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A PAIXÃO DE CRISTO SEGUNDO O CIRURGIÃO
Autor: dr. Pierre Barbet
Editora: Loyola
Páginas: 240
Formato: 21 x 14 cm
Preço: * * *

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» APRESENTAÇÃO

O Evangelho é um mundo. Quanto mais o estudam os homens, maiores revelações ele promete. O dr. Pierre Barbet, como médico cirurgião, impressionou-se com os sofrimentos físicos de Cristo. Os evangelistas, narrando a Paixão do Senhor, dizem que Ele foi flagelado, coroado de espinhos e crucificado. Mal podemos imaginar o que contêm estas expressões.

Dr. Barbet estudou o assunto durante 20 anos. A luz da anatomia revelou-lhe sofrimentos tão tremendos no Senhor que ele não resiste mais fazer a Via Sacra! O estudo do Santo Sudário, à luz da ciência, projetou novos e surpreendentes reflexos. Um cientista sem fé, examinando as pesquisas do dr. Barbet, concluiu: "Então Jesus Cristo ressuscitou!".

É admirável a clareza de exposição com que o autor trata estes estudos técnicos. Através da Anatomia, podemos conhecer os sofrimentos inauditos com que nos remiu nosso Divino Salvador. E o instrumento material - o Sudário - objeto de pesquisas experimentais, grita aos homens que "perderam o senso do pecado", o valor da nossa alma e a sinistra gravidade do pecado. E abre às almas piedosas novas perspectivas na devoção à Paixão do Senhor.

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» CONTEÚDO

  1. Prefácio

  2. O Santo Sudário
    1. História
    2. O Santo Sudário e os papas
    3. Descrição geral
    4. Fotografias
    5. Formação das impressões

  3. Arqueologia e crucifixão
    1. Uso da crucifixão
    2. Instrumentos da crucifixão
    3. Modalidades de crucufixão
    4. Explicação dos Evangelhos pela arqueologia

  4. Causas da morte rápida
    1. Causas preparatórias
    2. Causa determinante

  5. Sofrimentos preliminares
    1. Generalidades
    2. Sevícias da noite e do Pretório
    3. Flagelação
    4. Coroação de espinhos
    5. Transporte da cruz

  6. Chagas das mãos

  7. Chagas dos pés

  8. Chaga do coração
    1. In vivo - radiografias
    2. No cadáver - experiências
    3. A coagulação sangüínea
    4. Outras hipóteses
    5. Retração do pulmão em cadáver recenter

  9. Descida da cruz / transporte

  10. Sepultamento

  11. O crucifixo de Villandre e o crucificado da Escola Prática

  12. Conclusões

  13. A Paixão corporal de Jesus

  14. Gravuras

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» AMOSTRA

Descida da Cruz / Transporte

Este capitulo foi escrito para os médicos da Sociedade de São Lucas (Boletim de março de 1938). Peço vênia para lhe deixar, conscientemente, seu ar seco e didático de demonstração científica.

Fiquei sempre meio chocado pela maneira um tanto brutal segundo a qual os artistas representam a descida da cruz. Até o admirável Fra Angélico, o mais místico, o mais católico dos pintores, não escapa absolutamente a esta invectiva, e, no entanto, bem o sabe Deus, quantas vezes tenho eu meditado diante de seu comovente tríptíco, hoje na Hospedaria dos Peregrinos, no convento de São Marcos, em Florença. Os pobres discípulos de Jesus, José, Nicodemos e os outros, mostram, é verdade, profunda aflição, mas parecem, no entanto, reduzidos a operações antes dignas de carrascos, o que deveria levar até o paroxísmo uma dor já violenta. Ora, o estudo do Santo Sudário me levou a uma concepção completamente diferente e muito afastada da corrente tradição iconográfica. Creio que essa boa gente conseguiu, realmente, descer o corpo da cruz e transportá-lo até o túmulo com uma delicadeza, uma ternura e um respeito infinitos. Apenas ousavam tocar aquele Corpo adorável.

