãe de um
bispo, querendo dizer que ela era tal não por ter dado à luz a alguém já
sacerdote ou bispo, mas dado à luz a alguém que posteriormente se tornou
sacerdote ou bispo. Não dessa forma, afirmo, foi a santa Maria Theotokos - a Mãe de Deus - mas,
pelo contrário, como disse anteriormente, porque em seu sagrado ventre se
operou o mais sagrado dos mistérios pelo qual, por singular e única unidade
de Pessoa, como a Palavra na carne é carne, assim o Homem em Deus é Deus"
(Vicente de Lerins, Comentários 15; ~445 dC).
- "Porque embora aqueles que não estão na lista do clero estejam livres para
usufruírem o prazer da companhia da esposa e da procriação de filhos,
contudo, para demonstração da pureza da completa continência, mesmo aos
subdiáconos não é permitido o casamento carnal, porque 'aqueles que são
(casados), ajam como se não fossem' e aqueles que não são, devem
permanecer solteiros.
Contudo, se nessa ordem, para aquele que é o quarto na Cabeça (isto é, em
Cristo), isso é observância mais digna, quanto mais deve ser observado pelo
primeiro ou segundo ou terceiro, para que ninguém que tenha sido listado
para exercer, seja os deveres do diaconato ou a honorável posição do
presbítero ou a preeminência do bispo, venha a ser descoberto como ainda não
tendo refreado os desejos por sua esposa"
(Leão Magno, Epístola 14,5 [a Anastácio]; 446 dC).
- "Através de meu muito amado filho Laurêncio, presbítero, e Pedro, o monge,
eu recebi vossa carta fraterna, na qual dizeis que estais ansioso para me
interrogar sobre muitos pontos. Mas de vez que meus antes citados filhos me
encontraram atacado com problemas de gota, e em sua pressa para que os
dispensasse logo, deixaram-me com a mesma dolorosa doença, não tive
possibilidade de vos responder, como deveria ter feito, pela grande extensão
de cada uma de suas questões.
[A primeira questão de Agostinho]- Eu pergunto, santo Padre, com relação aos
bispos, como eles poderiam viver com seu clero? Com respeito às oferendas
dos fiéis que são recebidas no altar, em quantas porções devem ser
divididas, e como os bispos devem chegar a um acordo com eles, na Igreja?
[Resposta de São Gregório, papa]- A Sagrada Escritura,
que - não há dúvida - conheceis bem, sobre isso dá testemunho, e especialmente as
epístolas do abençoado Paulo a Timóteo, na qual ele se esforça em instruí-lo
como devia se comportar na casa de Deus.
Agora é costume da Sé Apostólica emitir uma ordem aos bispos, quando
ordenados, para que todos os emolumentos recolhidos sejam repartidos em
quatro divisões, a saber: uma para o bispo e manutenção de sua casa por
causa da hospitalidade e recepção; uma outra para o clero; uma terceira para
o pobre; e uma quarta para repartição pelas Igrejas. Mas, de vez que como em
vossa congregação tendes sido treinados nas regras do monastério, não
deveis viver separados do vosso clero na Igreja dos Anglos, que pela graça
de Deus recebeu recentemente a fé, e seria correto instituir aquela forma de
vida que havia no começo da Igreja recém-criada, que era a de nossos Pais,
entre os quais ninguém se dizia proprietário das coisas como se fossem suas,
mas eles tinham todas as coisas em comum"
(Gregório Magno, Epístola 64 [a Agostinho]; ~600 dC).
