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Carta Encíclica
MIRANDA PRORSUS

PARTE ESPECIAL

O cinematógrafo

O cinematógrafo, sessenta anos depois de ser inventado, é hoje um dos mais importantes meios de expressão do nosso tempo.

Tivemos já no passado ocasião de falar das várias fases do seu desenvolvimento e das razões por que ele fascina a alma do homem moderno. (35) Tal progresso, que se verificou particularmente no campo do filme de entrecho, deu origem a uma indústria importante, que depende não só da colaboração entre numerosos artistas e técnicos de competências várias, mas também de complexos problemas económicos e sociais, que difícilmente poderiam ser enfrentados e resolvidos por pessoas particulares.

Assim, não será possível tornar o cinema "instrumento positivo de elevação, educação e melhoramento", (36) sem a conscienciosa colaboração de quantos têm parte de responsabilidade na produção e na difusão dos espectáculos cinematográficos.

Mostrámos já os elementos constitutivos do "filme ideal" a todos os que se interessam pelo "mundo do cinema" convidando-os a realizar este alto objectivo da própria vocação (37)

Tende a peito, Veneráveis Irmãos, que, por meio dos organismos nacionais permanentes - que trabalham sob a vossa autoridade e direcção - cheguem às diversas categorias interessadas informações, conselhos e indicações que, nas diversas circunstâncias de tempo e lugar, se requerem para a realização, no campo do cinema, do ideal por Nós indicado, para bem das almas.

A classificação moral

Com este objectivo, publiquem-se com regularidade, para informação e norma dos fiéis, os juízos morais sobre os espectáculos cinematográficos dados por uma comissão própria, (38) composta de pessoas de doutrina segura e vasta experiência, sob a responsabilidade do Organismo nacional.

Com estudo apropriado e com o recurso a Deus, devem-se preparar os componentes do corpo de revisão para as responsabilidades de cargo tão delicado eomo é julgar com eompetência do valor moral das obras cinematográficas e do influxo que elas podem exercer nos espectadores do próprio país.

Ao julgar do conteúdo e da apresentação dum filme, inspirem-se os revisores nas normas por Nós expostas nos Discursos mencionados sobre o "filme ideal", e em particular nas que dizem respeito aos assuntos religiosos, à apresentação do mal, e ao respeito devido ao homem, à família e à santidade desta, a Igreja e à sociedade civil.

Deverão recordar-se também que um dos fins principais da classificação moral é esclarecer a opinião pública e educá-la no respeito e apreço dos valores morais; sem estes não se pode ter nem verdadeira cultura nem civilização. Seria portanto reprovável qualquer indulgência com os filmes que, apresentando embora valores técnicos, ofendem a ordem moral, ou, respeitando na aparência os bons costumes, contêm elementos contrários à fé católica.

Indicando claramente quais os filmes lícitos para todos, quais os reservados a adultos, e quais os prejudiciais ou positivamente maus, os juízos morais permitirão a cada um escolher os espectáculos de que há-de sair "mais alegre, mais livre e, no íntimo, melhor do que ao entrar". (39) E permitirão ainda evitar aqueles filmes que poderiam danificar a alma, dano agravado ainda pela responsabilidade tanto de favorecer as produções más como de dar escândalo com a própria assistência.

Repetindo as recomendações do Nosso Predecessor de feliz memória na Encíclica Vigilanti cura, (4O) recomendamos vivamente, onde for possível e suposta a conveniente preparação, que se convidem os fiéis a renovar o compromisso pessoal de observar fielmente a obrigação, que todos os católicos têm, de se informar sobre os juízos morais e de conformar com estes o próprio proceder. Com este fim, onde os Bispos o julgarem oportuno, poderá ùtilmente ser destinado um domingo do ano a promover orações e a instruir os fiéis sobre os deveres quanto aos espectáculos, e em particular quanto ao cinema.

Para que todos possam gozar do benefício dos juízos morais, é preciso que as classificações, com uma breve motivação, sejam publicadas a tempo e largamente difundidas.

O crítico cinematográfico

Muito útil será nesta matéria a acção do crítico cinematográfico católico. Nao deixará de insistir nos valores morais, tendo na devida conta os juízos que lhe permitirão com segurança evitar o perigo de cair num deplorável relativismo moral ou de confundir a jerarquia dos valores.

