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SÃO JERÔNIMO: A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA |
» CAPÍTULO I
Há algum tempo, recebi o pedido de alguns irmãos para responder a um
panfleto escrito por um tal Helvídio. Demorei para fazê-lo, não porque fosse
tarefa difícil defender a verdade e refutar um ignorante sem cultura, que
dificilmente tomou contato com os primeiros graus do saber, mas
porque fiquei preocupado em oferecer uma resposta digna, que desmoronasse os
seus argumentos.
Havia ainda a preocupação de que um discípulo confuso (o único sujeito do
mundo que se considera clérigo e leigo; único também, como se diz, que
pensa que a eloquência consiste na tagarelice, e que falar mal de alguém
torna o testemunho de boa fé) poderia passar a blasfemar ainda mais, caso
lhe fosse dada outra oportunidade para discutir. Ele, então, como se
estivesse sobre um pedestal, passaria a espalhar suas opiniões em todos os
lugares.
Também temia que, quando caísse na realidade, passasse a atacar
seus adversários de forma ainda mais ofensiva.
Mas, mesmo que eu achasse
justos todos esses motivos para guardar silêncio, muito mais justamente
deixaram de me influenciar a partir do instante em que um escândalo foi
instaurado entre os irmãos, que passaram a acreditar nesse falatório. O machado
do Evangelho deve agora cortar pela raiz essa árvore estéril, e tanto ela
quanto suas folhagens sem frutos devem ser atiradas no fogo, de tal maneira
que Helvídio - que jamais aprendeu a falar - possa aprender, finalmente, a
controlar a sua língua.
» CAPÍTULO II
Invoco o Espírito Santo para que Ele possa se expressar através da minha
boca e, assim, defenda a virgindade da bem-aventurada Maria. Invoco o Senhor
Jesus para que proteja o santíssimo ventre no qual permaneceu por
aproximadamente dez meses, sem quaisquer suspeitas de colaboração de
natureza sexual. Rogo também a Deus Pai para que demonstre que a mãe de Seu
Filho - que se tornou mãe antes de se casar - permaneceu Virgem ainda após o
nascimento de seu Filho.
Não desejamos entrar no campo da eloquência, nem
usar de armadilhas lógicas ou dos subterfúgios de Aristóteles. Usaremos as
reais palavras da Escritura; [Helvídio] será refutado pelas mesmas provas
que empregou contra nós, para que possa ver que lhe foi possível ler
conforme está escrito, e, ainda assim, foi incapaz de perceber a conclusão
de uma fé sólida.