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Bispos da América Latina
CONCLUSÕES DE MEDELLIN

XVI. MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

l. Descrição da realidade

  1. A Comunicação Social é hoje uma das principais dimensões da humanidade. Ela inaugurou uma nova época e produz um impacto que aumenta na medida em que avançam os satélites, a eletrônica e a ciência em geral.

    Os Meios de Comunicação Social (MOS) abrangem a pessoa na sua totalidade. Plasmam o homem e a sociedade e tomam cada vez mais seu tempo livre. Forjam uma nova cultura, produto da civilização audiovisual que, se por um lado tende a massificar o homem, por outro favorece sua gersonalização. Esta nova cultura, pela primeira vez, se põe ao alcance de todos, alfabetizados ou não, fato que não acontecia com a cultura tradicional, que favorecia apenas uma minoria.

    De outra parte, aproximam homens e povos, convertendo-os em próximos e solidários, contribuindo desta forma para o fenômeno da socialização (of. IM 59), uma das conquistas da época moderna.

  2. Na América Latina os MCS representam um dos fatores que mais têm contribuído e contribuem para despertar a consciência das grandes massas sobre suas condições de vida, suscitando aspirações e exigências de transformações radicais. Ainda que de forma incipiente, vêm atuando, também, como agentes positivos de mudança através da educação de base, programas de formação e opinião pública etc.

    Todavia, muitos destes meios estão vinculados a grupos econômicos e políticos, nacionais e estrangeiros, interessados na preservação do «status quo» social.

  3. A Igreja empreendeu uma série de iniciativas neste campo. Se algumas não chegaram a preencher sua finalidade pastoral, deveu-se acima de tudo à falta de uma visão clara do que representa a comunicação social em si mesma e ao desconhecimento das condições que seu uso impõe.

2. Justificações
  1. A Igreja universal acolhe e incentiva os maravi­lhosos inventos da técnica, sobretudo os que se referem ao espírito humano, e têm aberto novos caminhos à comunicação entre os homens, como a imprensa, o cinema, rádio, televisão, teatro, discos etc. (of. IM 1).

    Também na América Latina a Igreja recebe com prazer a ajuda providencial destes meios, com a firme esperança de que contribuirão cada vez mais para a pro­moção humana e cristã do continente.

  2. Os MCS são essenciais para sensibilizar a opinião pública no indispensável processo de transformação da América Latina; são essenciais para apoiar esse processo; essenciais para impulsionar os centros de poder que inspi­ram os planos de desenvolvimento, a fim de orientá-los segundo as exigências do bem comum; são essenciais para divulgar ditos planos e promover a participação ativa de toda a sociedade em sua execução, especialmente nas clas­ses dirigentes.

  3. De igual maneira, os MCS se convertem em agen­tes ativos do processo de transformação, quando se colo­cam ao serviço de uma autêntica educação integral, apta para desenvolver o homem todo, capacitando-o a ser o artífice de sua própria promoção; o que se aplica também à evangelização e ao crescimento na fé.

    De outra parte, não se pode ignorar que o uso dos MCS ocupa cada vez mais o tempo livre de todas as cate­gorias de pessoas que buscam neles a distração. Este uso lhes proporciona ao mesmo tempo informação, conhecimentos e influências morais positivas e negativas.

  4. No mundo de hoje a Igreja não pode cumprir a missão que Cristo lhe confiou de levar a Boa-nova «até os confins da terra», se não emprega os MCS, únicos capazes de chegar efetivamente a todos os homens.

    A palavra é o vínculo normal da fé: «Fidas exauditu» (Rom 10,17) . Em nossos tempos, «palavra» também compreende imagem, cores e sons, adquirindo formas variadas através dos diversos MCS. Ademais, os MCS, assim compreendidos, são um imperativo dos tempos presentes para que a Igreja realize sua missão evangelizadora (Ml 28,26).

  5. Finalmente, a Comunicação Social é para a Igre­ja o meio de apresentar a este continente uma imagem mais exata e fiel de si mesma, transmitindo ao grande público não apenas notícias relativas aos acontecimentos da vida eclesial e suas atividades, mas, sobretudo, interpre­tando os fatos à luz do pensamento cristão.

  6. Por todas estas razões, é que o Decreto Inter Mirifica concita a todos os filhos da Igreja para que utili­zem os MCS eficazmente, sem a menor dilação e com o máximo empenho. E «insiste com os sagrados pastores para que cumpram sua missão neste campo, intimamente ligada ao seu dever ordinário de pregar» (cf. IM 3).

3. Recomendações pastorais
  1. O influxo sempre crescente e esmagador que a comunicação social exerce em toda a vida do homem mo­derno, leva a Igreja a estar presente neste campo, com uma pastoral dinâmica que abarque todos os setores deste amplo mundo.

  2. Reconhecendo o direito de a Igreja possuir meios próprios, que em alguns casos são necessários para ela, faz-se indispensável um requisito para justificar essa pos­sessão: não apenas contar com uma organização que ga­ranta sua eficácia profissional, econômica e administrati­va, mas sobretudo que preste um serviço real à comuni­dade.