Seria também lastimoso que os jornais e revistas católicas, ao falarem dos espectáculos, não informassem sobre o valor moral dos mesmos.

Os empresários das salas cinematográficas

Os espectadores, por meio dum ou doutro bilhete de entrada, como se fosse boletim de voto, fazem escolha entre o cinema bom e o mau. Mas grande fica ainda a parte de responsabilidade para os empresários das salas cinematográficas e para os distribuidores dos filmes.

Conhecemos as dificuldades que têm actualmente que defrontar os empresários por numerosas razões, e também por causa da expansão da televisão; mesmo porém no meio de circunstâncias difíceis, devem-se lembrar que a consciência não lhes permite apresentar filmes contrários à fé e à moral, nem aceitar contratos que os obriguem a projectar. Em numerosos países comprometeram-se louvàvelmente a não aceitar os filmes julgados prejudiciais ou maus: Nós esperamos que essa oportuníssima iniciativa se possa, estender a toda a parte, e que nenhum empresário católico hesite em dar-lhe a sua adesão.

Devemos também lembrar com insistência o dever grave de excluir a publicidade comercial insidiosa ou indecente, mesmo se feita, como às vezes acontece, em favor de filmes que não são maus. "Quem poderá dizer quantas ruínas de almas, especialmente juvenis, provocam tais imagens, que pensamentos impuros e que sentimentos podem despertar, e quanto contribuem para a eorrução do povo, com grave prejuízo até da prosperidade da naçao?" (41)

Salas católicas

É óbvio que as salas cinematográficas dependentes da autoridade eclesiástica, devendo garantir aos fiéis e particularmente à juventude espectáculos educativos e ambiente são, não podem apresentar filmes que não sejam irrepreensíveis sob o ponto de vista moral.

Vigiando atentamente a actividade destas salas, mesmo se dependem de religiosos isentos mas estão abertas ao público, os Bispos recordem aos Eclesiásticos responsáveis que, para cumprirem os fins do seu apostolado tão recomendado pela Santa Sé, têm de observar escrupulosamente as normas publicadas e possuir espírito de desinteresse. É também muito de recomendar que as salas católicas se unam em associações - como louvàvelmente se fez nalguns países -, para poderem assim defender mais eficazmente os interesses comuns, segundo as directrizes do organismo nacional.

A distribuição

As recomendações que demos aos empresários, aplicam-se também aos distribuidores. Estes, financiando até não raro as produções, terão maior possibilidade, e por consequinte mais grave dever, de apoiar o cinema moralmente são. Distribuir filmes, de facto, não pode de modo nenhum ser considerado mera função técnica, porque - como já recordámos repetidamente - não se trata de simples mercadoria, mas de alimento intelectual e escola de formaç*o espiritual e moral das massas. O que distribui e o que aluga, filmes participam portanto dos méritos ou das responsabilidades morais em tudo o que diz respeito ao bem ou ao mal causado pelo cinema.

Atores

Não exígua parte da responsabilidade no melhoramento do cinema toca também ao actor, o qual, se quer respeitar a sua dignidade de homem e de artista, não pode prestar-se a interpretar cenas licenciosas, nem conceder a sua cooperação a filmes imorais. Quando, portanto, o actor tenha conseguido notabilizar-se pela sua arte e pe]o seu talento, deve valer-se da fama merecidamente ganha para despertar no público sentimentos nobres, dando em primeiro lugar, na sua vida privada, exemplo de virtude. "É fàcilmente compreensível - dizíamos Nós em discurso aos artistas - a emoção intensa de alegria e nobre orgulho que invade o vosso ânimo perante esse público que vedes diante, todo pendente de vós, ansioso, a aplaulir fremente de entusiasmo". (42) Este legítimo sentimento, porém, não pode autorizar o actor crisão a aceitar, da parte dum público inconsciente, manifestações que, por vezes, se assemelham a idolatria, valendo para eles também a advertência do Salvador: "De tal maneira resplandeça a vossa luz perante os homens que eles vejam as vossas obras boas, e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus". (43)

Produtores e diretores de produção

As mais graves responsabilidades - embora em planos diversos - são, porém, as dos produtores e directores de produção. A consciência de tais responsabilidades não deve constituir obstáculo, mas antes encorajamento aos homens de boa vontade que disponham dos meios financeiros ou dos talentos requeridos pars a produção de filmes.

