»» Livros

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA DOS SACRAMENTOS
Autor: Philip J. Rosato
Editora: Loyola
Páginas: 136
Formato: 21 x 14 cm
Preço: * *

Apresentação | O Autor | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet

» APRESENTAÇÃO

Este estudo mostra a necessidade de situar os sacramentos no horizonte dos ritos religiosos de toda a humanidade. Pretende identificar a origem dos sacramentos não primariamente nas palavras e sim nos gestos proféticos do Jesus histórico. Quer igualmente redescobrir o papel essencial do Pai e do Espírito Santo nos sacramentos, em contraposição a uma visão unilateralmente cristocêntrica, e iluminar o nexo entre a graça sacramental e o estilo de vida ético a ser adotado pelos cristãos na sociedade.

Para responder à objeção de que os sacramentos são estranhos ao compromisso moral dos cristãos na sociedade, cada parte dos estudos começa com reflexões fundamentais, inspiradoas de modo especial na etnologia e na sociologia religiosa.

Para enfrentar a crítica segundo a qual os sacramentos obrigam a uma atitude de obediência passiva mais do que a uma liberdade criativa, este estudo recorre à hipótese da semelhança entre a índole dinâmica dos gestos rituais realizados pelos profetas de Israel e os gestos do Jesus histórico. A liturgia sacramental é vista como um envolvimento contínuo dos cristãos nos atos proféticos de Jesus, de modo que ela possa ser vivida como um acontecimento extraordinário na história pessoal, criadora de comunidade sincera, propícia à metanóia e prefiguradora de nossa inclusão no Reino de Deus.

Topo

» O AUTOR

Philip J. Rosato (sj) nasceu na Filadélfia (EUA), em 1941, e foi ordenado presbítero da Companhia de Jesus em 1971. Cursou filosofia e teologia na Universidade Fordham, de Nova Iorque, e e no Woodstock College, em Baltimore. Em 1975, doutorou-se em teologia dogmática na Universidade Eberhard-Karls, em Tübingen (Alemanha), e passou a lecionar teologia fundamental e dogmática na Universidade Saint Joseph, de Filadélfia, até 1979, quando foi chamado à Pontifícia Universidade Gregoriana para ministrar cursos institucionais sobre os sacramentos. Desde 1989 é ordinário de teologia dos sacramentos. Além de artigos e colaborações em obras coletivas, publicou em 1981 sua tese de doutorado.

Topo

» CONTEÚDO

  1. Prefácio

  2. Ações epicléticas realizadas na unidade do Espírito Santo
    1. Uma interpretação pneumatológica das invocações cultuais nas religiões primitivas
    2. Mediante os sacramentos, o Espírito constitui a Igreja em unidade e a envia em missão profética

  3. Ações anamnésicas e de prognose realizadas por Jesus Cristo, com Jesus Cristo e em Jesus Cristo
    1. Os sacramentos conexos com a justiça de Jesus: Batismo, Crisma, Reconciliação e Unção dos Enfermos
    2. Os sacramentos relacionados com a autodoação de Jesus: Eucaristia, Ministério e Matrimônio

  4. Ações doxológicas voltadas para a honra do Pai
    1. A finalidade escatológica do culto e da graça sacramental: a glorificação do Criador
    2. A ortopraxia sacramental: a moralidade cristã e a missão escatológica do Espírito ad Filium Patremque

  5. Conclusão

Topo

» AMOSTRA

O Espírito Santo como Pessoa Divina
que facilita o desenvolvimento do Culto profético

Essa questão fundamental referente ao vínculo entre rito religioso e renovação social não pode receber uma resposta da etnologia e da sociologia, disciplinas que se limitam aos métodos empíricos, pois a garantia da duração e da realização permanente do potencial moral dos símbolos torna necessária a existência de uma realidade transempírica ou ôntica, capaz de estimular e de reorientar a liberdade humana. Ora, os dados que dizem respeito ao genuíno senso religioso e ético que o ritual pode ser capaz de evocar remetem à possível existência dessa realidade transcendente.