  3. A inserção dos cristãos no mundo de hoje obri­ga a que estes trabalhem nos MCS alheios à Igreja se­gundo o espírito de diálogo e serviço assinalado pela Cons­tituição Gandium et Spes. O profissional católico, chama­do a ser fermento na massa, cumprirá melhor sua missão se integrar nesses meios para ampliar os contatos en­tre a Igreja e o mundo, e, ao mesmo tempo, contribuir na sua transformação.

  4. Dada a dimensão social destes meios e a escassez de pessoal habilitado para neles atuar, urge suscitar e promover vocações no campo da comunicação social, espe­cialmente entre os leigos.

  5. Este pessoal deve receber uma adequada formação apostólica e profissional, de acordo com os diversos níveis e categorias de suas funções; a formação deverá incluir tanto conhecimentos teológicos, como sociológicos e antropológicos que exigem as realidades do continente.

  6. O trabalho de formação, no que se refere aos usuários da comunicação social, se estenderá às pessoas de todas as condições sociais, e de modo particular aos jovens, para que conheçam, valorizem e apreciem esses meios fundamentais pelos quais se expressa o mundo contemporâneo, desenvolvendo seu sentido crítico e sua capacidade de tomar responsavelmente suas próprias decisões.

    É conveniente, pois, que esta capacitarão comece desde os níveis inferiores do ensino e também esteja incluída na catequese (of. IM 16).

  7. Em virtude do caráter de ministros da «Palavra» e de educadores do Povo de Deus, é igualmente necessário que se ofereçam aos bispos, sacerdotes e religiosos de ambos os sexos, cursos que os intruam no significado da comunicação social e no conhecimento das condições que regem sua utilização. Esta formação deve ser matéria de estudo sistemático nos seminários e casas de formação religiosa (cf. IM 15).

    Devido à importância que a Igreja concede aos MCS, pedimos aos superiores eclesiásticos que facilitem a capacitarão e dedicação de sacerdotes, religiosos e religiosas à tarefa específica da formação, assessoria e inspiração das obras apostólicas, relacionadas com este campo.

  8. Aos estudiosos e intelectuais, especialmente às seções especializadas das universidades e institutos de MCS, pedimos que aprofundem o estudo do fenômeno da comunicação social em seus diversos aspectos - entre os quais, a Teologia da Comunicação - a fim de especificar cada vez mais as dimensões desta nova cultura e suas projeções futuras. De igual maneira, solicitamos que promovam e utilizem todo tipo de investigações que ensine a melhor adaptar os MCS à uma mais efetiva promoção das distintas comunidades.

  9. O material adaptado às variadas culturas locais (p. ex.: artigos de imprensa, emissões radiofônicas e tele­visivas etc.) deve ser orientado para a promoção dos va­lores autóctones e que possam ser recebidos adequada­mente pelos destinatários.

  10. Para os objetivos específicos da Igreja é neces­sário que, entre outras coisas, se criem e fortaleçam em cada país da América Latina, Escritórios Nacionais de Im­prensa, Cinema, Rádio e Televisão, com a autonomia que requer seu trabalho e com a eficiente coordenação entre os mesmos.

  11. Estes Escritórios devem manter uma estreita re­lação com os organismos continentais : ULARC, UNDAAL e SAL-OCIC. Da mesma forma, ditos organismos devem prestar toda sua colaboração ao Departamento de Comu­nicação Social do CELAM, para estruturar planos de ní­vel latino-americano e promover sua execução.

  12. É indispensável favorecer o diálogo sincero e eficaz entre a hierarquia e todos aqueles que trabalham nos MCS. Este diálogo também deve ser mantido com os que atuam nas estruturas próprias da Igreja com o pro­pósito de estimulá-los e orientá-los pastora1mente.

  13. Esta atitude de abertura vem de encontro à ne­cessária liberdade de expressão, indispensável dentro da Igreja, conforme o espírito da Gantium et Spes, 92: «A Igreja... consolida um diálogo sincero, o qual, em pri­meiro lugar, requer que se promova no seio da Igreja uma mútua estima, respeito e concórdia. Reconhecendo todas as legítimas diversidades para abrir com fecundidade sem­pre crescente, o diálogo entre todos os que integram o único Povo de Deus, tanto os pastores como os demais fiéis. Os laços de união entre os fiéis são muito mais fortes que os motivos de divisão entre eles. Haja unidade no necessário, liberdade no duvidoso e caridade em tudo».

  14. A Assembléia lembra aos Episcopados Nacionais a disposição do Decreto Inter Mirifica, que em seu n. 18, oferece uma oportunidade excepcional para ensinar aos fiéis a transcendência da mesma na vida do homem e da sociedade.

  15. As observações e orientações pastorais que men­cionamos, põem em relevo a importância que hoje ocupam os MCS; sem eles não se poderá obter a promoção do ho­mem latino-americano e as necessárias transformações do continente. Assim, de todo o exposto, se infere não apenas sua utilidade e conveniência, mas sobretudo a necessidade absoluta de empregá-los, em todos os níveis e em todas as formas, na ação pastoral da Igreja, para conseguir os fins a que esta Assembléia se propôs.