Não raro as exigências da arte imporão, aos produtores e directores de produção responsáveis, difíceis problemas morais e religiosos, os quais para bem espiritual dos espectadores e perfeição da própria obra requererão critério e orientação competentes, antes mesmo que o filme esteja realizado ou durante a sua realização.

Não hesitem, portanto, em pedir conselho ao respectivo Organismo Católico, que estará, de bom grado, ao seu dispor, delegando mesmo, se for necessário e com as devidas cautelas, um consultor religioso e perito. A confiança na Igreja não diminuirá, por certo, a autoridade e prestígio dos produtores e directores de produção. "A fé defenderá, até ao último extremo, a personalidade do homem", (44) e mesmo no campo da criação artística, a personalidade humana só poderá ser enriquecida e completada pela luz da doutrina cristã e das rectas normas morais.

Não se admitirá, todavia, que os eclesiásticos se prestem a colaborar com os produtores cinematográficos, sem especial encargo dos Superiores, sendo òbviamente requerida, para isso, particular competência e adequada preparação e não podendo ser deixada ao arbítrio dos particulares a determinação dessa competência.

Aos produtores e directores de produção católicos pedimos Nós não permitam a realização de filmes contrários à fé e à moral cristã, mas se isto (o que Deus não permita) viesse a suceder, os Bispos não deixarão de adverti-los usando mesmo, se o caso o pedisse, das sanções oportunas.

Estamos, porém, convencido que o remédio mais radical para orientar eficazmente o cinema no sentido da altura do "filme ideal" é o aprofundamento da formação cristã de todos quantos tomam parte na criação de obras einematográficas.

Os autores dos filmes aproximem-se das fontes da graça, assimilem a doutrina do Envagelho, tomem consciência de tudo o que a Igreja ensina acerca da realidade da vida, acerca da felicidade e da virtude, da dor e do pecado, do corpo e da alma, acerca dos problemas sociais e das aspirações humanas, e, então, hão-de ver abrir-se ante os seus olhos caminhos novos e luminosos, inspirações fecundas que produzirão obras fascinantes e de valor permanente.

Haverá, portanto, que favorecer a multiplicação das iniciativas e das manifestações destinadas a desenvolver e intensificar a sua vida interior, tendo acima de tudo cuidado particular da formação cristã dos jovens que se preparam para as profissões cinematográficas.

Ao terminar estas considerações específicas acerca do cinematógrafo, exortamos as autoridades civis a não auxiliarem, por forma alguma, a produção ou programação de filmes moralmente inferiores, e a encorajarem com medidas apropriadas as boas produções cinematográficas, especialmente as destinadas á juventude. Entre as ingentes despesas do Estado para fins de educação não pode faltar o esforço e empenho na solução positiva de um problema educativo de tanta importância.

Em alguns países, e também por ocasião de exposições internacionais, vêm sendo ùtilmente atribuídos prémios especiais aos filmes que se distinguem pelo seu valor educativo e espiritual: ousamos esperar que as Nossas advertências hão-de contribuir para juntar as forças do bem a fim de todos os filmes merecedores serem galardoados com o prémio do apoio e reconhecimento geral.

A rádio

Com não menor solicitude desejamos expor-Vos, Veneráveis Irmãos, as Nossas preocupações relativas a outro grande meio de difusão, contemporâneo do cinema, a rádio.

Embora sem dispor da riqueza de elementos espectaculares e das vantagens das condições do ambiente, que proporciona o cinematógrafo, a rádio possui outras grandes possibilidades ainda não de todo exploradas.