Em particular, o caráter epiclético dos dados exige alguma explicação ulterior. O que leva as pessoas humanas a invocar uma divindade repetidamente, com gestos simbólicos considerados determinantes para a coesão social e que são postos em prática para realizar essa coesão? O que as leva a considerar a invocação seja como participação de uma divindade no culto, seja como co-responsabilidade com uma divindade no esforço de renovar todas as coisas? O que as induz a passar de uma forma de rito invocatório, que desemboca num otimismo ilusório fundado no isolamento social, a um rito que promove a realização pragmática da verdade mediante a harmonia social? Se essas questões são levadas em consideração mais como de interesse inútil numa perspectiva pré-cientifica, então seriam duas as respostas possíveis: ou esses indicadores de uma realidade transcendente são intrinsecamente falsos - ou seja, os seres humanos, por ignorância, projetam sua próprias necessidades e suas próprias aspirações numa divindade não existente, que outra coisa não simboliza senão sua própria capacidade de autotranscendência num sentido puramente antropológico -, ou esses indicadores estão intrinsecamente corretos - isto é, as pessoas reconhecem espontânea e imediatamente uma divindade, cuja imagem elas refletem, e só então projetam os próprios ideais morais e sociais no ser invisível e pessoal da mesma divindade, que é sua criadora e fiadora porque age enquanto tal.

Aqueles que optam pela solução atéia mantêm a posição de denunciar a verdadeira natureza da liturgia como empreendimento totalmente humano, inutilmente envolto numa terminologia ôntica anacrônica, que, todavia, leva as pessoas ao pleno controle de um destino que é justamente o delas. Aqueles que optam pela solução teísta têm a pretensão de perceber o significado real da liturgia como uma iniciativa composta, ao mesmo tempo divina e humana, expressa numa terminologia de razão transcendente, que impele, realmente, as pessoas para o controle pleno de um destino que desde o início até o fim é coexistência - fruto de dom e de graça - com a divindade misteriosa.

Esta seção procura delinear os traços principais de uma formulação cristã da solução teista para questões fundamentais postas pelo estudo empírico da força moral do rito. Mais, dado o caráter epiclético dos fenômenos, a solução será proposta em categorias decididamente pneumáticas. Assim, o conhecimento da divindade, na medida em que é inicialmente experimentado como um impulso divino para o culto e para o compromisso moral, será descrito como uma confissão implícita da divindade do Espírito Santo. Essa decisão de argumentar, a partir da experiência da invocação humana, sobre a existência do Espírito Santo como seu fundamento último, baseia-se na convicção de que atualmente os pensadores cristãos deveriam evitar o fundamentalismo bíblico e dogmático e continuar mais uma vez a pesquisa patrística e medieval das vestigia Trinitatis não apenas nas Escrituras e no cerimonial hebraico, mas também nos escritos e nas práticas cultuais de todas as tradições religiosas. Além disso, se os dois mistérios centrais do cristianismo são a encarnação e a graça, dever-se-iam procurar vestígios da presença tanto do Filho como do Espírito em toda experiência em que o conhecimento conduza ao amor do transcendente e em que o amor praticado sob o poder do transcendente contribua para elevar o seu conhecimento.

Mas antes de irmos adiante por estas linhas, é preciso dizer uma palavra sobre o método, a fim de esclarecer o objetivo das reflexões que seguem, bem como seu conteúdo.

O raciocínio indutivo que a pergunta sobre as vestigia Trinitatis implica pertence ao método da teologia sistemática, pois o recurso a novos dados e sua análise aprofunda a inteligibilidade e aumenta a credibilidade do ensinamento cristão, embora sem a intenção de servir como sua prova absoluta. A utilização de um método indutivo procura assim iluminar o conteúdo do credo cristão a partir do interior, isto é, permitir à razão criada, que também é puro dom, realizar-se lançando luz sobre o doador da vida e o inaugurador da salvação. No que diz respeito aos dados específicos provenientes das ciências sociais referentes aos motivos epicléticos do culto e da moralidade, o esforço de encontrar neles sinais da obra que o Espírito Santo realiza na liturgia e na prática cristã não quer diminuir nem a originalidade do Novo Testamento nem sua indispensabilidade. Antes, explicando como o Espírito Santo cumpre um papel salvífico cósmico antecedente à fundação do Novo Pacto mediante Jesus Cristo, concomitante a ele e subseqüente a ele, permite-se que os teólogos cristãos apresentem tanto o culto como a ética da Igreja em sua inserção na natureza religiosa das pessoas, a ponto de oferecer uma expressão, exclusiva e privilegiada, do que o amor divino pretende realizar em todo ato de louvor e em todo relativo compromisso referente à harmonia social.

