Visitei seu site. Sou evangélico, não concordo com as afirmativas com
respeito a opinião dos reformadores da Igreja. Pricipalmente porque todos
eles na verdade eram sacerdotes católicos e a ênfase de seus ensinos eram
outros (por ex.: Salvação pela graça mediante a fé e não por meio das
obras...).
Poderia contestar muitos pontos mas deixo um somente para que você responda:
Por que o catecismo católico adulterou os 10 mandamentos???
Está na própria Bíblia de edições católicas: "Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma que há em cima nos céus, nem embaixo na
terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás
culto..." (Exodo 20.4 e 5a).
Responda a você mesmo. Sinto que o Espirito Santo irá guiar-lhe em toda a
verdade. (pr. Eduardo)
Gostaria, contudo, de pedir desculpas por eu não conseguir identificar a
que "afirmações" o senhor não concorda... Creio, a julgar pela referência
aos "reformadores", que sejam aquelas em que católicos, ortodoxos,
reformados, luteranos, anglicanos e metodistas têm se entendido, muitas
vezes graças ao movimento ecumênico (como o reconhecimento da comunhão dos
santos, da virgindade perpétua de Maria, o uso das imagens sagradas etc.).
Mas neste caso, ficaria uma questão - que gostaria que o senhor também me
respondesse, quando possível: deixariam estas quatro últimas denominações
protestantes de ser consideradas evangélicas? É que, geralmente, são
computadas nas estatísticas como evangélicos, principalmente quando se
quer demonstrar o chamado "aumento do rebanho evangélico", tão propagado
pelos pastores protestantes.
Com relação à sua questão quanto a "eventual" adulteração do Decálogo pela
Igreja Católica, farei um artigo bem detalhado a esse respeito para ser
publicado na área de Apologética. Contudo, posso adiantar-lhe alguma coisa:
Esta é a divisão aceita pelos protestantes, graças aos reformadores do
séc. XVI, que adotaram o mesmo ponto de vista dos judeus helenistas.
Esta é a divisão aceita pelos judeus contemporâneos.
Esta é a divisão adotada pela Igreja cristã, seguida até hoje pela Igreja
Católica.
Saliente-se, ainda, que essa mesma divisão observada por Santo Agostinho
já tinha sido proposta no séc. II por Teófilo de Antioquia e Clemente de
Alexandria, como comprovam os escritos patrísticos.
A Igreja cristã também adotou esse meio de divisão porque, entre as três
divisões existentes, é a que se apresenta mais lógica, racional e plausível.
Recorde-se, mais uma vez, que nenhuma das três divisões é de revelação ou
autoridade divina, bastando-se por razões suficientes mas não decisivas.
A esse propósito, dom Estevão Bettencourt (osb), justamente reconhecido
como um dos maiores teólogos vivos, observa: "Fazendo isto," -
ou seja, adotando a divisão de Santo Agostinho - "teria a Igreja
alterado a Escritura Sagrada? Deveremos responder que a Igreja 'alterou'
tanto quanto os protestantes a 'alteram' quando inculcam a sua divisão.
De modo especial note-se: a divisão de Lutero e Calvino não é ensinada tal
qual pela S. Escritura nem é a dos rabinos antigos nem a dos judeus
atuais (doutro lado, tenha-se em vista a grande autoridade que Lutero e os
reformadores atribuíam a S. Agostinho)" [Diálogo Ecumênico, ed. Lumen
Christi, p.243-244].
O mesmo autor ainda observa, sabiamente: "Ademais é de frisar que a
divisão dos mandamentos do Decálogo não tem que ver com a confecção das
imagens, pois os cristãos orientais, desde os primeiros séculos, adotaram a
primeira divisão (aquela que Lutero e Calvino também adotaram) e, não
obstante, dedicam profunda veneração aos Santos representados por suas
imagens (ou ícones). Donde se vê que os cristãos orientais entenderam bem"
- eu pessoalmente diria: compreenderam muito bem - "que a
proibição de confeccionar imagens no Antigo Testamento tinha caráter provisório,
visando apenas a evitar que o povo de Israel, cercado de nações idólatras,
adotasse os cultos pagãos dos seus vizinhos" [idem, p.244]. Além disso,
com relação às imagens, é bom que se relembre que o próprio povo eleito de
Deus (os hebreus) fizeram muitas e - sem qualquer sombra de dúvidas - com
a aprovação do próprio Deus, como podemos deduzir por diversas passagens
bíblicas, tais como: Ex 25,17-22 (os 2 querubins da Arca da Aliança;
note-se que esta passagem já está além dos 10 Mandamentos, uma vez que se
encontra no cap. 25!!!), 1Rs 6,29-30, Nm 21,4-9, 1Rs 7,28-29...
Seja como for, o mais importante de tudo é observar os Seus Mandamentos.
