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Constituição Dogmática
LUMEN GENTIUM
do Concílio Vaticano II
sobre a Igreja ("De Ecclesia")

VIII. A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA, MÃE DE DEUS, NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA

a. Proêmio

    A Santíssima Virgem no mistério de Cristo

    52. Querendo Deus, sumamente benigno e sábio, realizar a redenção do mundo, "quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido duma mulher... para que recebêssemos a adoção de filhos" (GI 4,4-5), "o qual, por amor de nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria". (1) Este mistério divino da salvação revela-se-nos e continua na Igreja, que o Senhor constituiu como seu corpo, e na qual os fiéis - unidos a Cristo, sua cabeça, e em comunhão com todos os seus santos - devem também, e em primeiro lugar, venerar a memória da gloriosa sempre virgem Maria, Mãe de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo". (2)

    A Virgem Maria e a Igreja

    53. A Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo, e deu a Vida ao mundo, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Remida de modo mais sublime em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a ele por vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a sublime prerrogativa e dignidade de ser Mãe de Deus Filho, e, portanto, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo; com este dom de graça sem igual, ultrapassa de longe todas as outras criaturas celestes e terrestres. Ao mesmo tempo encontra-se unida na estirpe de Adão com todos os homens que devem ser salvos; mais ainda, é "verdadeiramente mãe dos membros de Cristo... porque com o seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis, que são os membros daquela cabeça". (3) Por esta razão é também saudada como membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabado da mesma, na fé e na caridade; e a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, honra-a como mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto de piedade filial.

    Intenção do Concílio

    54. Por isso o sagrado Concílio, ao expor a doutrina da Igreja, na qual o divino Redentor opera a salvação, deseja esclarecer cuidadosamente quer a função da Santíssima Virgem no mistério do Verbo encarnado e do corpo místico, quer os deveres dos próprios homens remidos para com a Mãe de Deus, que é Mãe de Cristo e dos homens, em especial dos fiéis. Não é, no entanto, intenção sua propor a doutrina completa sobre Maria ou diminuir questões que a investigação dos teólogos ainda não conseguiu dilucidar plenamente. Mantém-se, portanto, no seu direito as opiniões que são livremente propostas nas escolas católicas acerca daquela que na santa Igreja ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós. (4)

b. Função da Santíssima Virgem na economia da salvação

    A Mãe do Messias no Antigo Testamento

    55. Os livros do Antigo e do Novo Testamento, e a tradição veneranda mostram, dum modo que se vai tornando cada vez mais claro, e colocam, por assim dizer, diante dos nossos olhos a função da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação, que vai preparando, a passos lentos, a vinda de Cristo ao mundo. Estes primeiros documentos, tais como são lidos na Igreja e entendidos à luz da ulterior revelação completa, iluminam pouco a pouco, sempre com maior clareza, a figura de uma mulher, a da Mãe do Redentor. Ela aparece, a esta luz, profeticamente esboçada na promessa da vitória sobre a serpente, feita aos nossos primeiros pais já caídos no pecado (cf. Gn 3,15). Do mesmo modo, ela é a Virgem que há de conceber e dar à luz um Filho, cujo nome será Emanuel (cf. Is 7,14; Mq 5,2-3; Mt 1,22-23). Ela sobressai entre os humildes e os pobres do Senhor, que dele esperam confiadamente e vêm a receber a salvação. Enfim, com ela, filha excelsa de Sião, após a longa espera da promessa, atingem os tempos a sua plenitude e inaugura-se nova economia, quando o Filho de Deus assume dela a natureza humana, para, mediante os mistérios da sua carne, libertar o homem do pecado.

    Maria na anunciação

    56. Quis, porém, o Pai das misericórdias que a encarnação fosse precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada, a fim de que, assim como uma mulher tinha contribuído para a morte, também uma mulher contribuísse para a vida. E isto aplica-se de forma eminente à Mãe de Jesus, a qual deu ao mundo aquele que é a Vida que tudo renova, e foi enriquecida por Deus com dons convenientes a tão alto múnus. Portanto, nada admira que tenha sido corrente, entre os santos padres, chamar a Mãe de Deus, toda santa e imune de qualquer mancha do pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo e formada qual nova criatura. (5) Adornada, desde o primeiro instante da sua conceição, com esplendores duma santidade absolutamente singular, a Virgem de Nazaré ouvindo a saudação do anjo mandado por Deus, que lhe chama "cheia de graça" (cf. Lc 1,28), responde ao mensageiro celeste: "Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus, e abraçando com generosidade e sem pecado algum a vontade salvífica de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e obra de seu Filho, servindo ao mistério da redenção sob a sua dependência e com ele, pela graça de Deus onipotente. Com razão afirmam os santos padres que Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência. Como diz santo Irineu, "pela obediência, ela tornou-se causa de salvação para si mesma e para todo o gênero humano". (6) E não poucos padres antigos, na sua pregação, comprazem-se em repetir: "O laço de desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou-o pela fé". (7) Comparando-a com Eva, chamam a Maria "Mãe dos viventes" (8) e afirmam com freqüência: "A morte veio por Eva, e a vida por Maria". (9)