Como dizíamos ao pessoal de certa Entidade Radiofónica - "a rádio tem o privilégio de se apresentar desligada e liberta daquelas condições de espaço e tempo, que impedem ou retardam todos os outros meios de comunicação entre os homens. Com asa infinitamente mais veloz que as ondas sonoras, rápida como a luz, transporta, num instante, ultrapassando todas as fronteiras, as mensagens que lhe são confiadas". (45)

Aperfeiçoada dia a dia por novos progressos, a rádio presta inestimáveis serviços nos variados campos da técnica, permitindo até dirigir a distância, para objectivos pre- -estabelecidos, engenhos sem piloto. Nós, contudo, consideramos que o mais nobre serviço a que ela é chamada, é o de ilustrar e educar o homem, dirigindo-lhe a mente e o coração para esferas do espírito cada vez mais altas.

O poder ouvir homens e seguir acontecimentos longínquos sem sair das paredes domésticas, e assistir a distância às mais variadas manifestações da vida social e cultural, corresponde a profundo anseio humano.

Não é, pois, de maravilhar que tantas casas se tenham munido ràlpidamente de aparelhos radiofónicos, que permitem abrir misteriosa janela sobre o vasto mundo, do qual chegam dia e noite ecos da vida trepidante das várias culturas, línguas e nações, sob forma de inumeráveis programas, ricos de notícias, de entrevistas, de conferências, de de comunicações de actualidade e de arte, de transmissões de canto e música.

"Que grande privilégio e que grande responsabilidade para os homens do presente século - dizíamos em discurso recente - e que grande diferença entre os dias longínquos, em que o ensino da verdade, o preceito da fraternidade, e as promessas da bem-aventurança eterna, acompanhavam o lento passo dos Apóstolos através das ásperas sendas do velho mundo, e hoje, em que o apelo de Deus pode chegar no mesmo instante a milhões de homens!". (46)

É coisa óptima que os fiéis aproveitem deste privilégio do nosso século, e gozem das riquezas da instrução, do divertimento, da arte e da própria palavra de Deus que a rádio pode trazer, para dilatar as suas consciências e os seus corações.

Todos sabem quão grande virtude educativa podem ter as boas transmissões; mas ao mesmo tempo, o uso da rádio importa responsabilidades, porque tsmbém ela, como as outras técnicas, pode ser empregue para o bem e para o mal. Pode-se aplicar à rádio a palavra da Escritura: "Nela bendizemos a Deus e ao Pai: e nela amaldiçoamos os homens, que foram feitos à imagem de Deus. Da mesma boca procede a bênção e a maldição". (47)

Deveres do radiouvinte

Portanto, o primeiro dever do radiouvinte é a apurada escolha dos programas. A transmissão radiofónica não deve ser um intruso, mas um amigo que entra no lar, mediante convite consciente e livre. Ai daquele que não sabe escolher os amigos que introduz no santuário da família! As transmissões admitidas em nossa casa deverão ser apenas as portadoras de verdade e de bem, as que não distraem, antes ajudam os membros da família ao cumprimento dos próprios deveres pessoais e sociais, e as que, se se trata de jovens e crianças, longe de prejudicar, revigoram e prolongam a obra sãmente educativa dos pais e da escola.

Os Organismos católicos nacionais da Rádio, dos quais já falámos nesta Carta, procurarão, com a ajuda da imprensa católica, informar antecipadamente os fiéis acerca do valor das transmissões. Semelhantes indicações preventivas não serão, porém, em toda a parte, possíveis, e muitas vezes terão apenas valor indicativo, porque a determinação de realizar certos programas não pode ser fàcilmente conhecida com antecipação.

Os Pastores de almas lembrarão por isso aos fiéis que a Lei de Deus proíbe ouvir transmissões prejudiciais para a sua fé ou para a sua vida moral, e exortarão os que têm cuidado da juventude à vigilância e à sapiente educação do sentido das responsabilidades, perante o uso do aparelho receptor admitido no lar.

Além disso, os Bispos têm o dever de precaver os fiéis contra as estações emissoras que notòriamente propugnam princípios contrários à fé católica.

O segundo dever do radiouvinte é o de dar a conhecer aos responsáveis dos programas os seus legítimos desejos e as justas objecções. Este dever decorre claramente da natureza mesma da Rádio, que pode fàcilmente criar uma relação de sentido único, de quem transmite para quem escuta.

