A g n u s D e i

Testemunhos de Conversão
MARTY E KRISTINE FRANKLIN

O seguinte testemunho foi publicado na edição especial da revista norte-americana "Sursum Corda!" de 1996 e traduzido e publicado em português pela revista "Pergunte e Responderemos" nº 419 de Abr./97.

Muitos dos convertidos do protestantismo ao Catolicismo começam por questionar as suas crenças protestantes ao perceberem as muitas interpretações dadas à Sagrada Escritura por homens de boa vontade.

Kristine Franklin foi educada como "uma cristã bíblica" fundamentalista em Tacome (Washington). O seu marido Marty era de família episcopal (anglicana) e fora batizado numa comunidade chamada "Vida Jovem" (anglicana).

Explica Kristine Franklin que aprendeu desde criança a valorizar enormemente a vocação de missionário(a) em terra estrangeira: "Meu irmão e minha irmã mais velhos se tornaram missionários, ele na Espanha, em El Salvador, em Costa Rica e no México, afastando os católicos das igrejas de Roma. Minha irmã e seu marido foram à Nova Guiné".

Logo depois de se casarem, Marty e Kristine se puseram a planejar sua atividade missionária. Levaram oito anos a se preparar para tanto, e dois anos e meio para angariar fundos que lhes permitissem viajar para além-mar. O casal foi primeiramente para Costa Rica, depois para a Guatemala.

Havia na Guatemala grande número de missionários protestantes, trabalhando entre católicos. Dizia Kristine: "...trabalhando com grande sucesso, porque os católicos não estão devidamente instruídos na fé e - esta é a minha opinião - porque os missionários americanos, ao chegarem, oferecem vantagens de vida de estilo americano".

Disse ainda Kristine: "Quando estávamos na Guatemala, várias coisas se tornaram muito claras para mim. Uma delas era que, apesar de toda a minha educação religiosa, eu nada sabia a respeito do Catolicismo. Só tinha noção daquilo que me haviam dito e de que era uma religião falsa".

Num grupo de estudos da Bíblia, Kristine Franklin encontrou pela primeira vez uma católica romana muito fiel.

"Olhando para trás agora, verifico que ela foi para mim um desses marcos ao longo da estrada. Era uma mulher profundamente devota, provavelmente da minha idade; não era missionária. Tornava-se muito claro, a partir das suas palavras e da sua conduta, que era uma católica muito dedicada a Jesus Cristo. Foi surpreendente para mim, depois que ela se foi, ouvir as outras mulheres se referirem às suas tentativas de a evangelizar, pois era óbvio, para mim, que ela não precisava de ser evangelizada.

Outra coisa que me impressionou, é que meu marido estava dando aulas para crianças norte-americanas e canadenses, pertencentes a cerca de quarenta denominações. Assim pudemos tomar consciência do que era o protestantismo americano na América Latina; também fomos bombardeados pela realidade do protestantismo, que é um conjunto de grupos nos quais cada um tem sua mensagem própria.

Entre aqueles que trabalham em áreas rurais, há um acordo tácito sobre essas diferenças: de um lado da montanha, acham-se os pentecostais e, do outro lado, os metodistas. Estes dizem àqueles: 'Se vocês não ensinarem ao meu povo que ele tem que falar em línguas para receber o Espírito Santo, nós não diremos à gente de vocês que eles têm que batizar suas crianças".

Além de sentir-se perturbado por essa ampla variedade de doutrinas e práticas existentes entre os missionários, o casal Franklin foi impressionado pelo analfabetismo ou quase analfabetismo de alguns membros do clero protestante.

"Alguns têm apenas a instrução primária e logo são feitos pastores. Outros proclamavam a si mesmos ministros do Evangelho, sem ter o devido aprendizado; talvez tivessem um exemplar de partes da Escritura Sagrada. Eles traziam um monte de perguntas. Você não pode traduzir a Bíblia para o linguajar de cada um deles. Você tem que lhes ensinar uma maneira totalmente nova de ver o mundo. E você tem que lhes transmitir um sistema de interpretação da Bíblia.

E aqui está a pergunta: ...qual sistema?"

Apesar de tudo, esta não era a questão mais difícil.

"Para mim, era realmente intrigante o fato de que eu vinha de um nível de instrução e vivia numa região em que havia 60% de analfabetos. Comecei a me colocar perguntas como: 'Como alguém se pode tornar cristão se não sabe ler? Se minha responsabilidade, como cristã, consiste em conhecer minha Bíblia por dentro e por fora e entender de teologia e estudá-la diariamente e chegar a conclusões teológicas próprias (quero dizer que o protestantismo está baseado na interpretação pessoal que cada um dá à Bíblia), como é que aquele povo poderia realizar isso?

Que é que esse povo tem de cristão se ele não sabe ler? E nunca chegarão a ler. Que é que Deus jamais teve em vista para eles?' E pense agora: há atualmente poucos séculos que tais povos da América Latina podem conseguir ler, mas no resto do mundo há uma multidão de gente que não sabe ler. Que é o Evangelho para eles? Quem será o responsável pela tarefa de ir até eles para lhes pregar a verdade?".

