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NOVAS SEITAS: UM NOVO EXAME
Autor: Jean-François Mayer
Editora: Loyola
Páginas: 142
Formato: 21 x 14 cm
Preço: * * *

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» APRESENTAÇÃO

As seitas cheiram a enxofre. E os novos profetas são, à direita e à esquerda, objeto de suspeição. Nem sempre injustamente, é preciso dizê-lo...

Fascinado pelos fenômenos da marginalidade religiosa decidiu, entretanto, um jovem historiador proceder à sua indagação, sem preconceitos. Este livro é o fruto dessa indagação. Revela-nos ele um mundo muito mais complexo do que talvez se imagine, onde o melhor ladeia o pior. Ao invés de julgá-lo, porém, tenta a obra compreendê-lo e torná-lo compreendido. Apoiado em abundante e recente documentação, não se limita a uma discussão teórica: descreve, explica, interroga com sensibilidade.

Ao longo de suas páginas entram em cena Moon, os devotos de Krishna, os adeptos da Meditação Transcendental, os cientólogos e outros numerosos grupos menos conhecidos.

Essas novas seitas não são, aliás, mais que a parte emersa do iceberg, sinal precursor de uma nova religiosidade que se apresenta com boas probabilidades de ir impregnando cada vez mais a nossa vida cotidiana. Esforça-se o autor por demarcar esse fenômeno. Conciso, prático, dirige-se o seu livro não somente a todos a quem as seitas interessam como também a todos os que se interrogam a respeito da evolução espiritual de nosso tempo.

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Os Mestres Espirituais

Seres excepcionais aos olhos de seus discípulos, temíveis charlatães segundo os seus adversários - ninguém contestará a evidente importância dos "novos profetas" e outros gurus para o nosso assunto!

Especialista das religiões japonesas, refere o pastor Notto Thelle, que visitava certo dia o centro de um movimento nipônico com um amigo missionário; acabou este último por manifestar a sua irritação diante das incessantes referências ao fundador. Fez-lhe então o pastor Thelle esta observação: "Toda vez que você prega na sua igreja, toma como base de seu sermão a história do seu fundador!" Pertinente reflexão, que nos ajuda a melhor compreender o papel supereminente que é em geral atribuído ao mestre espiritual: o culto da personalidade que freqüentemente o cerca é uma realidade por vezes irritante, mas nada tem de excepcional no universo religioso.

O mestre espiritual pode ver-se atribuído o papel de mediador (o que será evidentemente sentido num meio cristão como uma usurpação da posição de Cristo e acentuará a desconfiança em relação ao personagem): através do Rev. Moon e sua esposa, casal ideal centrado em Deus, torna-se possível a restauração de uma sociedade ideal; o chefe do movimento Mahikari é o intermediário indispensável para estabelecer entre Deus e os homens o vínculo espiritual que permite transmitir a Luz.

Mediador ou não, é não raro o fundador tido como beneficiário de capacidades extraordinárias (só a Vida Universal insiste deliberadamente no caráter ordinário da profetisa para salientar o caráter único da mensagem): no ativo de Sri Chinmoy centenas de livros, milhares de cantos e dezenas de milhares de quadros; em um campo de concentração em que todos estavam subalimentados, o Rev. Moon teria sobrevivido dividindo a sua ração e rezando durante a noite; não contente de ter fornecido (no dizer dos discípulos) contribuições a diversos setores dos conhecimentos humanos, afirmava Hubbard saber também com certeza quem ele era e onde estava "durante os últimos 80 trilhões de anos"! A biografia de Hubbard, tal como a escrevem os seus admiradores é, de resto, significativa: tudo deve concorrer para dar a impressão de um homem superior à mediania; menciona-se a cada passo o fato de que suas obras de ficção científica se vendem aos milhões de exemplares, que ele efetuou grandes viagens de exploração etc. A apresentação toma até uma feição involuntariamente cômica quando se considera necessário assinalar piedosamente que o jovem Hubbard aprendeu a ler e a escrever na idade de 3 anos e meio, que ele já havia recebido uma instrução aprofundada na idade de 10 anos e que foi o rapaz mais novo do país a receber a medalha de escoteiro da patrulha das águias na idade de 12 anos!

