A g n u s D e i

SALVIFICI DOLORIS
João Paulo II
11.02.1984

Parte VIII
CONCLUSÃO

31. Tal é o sentido do sofrimento: verdadeiramente sobrenatural e, ao mesmo tempo, humano; é sobrenatural, porque se radica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão.

O sofrimento faz parte, certamente, do mistério do homem. Talvez não esteja tão envolvido como o mesmo homem por este mistério, que é particularmente impenetrável. O Concílio Vaticano II exprimiu esta verdade assim: "na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem. Com efeito..., Cristo, que é o novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai o do Seu amor, também manifesta plenamente o homem ao homem e descobre-lhe a sublimidade da sua vocação"100. Se é verdade que estas palavras dizem respeito a tudo o que concerne o mistério do homem, então elas referem-se de modo particularíssimo, certamente, ao sofrimento humano. Quanto a este ponto, o "revelar o homem ao homem e descobrir-lhe a sublimidade de sua vocação" é sobremaneira indispensável. Acontece porém — como a experiência demonstra — isso ser particularmente dramático. Mas quando se realiza totalmente e se transforma em luz para a vida humana, é também particularmente bem-aventurante. "Por Cristo e em Cristo se esclarece o enigma da dor e da morte"101.

Concluímos as presentes considerações sobre o sofrimento no ano em que a Igreja está a viver o Jubileu extraordinário, relacionado com o aniversário da Redenção.

O mistério da Redenção do mundo está radicado no sofrimento de modo maravilhoso; e o sofrimento, por sua vez, tem nesse mistério o seu supremo e mais seguro ponto de referência.

Desejamos viver este ano da Redenção numa união especial com todos os que sofrem. É necessário pois, que se congreguem em espírito, junto à Cruz do Calvário, todos aqueles que sofrem e acreditam em Cristo; e, especialmente, aqueles que sofrem por causa da sua fé nele, Crucificado e Ressuscitado, a fim de que o oferecimento dos seus sofrimentos apresse o realizar-se da oração do mesmo Salvador pela unidade de todos102. Que para lá afluam também os homens de boa vontade, porque na Cruz está o "Redentor do homem", o Homem das dores, que assumiu sobre si os sofrimentos físicos e morais dos homens de todos os tempos, para que estes possam encontrar no amor o sentido salvífico dos próprios sofrimentos e respostas válidas para todas as suas interrogações.

Com Maria, Mãe de Cristo, que estava de pé junto à Cruz103, nós detemo-nos junto a todas as cruzes do homem de hoje.

Invocamos todos os Santos, que no decorrer dos séculos foram de modo especial participantes nos sofrimentos de Cristo. Pedimos a sua proteção.

E pedimos a todos vós que sofreis, que nos ajudeis. Precisamente a vós, que sois fracos, pedimos que vos torneis uma fonte de força para a Igreja e para a humanidade. Na terrível luta entre as forças do bem e do mal, de que o nosso mundo contemporâneo nos oferece o espetáculo, que vença o vosso sofrimento em união com a Cruz de Cristo!

A todos, caríssimos Irmãos e Irmãs, envio a minha Bênção Apostólica.

Dado em Roma, junto de São Pedro, na memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, a 11 de Fevereiro do ano de 1984, sexto do meu Pontificado.

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