"Olá Carlos Nabeto!
Que a paz de Cristo esteja com você!
Caro irmão, antes de mais nada, quero te dizer que ainda não sou
católica, embora me interesso muito por esta religião.
A minha história é bem simples: minha mãe é espírita e meu pai
católico, sendo que a família de ambos seguem a
mesma religião que os referidos. [...] Freqüentei e estudei a doutrina
espírita, já que, de comum acordo entre meus
genitores, ficou decidido que a parte religiosa da minha educação [...]
ficaria a critério de minha mãe. [Na escola,] eu gostava de assistir às aulas
de Evangelização Infantil e o fazia com prazer. [...] Já tinha assistido a algumas
missas no domingo, com a minha avó paterna. Ia esporadicamente [...]
Um dia, ainda em período letivo, uma professora não compareceu e nós
fomos liberados mais cedo. Como a escola
fica em frente à bela Catedral, me deu uma vontade enorme de entrar lá
e fazer uma oração. Chamei a amiga
que me acompanhava para fazer o mesmo (ela é católica).
Enquanto rezava, senti uma sensação maravilhosa que nunca tinha
sentido antes e a partir daquele dia, quase
que diariamente, íamos rezar... [...]
Mas este e-mail não tem a única finalidade de dar meu testemunho.
Quero saber o porquê o Espiritismo não é
visto pelos católicos como uma doutrina cristã...
Como já disse, me sinto bem na Igreja, mas acho muito ruim quando ouço
falarem alguma coisa não condizente à
doutrina Espírita. [...]
Acho que [ser cristão] é acreditar, seguir Cristo e seus preceitos. Mas o
Espiritismo tem em Jesus, o maior exemplo de
caridade, bondade... E o segue, sempre. Por favor, me dê seu parecer..."
(Naiara)
- Gostaria, primeiramente, de agradecer o seu acesso ao site do Agnus Dei
e, também, por dirigir-me suas colocações. Peço a
Deus para que estas minhas poucas linhas possam ajudá-la a tomar uma
decisão, pois vejo que você se encontra um pouco
confusa, uma vez que imagina a possibilidade de ser cristã e espírita ao
mesmo tempo, o que - possivelmente - não redundaria maiores problemas...
De fato existe uma série de incompatibilidades entre o Espiritismo e o
Cristianismo, embora, a uma primeira vista, possa
parecer que não, uma vez que tanto o Espiritismo como o Cristianismo dão
muita importância para o amor, para o exemplo,
para a caridade. Aliás, é justamente por causa disso que muitos dizem
ser cristãos e espíritas ao mesmo tempo... Citarei, no
entanto, apenas três incompatibilidades que poderão demonstrar quão
grande é o abismo que separa ambos.
- Divindade de Jesus: para o cristão Jesus é verdadeiramente Deus (João
1,1) e homem (João 1,14), isto é, Jesus é uma
pessoa que possui duas naturezas: a divina e a humana; Ele é a 2ª pessoa
da Santíssima Trindade (que é Pai, Filho e Espírito Santo; cf. Mateus
28,19); sendo Deus, obviamente, não pode ter sido criado; pode ser o
Criador, jamais a criatura. O espírita não admite a divindade de Jesus;
para ele, Jesus foi apenas um grande homem, talvez o ser mais puro que
já esteve sobre a face da Terra; prova disso está naquilo que você mesma
disse ao final do seu e-mail: "Jesus [é], o maior exemplo de caridade,
bondade... E [o espírita] o segue, sempre". Observe que - segundo o que
você aprendeu - Jesus é simplesmente o exemplo de bondade máxima, ou
seja, a obra-prima de Deus, a melhor de todas as criaturas humanas, mas
não o próprio Deus, 2ª pessoa da Santíssima Trindade... Isto explica o
porquê dos Testemunhas de Jeová e Mórmons também não poderem ser
considerados verdadeiros cristãos.
- Redenção de Jesus: o cristão reconhece que, como criatura humana,
está em situação de pecado pois herdou uma
natureza decaída (Salmo 51,5), fruto do pecado cometido contra Deus
pelos nossos primeiros pais (Gênese 3); com efeito, nenhum ser humano
pode alcançar sua própria salvação (Efésios 2,8-9). Mas, se o homem não
pode se salvar, por mais bondoso que seja, estará condenado à perdição,
afastado eternamente de Deus? Não! Deus é misericordioso e mandou seu
Filho único, Jesus, ao mundo e, através de seu sacrifício na Cruz, fomos
resgatados por seu preciosíssimo Sangue (1João 4,9); todo aquele que
professa que Jesus é o Senhor (verdadeiro Deus e homem), redentor da
humanidade, e prosperar na fé (cristã) será salvo (1João 4,15 cfr.