É lógico, contudo, se você se converter ao Budismo, ao Hinduísmo, etc.
estará infringindo o 1º mandamento (no seu caso, o 2º mandamento), porque
irá adorar um ídolo e não o verdadeiro Deus revelado pela Bíblia!
Despeço-me, pedindo ao Verdadeiro Deus que o ilumine nessas questões e
agradecendo-O e adorando-O por ter me dado a mesma luz, através do
Seu Espírito Santo! Que a paz do Senhor esteja contigo!
PS - Com relação às imagens, é bom acrescentar que, graças aos diálogos
ecumênicos, alguns protestantes já não as enxergam como idolatria
(que alguns outros protestantes - principalmente pentecostais e
fundamentalistas, querem porque querem - sem razão fundamentada -
fazer crer que existe). A esse respeito, sugiro a leitura do livro
"História da Igreja", vol. 3, de Martin N. Dreher, ed. Sinodal, em
especial as págs. 53 a 57, já que se trata de uma editora protestante e
um autor protestante que defendem o uso de imagens nas igrejas de Deus.
Mas como Santo Agostinho chegou a essa conclusão?
Alguns dias depois, recebi a seguinte réplica (em azul), à qual trepliquei do seguinte modo (em preto):
Não querendo exceder no comentário, a questão não é se há ou não há
diferença na doutrina católica quanto ao texto de Exodo 20, mas que, o
"Catecismo", não reproduz fielmente o texto bíblico, mesmo as editadas por
sociedades bíblicas católicas. Essa é a questão. Com qual interesse o
fizeram?
Não irei citar as Escrituras, em outros textos, que refutam a confecção de
imagens, penso que as conhece todas. O problema não é o que está na
Bíblia, mas no que o dogma católico (tradição) , faz numa ruptura clara
com os fundamentos da fé cristã.
Perdoe-me, nada pessoal, mas que o Espírito da Verdade o revele.
Fico muito contente em perceber que graças ao e-mail anterior ficou
comprovado que a Igreja Católica não pode - jamais - ser acusada de ter
"adulterado" a Palavra de Deus, em especial quanto aos Dez Mandamentos.
Tanto é verdade que, agora, o senhor me retorna citando, única e
exclusivamente, o Catecismo católico, afirmando "que o dogma católico
(tradição), faz numa ruptura clara com os fundamentos da fé cristã".
Sinceramente, gostaria de saber o que significa "ruptura clara"; muito pelo
contrário, a história, principalmente a literatura patrística (escritos
dos primeiros cristãos, considerados do séc. I ao séc VII) demonstram que
a fé católica não tem se desviado um milímetro sequer; prova disso são os
cristãos ortodoxos e coptas do Egito que, apesar de não reconhecerem a
primazia do bispo de Roma - por motivos políticos, como também prova a
História - possuem exatamente as mesmas crenças, baseadas nos mesmos
preceitos bíblicos e da Sagrada Tradição.
Porém, creio que a sua afirmação
se firme no fato de como a Igreja católica tradicionalmente formulou os
Dez Mandamentos com o intuito de facilitar a transmissão oral já que,
ao contrário dos dias de hoje quando podemos comprar livros por um preço
irrisório - uma vez que o papel deixou de ser caro - a aquisição de
livros na Idade Antiga e Média era muito rara, em virtude de seu preço
excessivamente alto. Assim, os Dez Mandamentos ficaram:
Tal fórmula, em ponto algum contradiz o que está escrito em Ex 20,2-17 e
Dt 5,6-21, mas, muito pelo contrário, preserva, de forma popular, o
Decálogo bíblico: quem ama a Deus sobre todas as coisas não possui, nem
adora outros deuses; quem não comete adultério, não peca contra a
castidade. E, a menos que você seja Adventista do 7º Dia, a única
"alteração" que poderia ser teologicamente discutida seria a mudança do
dia de guarda do sábado para o domingo; mesmo assim, seria absurdo cair
em tal discussão já que a própria Bíblia, no Novo Testamento, responde com
suficiente autoridade sobre tal assunto.
Além do mais, condenar a Igreja
por fazer um catecismo popular, que indubitavelmente favoreceu os
analfabetos e pobres, seria o mesmo que condenar o próprio Jesus, que
estabeleceu a Igreja e que também fez um catecismo bem popular ao afirmar:
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e
de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande mandamento. O
segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas"
(Mt 22,37-40). Poderíamos condenar Jesus por ter resumido os 10 Mandamentos
em apenas 2?
Ora, como podemos notar, os 3 primeiros mandamentos (no seu caso, os 4
primeiros) realmente dizem respeito a Deus e os 7 últimos (no seu caso,
os 6 últimos) realmente se referem ao relacionamento com o próximo. Jesus
estava corretíssimo e não foi condenado pelos fariseus, em especial por
aquele que lhe dirigiu a pergunta, que segundo o v.35, era "doutor da lei",
como expressa a Bíblia na "Linguagem de Hoje", da Sociedade Bíblica do
Brasil, editora protestante.
