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Carta Encíclica
VIGILANTI CURA

III. MEIOS DE VIGILÂNCIA E CENSURA

Vigilância difícil quanto à produção dos filmes

29. Em que consiste, para o momento presente, esta vigilância? O problema da produção de filmes morais seria radical e felizmente resolvido, se fosse possíveI obter uma produção cinematográfica, inspirada completamente nos princípios da moral cristã. Por este motivo, não Nos cansaremos de louvar aqueles que se consagraram e se consagrarão ao nobre intuito de elevar a cinematografia à função de educação humana e às exigências da consciência cristã. Empreendam isto com a competência de técnicos e não de meros diletantes, para evitar prejuízo de dinheiro e de energia.

Necessidade de vigiar os filmes que estão nas telas

30. Por ser, porém, como Nós bem o sabemos, muito difícil organizar uma tal indústria, principalmente por motivos de ordem financeira, e como, de outro lado, é necessário exercer influência sobre todos os filmes para que não haja ação prejudiciaI, no que diz respeito à religião, moral e sociedade civil, é necessário que os pastores de almas se interessem pelos filmes que estão atualmente ao alcance do povo cristão.

Apelo aos diretores, autores e atores catóticos

31. Quanto à indústria dos filmes, exortamos ardentemente aos Bispos de todos os países produtores, e especiaImente a vós, Veneráveis Irmãos, a fazer um apelo a todos os catóIicos que de qualquer forma participam desta indústria. Eles devem pensar seriamente nos seus deveres e nas responsabilidades que têm como filhos da Igreja; devem usar de seu empenho para reproduzir nos filmes que produzem, ou que ajudam a produzir, princípios sãos e morais. O número de católicos executores ou diretores, autores e atores nos filmes não é pequeno, e infelizmente sua influência na confecção dos filmes nem sempre foi de acordo com a sua fé e suas idéias. Será dever dos bispos estimulá-los a fazer concordar sua profissão com a consciência de homens respeitáveis e discípulos de Jesus Cristo. Aí, como em todos os campos de apostolado, os pastores de almas certamente encontrarão excelentes colaboradores nos que militam nas fileiras da Ação Católica, aos quais nesta Carta Encíclica fazemos ardoroso apelo para que dêem seu concurso sem tréguas e sem desfalecimento também a esta campanha.

Deveres dos bispos

32. Periodicamente os bispos farão bem em relembrar à indústria cinematográfica que, entre as preocupações de seu ministério pastoral, está a obrigação de se interessarem por todas as formas de diversão sã e honesta, porque são responsáveis diante de Deus pela moralidade do povo, a eles confiado, mesmo quando se diverte. O ministério sagrado que exercem força-os a dizer clara e abertamente que um divertimento impuro destrói as fibras morais de uma nação. O que lhes pedem não diz respeito somente aos católicos, mas a todo o público que freqüenta o cinema. Vós, em particular, Veneráveis Irmãos, vós podeis procurar obter dos produtores de filmes este fito, lembrando que eles, nos Estados Unidos, livremente se comprometeram a tomar por si a grave responsabilidade que têm perante a sociedade.

33. Os bispos do mundo inteiro, porém, devem esforçar-se para esclarecer os industriais do cinema, fazendo-os compreender que uma força tão poderosa e universal pode ser dirigida utilmente para um fim muito elevado, como seia o aperfeiçoamento individual e social da humanidade. E não é só questão de evitar o mal. Os filmes nao devem somente ocupar as horas vagas de lazer, mas podem e devem, por sua força magnífica, ilustrar as mentes dos espectadores e dirigi-los positivamente para todas as virtudes.

Indicações práticas:

  1. Compromisso anual dos católicos

    34. Dada a importância da matéria, julgamos oportuno traçar algumas indicações práticas. Antes de tudo, todos os pastores de almas se esforçarão por obter dos fiéis que façam anualmente, como os católicos dos Estados Unidos da América, a promessa de se absterem dos filmes que ofendem a verdade e as instituições cristãs. Este compromisso pode ser obtido de modo mais eficz por meio da Igreja paroquial ou das escolas; e para este fim os bispos reclamarão a diligente cooperação dos pais e das mães de família, que têm, nesta matéria, graves deveres e responsabilidades. Igualmente podem usar da imprensa católica, que mostrará, com afinco e proveito, a importância desta santa cruzada.

  2. Boletins regulares com a classificação dos filmes

    35. A execução dessa promessa solene requer que o povo conheça claramente quais os filmes permitidos a todos, quais os filmes permitidos com reserva, quais os filmes prejudiciais ou positivamente maus. Isto exige confecção de listas e sua publicação regular, em forma de boletins, em que, a miúdo, se classifiquem os filmes em forma acessível a todos.

