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Organizador: Dionisio Borobio Editora: Loyola Páginas: 656 Formato: 24 x 17 cm Preço: * * * * * Apresentação | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
O objeto deste livro são os sacramentos em particular. O eixo metodológico em torno do qual se
redigiu a obra é o desenvolvimento integral de cada sacramento a partir de diversas
perspectivas (socioantropológica, bíblico-histórica, teológico-sistemática, litúrgico-pastoral),
mantendo como ponto de partida e referência fundamental a celebração litúrgica como realidade
dada e ação da comunidade.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
Como tantos outros aspectos da liturgia cristã, as exéquias constituem
uma classe de ritos comparáveis aos de outras religiões. Um bom caminho
para descobrir os valores especificamente cristãos das exéquias
é sua comparação com os ritos funerários pagãos, nos quais é possível
sublinhar as seguintes dimensões: são ao mesmo tempo um ato profundamente humano e
um rito religioso e sagrado; neles dão-se a mão o culto divino e o
culto aos mortos; exprimem a íntima comunhão existente entre vivos e defuntos e,
de um modo ou de outro, manifestam a esperança no além. Em relação a cada
uma destas dimensões, podemos também distribuir os principais valores das
exéquias cristãs.
1. CELEBRAÇÃO LITÚRGICA DA MORTE
Os ritos e orações que a Igreja previu por ocasião da morte de
um cristão podem ser vistos como simples prova de sentimento
humanitário. Mas se em todas as culturas os funerais tiveram um valor e um
significado religioso, muito mais no cristianismo, para o qual todo o autenticamente
humano é susceptível de adquirir sentido sagrado.
A celebração litúrgica da morte tem seu lugar próprio nos
momentos que antecedem imediatamente a morte ou durante a mesma: o viático e
a recomendação do moribundo constituem as ações litúrgicas que convertem
um ato fisiológico numa celebração cristã, no qual o mesmo moribundo
toma parte ativa. A morte pode ser objeto de celebração litúrgica na
medida em que está relacionada com o mistério pascal de Jesus Cristo, única
realidade que é de fato celebrada pelos cristãos. A morte para o cristão alcança
seu sentido específico quando é o meio para incorporar-se definitivamente ao
mistério pascal, como termo dinâmico da "morte" mística operada no batismo
e de todas as "mortes" diárias ao pecado.
As exéquias contribuem para sublinhar este aspecto de
celebração da morte, sem esquecer outras dimensões complementares. A Igreja, por
meio das exéquias, reza pelo defunto e dá ensinamentos aos vivos, mas
principalmente "celebra" o fato da morte, não evidentemente por si mesmo, mas
enquanto acontecimento de salvação, já que está ligado à fonte
originária de toda salvação, que não é outra senão a morte e ressurreição do Senhor.
2. VENERAÇÃO CRISTÃ DO CORPO
No cristianismo também podemos falar dos ritos funerários como
de "honras fúnebres" tributadas ao defunto, mas num sentido muito
diferente daquele que é habitual no paganismo. Neste, o culto aos mortos adquire
ou caracteres de temor supersticioso, ou então aspectos especificamente
divinos. Nas exéquias a Igreja honra o corpo do defunto por razões relacionadas com a
fé: o corpo do cristão foi instrumento do Espírito Santo e é chamado à
ressurreição gloriosa.
Os ritos e cerimônias que na antigüidade constituem a toalete
fúnebre eram expressão da veneração cristã do corpo: a mesma realidade
corporal que, em vida, havia sido banhada pela água do batismo, ungida com
óleo santo, alimentada com o pão e o vinho eucaristicos, marcada com o
sinal da salvação, protegida com a imposição das mãos, isto é, que havia sido
instrumento da eficácia dos sacramentos, uma vez convertida em cadáver,
continuava sendo objeto de cuidado solícito da mãe Igreja. O Ritual atual
prevê - e talvez fosse conveniente revalorizar todos estes gestos - que o corpo
do defunto seja aspergido com água benta, iluminado com luzes e tratado
com o máximo respeito. São sinais de que o corpo é algo sagrado para o
cristão e de que o cristianismo não quer nada com dicotomias artificiais: é todo
o homem, alma e corpo formando uma unidade vital, que é objeto da salvação.
3. COMUNHÃO ENTRE VIVOS E DEFUNTOS
O cristianismo aceita a convicção pagã de que o defunto não
desaparece nem se afasta totalmente do mundo dos seres vivos, e a eleva a
um plano totalmente iluminado pela luz da fé. O cristão não morre sozinho,
mas o faz cercado pela comunidade de crentes, a qual, por sua vez, se
encarrega de encomendá-lo à comunidade eclesial. Vários aspectos tradicionais
dos ritos exequiais cristãos mostram admiravelmente esta verdade.
