»» Documentos da Igreja |
1. Realidade da Igreja na América Latina
«A América Latina apresenta uma sociedade em movimento, sujeita a transformações rápidas e profundaso (exortação de Paulo VI ao CELAM, 24 de novembro de 1965, IV 8) . Isto repercute na Igreja e exige dela uma tomada de posição. A Igreja latino-americana deve exprimir seu testemunho e seu serviço neste continente, que enfrenta problemas angustiosos como os de integração, desenvolvimento, profundas modificações e miséria.
Por outro lado, diante dos múltiplos problemas de tipo estritamente religioso, a Igreja está com um número cada vez mais escasso de sacerdotes, com estruturas ministeriais insuficientes e às vezes inadequadas para um real trabalho apostólico.
Neste contexto colocamos a formação do clero, que deve ser instrumento fundamental de renovação de nossa Igreja e resposta às exigências religiosas e humanas de nosso continente.
A restauração do diaconato permanente e os problemas particulares suscitados pela existência do sacerdócio nos leva ao estudo da situação atual da formação do clero.
Em alguns países da América Latina já se desenvolvem experiências de formação de diáconos. É cedo para emitir um juízo, porque sendo iniciativas incipientes, ainda não alcançaram o suficiente grau de maturidade.
Contudo, nota-se que a promoção do diaconato surgiu devido a determinadas exigências pastorais. Isso vem dando lugar a uma relativa pluralidade de formas na concepção, preparo e realização da ação dos candidatos ao diaconato, de acordo com os ambientes regionais.
Seminaristas
No que respeita ao seminário maior: uma formação pessoal à base de equipes e pequenas comunidades, sobre o que a Santa Sé deu orientações precisas. No campo da formação intelectual: tendência a unir o pessoal de várias dioceses e comunidades em centros de estudos comuns e a freqüentar universidades católicas ou estatais, sobretudo para o estudo da filosofia (Carta do Cardeal Garrone, maio de 1968).
A razão de ser do seminário devemos colocá-1a dentro da perspectiva bíblica do chamado e resposta. Como centro de formação sacerdotal deverá partir, o seminário, da visão bíblica «Ex Hominibus Assumptuso «Pra Hominibus constitutos», para lograr aquela maturidade humana nos candidatos que os capacite a tornarem-se guias de homens. Mais ainda que aos simples batizados, pede-se aos seminaristas aquela maturidade cristã indispensável para serem idôneos do carisma sacerdotal, pelo qual são chamados a configurar-se com Cristo, Cabeça do Corpo Místico. Esta configuração com o sacerdócio ministerial de Cristo os situa num nível especificamente distinto do sacerdócio comum dos fiéis.
3. Orientações pastorais
De acordo com o que ficou dito e tendo em conta a situação latino-americana, e sem pretender esgotar todos os aspectos de formação contidos nos documentos do Concílio Vaticano II e da Santa Sé, permitimo-nos destacar os seguintes pontos:
Considerando o papel específico do sacerdote na América Latina e as tarefas da pastoral que esta Conferência destacou, julga que a formação específica dos seminários deve insistir particularmente sobre algumas atitudes e virtudes sem pretender que elas sejam nem as únicas nem as principais.
Capacidade para ouvir fielmente a Palavra de Deus
Exige-se do sacerdote de hoje saber interpretar, habitualmente, à luz da fé, situações e exigências da comunidade. Esta tarefa profética, por um lado, exige a capacidade de compreender, com a ajuda do laicato, a realidade humana; exige, por outro, como carisma específico do sacerdote em união com o bispo, saber julgar as realidades que estão em conexão com o plano de salvação. Para chegar a esta capacidade necessita-se de:
O sacerdote está posto ao serviço do povo como Cristo. Isto exige que ele aceite sem limitações as exigências e as conseqüências do serviço aos irmãos e, em primeiro lugar, saber assumir as realidades e “o sentido do povo” em suas situações e em sua mentalidade. Ele, com espírito de humildade e espírito de pobreza, antes de ensinar deve aprender, fazendo-se tudo para todos a fim de leva-los a Cristo. Experiência pessoal e amor a Cristo
Assim como a Pedro, Cristo pede ao seminarista de hoje um serviço de entrega total, como resultado de amor pessoal a ele e ao Pai, pelo Espírito, já que Cristo não quer servos, mas amigos.
