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VIOLÊNCIA E RELIGIÃO
Organizador: Maria Clara Lucchetti Bingemer
Editora: Loyola/PUC Rio
Páginas: 296
Formato: 22 x 15 cm
Preço: * * *

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» APRESENTAÇÃO

Este livro é o resultado de longos e laboriosos anos de pesquisa sobre o tema da violência e da religião, e é sobretudo o produto de um esforço de reflexão e de trabalho plural e coletivo.

Será que a "Guerra Santa" se esgotou? Será que o conceito de uma guerra justa, abençoada por Deus, já não se encaixa em nossa teologia? A pergunta perpassa as páginas deste livro, mas não é formulada de modo assim tão claro e direto. A intenção do texto parece fizer que sim. Transpira o desejo de paz e a crença na eficácia dos meios não-violentos de resolução de conflitos. O trabalho da pesquisa, no entanto, vai no sentido contrário. Retoma a violência na tradição e indaga sobre o sentido que possa fazer.

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» CONTEÚDO

  1. Apresentação

  2. Violência e não-violência: raízes bíblicas e repercussões teológicas
    • Introdução
    • Violência e não-violência no Antigo Testamento
    • Violência e não-violência no Novo Testamento

  3. Violência e não-violência na história da Igreja
    • Introdução
    • Os primeiros séculos do Cristianismo
    • As Cruzadas
    • A Inquisição
    • Conclusão

  4. A violência e as outras religiões monoteístas
    • A violência no Islamismo
    • A violência no Judaísmo

  5. Conclusão
    • Caminhos possíveis da não-violência

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» AMOSTRA

Violência e Religião

Violência

A violência tornou-se um fato massivo nas sociedades contemporâneas, a ponto de constituir um verdadeiro desafio para a consciência moral do nosso tempo. Sua generalização apresenta-se como um paradoxo no momento em que nossa compreensão dos fenômenos naturais e sociais; em que o avanço do saber científico e das conquistas da razão; em que a consciência do valor e do respeito 3 vida pareciam afirmar-se de modo indiscutível.

É justamente no século que acabamos de deixar para trás e neste que agora iniciamos que a violência vem se apresentando em suas formas mais insidiosas, mais cínicas, num grau de refinamento que provavelmente supera em muito os períodos mais cruéis da história da humanidade. Genocídios e torturas "cientificamente" organizados; perseguições de todos os matizes; depurações raciais e "limpezas étnicas"; êxodo forçado de populações inteiras e grupos sociais indefesos; terrorismo em formas inumanas; segregação e/ou exclusão econômica, racial e religiosa; todos são comportamentos individuais e coletivos que traduzem nada mais, nada menos, do que o simples e cruel desejo de destruir o outro. E fazem tristemente parte de nosso cotidiano.

Como se isto não bastasse, o desenvolvimento técnico-científico deu origem a novas formas de coação moral e física que possibilitam a manipulação e a violação das consciências, verdadeira indústria da alienação e do cerceamento à liberdade. Estas formas são muito provavelmente as mais danosas, pois, manipulando habilmente as motivações, tendem a encerrar o indivíduo numa rede invisível, fazendo com que ele se torne mais prisioneiro na medida em que se sente mais livre. Organizadas técnicocientificamente, estas formas de coerção moral são insensíveis, pois surpreendem a consciência quando ela se encontra indefesa, apoderando-se da vontade dos indivíduos. E por isto talvez constituam a forma mais ameaçadora de violência e o maior dos desafios para o futuro que há de vir. Pois, contra a brutalidade explícita pode-se supor uma reação que se imponha por si mesma, ao passo que as técnicas de adestramento e condicionamento tendem a conquistar a conivência, quando não a cumplicidade daqueles que são enredados em suas malhas.

Talvez a mais diabólica vitória da violência seja não deixar ninguém fora de seu envolvimento tentacular. Não podemos deixar de perceber, necessariamente, que estamos todos implicados. Somos todos vítimas de uma história patológica. E o segredo para que haja uma "cura" coletiva, um processo solidário de cura, é conscientizar-se desse processo e assumir que estamos todos doentes deste mal, ou pelo menos dele convalescendo.

Reconhecer a carga de agressividade e violência que se encontra em todos e em cada um de nós é o único caminho possível para orientá-la em outra direção, tomar outro caminho e poder aproximar-se dos poderosos e violentos com atitudes e palavras que tenham a esperança de sensibilizá-los. É caminho para ver, também, que não se trata apenas de um problema pessoal, mas também e igualmente estrutural. Estruturas que significam condições de comércio totalmente erradas e injustas, desejo de hegemonia por parte de grandes potências, dissipação de riqueza na corrida armamentista e na exploração das nações pobres são um desafio à consciência da humanidade e uma chamada à responsabilidade de todos e de cada um.