Muitos confrades católicos, após a leitura das duas primeiras edições do meu opúsculo "Cinq Plaies", me disseram ou escreveram que esses meus estudos sobre as cinco chagas constituíram para eles a mais bela meditação sobre a Paixão. Pareceu-me também útil, continuando no domínio científico, lhes propor este novo tema para reflexão, não menos sugestivo, a meu ver: após as dores da Redenção e a crueldade dos carrascos, um exame sobre a majestade desse cadáver onde continua sempre presente a Divindade, e, ao mesmo tempo, a terna piedade dos discípulos.

Peço, no entanto, que se contentem com esta exposição científica e que tirem por si mesmos as conclusões ascéticas, para delas recolher todo o fruto espiritual.

A. O Corpo de Jesus foi transportado horizontalmente, mas tal qual se achava na cruz, até a proximidade do túmulo; somente ali é que foi depositado na Mortalha.

B. É certo que o transporte foi executado com o mínimo de manobras, de tal maneira que os coágulos ficaram em seus lugares, inalterados. Manobras mais numerosas e menos delicadas tê-los-iam sujado e destruído.

C. De que maneira então foi Jesus Cristo transportado sem que lhe tocassem o corpo?

  1. Já demonstramos [nos capítulos II e III] os dois fatos seguintes:

    1. O patibulum (parte horizontal da cruz) era móvel: Jesus teve suas duas mãos pregadas no patibulum enquanto estava deitado no chão. Em seguida o ergueram para o alto do stipes fincado permanentemente no solo do Gólgota, onde engancharam o patíbulo.

    2. Sobreveio a morte, como propôs Dr. Le Bec e como confirmou, por observação experimental, Dr. Hynek, após contrações tetânicas de todos os músculos. Estas dolorosas cãibras generalizadas constituem aquilo que chamamos de tetania. Esta nada tem a ver (insisto para os não-médicos) com o tétano, doença infecciosa que produz cãibras análogas. Esta tetanização acabou por atingir os músculos respiratórios, de onde a asfixia e a morte. O condenado não podia escapar à asfixia senão em se erguendo sobre os cravos dos pés, para diminuir a tração do corpo sobre as mãos; cada vez que quisesse respirar mais livremente ou falar, deveria ele assim se erguer sobre os cravos dos pés, é verdade que à custa de outros sofrimentos.

      Esta hipótese baseada em averiguações feitas no decorrer de certos castigos corporais disciplinares, levados depois até o assassinato nos campos de concentração nazistas, é das mais verossímeis; e encontra confirmação no Sudário pela saliência anterior do tórax e pela cavidade do epigastro.

      Vimos, além disso, que o duplo fluxo de sangue do punho corresponde a esta dupla posição, alternante, com suas duas angulações um pouco divergentes. Nestas condições, a rigidez cadavérica deveria ser extrema, como com os doentes que vêm a morrer de tétano: o corpo estava rígido, fixado na posição da crucifixão. Podia ser levantado sem que se dobrasse, seguro apenas pelas duas extremidades, como um corpo em catalepsia.

  2. Dado isto, é possível:

    1. Despregar os pés arracando os cravos do stipes;

    2. Abaixar o patibulum com o corpo rígido;

    3. Transportar o conjunto sem nenhum artifício: dois homens sustentando as duas extremidades do patíbulo e um outro sustentando os pés, ou até só o pé direito que ficara por trás, na altura do tendão-de-Aquiles e do calcanhar. Esta parte do corpo, foi assim a única que foi tocada durante o transporte.

  3. Ora, na impressão do pé direito sobre o Sudário, verifica-se precisamente:

    1. Que a parte posterior do calcanhar está mal marcada, o que contrasta com o resto da impressão plantar, bastante nítida; isto faz parecer, à primeira vista (como já o notamos), que o pé é mais curto do que na realidade;

    2. Que o fluxo de sangue que desceu, durante o transporte horizontal, da chaga plantar para o calcanhar, não atingiu a parte posterior deste, parte mal-marcada no Sudário. Explica-se isto, facilmente, se esta parte estivesse de fato coberta pelas mãos do transportador, que sujaram o calcanhar e impediram o sangue de correr até lá.