    A Virgem Maria e o Menino Jesus

    57. Esta união da Mãe com o Filho, na obra da redenção, manifesta-se desde o momento em que Jesus Cristo é concebido virginalmente, até à sua morte. Primeiramente, quando Maria se dirigiu pressurosa a visitar Isabel, e esta a proclamou bem-aventurada por ter acreditado na salvação prometida, estremecendo o precursor de alegria no seio de sua mãe (cf. Lc 1,41-45); e depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, mostrou aos pastores e aos magos o seu Filho primogênito, que não diminuiu, antes consagrou a sua integridade virginal. (10) E também quando, ao apresentá-lo no templo ao Senhor, ofereceu o resgate dos pobres e ouviu Simeão profetizar que esse Filho havia de ser sinal de contradição e que uma espada atravessaria a alma da Mãe, para que se revelassem os pensamentos de muitos corações (cf. Lc 2,34-35). O Menino Jesus perdido e com tanta dor procurado, encontraram-no Maria e José no templo, ocupado nas coisas de seu Pai; não entenderam a resposta que lhes deu; a Mãe, porém, guardava no seu coração e meditava todas estas coisas (cf. Lc 2,41-51).

    A Virgem Maria no ministério público de Jesus

    58. Na vida pública de Jesus, a sua Mãe manifesta-se claramente logo no início, quando nas bodas de Caná da Galiléia, movida de misericórdia, conseguiu com sua intercessão que Jesus, o Messias, desse início aos seus milagres (cf. Jo 2,11). Durante a pregação do seu Filho, recolheu as palavras com que ele, exaltando o reino acima das razões e vínculos da carne e do sangue, proclamou bem-aventurados os que ouvem e observam a palavra de Deus (cf. Mc 3,35 - paralelo Lc 11,27-28), como ela fazia pontualmente (cf. Lc 2,19 e 51). Assim também a Santíssima Virgem avançou no caminho da fé, e conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da qual, por desígnio de Deus, se manteve de pé (cf. Jo 10,25); sofreu profundamente com o seu Unigênito e associou-se de coração maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado; finalmente, ouviu estas palavras do próprio Jesus Cristo, ao morrer na cruz, dando-a ao discípulo por Mãe: "Mulher, eis aí o teu filho" (cf. Jo 19, 26-27). (11)

    A Virgem Maria depois da ascensão

    59. Foi vontade de Deus manifestar solenemente o sacramento da salvação humana, só depois de ter enviado o Espírito prometido por Cristo. Por isso, vemos os apóstolos, antes do dia do Pentecostes, assíduos e unânimes na oração, com algumas mulheres e com Maria mãe de Jesus e os irmãos deste" (At 1,14), e vemos também Maria implorando com suas preces o dom do Espírito, que na anunciação, já a tinha coberto com sua sombra. Finalmente, a Virgem Imaculada, que fora preservada de toda mancha da culpa original, (12) terminando o curso de sua vida terrena, foi levada a glória celeste em corpo e alma, (13) e exaltada pelo Senhor como Rainha do universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte. (14)

c. A Santíssima Virgem e a Igreja

    Maria, escrava do Senhor, na obra da redenção

    60. É um só o nosso Mediador, segundo as palavras do Apóstolo: "Porque há um só Deus, também há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, verdadeiro homem, que se ofereceu em resgate por todos" (1Tm 2,5-6). A função maternal de Maria para com os homens, de nenhum modo obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo, antes mostra qual é a sua eficácia. Na verdade, todo o influxo salutar da Santíssima Virgem em favor dos homens não é imposto por nenhuma necessidade intrínseca, mas sim por livre escolha de Deus, e dimana da superabundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação, dela depende absolutamente e dela tira toda a sua eficácia; e, longe de impedir, fomenta ainda mais o contacto Imediato dos fiéis com Cristo.