O enfoque aqui será sobre a investigação de todas as formas de rito e de moralidade, como encontros com o ser e a ação do Espírito Santo, na medida em que esses fenômenos religiosos permitem:

  1. Que a origem divina do mundo tenha um futuro no divino;
  2. Que a história divina chegue a uma transcendência no divino;
  3. Que o dom divino seja concluído no seu acolhimento;
  4. Que o conhecimento do divino se manifeste no amor divino.

Em outras palavras, mostrar-se-á, com a ajuda desses quatro pares de conceitos (origem-futuro, história-transcendência, dom-acolhimento, conhecimento-amor), que o rito autêntico e a moralidade autêntica são em si mesmos eventos de graça - e como tais podem ser reconhecidos, pelo menos implicitamente -, ou seja, são iniciados e dirigidos pelo Espírito de Deus, do qual adquirem sua eficácia constante e sua força de renovação.

  1. O Espírito, ao agir na epiclese, leva a criação a seu futuro. Toda vez que as pessoas humanas invocam a divindade no contexto de um cerimonial solene, o próprio ato de invocação é inspirado e guiado pela presença imanente da própria divindade. O objetivo divino em dar início à epiclese é o de permitir que as pessoas tenham alguma participação ao levar a criação, a ordem do seu próprio ser, até um estágio avançado de existência, para que aquilo iniciado pela divindade possa chegar a um futuro mediante a sua livre cooperação. Se apenas a divindade é capaz de liberar as pessoas para o culto, os dados múltiplos dos fenômenos cultuais explicam-se melhor ao se afirmar que a divindade opera na humanidade para fazer o ato primordial da criação se prolongar por meio da transformação humana da realidade que o rito encoraja.

  2. Mediante a epiclese, o Espírito dá à história sagrada de um povo uma transcendência contínua. Não existe nenhuma comunidade humana sem uma tradição de culto e de obrigações morais. Com efeito, tal história religiosa determina um presente particular da cultura e chega a um estágio de acabamento ou transcendência toda vez que a geração seguinte reitera o culto e assim preserva da dissolução o código moral. Se somente a divindade pode garantir que as práticas sagradas do passado se conservem a cada nova geração, é razoável atribuir ao poder imanente da própria divindade o fato de as pessoas se sentirem obrigadas a tornar continuamente eficazes as tradições cultuais e morais de seus antepassados. Sem absorver o papel próprio da humanidade, a ação da divindade produz as possíveis condições para que uma herança de louvor religioso e de compromisso social possa ser prolongada no espaço e no tempo.

  3. Por meio da epiclese, o Espírito permite que um dom do Criador encontre acolhimento. Os bens da terra, que são incorporados nos cerinioniais sagrados e promovidos pelo comportaniento ético, podem ser considerados dons criados somente se a divindade fizer que essa idéia surja nas mentes humanas. Essa compreensão seria inadequada, todavia, se o dom da divindade não promovesse ao mesmo tempo um espírito de acolhimento, a ponto de poder atingir o próprio objetivo no agradecimento e na responsabilidade humana. O fato de isso acontecer em momentos epicléticos do rito, em que se vem a conhecer um modelo para o uso apropriado dos frutos da natureza, é interpretado no modo mais adequado como um resultado da atividade imanente da divindade nos atos de fé individuais e comuns.