A princípio, talvez se tratasse apenas do grupo familiar. Mais
tarde é a comunidade paroquial, embora seja apenas por meio da
representação do pároco, que se faz presente tanto no momento da morte como na
celebração dos ritos post mortem. Nas ordens monásticas ainda tem muita
importância a reunião afetiva de todos os membros da comunidade junto ao
leito do moribundo, primeiro, e junto ao féretro, depois. O mesmo sentido
deveria ter o costume dos "velórios". O Ritual atual, além disso, restaurou o
antigo rito chamado "última recomendação" ou saudação final tributada ao
cadáver, rito que - tomando em cada lugar a forma mais apropriada à sua
idiossincrasia cultural - deveria ser considerado como um ponto culminante da
celebração exequial: é a saudação de despedida que toda a comunidade
apresenta ao membro defunto no momento de sua partida para a casa do Pai.
Tanto nas orações da recomendação do moribundo como nas orações
e cânticos que acompanham os ritos mortuários, há invocações à
Virgem Maria, aos anjos e aos santos. Sem negar o aspecto de petição de
intercessão dos mesmos em favor do defunto, é preciso sublinhar como intenção
primordial da liturgia a de realizar como que uma chamada, uma convocação
de todos os membros da Igreja celestial para que recebam em sua
companhia aquele que até agora fazia parte da comunidade terrena.
As exéquias podem ser consideradas um tipo especial de
procissão litúrgica. Como toda procissão, exprime o simbolismo da Igreja como
povo peregrinante, em marcha, para as metas definitivas da glória. É
precisamente por ocasião da morte de um de seus membros que a comunidade
eclesial pode sentir-se menos instalada neste mundo e experimentar ao vivo
sua essencial condição nômade, de homens e mulheres que não têm aqui morada
permanente mas que esperam a futura. Embora atualmente haja razões
poderosas que obrigam a suprimir os cortejos fúnebres, sobretudo nas
grandes cidades - e a isto obedece a possibilidade prevista no novo Ritual de
organizar as exéquias segundo três tipos principais, que se diversificam
segundo o número de estações e procissões -, contudo, parece que é necessário
conservar de alguma forma o sentido processional das exéquias.
Um dos principais objetivos que a liturgia dos funerais
persegue é o de elevar preces de intercessão pelo defunto, com o que se põe
também em evidência a íntima vinculação entre vivos e mortos. As petições da
Igreja centralizam-se no perdão dos pecados do defunto, na libertação das
penas do inferno, na entrada na glória celestial. O sacrifício
eucarístico oferecido pelo defunto tem também essa finalidade de intercessão, e também as
orações que fazem parte da vigília fúnebre. Tudo isto é mostra palpável dos
vínculos estreitos que existem entre a comunidade dos vivos e o membro
defunto. É interessante verificar que a oração mais antiga pelos defuntos -
ainda incrustada na oração eucarística - diz simplesmente: Memento,
"Lembra-te, Senhor", insinuando com isto que a "recordação" que Deus tem dos
defuntos está intimamente vinculada à "recordação" que deles conservam os
fiéis vivos através de suas orações e sufrágios.
Boa parte da liturgia exequial está destinada a doutrinar os
fiéis vivos sobre o sentido da morte. A Igreja, aproveitando o fato da
morte de um dos seus filhos, ministra um ensinamento vivo e eficaz, que serve
também para reforçar os laços de união entre todos os seus filhos. As leituras bíblicas e
a homilia constituem uma parte essencial de tal ensinamento catequético, mas
também os cânticos e as orações contêm uma grande riqueza doutrinal. Um
aspecto interessante deste ensinamento - e que também mostra a vinculação
com o defunto - é que, de certa forma, é o próprio defunto que, posto no
meio da assembléia, adoutrina os demais com sua presença muda e com uma
série de textos ditos in persona defunti.
A esperança da ressurreição é um dos leitmotiv mais manifestos das exéquias
cristãs. Os textos das leituras bíblicas, dos salmos, das antífonas e das
orações exprimem constantemente a confiança na ressurreição dos mortos.
O rito da inumação ou enterro propriamente dito também tem este significado,
que é o indicado por são Paulo: "Semeado na podridão, o corpo ressuscita
incorruptível. Semeado na humilhação, ele ressuscita glorioso. Semeado
frágil, ressuscita forte. E semeado um corpo animal, ressuscita um corpo espiritual"
(1Cor 15,42-44). O rico simbolismo da inumação, herdado de outras
religiões, é o que explica a resistência que a Igreja Católica teve em admitir
outro tipo de práticas com relação aos cadáveres. Contudo, a legislação canônica
atual admite também a cremação e incineração, desde que isto não represente
desprezo pelo dogma da ressurreição dos mortos nem se apresente
como uma atitude anticristã.
Em resumo, se queremos situar em seu lugar adequado a originalidade
específica das exéquias cristãs em relação com os ritos funerários civis ou de
religiosidade natural, devemos falar, de acordo com a constituição "Sacrosanctum
concilium" do Vaticano II (n. 81), do "sentido pascal da morte", isto é, da
relação da morte cristã com o mistério pascal de Jesus Cristo. Não poderia
ser de outro modo, já que o caráter específico do cristianismo, sua novidade
radical, consiste precisamente na pessoa de Cristo e, mais concretamente, no
aspecto dinâmico de sua morte e de sua ressurreição.
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Sentido das Exéquias Cristãs
4. ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO
Texto retirado das páginas 617 a 620.
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