    Maternidade espiritual

    61. A Santíssima Virgem, predestinada - desde toda a eternidade, no desígnio da encarnação do Verbo divino - para Mãe de Deus, foi na terra, por disposição da divina Providência, a Mãe do Redentor divino, mais que ninguém sua companheira generosa, e a humilde escrava do Senhor. Concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o no templo ao Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, ela cooperou de modo absolutamente singular - pela obediência, pela fé, pela esperança e a caridade ardente - na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, ela é nossa mãe na ordem da graça.

    Medianeira

    62. A maternidade de Maria, na economia da graça, perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salutar, mas, pela sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna. (15) Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz. Por isso, a Santíssima Virgem é invocada, na Igreja, com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. (16) Mas isto deve entender-se de modo que nada tire nem acrescente à dignidade e à eficácia de Cristo, Mediador único. (17)

    Nenhuma criatura pode colocar-se no mesmo plano que o Verbo encarnado e redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de modo diverso pelos ministros sagrados e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, única, se difunde realmente em medida diversa pelas suas criaturas, assim também a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas uma cooperação múltipla, embora a participar da fonte única.

    A Igreja não hesita em atribuir a Maria uma função assim subordinada; sente-a até continuamente e recomenda-a ao amor dos fiéis, para que, apoiados nesta proteção maternal, eles se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador.

    Maria, como Virgem e Mãe, figura da Igreja

    63. A Santíssima Virgem encontra-se também intimamente unida à Igreja, pelo dom e cargo da maternidade divina, que a une com seu Filho redentor, e ainda pelas suas graças e prerrogativas singulares: a Mãe de Deus é a figura da Igreja, como já ensinava santo Ambrósio, quer dizer, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. (18) De fato, no mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, à Santíssima Virgem Maria pertence o primeiro lugar, por ser, de modo eminente e singular, exemplo de virgem e de mãe. (19) Pois, pela sua fé e obediência, gerou na terra o próprio Filho de Deus-Pai: sem conhecer varão, mas pelo poder do Espírito Santo, acreditando sem hesitar, qual nova Eva, não na antiga serpente mas no mensageiro divino. Deu à luz o Filho, a quem Deus constituiu primogênito entre muitos irmãos (cf. Rm 8,29), isto é, entre os fiéis em cuja geração e formação ela coopera com amor de mãe.

    Fecundidade da Virgem e da Igreja

    64. A Igreja, contemplando a santidade misteriosa de Maria, imitando a sua caridade, e cumprindo fielmente a vontade do Pai, pela palavra de Deus fielmente recebida torna-se também ela mãe: pela pregação e pelo batismo gera, para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. E é também virgem, que guarda a fé jurada ao Esposo, íntegra e pura; e, à imitação da Mãe do seu Senhor, conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade. (20)

    Virtudes de Maria que a Igreja deve imitar

    65. Na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já essa perfeição que faz que ela se apresente sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27). Os fiéis, porém, continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade, vencendo o pecado; por isso levantam os olhos para Maria que refulge a toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes. A Igreja, refletindo piedosamente sobre Maria e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra cheia de respeito, mais e mais no íntimo do altíssimo mistério da encarnação, e vai tomando cada vez mais a semelhança do seu Esposo. Com efeito, quando é exaltada e honrada Maria - que, pela sua cooperação íntima na história da salvação, de certo modo reúne e reflete as maiores exigências da fé - ela atrai os crentes para seu Filho, para o sacrifício dele e para o amor do Pai. E a Igreja, por sua vez, empenhada como está na glória de Cristo, torna-se mais semelhante à excelsa figura que a representa, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, buscando e cumprindo em tudo a vontade de Deus. Com razão, a Igreja, também na sua atividade apostólica, olha para aquela que gerou a Cristo, concebido do Espírito Santo o nascido da Virgem precisamente para que nasça e cresça também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. A Virgem, durante a vida, foi modelo daquele amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens.

