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IRMÃOS E IRMÃS DE JESUS
Autor: rev. William G. Most
Fonte: Petersnet
Tradução: Carlos Martins Nabeto

Mt. 13,55 e Mc. 6,3 nomeiam as seguintes pessoas como irmãos de Jesus: Tiago, José (ou Joses - os manuscritos variam na forma), Simão e Judas.

Mas Mt. 27,56 diz que junto à cruz estava Maria, a mãe de Tiago e José. Mc. 15,40 diz que ali estava Maria, a mãe de Tiago, o menor, e José.

Logo, embora a prova não seja conclusiva, parece que os dois primeiros, Tiago e José (ou Joses), - exceto se supormos que estes eram outras pessoas com os mesmíssimos nomes - eram filhos de outra mãe, e não da Mãe de Jesus.

Vemos aqui que o termo “irmão” foi usado para indicar aqueles que não eram filhos de Maria, a Mãe de Jesus. Do mesmo modo, facilmente poderia ter ocorrido o mesmo com os outros dois “irmãos”, Simão e Judas.

Além disso, se Maria tivesse outros filhos e filhas naturais no tempo da crucificação, seria estranho Jesus ter pedido a João para que cuidasse dela. Especialmente porque Tiago, o “irmão do Senhor” ainda estava vivo em 49 dC (cf. Gál. 1,19); certamente ele poderia ter cuidado dela...

Lot, que era sobrinho de Abraão (cf. Gen. 11,27-31), é chamado de “seu irmão” em Gen. 13,8 e 14,14-16. O termo hebraico e aramaico ah era usado para expressar vários tipos de graus de parentesco (v. Michael Sokoloff, "A Dictionary of Jewish Palestinian Aramaic", Bar Ilan University Press, Ramat-Gan, Israel, 1990, p. 45). O hebraico não tem palavra para os parentes. Eles poderiam dizer ben-dod para expressar filho de um tio por parte de pai, mas para outros graus de parentesco eles não precisavam construir uma frase complexa, tal como “filho do irmão de sua mãe” ou “filho da irmã de sua mãe” (para consultar expressões complexas do aramaico, v. Sokoloff, pp. 111 e 139).

O próprio Meier reconhece (p. 331) que “todos estes argumentos em conjunto não podem produzir uma certeza absoluta”. Nós acrescentamos: em Mc. 3,20-21, os parentes de Jesus vão até ele para prendê-lo - os irmãos mais novos não poderiam tomar tal atitude na cultura semita, pois Jesus era o primogênito. E, quando Jesus contava com 12 anos, ao visitar o Templo de Jerusalém, seus irmãos mais novos deveriam acompanhá-lo (exceto as irmãs), se de fato existissem; de outra forma, Maria teria ficado em casa cuidando dos filhos mais novos.

Vemos, assim, que não há evidências sólidas na Escritura que nos permitam supor que Nossa Senhora tenha tido outros filhos. Há, por outro lado, respostas lógicas para todas as objeções formuladas. Porém, a razão decisiva é o ensino da Igreja; os credos mais antigos chamam Maria de aei-parthenos, ou seja, “sempre Virgem”.

Meier parece querer usar um machado para cavar... Em seu longo artigo publicado na CQP (1992, pp. 1-28), ele diz, na última página, que deveríamos perguntar se a hierarquia das verdades não nos deixaria aceitar protestantes dentro da Igreja Católica sem que pedíssemos a eles para que acreditassem na virgindade perpétua de Nossa Senhora. De fato, existe uma hierarquia de verdades, algumas mais básicas que outras. Mas isso não significa, em absoluto, que possamos incentivar a negação de uma doutrina que vem sendo repetidamente ensinada pelo Magistério Ordinário, bem como pelos mais antigos credos (portanto, infalíveis). Realmente, se alguns protestantes querem aderir à Igreja sem aceitar a autoridade do Magistério, então jamais serão católicos de fato, ainda que aceitem todos os demais ensinamentos. Aceitar realmente a autoridade significa aceitar tudo, e não quase tudo.

Até mesmo Meier, tão inclinado à negação da virgindade perpétua, admite (pp. 340-341) que existe uma estranha tradição rabínica que diz que Moisés, após seu primeiro contato com Deus, deixou de se relacionar sexualmente com sua esposa. Isto aparece primeiro em Filo de Alexandria e foi suportado, depois, pelos rabinos. Ora, se Moisés, em virtude de um contato externo com Deus, agiu dessa maneira, porque então não poderia ocorrer o mesmo com Nossa Senhora, que foi preenchida pela divina presença para a concepção de Jesus e carregou a própria Divindade em seu ventre durante nove meses? De fato, Lutero e Calvino, como Meier reconhece (p. 319), aceitaram a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Por que, então, Meier luta tanto contra ela?

Realmente, os protestantes, se forem lógicos, não podem apelar para provas bíblicas, a partir do momento em que nem mesmo têm como determinar quais livros são inspirados. Lutero achava que se um livro pregasse a justificação somente pela fé, então ele era inspirado; caso contrário, não. Mas, lamentavelmente, ele nunca conseguiu provar que isso era verdade (tanto ele quanto eu poderíamos escrever livros sobre o assunto e nem por isso seriam inspirados); eis que vários livros da Bíblia não mencionam a justificação pela fé... É que, infelizmente, Lutero não sabia o que São Paulo queria dizer com a palavra fé... (sobre este assunto, consultar a obra fundamental do Protestantismo, “Interpreter's Dictionary of the Bible”, Supplemento, p. 333).