D. É provável que tivessem sido cinco os transportadores, e não três para carregar aquele corpo de cerca de 80 quilos e o pesado patíbulo que pesava não menos de 50 quilos. Os dois suplementares sustentavam o tronco, por meio de um pano torcido para formar uma cinta, que atravessaram por sob a parte inferior do tórax, na altura dos rins.

    Com efeito:

    1. A mistura hidroemática da pleura, da qual pequena parte se coagulou transversalmente no dorso durante o transporte, muito dificilmente teria podido (ainda inclinado o corpo sobre o lado esquerdo tornar a subir, além da linha mediana até a borda esquerda. Esta borda, na posição horizontal, estava, com efeito, mais alta que a linha mediana.

    2. O fluxo de sangue que se coagulou, transversalmente nas costas, está constituído por meandros irregulares, várias vezes bifurcados e depois se reunindo de novo, o que está pouco de acordo com um fluxo regular de sangue que não tenha tocado em coisa alguma.

    3. Ao contrário, um pedaço de pano irregularmente torcido, sustentando a parte inferior do tórax, deve necessariamente ter-se impregnado completamente de sangue durante o transporte; do qual pequena parte se coagulou, irregularmente, à superfície da pele que podia atingir diretamente, através das pregas do tecido, nos pontos em que este não a comprimia.

E. A rigidez cadavérica, que permitiu que se transportasse o corpo sem que se dobrasse sob a influência de seu peso, não é um obstáculo que impeça - estando o cadáver colocado na Mortalha, despregadas as mãos e retirado o patibulum - que se levassem os braços da abdução para a adução, e se cruzassem as mãos diante do púbis.

    A experiência nos mostra que não há rigidez cadavérica que não se consiga vencer com um pouco de força, ainda que tenha sido bastante intensa para resistir ao peso do corpo.

F. Pode-se, portanto, concluir que tudo se passou mais ou menos da seguinte maneira, com toda verossimilhança:

  1. Os pés são despregados do "stipes", havendo um só cravo a arrancar da madeira.

  2. Abaixa-se o patíbulo com o corpo, sem despregar as mãos. O conjunto é transportado em bloco, sem nenhum artifício, por cinco carregadores, dos quais só um toca o corpo na altura dos calcanhares; outros dois sustentam o dorso com um pano enrolado para formar uma cinta, que se impregna de sangue. Os dois últimos levam as extremidades do patíbulo.

  3. O corpo só foi colocado no Sudário no fim do transporte, durante o qual uma pequena parte do sangue se coagulou transversalmente, nas pregas da cinta, sobre a pele das costas. Estes coágulos em forma de meandros irregulares darão lugar ao "fluxo transversal posterior", ao se decalcarem, ainda frescos, sobre o Sudário.

  4. Colocam o corpo no Sudário (provavelmente sobre a pedra chamada da unção). No último instante devem ter cessado de sustentar o dorso com a cinta que, embebida de sangue, teria manchado muito o Sudário.

  5. Despregam as mãos; retiram o patíbulo e puxam os membros superiores, cruzando as mãos diante do púbis.

  6. Dobram em seguida a outra metade do Sudário, por cima da cabeça ("epi ten kephalen"), cobrindo a face anterior do corpo.

G. Deposição no túmulo.

    Finalmente, graças ainda à rigidez cadavérica, que no caso era extrema, puderam com facilidade colocar o corpo no túmulo. Introduziram-no lateralmente, segurando-o por baixo e estando todos os transportadores do mesmo lado, o da entrada. É assim que se coloca no leito um operado adormecido, e a rigidez facilitava bastante o transporte. Notemos que se poderia pensar que o corpo tivesse sido colocado, provisoriamente, não sobre a pedra sepulcral do fundo, mas em uma antecâmara hoje desaparecida, enquanto esperava o embalsamento definitivo, após o sábado. Essa hipótese mereceria uma discussão mais aprofundada, mas sai dos limites deste estudo.


Texto retirado das páginas 156 a 161. Notas e figuras omitidas.

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