d. O culto da Santíssima Virgem na Igreja

    Natureza e fundamento deste culto

    66. Maria foi exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe Santíssima de Deus e, como tal, haver interferido nos mistérios de Cristo: por isso, a Igreja a honra com culto especial. Na verdade, já desde os mais antigos tempos, a Santíssima Virgem é venerada com o título de "Mãe de Deus", recorrendo os fiéis com súplicas à sua proteção em todos os perigos e necessidades. (21) Sobretudo a partir do Concilio de Éfeso, o culto prestado a Maria pelo povo de Deus cresceu admiravelmente, manifestando-se em veneração, amor, invocação e imitação, cumprindo-se as palavras proféticas da própria Virgem: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque fez em mim grandes coisas aquele que é poderoso" (cf. Lc 1,48). Este culto, tal como existiu sempre na Igreja, é de todo singular, mas difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo, e muito contribui para ele. Pois que as várias formas de devoção para com a Mãe de Deus, que a Igreja aprovou - dentro dos limites da doutrina sã e ortodoxa, segundo as circunstâncias de tempos e lugares, e atendendo à índole e ao modo de ser dos fiéis - fazem que, ao honrarmos a Mãe, seja bem conhecido, amado e glorificado o Filho, e bem observados os mandamentos daquele "pelo qual existem todas as coisas" (cf. Cl 1,15-16) e no qual "aprouve ao eterno Pai que habitasse toda a plenitude" (cf. Cl 1,19).

    Espírito da pregação e do culto

    67. O Sagrado Concílio ensina deliberadamente esta doutrina católica e exorta ao mesmo tempo todos os filhos da Igreja a que promovam dignamente o culto da Virgem Santíssima, de modo especial o culto litúrgico; a que tenham em grande estima as práticas e os exercícios de piedade que em sua honra o magistério da Igreja recomendou no decorrer dos séculos; e a que observem religiosamente quanto foi estabelecido no passado acerca do culto das imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e dos santos. (22) Além disso, exorta com todo o empenho os teólogos e os pregadores da palavra divina a que, ao considerarem a singular dignidade da Mãe de Deus, se abstenham com cuidado, tanto de qualquer falso exagero, como também duma demasiada pequenez de espírito. (23) Com o estudo da Sagrada Escritura, dos santos padres, dos doutores, e das liturgias da Igreja, esclareçam com precisão, sob a orientação do magistério. as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, que sempre se referem a Cristo, origem de toda a verdadeira santidade e devoção. Evitem diligentemente tudo o que, por palavras ou por obras possa induzir em erro os irmãos separados ou quaisquer outras pessoas, quanto à verdadeira doutrina da Igreja. Por sua vez, recordem-se os fiéis de que a devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e à imitação das suas virtudes.

    V. Maria, sinal de esperança certa e de consolação para o povo de Deus peregrino

    68. Do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja, que há de atingir a sua perfeição no século futuro, assim também já agora na terra, enquanto não chega o dia do Senhor (cf. 2Pd 3,10), ela brilha, como sinal de esperança segura e de consolação, aos olhos do povo de Deus peregrino.

    69. Muito alegra e consola este sagrado Concílio o saber que não falta, mesmo entre os irmãos separados, quem preste a honra devida à Mãe do Senhor e Salvador, de modo particular entre os orientais que afluem com fervor e devoção a venerar a Mãe de Deus sempre Virgem. (24) Todos os fiéis dirijam súplicas instantes à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu com suas orações aos alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e bem-aventurados, interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, para que todas as famílias dos povos, quer se honrem do nome cristão quer desconheçam ainda o Salvador, se reúnam em paz e concórdia no único povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade.


Notas:

    (1) Credo da missa romana: Símbolo Constantinopolitano: Mansi 3, 566. Cf. Conc. de Éfeso, ib. 4, 1130 (e também ib. 2, 665 e 4, 1071); Conc. de Calcedônia, ib. 7, 111-116; Conc. Constantinopolitano II, ib 9, 375-396.
    (2) Cânon da missa romana.
    (3) Santo Agostinho, De S. Virginitate, 6: PL 40, 399.
    (4) Cf. Paulo VI, Alocução no Concílio, 4 dez. 1963: AAS 56 (1964) p. 37.
    (5) Cf. são Germano Const., Hom. ln Annunt. Delparae: PG 98, 328 A; ln Dorm. 2: Col. 357 Anastásio Antioq., Serm. 2 de Annunt., 2 PG 89, 1377 AB; Serm. 3, 2: col. 1388. Santo André Cret., Cant. in B. V. Nat. 4: PG 97, 1321 B. In B. V. Nat., 1: col. 812 A. Hom. in dorm. 1: col. 1068 C. s. Sofrônio, Or. 2 in Annunt., 18 PG 87 (3), 3237 BD.
    (6) Santo Irineu, Adv. Haer. III, 22.4: PG 7, 959 A; Harvey 2, 123.
    (7) Santo Irineu, ibidem: Harvey. 2, 124.
    (8) Santo Epifânio, Haer. 78, 18: PG 42, 728 CD-729 AB.
    (9) São Jerônimo, Epist. 22, 21: PL 22, 408. Cf. santo Agostinho, Serm. 51, 2, 3: PL 38, 335; Serm. 232, 2: col. 1108. Sio Cirilo De Jerusalém, Catech. 12, 15: PG 33, 741 AB. São João Crisóstomo, In Ps. 44, 7: PG 55, 193. São João Damasceno, Hom. 2 in dorm. 8. M. V., 3: PG 96, 728.
    (10) Cf. Conc. Lateranense do ano 649, Can. 3: Mansi 10, 1151. São Leão Magno, Epist. ad Flav.: PL 54, 759. Conc. de Calcedônia; Mansi 7, 462. Santo Ambrósio, De instit. vir.: PL 16, 320.
    (11) Cf. Pio XII, Cart. Enc. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) pp. 247-248.
    (12) Cf. Pio IX, Bula lneffabilis, 8 dez. 1654: Acta Pii IX, 1, 1, p. 616: Denz. 1641 (2803).
    (13) Cf. Pio XII, Const. Apost Munificentissimus. 1 nov. 1950: AAS 42 (1950): Denz. 2333 (3903) Cf. são João Damasceno, Enc. in dorm. Dei genitricis, Hom. 2 e 3: PG 96. 721-762, especialmente col. 728 B. São Germano Constantin., In S. Dei gen. dorm. Serm. 1: PG 98 (6), 340-348; Serm. 3: col. 361. São Modesto de Jer., In dorm. SS. Deiparae: PG 86 (2): 3277-3312.
    (14) Cf. Pio XII, Cart. Enc. Ad coeli Reginam, 11 out. 1954: AAS 46 (1954), pp. 633-636: Denz. 3913 ss. Cf. santo André Cret., Hom. 3 in dorm. SS. Deiparae: PG 97, 1089-1109. São João Damasceno, De fide orth., IV, 14: PG 94, 1153-1168.
    (15) Cf. Kleutgen, texto reformado De mysterio Verbi incarnati, cap. IV: Mansi 53, 290. Cf. santo André Cret., In nat. Mariae, sermo 4: PG 97, 865 A. São Germano Constant; ln annut. Deiparae: PG 98, 312 BC. ln dorm. Deiparae, III col. 364 D. São João Damasceno, In dorm. B. V. Mariae, Hom. 1, 8: PG 96, 712 BC-713 A.
    (16) Cf. Leão XIII, Cart. Enc. Adiutricem populi, 5 set. 1895: ASS 15 (1895-96) p. 303. São Pio X, Cart. Enc. Ad diem illum 2 fev. 1904: Acta, 1, p. 154; Denz. 1978a (3370). Pio XI, Cart. Enc. Miserentissimus, 8 maio 1928: AAS (1928) p. 178. Pio XII, Radiomens., 13 maio 1946: AAS 38 (1946) p. 266.
    (17) Santo Ambrósio, Epist. 63: PL 16, 1218.
    (18) Santo Ambrósio, Expos. Lc 2,7: PL 15, 1555.
    (19) Cf. Ps, Pedro Dam., Serm. 63: PL 144, 861 AB Godofredo de são Vitor ln nat. B. M.. Ms. Paris, Mazarine, 1002 fol. 109r. Gerhobus Reich, De gloria et honore Folii hominis 10: PL 194, 1105 AB.
    (20) Santo Ambrósio, 1. cit. e Expos. Lc 10,24-25: PL 15, 1810. Santo Agostinho, ln Jo. tr. 13, 12: PL 35, 1499. Cf. Serm. 191, 2, 3: PL 38, 1010; etc. Cf. também Ven. Beda, ln Lc Expos. I, cap. 2: PL 92, 330. Isaac de Stella, Serm. 54: PL 194, 1863 A.
    (21) "Sub tuum praesidium".
    (22) Conc. Niceno II, ano 787: Mansi 13, 378-379: Denz. 302 (600-601). Conc. Trid. sess. 25: Mansi 33. 171-172.
    (23) Cf. Pio XII, Radiomensag. 24 out. 1954: AAS 46 (1954) p. 679. Cart. Enc. Ad coeli Reginam, 11 out. 1954: AAS 46 (1954) p. 637.
    (24) Cf Pio XI, Cart. Enc. Ecclesiam Dei, 12 nov. 1923: AAS 15 (1923) p. 581. Pio XII, Cart. Enc. Fulgens corona, 8 set. 1953: AAS 45 (1953) p. 590-591.