  4. Operando na epiclese, o Espírito transforma o conhecimento de Deus em amor para com ele. Tudo o que se conquistou, permitindo que uma origem tenha um futuro, que uma história tenha uma transcendência e que um dom tenha um acolhimento, implica uma passagem do conhecimento ao amor da divindade. Se apenas a divindade pode promover essa iluminação racional e essa resposta no plano da vontade, tanto uma como outra em atos pessoais e comunitários de conhecimento e de entusiasmo é legítimo atribuir esses atos à sua presença imanente. Assim, a epiclese litúrgica e a conseqüente invocação da divindade no processo de manutenção da coesão social são realmente expressões humanas de amor pela divindade, mas se manifestam porque antes a divindade ajuda os homens a se lembrar da origem divina, da história e do dom, abrindo-se assim para eles um futuro de reconhecimento, transcendente, com a própria divindade.

Analisando os dados científicos sobre a epiclesc ritual da divindade e o compromisso que a acompanha na conduta moral, os teólogos cristãos podem descobrir nesses fenômenos sinais da atividade divina universal atribuída de modo próprio ao Espírito Santo. De fato, embora a identidade da divindade, enquanto recebe a invocação, reflita a do Pai e, enquanto motiva a invocação, reflita a do Filho, esses dois aspectos do ser divino não explicam plenamente a acessibilidade de um amante e reconhecido futuro com a divindade, que é experimentada por seus adoradores quando recitam orações epicléticas e se comprometem com a melhoria social. A identidade certa da divindade, enquanto facilita a invocação, é a do Espírito Santo, o Senhor descrito no terceiro artigo do Credo como aquele que permite à humanidade participar da vida divina, ao qual cabe a própria glória juntamente com o Pai e com o Filho, que une, santifica, universaliza e põe em estado de missão a Igreja, que torna santificantes o Batismo e a Eucaristia, que assegura um verdadeiro autegozo do tempo final marcado pela ressurreição corporal e pela glória eterna. Com a ajuda de tal interpretação pneumatológica explícita tanto da invocação litúrgica como da ética profética, os elementos potencialmente benéficos que os etnólogos e os sociólogos atribuem ao culto humano adquirem não só uma profunda inteligibilidade como também uma última justificação, pois são entendidos como guiados pelo poder divino.

A atividade do Espírito, todavia, revela que a sabedoria e o poder divino não fazem violência. Da presença imanente do Espírito no rito fica evidente que a sabedoria divina consiste na comunhão e que o poder divino consiste no amor. Assim, como Comunhão-em-pessoa intradivina, o Espírito Santo opera ad extra para unir entre si os participantes do culto, tornando-os capazes antes de mais nada de invocar o único Pai, e portanto, de gozar, direta ou indiretamente, da comunhão com o Filho. E, como Amor-em-pessoa intradivino, o Espírito Santo age na história da salvação para convidar os participantes do culto ao compromisso social, induzindo-os em primeiro lugar a levar adiante a obra criadora do Pai e, portanto, explícita ou implicitamente a participar da missão renovadora do Filho. Uma leitura pneumatológica dos dados referentes à inter-relação entre rito epiclético e moralidade social, portanto, explica como todo culto, mesmo de um modo atemático, está ligado aos aspectos mais importantes do terceiro artigo do Credo cristão. De fato, o culto tem a ver com a cooperação com o Espírito no agradecimento ao Criador por todos os seus dons e especialmente por seu Filho (aspecto trinitário), realizando a harmonia e o objetivo social (aspecto eclesiológico), plasmando os simbolos sagrados e deles participando (aspecto sacramental) e, enfim, procurando caminhos para a renovação do cosmo na esperança (aspecto escatológico). Com efeito, todas as dimensôes da epiclese ritual e da ação profética encontram na pneumatologia cristã sua garantia e seu cumprimento definitivos.


Texto retirado das páginas 24 a 30. Notas omitidas.

Topo

» MAIORES INFORMAÇÕES

EDIÇÕES "LOYOLA"
Rua 1.822 nº 347 - Ipiranga
São Paulo/SP - CEP 04216-000

- OU -

Caixa Postal 42.335 - São Paulo/SP - CEP 04299-970
Telefone: (0xx11) 6914-1922

Topo

» PEDIDOS VIA INTERNET

http://www.loyola.com.br

Topo