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DECRETO GELASIANO
Tradução: Carlos Martins Nabeto

IV. [ESCRITOS E AUTORES ECLESIÁSTICOS QUE PODEM SER LIDOS]

E embora "nenhum outro fundamento possa ser estabelecido exceto aquele que já o foi, Cristo Jesus", também para a edificação da Santa Igreja romana, logo após os livros do Antigo e do Novo Testamentos, que acima enumeramos, estão também de acordo com o cânon, não sendo proibida a aceitação dos seguintes escritos:

1. Do Santo Sínodo de Nicéia, onde 318 bispos presididos pelo imperador Constantino Magno condenaram o herege Ário; do Santo Sínodo de Constantinopla, presidido por Teodósio de Augusto, no qual o herege Macedônio livrou-se de merecer a condenação; do Santo Sínodo de Éfeso, no qual Nestório foi condenado, com o consentimento do bem-aventurado papa Celestino, presidido por Cirilo de Alexandria sobre a cátedra do magistrado e por Arcádio, bispo enviado da Itália; do Santo Sínodo da Calcedônia, presidido por Marciano Augusto e por Anatólio, bispo de Constantinopla, no qual as heresias nestorianas e eutiquianas, juntamente com Dióscoro e seus simpatizantes, foram todos condenados.

2. Mas se houve, também, a convocação de concílios de menor autoridade (que estes quatro) pelos santos padres, decretamos que estes devem ser mantidos e recebidos. Abaixo, acrescentamos as obras dos santos padres que são recebidas pela Igreja Católica: as obras do bem-aventurado Cecílio Cipriano, mártir e bispo de Cartago; as obras do bem-aventurado Gregório Nanzianzeno, bispo; as obras do bem-aventurado Basílio, bispo da Capadócia; as obras do bem-aventurado João, bispo de Constantinopla; as obras do bem-aventurado Teófilo, bispo de Alexandria; as obras do bem-aventurado Cirilo, bispo de Alexandria; as obras do bem-aventurado bispo Hilário Pictaviense; as obras do bem-aventurado Ambrósio, bispo de Milão; as obras do bem-aventurado Agostinho, bispo de Hipona; as obras do bem-aventurado Jerônimo, sacerdore; as obras do bem-aventurado Próspero, homem extremamente religioso.

3. Também a carta do bem-aventurado papa Leão destinada a Flaviano, bispo de Constantinopla, onde, se houver alguma parte do texto disputada, não sendo aquela que foi recebida desde a antiguidade por todos, seja anátema; também as obras e cada um dos tratados dos padres ortodoxos, desde que não se desviem em nada do [ensinamento] comum da Santa Igreja romana, e que não tenham nunca se separado da fé ou adoração, mantendo-se em comunhão pela graça de Deus até o último dia de suas vidas, decretamos que sejam lidos; também os decretos e cartas oficiais que os bem-aventurados papas, a partir de Roma, enviaram em consideração aos mais diversos padres, em várias épocas, devem ser sustentados com admiração.

4. Também os atos dos santos mártires, que receberam a glória a partir de suas múltiplas torturas e seus maravilhosos triunfos de estabilidade. Qual católico duvidaria que a maioria deles sofreria ainda mais agonias com todas as suas forças, tudo pela graça de Deus e auxílio dos demais? Entretanto, conforme o velho costume da precaução, eles não devem ser lidos na Santa Igreja romana, já que os nomes de seus autores não são apropriadamente conhecidos, não sendo possível separá-los dos não-crentes e imbecis, ou porque o que declaram está abaixo da ordem dos eventos que ocorreram; por exemplo: os [atos dos] Ciricianos e Julitanos, bem como os dos Georgianos, e os sofrimentos de outros como estes, que parecem ter sido compostos por hereges. Em razão disto, como foi dito, para não darmos pretexto para uma zombaria casual, não os lemos na Santa Igreja romana. Porém, veneramos, juntos com a supramencionada Igreja, todos os mártires e seus gloriosos sofrimentos, que são bem conhecidos de Deus e dos homens, com toda devoção. Também as vidas dos padres Paulo, Antonio e Hilarião, bem como todos os eremitas descritos pelo homem bem-aventurado que é Jerônimo, recebemos com honra. Também os atos do bem-aventurado bispo Silvestre, de cátedra apostólica, é permitido, ainda que o nome de quem os escreveu seja desconhecido, já que sabemos que é lido por muitos católicos na cidade de Roma e também pelo antigo uso das gerações que é imitado pela Igreja. Também os escritos sobre a descoberta da cruz e certas outras novelas que contam sobre a descoberta da cabeça do bem-aventurado João Batista, por serem romances, alguns dos quais lidos pelos católicos; entretanto, quando chegam às mãos dos católicos, devem [considerar] primeiro os dizeres do bem-aventurado apóstolo Paulo: "Provai todas as coisas, retendo o que for bom". Também Rufino, homem extremamente religioso, escreveu diversas obras sobre os atos eclesiásticos, e algumas interpretando as Escrituras; contudo, a partir do momento em que o venerável Jerônimo mostrou que ele fez uso de certas liberdades arbitrárias em alguns desses livros, acreditamos que os [livros] que são aceitáveis são aqueles que o bem-aventurado Jerônimo, supra citado, considera como aceitáveis; e não apenas aqueles de Rufino, mas também aqueles de qualquer homem que for lembrado por seu zêlo por Deus e pela religião da fé. Também algumas obras de Orígenes que o bem-aventurado homem Jerônimo não rejeita, nós recebemos para leitura; mas dizemos que o resto de sua autoria deve ser rejeitado. Também a crônica de Eusébio de Cesaréia e os livros de sua história da Igreja - embora haja muita coisa duvidosa no primeiro livro de sua narração e, mais tarde, tenha escrito um livro louvando e desculpando o cismático Orígenes - sobre as suas narrações de feitos memoráveis, que são úteis para a instrução, não dizemos a ninguém que devam ser rejeitadas. Também louvamos Orósio, homem extremamente erudito, que nos escreveu uma bem necessária história contra as calúnias dos pagãos e sua "brevidade maravilhosa". Também a obra pascal escrita pelo venerável homem Sedúlio, redigida em versos complexos, merece significante louvor. Também a incrível e trabalhosa obra de Juvêncio, nós não a rejeitamos, por estarmos impressionados.