Os métodos modernos de sondagem da opinião pública, ao permitirem medir o grau de interesse que suscitou cada uma das transmissões, são decerto grande auxílio para os responsáveis dos programas; mas o interesse, mais ou menos vivo despertado no público, pode ser muitas vezes devido a causas transitórias ou a impulsos não racionais, e, portanto, não pode ser considerado índice seguro do recto critério de agir.

Os radiouvintes devem, portanto, colaborar na formação duma opinião pública esclarecida que permita exprimir, nas devidas formas, aprovações, encorajamentos e objecções, e contribuir para que a rádio, conformemente à sua missão educativa, se ponha "ao serviço da verdade, da moralidade, da justiça e do amor". (48)

Semelhante tarefa toca s todas as Associações Católicas que hão-de procurar defender eficazmente os interesses dos fiéis neste campo. Nos países onde as circunstâncias o aconselhem, poderão, além disso, promover-se Associações especiais de radiouvintes e de espectadores, em coligação com os Organismos nacionais.

Finalmente é devir dos radiouvintes apoiar as boas transmissões, e acima de tudo, as que levam Deus até aos corações humanos. Hoje, quando, através das ondas da rádio, se agitam violentamente doutrinas erróneas, quando, com interferências propositadas e ruídos perturbadores, se cria no éter uma sonora "cortina de ferro", com o fim de não permitir que por este meio penetre a verdade que poderia sacudir e abalar a tirania do materialismo ateu, quando milhões de homens esperam ainda pela alvorada da boa nova ou por mais vasta instrução acerca da própria fé, quando os doentes ou os impossibilitados por qualquer outro motivo esperam ansiosamente unir-se às orações da comunidade cristã e ao sacrifício de Cristo, como poderiam os fiéis, mas sobretudo os que conhecem as vantagens da rádio por experiência quotidiana, não mostrar-se generosos em favorecer semelhantes programas?

Os programas religiosos

Sabemos quanto se tem feito e quanto se faz, nos vários países, para desenvolver programas católicos na rádio. São numerosos, graças a Deus, os eclesiásticos e leigos, que se tornaram pioneiros neste campo, assegurando para as transmissões sacras o lugar que corresponde ao primado dos valores religiosos sobre o resto das coisas humanas.

Considerando, no entando, atentamente, as possibilidades que nos oferece a rádio para o apostolado, e impelidos pelo mandato do Divino Redentor "Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura", (49) rogamo-vos, Veneráveis Irmãos, que aumenteis e aperfeiçoeis mais ainda, segundo as necessidades e possibilidades de cada lugar, as transmissões religiosas.

E como, na rádio, a apresentação digna das funções sagradas, das verdades da fé e das informações acerca da vida da Igreja, requer, além da vigilância devida, talento e competência particulares, haverá que preparar, com especial cuidado, os sacerdotes e leigos destinados a esta importante actividade.

Para este fim, serão oportunamente promovidos, nos países em que os católicos disponham de meios modernos e de mais vasta experiência, cursos apropriados de adestramento que permitam aos candidatos, mesmo de outras nações, alcançar a competência profissional necessária para assegurar às emissões religiosas alto nível artístico e técnico.

Os Organismos nacionais tomem providências no respeitante ao desenvolvimento e coordenação dos programas religiosos no próprio país, e colaborem, quanto possível, com os responsásveis das várias Estações Emissoras, velando atentamente pela moralidade dos programas.

Quanto à participação, nas transmissões radiofónicas e televisivas, de eclesiásticos, mesmo que sejam religiosos isentos, os Bispos poderão promulgar normas oportunas, confiando a sua execução aos Organismos nacionais respectivos.

Emissoras católicas

Queremos dirigir especiais palavras de encorajamento e apoio às Emissoras Católicas de Radiodifusão. Embora conhecendo as numerosas dificuldades que têm de enfrentar, confiamos que hão-de prosseguir corajosamente, em colaboração recíproca, na sua apostólica acção, que Nós tanto apreciamos.

