A g n u s D e i

UT UNUM SINT
João Paulo II
25.05.1995

EXORTAÇÃO

100. Tendo-me dirigido recentemente aos Bispos, ao clero e aos fiéis da Igreja Católica para indicar o caminho a seguir na celebração do Grande Jubileu do Ano Dois Mil, afirmei, entre outras coisas, que "a melhor preparação para a passagem bimilenária não poderá exprimir-se senão pelo renovado empenho na aplicação, fiel quanto possível, do ensinamento do Vaticano II à vida de cada um e da Igreja inteira"159. O Concílio é o grande início - como que o Advento - daquele itinerário que nos conduz ao limiar do Terceiro Milênio. Considerando a importância que a Assembléia Conciliar atribuiu à obra de restauração da unidade dos cristãos, nesta nossa época de graça ecumênica, pareceu-me necessário corroborar as convicções fundamentais que o Concílio esculpiu na consciência da Igreja Católica, recordando-as à luz dos progressos entretanto realizados para a plena comunhão de todos os batizados.

Não há dúvida que o Espírito Santo está em ação nesta obra, conduzindo a Igreja para a plena realização do desígnio do Pai, em conformidade com a vontade de Cristo, expressa com vigor tão veemente na oração que, segundo o quarto Evangelho, os seus lábios pronunciam no momento em que Ele se encaminha para o drama salvífico da sua Páscoa. Tal como então, também hoje Cristo pede que um ímpeto novo reanime o empenho de cada um em ordem à comunhão plena e visível.

101. Exorto, portanto, os meus Irmãos no episcopado a darem toda a atenção a tal empenho. Os dois Códigos de Direito Canônico incluem entre as responsabilidades do Bispo a de promover a unidade de todos os cristãos, apoiando toda a ação ou iniciativa, tendente a promovê-la, na certeza de que a Igreja a isso está obrigada por expressa vontade de Cristo160. Isto faz parte da missão episcopal e é uma obrigação que deriva diretamente da fidelidade a Cristo, Pastor da Igreja. Todos os fiéis, porém, são convidados pelo Espírito de Deus a fazer o possível, para que se recomponham os laços de união entre todos os cristãos e cresça a colaboração entre os discípulos de Cristo: "A solicitude na restauração da união vale para toda a Igreja, tanto para os fiéis como para os pastores. Afeta a cada um em particular, de acordo com a sua capacidade"161.

102. O poder do Espírito de Deus faz crescer e edifica a Igreja através dos séculos. Com o olhar voltado para o novo milênio, a Igreja pede ao Espírito a graça de reforçar a sua própria unidade e de a fazer crescer até à plena comunhão com os outros cristãos.

Como consegui-lo? Em primeiro lugar, com a oração. A oração sempre deveria incluir aquela inquietação que é anelo pela unidade, e portanto uma das formas necessárias do amor que nutrimos por Cristo e pelo Pai, rico de misericórdia. A oração deve ter a prioridade neste caminho que empreendemos com os outros cristãos rumo ao novo milênio.

Como consegui-lo? Com a ação de graças, porque não nos apresentamos a esse encontro de mãos vazias: "Mas o próprio Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza (...) e intercede por nós com gemidos inefáveis" (Rom 8,26), para nos dispor a pedir a Deus aquilo de que temos necessidade.

Como consegui-lo? Com a esperança no Espírito, que sabe afastar de nós os espectros do passado e as recordações dolorosas da separação; Ele sabe conceder-nos lucidez, força e coragem para empreender os passos necessários, de modo que o nosso empenho seja cada vez mais autêntico.

E se nos viesse a vontade de perguntar se tudo isto é possível, a resposta seria sempre: sim. A mesma resposta ouvida por Maria de Nazaré, porque a Deus nada é impossível.

Voltam-me ao pensamento as palavras com que S. Cipriano comenta o Pai Nosso, a oração de todos os cristãos: "Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia, e manda-o retirar-se do altar para ir primeiro reconciliar-se com seu irmão, porque só as orações de um coração pacífico poderão obter a reconciliação com Deus. O sacrifício mais agradável a Deus é a nossa paz e a concórdia fraterna, e um povo cuja união seja um reflexo da unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo"162.

Ao alvorecer do novo milênio, como não solicitar ao Senhor, com renovado ímpeto e consciência mais amadurecida, a graça de nos predispormos, todos, para este sacrifício da unidade?

103. Eu, João Paulo, humilde servus servorum Dei, fazendo minhas as palavras do apóstolo Paulo - cujo martírio, unido ao do apóstolo Pedro, conferiu a esta Sé de Roma o esplendor do seu testemunho -, digo a vós, fiéis da Igreja Católica, e a vós, irmãos e irmãs das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, "trabalhai na vossa perfeição, confortai-vos mutuamente, tende um mesmo sentir, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco (...). A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós" (2Cor 13,11.13).

Dado em Roma, junto de S. Pedro, no dia 25 de Maio - solenidade da Ascensão do Senhor - do ano 1995, décimo sétimo de Pontificado.

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