2Timóteo 2,12).Já o espírita não admite a redenção de Jesus; para ele,
qualquer pessoa que seguir o *grande exemplo de amor* de Jesus (ou de
qualquer outro grande "iluminado" como Buda, Gandhi etc), poderá se
salvar, por seus próprios méritos; para tanto, dispõe de um mecanismo de
salvação chamado "reencarnação", isto é, através de sucessivas
reencarnações o espírito vai se aperfeiçoando até se tornar puro, um
"espírito de luz". Observe, assim, que há um total esvaziamento da obra
de Jesus, de forma que sua morte (redentora) de nada serviu, o que é
impensável para um cristão, que reconhece que sua salvação depende única
e exclusivamente de Jesus e jamais de seus próprios méritos (cf. Atos
4,12). [Obs.: Não vou abordar aqui as inconsistências de ordem lógica da
doutrina da reencarnação, pois não vêm ao caso; por ora, basta saber que
reencarnação é completamente incompatível com a obra redentora de
Cristo].
- A Revelação: para nós, cristãos, a revelação pública se encontra na
Bíblia, que é formada pelo Antigo e pelo Novo
Testamento: o Antigo prepara para o Novo que é, por sua vez, o
cumprimento do Antigo! (ex.: quando o homem perdeu
sua santidade e, conseqüentemente, a amizade de Deus (v. Gênese
3,16-17.23), foi preparado para esperar o Dia em que
seria resgatado e, assim, voltar a contar com a amizade divina (v.
Gênese 3,15) - no que implica a sua salvação; esse Dia chegou com a
vinda de Jesus (João 1,14), cumprindo-se com sua Morte (Filipenses 2,8;
1Coríntios 1,18) e Ressurreição (1Pedro 1,3). Logo, percebemos que
existem apenas duas fases da Revelação: a preparação (Antigo Testamento)
e o cumprimento (Novo Testamento). Ora, o Novo Testamento se encerrou
com o livro do Apocalipse, redigido no final do séc. I dC; portanto,
nenhuma outra revelação pode ser admitida após ele. Já o espírita
praticamente rejeita o Antigo Testamento e, do Novo, praticamente só faz
uso do Pai Nosso e do Sermão da Montanha; por outro lado, segue tudo o
que está escrito no "Evangelho segundo o Espiritismo" e em outras obras
de Allan Kardec; este senhor, por sua vez, afirma que
o Espiritismo é a 3ª Revelação... Com base em quê? Nele próprio e nas
"revelações" recebidas pelos "espíritos
desencarnados"; observe-se, porém, que S. Paulo afirma categoricamente:
"Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu
vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja
excomungado" (Gálatas 1,8). Nenhuma novidade, portanto, deve ser
acrescentada ao que já foi revelado pelo Antigo e Novo Testamento.
Agora, se São Paulo - um
homem santo e inspirado - não acreditaria em um anjo vindo do céu - o
qual é um ser espiritual puríssimo -o que diria quanto a
acreditar em "espíritos desencarnados" que vêm - sabe Deus lá de onde -
para pregar coisas novas, tais como o homem pode redimir a si mesmo, não
existe Inferno, os entes falecidos podem ser invocados, etc.?? Qual a
garantia de que certo espírito seja realmente quem diz que é?? Como
saber se ele é um espírito de pessoa falecida ou um demônio enrrustido,
pronto para
nos desviar do reto caminho??
Citei apenas estas três coisas que incompatibilizam a fé espírita com a
fé cristã... Sei, porém, que existem muitas pessoas que
acham que podem conciliar as duas fés, pois confundem ressurreição com
reencarnação, invocação com evocação, boas obras com garantia de
salvação etc. É falta de catequese aliada com falta de cuidado na
análise do que prega cada fé. Além destas 3 coisas, muitas outras
incompatibilizam ambas as fés. Posso, porém, te garantir algo: se você
vier a conhecer tudo o que Jesus ensina e exige, na Igreja Católica,
certamente irá amá-Lo e descobrirá ainda o que significa estas palavras
Dele: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará" (João 8,32). Que
o Senhor seja louvado para todo o sempre!
Espero ter ajudado! Existem muitas outras matérias sobre a
incompatibilidade entre Cristianismo e Espiritismo no site do Agnus Dei;
você pode acessá-las mais facilmente através do sistema de Busca Interna
existente na página principal do site.