A apresentação do falecimento de Hubbard por um órgão da Igreja da Cientologia dispensa qualquer comentário:

Na mesma ordem de idéias destacamos a busca de "respeitabilidade", mormente na maioria dos movimentos orientais. No decurso das suas viagens pelo mundo afora, Daisaku lkeda visita eminentes homens políticos e personalidades universitárias; as fotografias desses encontros são largamente difundidas. Sri Chinmoy teve ocasião de saudar Paulo VI e João Paulo II. O Papa! Fazer-se fotografar em sua companhia parece ser o sonho de muitos gurus - uma espécie de "etiqueta" altamente apreciada! E isso não fica sem efeito junto a um certo público, para a imagem e o prestígio do mestre...

É claro que a morte do fundador pode causar sérios problemas em um movimento: as possibilidades de cisma ou esfacelamento são sempre grandes nesse momento. No caso da Igreja da Cientologa tanto o "Religious Technology Center" (que dirige a Igreja) como David Mayo e Bili Robertson se declaram investidos da guarda do legado espiritual do fundador. No Japão, ao morrer Kotama Okada, ocorreu uma cisão no seio de Mahikari - afirmando firmemente os dois "pretendentes ao título" terem sido designados pelo defunto... Será interessante ver o que sucederá nos movimentos de que o fundador ainda se acha neste mundo. Eis como Won Pil Kim descreve o futuro da Igreja da Unificação:

    Quando o Rev. Moon passar para o mundo espiritual continuará, desde lá, a guiar o desenvolvimento da igreja, da mesma maneira que Jesus deu revelações a seus discípulos. Mesmo hoje muitos membros pelo mundo afora recebem direção e conselho do Rev. Moon através de sonhos e visões.

Vários mestres se esforçam por preparar sem demora a sua sucessão, para que a "transmissão dos poderes" se efetue sem demasiados abalos. A Associação Internacional para a Consciência de Krishna é um bom exemplo: Swami Prabhupada confiara importantes responsabilidades a alguns de seus discípulos mais íntimos; após a sua morte cada um deles assumiu a responsabilidade de uma zona geográfica, e todos se reencontram no seio de um organismo central. Não escondem, contudo, certos devotos que esse período de transição haja posto à prova a sua fé: calcula-se que de 20 a 25% dos devotos americanos abandonaram esse movimento após o falecimento do fundador. Além disso, embora cercados de respeito, não beneficiam evidentemente esses mestres espirituais do mesmo prestígio que Swami Prabhupada. A AICK parece ter provado a sua capacidade de se perpetuar, mas como a autoridade foi igualmente repartida entre diversas cabeças, não se deve excluir, a mais longo prazo, que certos setores do movimento venham a conhecer evoluções divergentes em função das preocupações e métodos dos diversos mestres espirituais de que dependem.

O movimento sobreviveu às defecções de vários mestres espirituais nestes últimos anos (por terem as disposições tomadas a vantagem de limitar mais ou menos a um setor territorial o impacto de cada uma dentre elas), mas um deles levou consigo os discípulos, provocando desse modo o nascimento de um cisma nos Estados Unidos:

    trata-se do muito controvertido Swami Bhaktipada, que se assinalou particularmente em novembro de 1987 ao tomar a iniciativa de admitir mulheres na ordem dos renunciantes.

Por outro lado, os abusos cometidos por certos mestres espirituais acentuaram o descontentamento de certos devotos que contestavam o caráter (a seu ver excessivo) da posição e das honras concedidas aos sucessores de Swami Prabhupada, cercados notadamente de uma veneração litúrgica semelhante à de que beneficiara o fundador. Uma corrente de reforma foi assim abrindo caminho, com o apoio de alguns mestres empenhados em preservar o ideal do movimento, e diversas medidas foram enfim adotadas pelo órgão supremo do AICK, em março de 1987, a fim de introduzir diversos corretivos. É impressionante ver que de uns tempos para cá o informativo mensal do movimento (ISKCON World Review) aborda abertamente essas questões, e as reações dos membros do AICK através do correio dos leitores ilustram a intensidade dos debates que se desenrolam em certos países entre os devotos de Krishna.