Da mesma forma, não se pode condenar a versão popular da Igreja porque, em
essência, isto é, doutrinariamente, não comporta qualquer alteração com
relação à Bíblia.
Outra coisa: não é verdade que o "Catecismo da Igreja Católica" não
reproduz fielmente o texto bíblico! Se o senhor comprar o referido livro
em qualquer livraria católica poderá comprovar que, nas págs. 470 e 471,
os três textos são alinhados sinoticamente. E mais: da pág. 472 até a pág.
569 cada um dos Dez Mandamentos é exaustivamente explicado, com todas as
variações que o texto teologicamente comporta, inclusive apresentando, no
início de cada capítulo, novamente o texto bíblico. Sugiro, assim, que o
senhor compre o referido livro para comprovar, com os próprios olhos que,
mais do que qualquer outra igreja, a Igreja Católica é a que melhor cumpre
a Palavra de Deus (favor não confundir a Igreja Católica com a atitude de
alguns "católicos" que acham que a única coisa que devem fazer para serem
católicos é ir em missa de Natal e Páscoa. O verdadeiro católico não é
aquele que se auto-titula católico, mas aquele que segue fielmente a
Palavra de Deus).
É por isso que os verdadeiros católicos não abandonam a sua Igreja; já fui
protestante e ainda tenho vários parentes protestantes: eles mesmo reconhecem
que a "debandada" de "católicos" para as igrejas evangélicas tem mais
prejudicado essas igrejas - onde já está se tornando fato comum o uso de
cigarros e bebidas, sexo antes do casamento, aborto, homossexualismo,
desrespeito disciplinar, etc. - do que melhorado [espiritualmente]; em
outras palavras, estão ficando mais frios ao contrário do fervor inicial.
Se o senhor acessar sites americanos poderá comprovar que a Igreja Católica,
ao contrário do que acontece no Brasil, tem crescido muito naquele país,
registrando importantes conversões, como por exemplo, o caso de James Akin
que acabou se transformando em um dos maiores apologistas católicos da
atualidade. Isto é bom: a Igreja Católica tem crescido na qualidade e não
tanto na quantidade; são pessoas que buscaram conhecer os dois lados de uma
moeda e se converteram conscientemente... "Pedi e dar-se-vos-á; buscai e
achareis; batei e abrir-se-vos-á" (Lc 11,9). "Conhecereis a Verdade e
a Verdade vos libertará" (Jo 8,32).
Ainda recentemente (julho/98) a Igreja Católica e a Igreja Luterana
reconheceram conjuntamente que não existem diferenças em suas doutrinas
quanto à justificação pela fé: a declaração conjunta foi assinada por 92%
das Igreja Luteranas mundiais, o que bem indica que um dos maiores cavalos
de batalha da Reforma Protestante do séc. XVI nada mais foi do que um
grande mal-entendido! Que Deus seja louvado por mais esta reaproximação
entre irmãos (obs.: a Igreja Católica não precisou alterar nada em sua
doutrina para que essa declaração conjunta fosse assinada; tudo isso é
fruto do diálogo ecumênico, onde os irmãos se reaproximam e discutem suas
diferenças fraternalmente. Deus seja glorificado!).
Com relação às imagens, realmente conheço todas as passagens que condenam sua
fabricação, bem como aquelas que as aprovam; a conclusão que a Bíblia nos
permite tirar não é condenar a imagem em si mas a adoração destas
como objetos de respeito que são. A Igreja Católica jamais em sua História
ensinou que se deve adorar imagens (os luteranos já sabem disso
e os ortodoxos e coptas mais ainda!), mas tributa-lhes reverência respeitosa
(veneração) pelo significado que encerram! Prova bíblica incontestável
disso está no momento em que o próprio Deus ordena que se fabrique
uma serpente de bronze para curar todos aqueles que para ela olhassem e
tivessem sido picados pelas serpentes no deserto. Foi uma ordem divina!
E quando é que a mesma foi destruída? Quando o seu símbolismo foi
desvirtuado, passando de objeto de respeito (veneração) para objeto de
adoração (idolatria).
Isto está lá... na Bíblia, inclusive nas publicadas
pelas editoras protestantes: compare Nm 21,8-9 (que justifica sua
fabricação como ordem divina) com 2Rs 18,4 (que explica o motivo pelo qual
foi destruída: ela havia virado um ídolo, substituindo o verdadeiro Deus;
à ela prestavam culto de adoração - com queima de incenso - e já tinham lhe dado
até um nome!).
Desta forma, ao mesmo tempo que invoco a bênção de Deus para o senhor,
para a sua família e toda a comunidade, termino este e-mail com as mesmas
palavras que o senhor usou para encerrar o seu: "Perdoe-me, nada pessoal,
mas que o Espírito da Verdade o revele". Um grande abraço.