A g n u s D e i

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Como você pode defender um papa imoral?

Veja esta notícia no Universo Online: Beijo (Folha Online - 05/10/99)

O papa João Paulo 2ª beija a filha do
piloto francês de Fórmula 1 Jean Alesi.

(Reuters)

E aí? Como defender o Papa agora? Será certo beijar boca de menores? Que dizer dessa imagem? Quero sua resposta urgente. Minha fé se abalou... (XXXXXXX -> Bat-man).

  • Prezado irmão "Bat-man" (juro que não entendo essa mania que vocês têm de se ocultarem sob pseudônimos...),

    Pax Domini!

    Vi a fotografia indicada por você: esperava - pelos termos usados em seu e-mail - achar algo muito preocupante e fiquei decepcionado em não encontrar o que você afirmou com tanta certeza e seriedade.

    Solicito, então, para que você reveja com mais atenção a própria foto que você me enviou: Folha On-Line.

    Essa foto foi tirada e distribuída pela Reuters, uma das maiores agências internacionais de notícias...

    Pergunto: onde você está vendo o papa beijando a boca da criança? Será que existe uma outra foto e você me indicou a imagem errada?

    Por essa foto, só podemos concluir - sem medo de errar - três coisas:

    1. Aparecem 3 pessoas: o papa João Paulo II, o piloto de F1 Jean Alesi e a pequena filha do piloto.

    2. Corresponde à retratação de um beijo (isto é claramente afirmado na legenda).

    3. O papa vai beijar ou já beijou a criança (i.é., a foto está em "movimento" e retrata o momento anterior ou posterior ao beijo).

    Ora, a análise dos dados acima mostra claramente que o beijo de Sua Santidade na filha de Jean Alesi não foi na boca, mas no rosto - mais precisamente na bochecha. Eis as provas:

    1. No plano de fundo, bem próximo ao papa, aparece o pai da criança, Jean Alesi, esboçando alegria. Certamente não estaria demonstrando essa felicidade se visse um homem de idade - mesmo sendo ele o papa - abusando da inocência de sua pequena filha, para roubar-lhe um beijo na boca.

    2. Se o beijo tivesse sido dado na boca, certamente a foto seria bem outra (o papa com os lábios grudados nos lábios da criança) e não essa em que se percebe a existência de um movimento de cabeças e que é interessante justamente pela ilusão de ótica que proporciona (com certeza deve ter vendido muito jornal caso tenha sido publicada na 1ª página, pois a imagem realmente chama à atenção). Lembre-se que as fotos jornalísticas tem como função principal chocar... O Notícias Populares (que também pertence ao Grupo Folha), por exemplo, é um jornal que sabe muito bem se aproveitar dessa forma de comunicação para alavancar suas vendas.

    3. A legenda não explicita se o beijo foi na boca ou em qualquer outra parte do rosto; ela simplesmente diz: "beijo". Só que é mais do que óbvio que o beijo não foi dado na boca... Como vimos no item imediatamente anterior, o fato do papa dar um beijo na boca de alguém (não precisaria nem ser em uma criança) já seria motivo mais que suficiente para chamar a atenção... Ora, se a foto retratasse claramente um beijo na boca, seria compreensível a omissão da observação na legenda; como, porém, a foto não mostra claramente um beijo na boca e a legenda simplesmente nada diz, fica bem claro que o beijo se deu no rosto (lembre-se que a imagem está sugerindo movimento de cabeças!).

    4. O papa é uma pessoa pública e essa foto deve ter sido tirada durante uma de suas audiências públicas, onde é comum as pessoas (particulares e fotógrafos da imprensa) levarem câmeras fotográficas e até mesmo filmadoras. Se o beijo foi dado na boca certamente deveria existir pelo menos uma foto retratando claramente o beijo; porém, parece que tal foto simplesmente não existe pelo fato de tal beijo na boca também não ter existido...

    5. O papa João Paulo II já ocupa há 21 anos o trono de São Pedro e tem realizado um pontificado notavelmente correto; certamente não macularia seu pontificado com a atitude maliciosa que você está supondo...

    6. Na verdade, sabemos que o objetivo principal da matéria é informar que o piloto de F1, Jean Alesi, foi visitar o Vaticano e foi recebido pelo papa; a questão do beijo na filhinha do piloto é meramente acessório, secundário. Certamente o objetivo da reportagem foi cumprido: a foto demonstra incontestavelmente que o piloto e sua família foi ao Vaticano e foi recebida pelo papa que, em certo momento, abençoou também a filha do piloto com um beijo [no rosto].

    7. Se o fato tivesse realmente acontecido, * todos * os órgãos de imprensa escrita e falada teriam elevado o caso ao infinito, como o "escândalo" do momento; mas isso não ocorreu. Procurei na Internet, em vários órgãos de imprensa, inclusive na própria Reuters, e nada encontrei... Teria a Igreja "abafado" o escândalo? Até mesmo a Record teria topado se silenciar? É ruim, hein... :)

    Desta forma, a menos que você tenha conhecimento de uma outra foto ou, melhor ainda, de um filme que retrate claramente a cena do "beijo na boca", tenho por certo que este beijo "indecoroso" jamais existiu, sendo fruto de má interpretação da referida imagem em questão.

    Usando de velha forma do Direito, "actori onus probandi incumbit", isto é, "o ônus da prova cabe a quem acusa", aguardo o encaminhamento da prova definitiva, ou seja, a foto retratando claramente o "beijo na boca". Enquanto isso não acontece, faço uso de outra norma de Direito: "actore non probante, reus absolvitur", que significa: "se o autor não provar, o réu deve ser absolvido"; é o que parece ocorrer no presente caso...

    Note que ainda não estou defendendo o papa, mas apenas observando que o seu subsídio não pode ser tido como prova da sua acusação (acusação esta, aliás, muito séria, já que você está também pressupondo a existência de malícia nesse ato). Talvez você tenha tido acesso a uma informação extremamente convincente que não chegou até mim... Assim, enquanto aguardo a prova derradeira, deixo estas quatro pequenas passagens bíblicas para reflexão:

    • "Porque é do coração do homem que procedem os maus pensamentos..." (Mc 7,21).

    • "Não julgueis para que não sejais julgado" (Mt 7,30).

    • "Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra" (Jo 8,7).

    • "O que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt 12,34).