    36. Seria para desejar que se pudesse formar uma lista para o mundo inteiro, porque a mesma lei moral está em vigor para todos. Mas, como se trata de publicações que interessam a todos os ramos da sociedade, sábios e ignorantes, ao povo e governos, o juízo sobre um filme não pode ser o mesmo em toda parte. Realmente, as circunstâncias e formas de vida variam em todos os países: não seria por isto prático estabelecer uma só lista para o mundo inteiro. Se cada nação conseguir uma lista com a classificação dos filmes, como indicamos mais acima, já se terá obtido em princípio a direção desejada.

  3. Criação de juntas nacionais e suas funções

    • Produção e classificação de filmes

      37. Para este fim, é imprescindivelmente necessário que os bispos criem, em cada país, uma Junta Nacional permanente de revisão, que promova a produção de bons filmes, classifique os outros e divulgue o julgamento ao clero e fiéis. Essa junta seria, com grande proveito, ligada aos organismos centrais da Ação Católica, que está, como é do conhecimento geral, na dependência imediata dos Bispos. Esta obra revisora, para surtir os efeitos infalível e ordenadamente, deve, em cada nação, representar uma unidade e ser administrada centralmente.

      38. Naturalmente, por motivos ponderosos, os Bispos, nas suas respectivas dioceses e por meio de sua comissão diocesana, poderão aplicar critérios mais severos à lista nacional feita com normas mais gerais, conforme as condições da sua região, mesmo vetando os filmes já admitidos na lista geral pela razão de ter que estabelecer normas válidas para toda a nação.

    • Organização e coordenação de salas de cinema

      39. Esta junta deve ter também a incumbência de organizar salas de cinemas existentes na paróquia e nas associações católicas, de maneira a garantir a essas salas filmes selecionados. Devido à organização dessas salas que se tornam bons clientes para a indústria cinematográfica, pode-se alcançar que essa indústria produza filmes correspondentes completamente a nossos princípios, filmes, que serão depois fornecidos não só às salas católicas, mas também a todas as outras.

      40. Compreendemos que a instituição de semelhante junta exige dos fiéis não poucos sacrifícios e despesas. Mas a importância do cinema e a necessidade de proteger a pureza dos costumes do povo cristão e a moralidade da nação inteira, exigem terminantemente essa despesa e trabalho. A eficiência poderosa de nossas escolas, de nossas associações de Ação Católica e mesmo do sagrado ministério está diminuída e posta em perigo pela chaga dos maus cinemas, tão prejudiciais.

    • A estruturação das juntas nacionais

      41. A junta deve ser formada por pessoas conhecedoras da técnica cinematográfica e bem firmes nos princípios morais da doutrina católica; devem ser estas pessoas dirigidas por um padre escolhido pelo bispo. Um acordo oportuno ou troca de informações entre os centros dos diversos países poderão tornar mais eficaz e harmoniosa a obra de revisão dos filmes, tomando na devida consideração as diversas condições e circunstâncias. Só assim será possível conseguir, com o auxílio dos escritores católicos, esta admirável unidade no sentir, julgar e agir.

    • Compreensão e apoio dos bispos

      42. Os centros devem inspirar-se oportunamente não só nas experiências já adquiridas pelos Estados Unidos, mas também nos trabalhos realizados pelos católicos do mundo inteiro. Se os membros componentes destes diversos centros caíssem em erro, embora com as melhores intenções, o que acontece com todas as coisas humanas, os Bispos tratarão, com sua prudência pastoral, de reparar estes erros e ao mesmo tempo amparar quanto possível a autoridade e estima dos referidos centros, reforçando-os com outros companheiros de autoridade, ou substituindo os que se revelarem incapazes.

Frutos que advirão da vigilância dos bispos

43. Se os bispos do mundo aceitarem a responsabilidade para exercer esta vigilância onerosa sobre o cinema, do que não duvidamos, pois conhecemos seu zelo pastoral, poderão fazer uma grande obra para proteção da moralidade do povo nos momentos de repouso. Assim procedendo, terão a seu favor a aprovação e a cooperação de todos os espíritos bem formados, católicos e nao-católicos; contribuirão para o progresso desta grande potência internacional, que é o cinema, com a elevada intenção de promover o melhor ideal e as regras de uma vida mais santa.

A bênção apostólica

44. Para dar maior força a estes votos que dimanam do Nosso coração paternal, inploramos o auxílio da graça divina, como penhor da qual Nós vos concedemos, com efusão de nossa alma, a vós, Veneráveis Irmãos, e a vosso clero e ao povo a vós confiado, a Bênção Apostólica.

- Dado em Roma, junto a S. Pedro, dia 29 de junho, festa dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, no ano de 1936, décimo quinto ano do Nosso Pontificado.

Pius pp. XI