O casal Franklin pôs-se a discutir estas e outras perguntas. Se, de um lado, havia boas novas pelo fato de que a Guatemala se estava protestantizando, de outro lado a história da Europa Ocidental sugeria que as coisas não iam tão bem.

"As nações européias que se passaram para o protestantismo em consequência da Reforma, são agora países sem Deus. Quando a Reforma os atingiu, os povos foram protestantizados por um certo número de gerações; depois destas, quase como consequência natural, se tornaram sociedades atéias.

De acordo com o meu modo de ver, isto acontece porque, se você introduz o princípio do livre exame e da interpretação privada (pessoal) da Bíblia, você, na verdade, está introduzindo o povo no conceito de que a verdade é algo de subjetivo. Ora, o Catolicismo e nossa fé cristã estão baseados em verdades objetivas.

E o povo pode deixar de crer em princípios absolutos de Moral. Na igreja protestante da Guatemala, de classe média, em que nós servíamos, havia um bom número de pessoas divorciadas e casadas de novo. Perguntamos a um desses casais com que fizemos amizade: 'Como é que vocês puderam renascer? Como é que vocês se tornaram protestantes?' A esposa do homem em questão o abandonara e ele não conseguira anular seu primeiro casamento... Foi-me parecendo que o protestantismo na Guatemala está muito ligado ao modo de vida norte-americano. Ele se parece com algo importado, à semelhança dos hamburgers de McDonald e Reebok".

A igreja na qual o casal Franklin servia, distava, de sua casa, cerca de dez milhas. Num domingo eles voltavam de carro para casa com seus dois filhos. Passaram diante de uma igreja católica que ficava a dois quarteirões da sua residência.

"Minha filha, que tinha quatro anos aproximadamente, disse: 'Mãe, por que não entramos na igreja católica?' Tomei consciência de que eu não tinha resposta. Eu não podia dizer: 'Poque eles não ensinam a verdade', pois eu não pensava assim... Pude verificar que nós, os protestantes, escolhíamos as nossas igrejas de acordo com a nossa doutrina pessoal. Isto faz de nós a autoridade suprema, que julga o que é verdade e o que é correto. Isto realmente me impressionou: minha interpretação da Escritura é o critério da verdade. Eu escolho a minha verdade. Eu escolho minha verdade cristã.

Então começamos a ler uma série de livros de história da Igreja. Fomos servir numa igreja episcopal, que ficava nos arredores. Nunca nos tínhamos aproximado do Catolicismo. Meu marido não entendia a Liturgia. Eu nunca tinha assistido a um ofício litúrgico.

Qual foi a nossa impressão ao presenciarmos um cerimonial litúrgico pela primeira vez?

Eu gritei. Sentia-me tão bem que me ajoelhei para a Comunhão. Havia ali uma beleza, embora tudo me parecesse muito estranho. Era bonito ver as crianças ser levadas ao Batismo. Eu fora educada numa tradição anabatista, que não aceita o Batismo de crianças, de modo que eu nunca vira tal coisa. Era grandiosa a ênfase dada à Liturgia, na qual a Eucaristia se sucedia ao sermão.

Em meu coração havia algo que eu nunca experimentara antes. Não sou uma pessoa que anda à cata de experiências, mas o que eu via era muito profundo e muito emocionante. Meu marido tinha o claro sentimento de estar entrando em sua casa. Apesar disto tudo, faltava-nos alguma coisa. Não pudemos ficar muito tempo na igreja episcopal, pois a teologia ali era quase nula. Renunciamos à nossa missão, e voltamos para os Estados Unidos. Não sabíamos onde íamos parar. Só sabíamos que não podíamos continuar a ser protestantes".

O casal Franklin tinha deixado nos Estados Unidos uma igreja muito dinâmica. Não podiam voltar para ela.

"Era difícil, pois lá tínhamos amigos. Não sabíamos onde nos agarrar. Apesar de tudo, procuramos a igreja episcopal nos Estados Unidos. Era um bom oásis. Neste começamos a estudar seriamente a doutrina católica. Não tardou muito e já podíamos superar a antítese 'Escritura versus Igreja'. Já não era difícil fazermos a síntese entre uma e outra. Algumas das outras doutrinas ainda nos pareciam difíceis... Mas, já que tínhamos vivido fora da nossa cultura, havíamos aprendido a considerar as coisas com olhos diferentes. Era o que acontecia: tínhamos aprendido a olhar o Catolicismo um pouco mais como ele é ou sem preconceitos.

Para nós, a grande questãos era: 'Que é a verdade? E como a podemos reconhecer? E sobre que base hão de repousar nossas crenças? Como havemos de decidir?' Quando nos pusemos a comparar a face nítida da Igreja Católica com a face nítida do protestantismo, a Igreja Católica ganhou nos planos da lógica, da história, da filosofia e da Escritura. Todas as nossas respostas lá se encontravam."

Marty e Kristine Franklin foram recebidos na Igreja Católica em abril de 1996.

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