A ideologia da modernidade, por outro lado, canonizando o sucesso, a eficiência, a força, contribui para que a violência vá encontrando cada vez mais justificativas de cidadania no mundo em que vivemos. A própria manutenção do status que é renovadora da violência, instituindo uma "razão armada" que se torna arma e justificativa da cultura que defende o poder e estimula seu uso indiscriminado.

Há uma falta de sentido para a vida, que se caracteriza pela busca desenfreada do "ter", em lugar do "ser", e pelo desperdício dos próprios bens que são consumidos vorazmente e entram rapidamente em estado de obsolescência. Este estado de coisas cria sempre novos ídolos ameaçadores, que colocam a violência como meio justificado para perseguir um fim que na verdade não E mais do que um meio.

As relações humanas a nível mais pessoal também passam por esta valorização do ter, geradora de violência. As relações entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre amigos e parceiros, enfim, entre as pessoas em geral, são permeadas pela violência, na medida em que carecem quase que totalmente de uma gratuidade que desemboca numa substituição da própria presença (ocupada em correr atrás do sucesso e do lucro) por presentes materiais; a substituição do dom de si por coisas, ou mesmo por punições em caso de desagrado, termina por gerar pessoas desequilibradas e, por sua vez, igualmente violentas.

Caso voltemos nossas atenções para a sociedade brasileira em particular, veremos que nela a violência é um fenômeno onipresente. Entre nós, em nosso país, a violência manifesta-se praticamente em todas as suas formas, desde a mais banal, como a agressão física, armada ou não, branda ou brutal, até as mais insidiosas como a segregação econômica e racial, passando por aquelas formas televisivas que não apenas manipulam as consciências, mas que também acabam por reproduzir e banalizar a violência instituída como expressão da nossa sociedade, fazendo com que ela deixe de ser um escândalo moral e político para um número considerável de nossos concidadãos.

A violência, portanto, para qualquer um no mundo de hoje e muito especialmente no Brasil e no Rio de Janeiro, está longe de ser um tema teórico. Pelo contrário, de uma maneira assustadoramente concreta, entra pelas casas e corpos, ameaça a vida em todas as suas dimensões e vai deixando, por onde passa, um rastro de morte e destruição.' Atinge e implica todos os setores da vida, inclusive a religião.

Violência e religião

Um dos problemas maiores que se coloca para a humanidade neste início de século XXI é a relação entre a religião e a violência. Todos os observadores dos fatos e grupos sociais o reconhecem.? A violência cobre o planeta em muitos de seus pontos mais importantes, muitas vezes relacionada de perto com a religião e seus fanatismos e subprodutos, tais como os fundamentalismos de toda espécie, as guerras santas, as "limpezas étnicas" e outros.

As análises feitas sobre este fenômeno, no entanto, permanecem, na maior parte das vezes, na superfície das coisas. Não retêm nada além da emergência sempre mais forte dos "integrismos" de toda espécie, focalizando suas reflexões preferencialmente sobre o fundamentalismo muçulmano.

Ora, parece-nos que a questão é na verdade muito mais ampla e profunda. Não atinge apenas os integrismos, mas muitas das próprias práticas religiosas e as religiões mesmas, inclusive as grandes religiões do Ocidente e as religiões monoteístas. E isto em termos de compreensão e de prática.

A questão da violência e do mal - e, por contraste, também da não-violência-está, portanto, no centro da reflexão hodierna sobre a religião e o fenômeno religioso. Por isto, parece-nos que igualmente e não menos tem que estar no centro do pensamento teológico cristão ocidental, através do qual se procuraria e poderia trazer iluminações verdadeiramente primordiais e - ousaríamos dizer -definitivas - para todo o pensamento ético e religioso que se elabora em corno desta questão neste final de século.

É inevitável a constatação de que a violência permeia toda a história da humanidade, desde a antigüidade chegando aos nossos dias, e apresenta um rosto multifacetado, onde cabem desde os jogos do circo romano, a tortura, passando pelo genocídio, o terrorismo, o infanticídio e outras variadas formas.

Por outro lado, é importante situar a violência no horizonte que lhe é próprio, ou seja: para além dos limites do que é lógico e pensável, no campo do irracional e, por isto mesmo, do perturbador. Neste sentido, o tema da violência faz fronteira com algo que também é impensável racional e filosoficamente. Algo que, portanto, também e igualmente releva do ilógico e do perturbador: o amor, o desejo, a bondade, a fé, a comunicação com o Transcendente...


Texto retirado das páginas 11 a 15.

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