Nós mesmo temos procurado ampliar e aperfeiçoar a nossa benemérita Rádio Vaticana, cuja actividade, - como tivemos ocasião de dizer aos generosos católicos holandeses -corresponde "ao íntimo anseio e à necessidade vital de todo o universo católico". (5O)

Os respsonsáveis dos programas

Além disso, de bom grado dirigimos a todos os responsáveis dos programas radiofónicos o Nosso agradecimento pela compreensão que muitos deles têm demonstrado, colocando de boa vontate à disposição da Palavra de Deus o tempo oportuno e os necessários meios técnicos. Agindo assim, participam nos méritos do apostolado, que se opera através das ondas das suas Emissoras, segundo a promessa do Senhor: "Quem recebe ao profeta em nome do profeta, receberá o galardão do profeta". (51)

Hoje, as emissões de qualidade exigem o emprego duma verdadeira arte. Por isso os directores de programas, e todos os que tomam parte na preparação e execução dos mesmos, precisam de vasta cultura. A eles, pois, se dirige também a Nossa advertência, análoga à feita já aos profissionais do cinema, a saber, queaproveitem amplamente das riquezas da cultura cristã.

Finalmente, os Bispos deverão recordar às autoridades estatais o dever que estas têm de garantir, nas formas devidas, a difusão das emissões religiosas, tendo em conta, particularmente, o carácter sagrado dos dias festivos de preceito, e também as quotidianas necessidades espirituais dos fiéis.

A televisão

Em último lugar, queremos dizer breves palavras sobre a televisão, a qual, precisamente sob o Nosso Pontificado, atingiu em alguns países prodigioso desenvolvimento, introduzindo-se também, gradualmente, em todas as outras Nações.

Temos acompanhado este desenvolvimento, que, sem dúvida, marca importante estádio na história da humanidade. Temo-lo acompanhado, dizemos, com vivo interesse, com grandes esperanças e graves preocupações, elogiando desde o princípio as suas grandes vantagens e novas possibilidades, e prevenindo e apontando também os seus perigos e abusos.

A televisão tem muitas prerrogativas próprias do cinema, enquanto oferece um espectáculo visual de vida e movimento; não raro, efectivamente, recorre ao uso do filme. Sob outros aspectos, participa da natureza e das funções da rádio, dirigindo-se ao homem no interior da sua própria casa, mais que nas salas publicas.

Não é, pois, necessário, acerca dos deveres dos espectadores, dos radiouvintes, dos produtores e das autoridades públicas, repetirmos aqui as recomendações feitas a propósito do cinema e da rádio. Não há sequer que renovar as Nossas advertências acerca do devido cuidado na preparação dos programas religiosos e seu incremento.

Os programas religiosos

Temos conhecimento do interesse com que vasto público segue as transmissões católicas na televisão. É óbvio que a assistência à Santa Missa pela televisão - como há alguns anos dissemos (52) - não é a mesma coisa que a assistência fisica ao Sacrifício Divino requerida para cumprir o preceito dos dias festivos. Todavia, os frutos copiosos que, para o incremento da fé e santificação das almas, provêm das transmissões televisivas das cerimónias litúrgicas, para aqueles que não podem, com presença normal, assistir a elas, induzem-Nos a encorajar estas transmissões.

Será da competência dos Bispos de cada país, julgar da oportunidade das várias transmissões religiosas, e confiar a sua execução ao competente Organismo nacional, que, como nos precedentes sectores, desenvolverá conveniente actividade informativa, educativa, de coordenação e de vigilância sobre a moralidade dos programas.

Problemas específicos da televisão

A televisão, além dos aspectos comuns com as duas precedentes técnicas de difusão, possui também características próprias. Permite, com efeito, assistir de forma simultâneamente auditiva e visiva, a acontecimentos realizados a distância e no próprio instante em que acontecem, com aquela sugestividade que se aproxima do contacto pessoal e cuja feição e forma imediata é aumentada pela sensação de intimidade e confiança própria da vida familiar.

Na maior consideração se deve ter, portanto, este carácter de sugestividade das transmissões televisivas na intimidade do santuário da família, onde será incalculável o seu influxo na formação da vida espiritual, intelectual e moral dos membros da mesma, e, sobretudo, dos filhos, que hão-de ser dominados, inevitàvelmente, pela fascinação da nova técnica.

