O dr. Bernard Nathanson, médico ginecologista e obstetra de Nova Iorque (EUA), durante muitos anos, foi chamado de "O Rei do Aborto". De fato, como ele mesmo declara, foi responsável por mais de 75.000 abortos, tendo dirigido, a partir de 1971, a maior clínica abortista do mundo onde, em apenas dois anos (1970-1972), foram realizados 60.000 abortos. Antes, disso, em 1969, fundara a Liga Nacional de Direito ao Aborto (NADAL) e participara de diversos eventos sempre defendendo sua posição pró-aborto. Ao tomar contato com as modernas e avançadas tecnologias da área de medicina, acabou por reconhecer que a vida começa a partir do momento da concepção e, reaproximando-se de Deus a partir de 1980, converteu-se ao Catolicismo, onde recebeu o batismo aos 09.12.1996. Atualmente, divulga por todo o mundo suas descobertas científicas contra o aborto, através de palestras, livros e filmes como "O Grito do Silencioso", "A Resposta" e "O Eclipse da Razão", sendo que este último chegou a ser apontado para o Oscar.
Transcrevemos, logo abaixo, a auto-apresentação do dr. Bernard Nathanson feita no Congresso Teológico-Pastoral do Riocentro (Rio de Janeiro-RJ), aos 03.10.1997, conforme se encontra publicado na revista "Pergunte e Responderemos" nº 429 (fev/98) e, a seguir, outras declarações do mesmo médico, publicadas na revista "Pergunte e Responderemos" nº 424 (set/97).
"Eis um testemunho e não uma apresentação sobre o aborto. Desculpas antecipadas, pois poderia parecer uma apresentação muito pessoal. Nasci na fé judia e de tradição hebraica. Por uma série de circunstâncias, que não menciono, perdi a fé completamente em minha infância e adolescência, a ponto de chegar a ser chamado de judeu ateu. Então, sem moral centrada em Deus, e impulsionado por firme dedicação a uma situação relativista e também uma moral relativista ou de situação, coloquei-me, imediatamente, a serviço do pior e mais completo dos males: o ataque à vida. Fui um dos organizadores do NARAL, nos Estados Unidos, que era um grupo cabalístico poderoso para lutar contra todas as leis que se opunham ao aborto. Percorri os Estados Unidos por inteiro e estive em outros países, nesta cruzada a favor do aborto. Simultaneamente fui Diretor da maior Clínica de abortos do mundo ocidental e durante dois anos fui totalmente responsável por 75.000 (setenta e cinco mil) abortos.
Falo-lhes, agora, de minha conversão à vida, médica e cientificamente, sem dúvida, uma conversão incompleta. Médica e cientificamente minha conversão à vida deu-se, de maneira clara, pela minha compreensão cada vez maior da vida das pessoas e, sobretudo, da vida e do ciclo da vida desse pequeno ser humano, tão pequeno e vulnerável que se encontra no ventre materno. No início dos anos 70, havia uma grande quantidade de informações que me foram convencendo de que se tratava de um ser humano em toda a extensão da palavra. Era alguém que tinha uma moral, uma dignidade, e que necessitava de proteção e intervenção. Contudo, não foi tanto a informação científica, mas a mão de Deus em mim, que me fez compreender essa informação. Eis o crucial; não apenas o acúmulo de informações, mas a capacidade de assumi-las e trabalhar com perspectivas novas, que alguns chamaram uma troca de paradigmas, de opinião, isto se deve a Deus, que me deu tal capacidade.
Com o passar do tempo, na década de 70, todas as razões sociais e médicas para o aborto, eu não as aceitava mais. Atualmente, creio que não há razões sociais, econômicas, médicas e psicológicas para o aborto; não há razão alguma. Tive, então, oportunidade de compreender minha missão como médico e doutor, através da leitura da Encíclica do Papa João Paulo II1 em que afirma que a missão de gerar a vida não deve estar exposta à vontade arbitrária do homem. Devem-se reconhecer os limites invioláveis do homem quanto ao seu corpo, que a ninguém é permitido ultrapassar.
Não se podem suprimir tais limites, por respeito à integridade do organismo humano e suas funções de acordo com os princípios anteriormente mencionados e conforme a compreensão correta do princípio da totalidade ilustrado pelo Papa Pio XII.
Minha conversão científica e médica à vida, moralmente incompleta, exigia dois elementos:
Não basta compreender que não devemos matar; sou contra toda forma de assassinato, pena de morte e guerra. Não matar é um mandamento, dom precioso de Deus; a sua criação perfeita é o homem.
Tornei-me porta-voz da defesa da vida; mas apresento-me aos senhores com o sangue de 75.000 (setenta e cinco mil) vidas inocentes em minhas mãos. Uma destas vidas é a de meu próprio filho.
Falhei também como esposo com vários casamentos falidos; falhei como pai, como médico. Lembro-me agora da passagem de São Mateus: "Ouviram-se em Ramá gritos, soluços e lamentos. Raquel não quer consolar-se porque chora seus filhos mortos".
E como diz o Eclesiastes: "Nada é útil, tudo é vaidade". Não podia suportar este peso moral intolerável, inimaginável, e continuar vivendo; cheguei a pensar seriamente no suicídio. Uma vez mais, porém, a mão de Deus ajudou-me, e um sacerdote amigo2 ajudou-me a sair do nada. Ele perguntou-me se gostaria de conversar com ele e eu aceitei. Nossas conversas duraram 5 (cinco) anos e me levaram a compreender que no sofrimento e no amor infinito de Cristo encontraria o que estava buscando: a fé, o perdão, a absolvição e a vida eterna.
A fé cristã me mostrou a posição primordial da morte no mundo dos homens e o ápice da perfeição humana: amar infinitamente. Mostrou-me também que o mundo não é como alguns cientistas seculares dizem: acontecimento de uma oportunidade insignificante; não somos uma espécie como segundo pensamento num mundo vazio. Os cientistas, sem dúvida, trabalham com a razão, mas esta deve aperfeiçoar-se com o auxílio da fé3. Sem Deus como seu centro, a teoria científica mais sofisticada, mais abstrata, em minha opinião, é nihilismo inigualável na história. Inclusive, o grande filósofo Bersgon, ao morrer, disse: "Todo bem que ocorre no mundo, ocorre desde que Cristo se fez presente nele". Assim creio.
A mão de Deus trabalha, uma vez mais, de maneira misteriosa. Quando na Universidade de Montreal, no Canadá, estudava Medicina, no fim dos anos 40, tinha como professor de psiquiatria Carl Stern, judeu de Viena, emigrado para o Canadá. Tornamo-nos bons amigos; eu era um de seus estudantes favoritos e tentou convencer-me a estudar Psiquiatria. Não sabia, entretanto, que o dr. Stern se estava convertendo ao Catolicismo, quando o conheci. Alguns anos depois, deparei-me com um livro que ele escreveu naquela época, em que falava de sua conversão. O último capítulo desse livro é uma longa carta ao seu irmão que estava em Israel. Seu irmão continuava sionista e Stern queria explicar-lhe sua conversão. A carta é longa, mas leio a última passagem, que fala de suas convicções. Diz ele:
Permitam-me concluir meu testemunho dizendo-lhes: o amor é o poder mais duradouro deste mundo. Esta força criadora tão formosamente exemplificada na vida de Cristo, é o instrumento mais poderoso de que dispomos para buscar a humanidade, a paz e a justiça."