Para retornarmos aos fundadores de movimentos, devemos ainda nos perguntar quem são os novos profetas. Donde vêm eles? Que motivações os arrastam?

Nem sempre é fácil sabê-lo. Sua biografia oscila entre a "his- tória sagrada" que ela se torna na versão dos seus discípulos e o acúmulo de insinuações mais ou menos caluniosas pelas quais crêem seus adversários poder demoli-los. E a verdade não se situa forçosamente a meio caminho!

Notemos inicialmente que a maioria dos fundadores desses movimentos tiveram, de saída, uma formação e atividades em domínios que nada tinham a ver com a teologia (embora afirmem vários deles ter manifestado um precoce interesse por essas questões, o que não é inverossímil nem incompatível). Alguns foram indagadores espirituais e chegaram até a pertencer a diversos grupos: é o caso do fundador de Eckankar - posto que a biografia "oficial" de Twitchell não diga palavra a respeito do segundo ponto. Demonstraram inequivocamente diversas pesquisas os importantes empréstimos feitos de outros autores pelas obras de Twitchell, bem como tudo o que ele deve aos ensinamentos de Kirpal Singh (1894-1974), o fundador de Ruhani Satsang, de que Twitchell fora discípulo. E pode-se, sem demasiado risco, supor que nunca existiu nenhuma antiga e venerável "Ordem dos Vairagis" antes que viesse a Twitchell a idéia de invocá-la para se construir uma genealogia espiritual tão prestigiosa quanto imaginária...

Muitos pontos de Mahikari foram vastamente influenciados pela anterior afiliação do fundador ao Sekai Kyussi Kyo. E não seria, provavelmente, desinteressante conhecer certos pormenores sobre o itinerário do chefe da Organização Lifewave.

As pesquisas dos sociólogos americanos Bainbridge e Stark sobre diversos grupos e mestres (não aqueles de que falamos nesta obra) que tiveram ocasião de observar de perto, sugerem a possibilidade de situações realmente pasmosas:

    (...) um de nós (Bainbridge) passou muito tempo, no começo da década de 60, com as seitas disquistas que então floresciam, observando os "contactados" - essas pessoas que pretendiam ter tido um contato pessoal direto com extraterrestres e ter até efetuado viagens interplanetárias com eles. Um grande número de indícios separados animavam fortemente a concluir que a maioria dos contactados tinham consciência de inventar tudo aquilo. Alguns, dentre os que tinham mais êxito, não se preocupavam muito com isso, porque eram velhacos de longa data (...) Mas a maioria dos contactados parecia dar crédito às pretensões dos outros contactados e crer que eles eram os únicos que fingiam. Viemos além disso a descobrir provas claras de que alguns chefes de seitas (...) eram impostores conscientes, que sabiam perfeitamente que não tinham poderes psíquicos ou místicos, mas continuavam a pensar que outras pessoas eram autênticos místicos ou psíquicos. Donde o estranho espetáculo de chefes de seitas que convenceram profundamente um grupo de adeptos de que só eles têm acesso aos mistérios divinos e continuam apesar disso a procurar as suas próprias respostas religiosas, misturando-se incógnitos, e sem que os seus discípulos o soubessem, a outros movimentos.

Naturalmente, a insólita situação descrita no fim desta citação só se pode apresentar no caso de pequenos grupos de que o chefe não tem ainda vasta reputação. Mas as observações desses dois sociólogos abrem fascinantes perspectivas sobre o itinerário que podem seguir certos mestres espirituais e a complexidade de sua atitude. Não seriam acaso vítimas de sua própria credulidade os que se vêem acusados de enganar os seus adeptos? E incapazes de sair da situação em que se colocaram?

O que não quer dizer, é claro, que outros mestres não estejam intimamente convencidos de tudo quanto afirmam. Dificilmente ousaríamos nos arriscar a decretar quem é sincero e quem não o é tanto mais que a sinceridade está longe de constituir um critério suficiente para aquilatar o valor de uma via espiritual! Em definitivo, antes reconhecer que permanecem enigmas para nós muitas dessas figuras.


Texto retirado das páginas 89 a 93.

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