"Uma pequena porção de fermento corrompe toda a massa". (53) Se na vida física dos jovens um gérmen de infecção pode impedir o desenvolvimento normal do corpo; quanto mais, um elemento permanentemente negativo na educação poderá comprometer o equilíbrio espiritual e o desenvolvimento moral! E quem não sabe como, tantas vezes, a própria criança que resiste ao contágio de uma doença na rua, se mostra falta de resistência se a fonte do contágio se encontra na própria casa?

A santidade da família não pode ser objecto de compromissos, e a Igreja não se cansará, como é seu pleno direito e dever, de empenhar todas as forças para que este santuário não venha a ser profanado pelo mau uso da televisão.

Com a grande vantagem de entreter mais fàcilmente, adentro das paredes domésticas, grandes e pequenos, a televisão pode contribuir para reforçar os liames do amor e da fidelidade na família, mas sempre com a condição de não vir a prejudicar as mesmas virtudes da fidelidade, da pureza e do amor.

Não falta, todavia, quem julgue impossível, ao menos na hora presente, a satisfação de tão nobres exigências. O compromisso tomado com os espectadores - dizem eles - requer que se preencha, seja como for, o tempo estabelecido para as transmissões. A necessidade de ter à disposição uma selecção vasta de programas, obriga a recorrer também àqueles espectáculos que, de início, eram destinados às salas públicas. A televisão, finalmente, não é só para jovens, mas também para adultos.

As dificuldades são reais, mas a solução delas não pode ser adiada para período ulterior, quando a falta de discrição e de prudência, no uso da televisão, tiver já causado gravíssimos danos individuais e sociais, - danos hoje, porventura, ainda difícilmente avaliáveis.

Para que essa solução se possa obter ao mesmo tempo que se vai introduzindo em cada país a televisão, será preciso, primeiro que tudo, levar a cabo esforço intenso na preparação de programas que correspondam às exigências morais, psicológicas e técnicas. Convidamos, por isso, os homens católicos de cultura, ciência e arte, e, em primeiro lugar, o clero e as Ordens e Congregações Religiosas, a procurar dominar a nova técnica e prestar a sua colaboração a fim de que a televisão possa aproveitar as riquezas espirituais do passado e as de todo o autêntico progresso.

Será, além disso, preciso que os responsáveis dos programas televisivos, não só respeitem os princípios religiosos e morais, mas tenham em conta o perigo que transmissões destinadas a adultos podem oferecer aos jovens. Noutros campos, como por exemplo sucede no cinema e no teatro, os jovens, na maioria dos países civilizados, estão protegido com especiais medidas preventivas, contra os espectáculos inconvenientes. Lògicamente, e com maior razão, devem também ser asseguradas as vantagens de uma apurada vigilância no respeitante à televisão.

Quando não se excluam das transmissões televisivas, como aliás tem sido louvàvelmente feito nalguns lugares, espectáculos vedados a menores, serão pelo menos indispensáveis medidas preventivas de precaução.

Todavia, nem mesmo a boa vontade e a conscienciosa actividade profissional de quem transmite, são suficientes para assegurarem o pleno proveito da maravilhosa técnica da pequena tela dum aparelho televisivo, nem suficientes também para afastar todo o perigo. A vigilância prudente e avisada de quem recebe em sua casa a transmissão é insubstituível. A moderação no uso da televisão, a admissão prudente dos filhos a presenciar programas segundo a sua idade, a formação do carácter e do recto juízo acerca dos espectáculos vistos e, finalmente, o afastá-los dos programas inconvenientes, incumbem, como grave dever de consciência aos pais e aos educadores. Bem sabemos quefi especialmente este último ponto, poderá, criar situações delicadas e difíceis, e o sentido pedagógico muitas vezes exigirá dos pais darem bom exemplo também com o sacrifício pessoal em renunciarem a determinados programas. Mas seria porventura demasiado pedir aos pais um sacrifício, quando está em jogo o bem supremo dos filhos?

Será, portanto, "mais que necessário e urgente - como escrevemos aos Bispos da Itália - formar nos fiéis uma consciência recta dos deveres cristãos acerca do uso da televisão", (54) para que esta não sirva nunca para difundir o erro e o mal, mas se torne "instrumento de informação, de formação e de transformação". (55)