A disciplina é indispensável, não somente para a boa ordem, mas sobretudo para a formação da personalidade. É necessário que a disciplina seja objeto de uma adesão interior para o seminarista, o que só é possível se os jovens perceberem seu valor e se tiverem por objeto metas essenciais (tudo isto dentro das orientações do Concílio e de Paulo VI. Cf. 11; Paulo VI no Seminário Lombardo 1966).
Hoje mais do que nunca é urgente atualizar os estudos de acordo com as orientações do Concílio, insistindo naqueles aspectos que mais particularmente se relacionam com a situação atual do continente.
Há que cuidar que os professores de seminários tenham experiência pastoral e, ademais, que o clero esteja convenientemente atualizado para que assim possa colaborar eficazmente para a formação dos futuros sacerdotes.
Numa forma mais concreta e em conformidade com sua futura atividade pastoral, providencie-se melhor preparação dos seminaristas em alguns aspectos de particular importância de nosso ambiente latino-americano: formação básica sobre pastoral de conjunto, preparação para a iniciação e assistência às comunidades de base, conveniente formação e treinamento da dinâmica de grupos e relações humanas e adequada informação para utilizar os meios de comunicação social.
Por outro lado, deve-se procurar que participem de atividades pastorais de forma gradual, progressiva e prudente, especialmente na época de férias.
Sendo a pastoral vocacional a ação da comunidade eclesial sob a orientação da hierarquia para levar todos os homens a fazerem sua parte na Igreja, toda a comunidade cristã, unificada e guiada pelo bispo, é responsável solidamente pelo desenvolvimento vocacional, tanto no seu aspecto fundamental cristão, «a vocação», quanto em seus aspectos específicos: vocações sacerdotais, religiosas e leigas.
Note-se que o sacerdote, por sua própria missão, deve ser o mediador mais direto nos chamados de Deus, pelo ideal que deve encarnar para a juventude, e porque, sendo fiel à sua vocação, será mais sensível aos chamados de Deus nos outros.
Dado o fenômeno de um número cada vez mais crescente de jovens e mesmo de adultos, tenha-se cuidado especial na promoção e cultivo dessas vocações. Para isso é necessário uma pastoral juvenil que, para ser plenamente autêntica, deve levar os jovens a um amadurecimento pessoal e comunitário, e assim assumirem um compromisso concreto ante a comunidade eclesial em alguns dos mencionados estilos de vida.
Procure-se promover no seminário, uma reflexão contínua sobre a realidade em que vivemos, a fim de que se saiba interpretar os sinais dos tempos e se criem atitudes e mentalidade pastoral adequadas.
Todos os que participam da vida do seminário, sejam quais forem os seus graus, devem-se considerar como educadores.
Verifica-se, na América Latina, uma busca de novas formas de preparação de sacerdotes. Tenha-se em conta que, para que tais experiências sejam fecundas, devem ser preparadas refletidamente, aprovadas pelas autoridades competentes, bem compreendidas pelos interessados, acompanhadas, controladas e avaliados os seus resultados, tendo sempre em conta sua reversibilidade. Ademais, seria desejável que, uma vez demonstrada sua validade, fosse comunicada às Conferências Episcopais dos distintos países, para utilização comum.
Por razões óbvias, é conveniente que a formação dos seminaristas, em geral, seja realizada no seu próprio ambiente.
Julga-se conveniente que os sacerdotes de outros países designados para trabalhar na formação do clero, sigam cursos de adaptação em centros nacionais ou internacionais e que completem um período prudencial de trabalho pastoral.
Para uma maior economia de forças e melhoramento do ensino, recomendam-se iniciativas como: seminários regionais e internacionais, cuidando que haja simultaneamente uma integração dos bispos responsáveis e que, na medida do possível, abranjam zonas humana e pastoralmente homogêneas. Igualmente recomendam-se institutos e faculdades de filosofia e teologia comuns para os candidatos ao clero diocesano e religioso. Isto ajudará a promover maior integração no futuro trabalho pastoral e melhor inserção na realidade do mundo atual.
Considera-se de muita utilidade que se intensifique a colaboração mútua e as relações entre o CELAM e OSLAM (Organização de Seminários Latino-Americanos) com as Comissões Episcopais de Seminários e com as Conferências Nacionais de Religiosos, havendo uma informação mútua sobre os problemas de cada um.
Em seguida assinalamos algumas orientações gerais no que se refere à formação dos diáconos permanentes.