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1. Constatações
Neste documento nos propomos rever a dimensão apostólica dessa presença no momento histórico em que todos estamos vivendo na América Latina.
Do ponto de vista subjetivo, nosso continente se caracteriza pela tomada de consciência dessa situação, que provoca em amplos setores dos povos latino-americanos atitudes de protesto e aspirações à libertação, ao desenvolvimento e à justiça social.
Esta complexa realidade, historicamente, coloca os leigos latino-americanos ante o desafio de um compromisso libertador e humanizador.
Os ditos meios funcionais constituem em nossos dias os centros de decisão mais importantes no processo de transformação social, e os focos onde se condensa, ao máximo, a consciência da comunidade.
Estas novas condições de vida obrigam os movimentos leigos da América Latina a aceitarem o desafio de um compromisso de presença, de adaptação permanente e de criatividade.
Muitos deles, com efeito, empreenderam um trabalho decisivo em seu tempo, mas, por circunstâncias posteriores, ou se fecharam em si mesmos, ou se aferraram indevidamente a estruturas demasiado rígidas, ou não souberam situar devidamente seu apostolado no contexto de um compromisso histórico libertador.
Por outro lado, muitos destes movimentos não refletem um meio sociológico compacto, ou talvez não tenham adotado a organização e a pedagogia mais apropriadas a um apostolado de presença e compromisso nos ambientes funcionais, onde, em grande parte, fermenta o processo de transformação social.
Pois bem, comprometer-se é ratificar com ações a solidariedade em que todo homem se encontra imerso, assumindo tarefas de promoção humana na linha de um determinado projeto social.
O compromisso assim entendido, na América Latina, deve estar impregnado pelas circunstâncias peculiares de seu momento histórico presente, pelos signos da libertação, da humanização e do desenvolvimento.
Nunca é demais dizer que o leigo goza de autonomia e responsabilidade próprias para optar por seu compromisso temporal. A Gandium et Spes assim o reconhece, quando diz que os leigos «conscientes das exigências da fé e vigorizados por suas próprias energias, empreendam, sem vacilar e quando seja necessário, novas iniciativas e levem-nas a bom termo (...) Não pensem que seus pastores estejam sempre em condições de poder dar-lhes de imediato soluções concretas em todas as questões, por mais graves que surjam. Não é esta sua missão. Cumpram os leigos melhor suas missões específicas, à luz da sabedoria crista e com a observância atenta da doutrina do magistério» (GS 43).
E, como diz a Populorum Progressio em seu final: «Aos leigos, por sua livre iniciativa e sem esperar passivamente ordens e diretrizes, pertence impregnar de espírito cristão a mentalidade, os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vivem» (n. 81).
Mais ainda: ao ser assumido este compromisso no dinamismo da fé e da caridade, ele adquire em si mesmo um valor de testemunho e se confunde com o testemunho cristão. A evangelização do leigo, nesta perspectiva, nada mais é que a explicação ou a proclamação do sentido transcendente deste testemunho.
Vivendo "nas ocupações e nas condições ordinárias de vida familiar e social, pelas quais sua existência está como que tecida", os leigos são chamados por Deus ali mesmo "para que, desempenhando sua própria profissão e guiados pelo espírito evangélico, contribuam para santificação do mundo, penetrando-o como fermento... A eles, pois, corresponde iluminar e ordenar as realidades temporais, às quais estão estreitamente vinculados" (LG 31).
Tendo em conta as numerosas recomendações pastorais já desenvolvidas em outros documentos desta Conferência sobre o papel dos leigos na América Latina, atemo-nos apenas às seguintes: