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Autor: fr. Boaventura Kloppenburg (ofm) Editora: Loyola Páginas: 204 Formato: 21 x 14 cm Preço: * * * Apresentação | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Esta obra - como o título já indica - encerra em si uma preocupação e uma atitude pastoral:
precaver, em primeiro lugar, os fiéis católicos facilmente vítimas da propaganda espírita.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
Vimos que a evocação ou a manifestação provocada das almas dos falecidos, que são os "espíritos"
do espiritismo, especifica, caracteriza e define o movimento suscitado por Allan Kardec. Sem
evocação não há espiritismo. A evocação é a base da doutrina exposta em O livro dos
espíritos, como se afirma no próprio subtítulo: "Segundo os ensinos dados por espíritos
superiores com o concurso de diversos médiuns"; e como se explica amplamente na
introdução. Em 1861 Allan Kardec publicou sua segunda obra considerada fundamental: O livro dos
médiuns, com este significativo subtítulo: "Guia dos médiuns e dos evocadores". Todo
o capítulo XXV é dedicado à evocação. Sua exposição neste capítulo inicia com esta
afirmação: "Os espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou
acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação".
Nestas palavras já temos uma espécie de definição do termo "evocação": "Acudir ao nosso
chamado". Lembra em seguida Allan Kardec que algumas pessoas acham que se deve deixar de chamar por
determinado espírito, pois nenhuma certeza poderíamos ter de entrarmos realmente em comunicação
com o espírito desejado, já que estamos rodeados de espíritos brincalhões e galhofeiros que se
aproveitariam da oportunidade para nos enganar; por isso, dizem,
seria melhor fazer uma evocação muito genérica e esperar que determinado espírito se apresente
então espontaneamente. Allan Kardec não nega este tipo de manifestações "espontâneas" (que, no entanto,
sempre seria provocado ou produzido mediante o médium), mas
não concorda com o parecer que acabara de expor: "Primeiramente, porque há sempre em torno de
nós espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão
comunicar-se; em segundo lugar, e mesmo por esta última razão, não
chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que
queiram entrar. Numa assembléia, não dar a palavra a ninguém
é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A
chamada direta de determinado espírito constitui um laço entre nós
e ele; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie
de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um espírito
nenhum motivo terá muitas vezes para confabular conosco".
Aí está bem claramente definido o pensamento de Kardec e
o propósito espírita: chamar ou evocar diretamente bem determinado
falecido para confabular conosco. Allan Kardec insiste: "Quando se
deseja comunicar com determinado espírito, é de toda necessidade
evocá-lo".
Esta é base do espiritismo.
Sobre este fundamento será agora necessário fazer algumas ponderações.
1. SERÁ POSSIVEL COMUNICAR-SE COM OS FALECIDOS?
Nós cristãos católicos admitimos e proclamamos a imortalidade
da alma. Cremos na sua sobrevivência consciente logo depois da
separação do corpo pela morte. Acreditamos que as almas dos
falecidos continuam solidárias com os que ainda vivemos nesta
peregrinação terrestre. Professamos nossa fé na comunhão dos
santos. Podemos comunicar-nos com os falecidos mediante a oração
invocativa. [...]
Não seria possível, então, que os falecidos também se comunicassem conosco?
A doutrina cristã sobre a comunhão dos santos se refere à
comunicação mútua de bens espirituais, no plano inteiramente imperceptível da fé.
É certo que a Bíblia menciona várias vezes aparições perceptíveis de espíritos do além.
Assim o evangelista Lucas nos relata que "o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com
um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem
era Maria. Entrando na casa onde ela estava, disse-lhe:
'Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo'" (Lc 1,26-28). Jesus
ressuscitado apareceu a Saulo a caminho de Damasco e falou com ele
(cf. At 9). A Igreja aprovou aparições de Nossa Senhora em Lourdes e em Fátima.
Trata-se, nestes casos, evidentemente, de comunicações perceptíveis
vindas do além. A fé cristã, por conseguinte, admite não
somente a mera possibilidade de comunicações sensíveis, mas
afirma fatos reais deste tipo de trato entre o além e o aquém.
Não devemos, porém, esquecer que Lucas nos informa que o
Anjo "foi enviado por Deus". Quem negará a Deus todo-poderoso
a capacidade de enviar-nos seus mensageiros?
Quando Deus manda, a iniciativa é sua; e a consequente manifestação
do além toma para nós um caráter espontâneo.
Bem outra é a situação quando a iniciativa é nossa, querendo
nós provocar alguma conversação com entidade do além. Quem
pretende provocar a manifestação de algum falecido para dele
receber mensagem ou notícia pratica um ato chamado pelos antigos de
necromancia, expressão que vem do grego nekrós = falecido e
mantéia = adivinhação. E quem intenta comunicar-se com o além
com o fim de colocá-lo a serviço do homem realiza um ato já
conhecido pelos antigos como magia. Quando a esperada ação da
evocada entidade do além é a favor do homem ou para o bem,
chama-se magia branca, mas será sempre "magia". E se for para
o mal, será magia negra ou malefício, feitiçaria, bruxaria.
Tais comunicações provocadas do além, seja na forma de necromancia,
seja na de magia (branca ou negra, pouco importa),
são conhecidas também como evocação. Há diferença fundamental
entre invocação e evocação: esta sempre pretende uma comunicação
perceptível provocada por iniciativa do homem; aquela é apenas
uma forma de prece ou súplica.
É evidente que a invocação é um ato bom e cristão, expressão
da comunhão dos santos.
Mas que dizer da evocação?
Para esta pergunta recebemos da revelação divina resposta
clara e insistente:
Em Eclesiástico 46,20 lemos a respeito deste caso de evocação:
"Mesmo depois de morrer, (Samuel) profetizou, anunciou ao
rei (Saul) seu fim, do seio da terra elevou sua voz para profetizar,
para apagar a iniqüidade do povo". Segundo os textos
citados, parece que se deve admitir que o falecido Samuel, evocado
pela necromante de Endor, realmente compareceu. Todo o contexto,
todavia, deixa evidente que se trata de caso excepcional, sendo
a evocação não a causa, mas a ocasião aproveitada por Deus para
autorizar o comparecimento do falecido profeta e anunciar os
castigos ao rei desobediente e infiel. Deste episódio singular não
se pode inferir que nos outros casos os necromantes e magos conseguissem
de fato fazer comparecer os falecidos evocados.
Aliás, em 1Crônicas 10,13-14, somos assim informados acerca
do fim do rei: "Saul pereceu por se ter mostrado infiel para com
lahweh, não seguira a palavra de Iahweh e, além disso,
interrogara e consultara uma necromante. Não consultou a Iahweh, que o fez
perecer e transferiu a realeza a Davi, filho de Jessé".
Clara, repetida, enérgica e severíssima é, pois, a proibição divina
de evocar os falecidos. E este mandamento divino não foi
revogado na Nova Aliança. Eis alguns exemplos:
No dia 31-3-1892 a Santa Sé publicou sua resposta oficial a
um caso imaginado de evocação no qual as circunstâncias
descritas eram as mais favoráveis. Eis a exposição do caso, a pergunta e a
resposta:
Por que tão rigorosa interdição? Não poderíamos ser positivamente
ajudados pela instrução dos falecidos? Ou quererá Deus
deixar-nos na ignorância acerca dos acontecimentos depois da
morte?
O próprio Jesus nos deu a resposta na parábola do pobre Lázaro
e do rico epulão (cf. Lc 16,19-31). Ambos morrem e são
julgados, cada um de acordo com a vida que levou nesta terra.
Lázaro "foi levado pelos anjos ao seio de Abraão", isto é, ao
céu. O rico avarento é condenado ao inferno. A diferença entre os
dois, depois da morte, é grande. O falecido rico gozador implora: "Pai
Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta
do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta
chama". Mas a separação entre ambos é definitiva e a comunicação,
impossível. A resposta do céu é clara e dura:
Deus certamente "quer que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao conhecimento da verdade" (lTm 2,4). Ele não quer
deixar-nos na ignorância. Mas o Criador dos homens escolheu
outra via para instruí-los sobre o sentido da vida e o destino
eterno. Na Constituição dogmática Dei Verbum, de 1965, o Concílio Vaticano
II resume no n. 2 assim o plano divino da revelação:
Não necessitamos perturbar o repouso dos falecidos (cf. 1Sm
28,15). O Concílio Vaticano II, na citada Constituição Dei
Verbum (n. 4b), nos garante que "a economia cristã, como aliança nova e
definitiva, jamais passará, e já não há que esperar nenhuma nova
revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor
Jesus Cristo (cf. lTm 6,14; Tt 2,13)".
Não haverá "terceira revelação".
O espiritismo, que pretende ser precisamente esta "terceira revelação",
não só não entra nos planos de Deus Revelador, mas se
opõe à economia divina.
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A Evocação [de Espíritos dos Mortos]
Destaque especial merece a consulta do rei Saul à necromante
de Endor, narrada em 1 Sm 28,3-25. Estando em dificuldades na
guerra contra os filisteus, e sem saber o que fazer, o rei Saul
disse aos seus servos: "Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale
e a consulte". Informaram-lhe os servos que havia uma na localidade
de Endor, ao sul do monte Tabor. Saul então disfarçou-se
e, de noite, acompanhado de dois homens, foi à casa da
necromante (os espíritas diriam "médium") e lhe pediu para evocar o
falecido Samuel. Segundo o texto, Samuel de fato compareceu e
disse a Saul: "Por que perturbas o meu repouso, evocando-me?"
Saul respondeu: "É que estou em grandes angústias. Os filisteus
guerreiam contra mim, Deus se afastou de mim, não me responde
mais. Então vim te chamar para que me digas o que tenho que
fazer". Respondeu Samuel: "Por que me consultas, se Iahweh se
afastou de ti e se tornou teu adversário?" E lhe anunciou os
castigos de Deus.
Posteriormente, a Igreja sempre se manteve fiel a esta rigorosa
interdição divina de evocar os falecidos. No último Concílio, o
Vaticano II, em 1964, a Constituição Lumen Gentium, temendo
que a doutrina sobre nossa comunicação espiritual com os
falecidos pudesse dar azo a interpretações do tipo espiritista,
acrescentou ao texto do n. 49 a nota n. 2, "contra qualquer forma de evocação
dos espíritos", coisa que, esclareceu a Comissão teológica
responsável pela redação do texto, nada tem a ver com a "sobrenatural
comunhão dos santos". A Comissão definiu então mais claramente
o que se proibia: "A evocação pela qual se pretende provocar,
por meios humanos, uma comunicação perceptível com os espíritos ou
as almas separadas, com o fim de obter mensagens ou outros tipos
de auxílio". O Concílio Vaticano II nos remete então a vários
documentos anteriores da Santa Sé (já no dia 27-9-1258 o papa
Alexandre IV falara disso), principalmente à declaração de 4-8-1856
e à resposta de 24-4-1917. Na declaração de 4-8-1856,
precisamente quando Allan Kardec se iniciava no espiritismo, era repetida
a proibição de "evocar as almas dos mortos e pretender receber
suas respostas". No documento de 24-4-1917 se declarava ilícito
"assistir a sessões ou manifestações espiritistas, sejam elas
realizadas ou não com o auxílio de um médium, com ou sem hipnotismo, sejam
quais forem estas sessões ou manifestações, mesmo que aparentemente
simulem honestidade ou piedade; quer interrogando almas ou
espíritos, ou ouvindo-lhes as respostas, quer assistindo a elas
com o pretexto tácito ou expresso de não querer ter qualquer relação
com espíritos malignos".
"Tito, depois de excluir qualquer comunicação com o mau
espírito, tem o costume de evocar as almas dos defuntos. Costuma
proceder da seguinte maneira: Quando está só, sem outra
preparação, dirige uma prece ao príncipe da milícia celeste a fim de
obter dele o poder de comunicar-se com o espírito de determinada pessoa.
Espera algum tempo; depois, enquanto conserva a mão pronta
para escrever, sente um impulso que lhe dá a certeza da presença
do espírito. Expõe então as coisas que deseja saber e sua mão
escreve as respostas a estas questões. Tais respostas concordam
inteiramente com a fé católica e a doutrina da Igreja acerca da
vida futura. Geralmente elas falam sobre o estado em que se encontra
a alma do tal falecido, pedem sufrágios etc. É lícito proceder
desta maneira?"
A resposta oficial, aprovada pelo papa Leão XIII, foi categórica:
"O que foi exposto não é permitido".
2. REJEIÇÃO CRISTÃ DA REVELAÇÃO MEDIANTE FALECIDOS
"Entre vós e nós existe um grande abismo, de modo que
aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o podem,
nem tampouco atravessarem os de lá até nós" (v. 26).
O falecido epulão insiste num pedido com filantrópica proposta:
"Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até a casa de meu
pai, pois tenho cinco irmãos; que ele os advirta, para que não
venham eles também para este lugar de tormento". Era uma sugestão
que parecia muito boa. Estabelecer-se-ia um útil intercâmbio
entre os do além, com seus novos conhecimentos, e os da terra,
sempre necessitados de esclarecimento e orientação. No entanto,
a resposta do céu é seca:
"Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam!" (v. 29).
Mas o proponente insiste, com uma justificação: "Não, pai
Abraão, se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se converterão".
A razão parecia óbvia. É a solução proposta também
pelos atuais movimentos espiritistas. Se é verdade que as almas
dos falecidos sobrevivem conscientemente e que elas continuam solidárias
conosco, afirmações que são corroboradas pela Bíblia e
ensinadas pela Igreja católica, por que não poderia o Criador
escolher esta via para trazer revelações úteis do além? A resposta do
céu, entretanto, segundo Jesus, é sem rodeios:
"Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo
que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão" (v. 31).
É a rejeição pura e simples da via espiritista.
"Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a
si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade (cf. Ef
1,9), pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito
carne, e, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam
participantes
da natureza divina. Mediante esta revelação, portanto, o Deus
invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos
(cf. Ex 33,11; JO 15,14-15), e com eles se entretém para os convidar
à comunhão consigo e nela os receber. Este plano de revelação
se concretiza através de acontecimentos e palavras
intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na
história da salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e
as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez,
proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido. No entanto, o conteúdo
profundo da verdade, seja a respeito de Deus, seja da
salvação do homem, se nos manifesta por meio dessa revelação em Cristo,
que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação".
Deste plano de revelação estão excluídos os falecidos. Depois
de Moisés e dos Profetas, Deus nos enviou seu Filho, o Verbo
eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre os
homens e lhes expusesse os segredos de Deus (cf. JO 1,1-18). Com
Jesus recebemos a plenitude da revelação necessária para a nossa
salvação. Ele se apresenta a si mesmo com uma declaração
solene: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14,6). Ele está
"cheio de verdade" (Jo 1,14). "Nele se acham escondidos todos
os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Cl 2,3). Ele é
pessoalmente o anunciado e prometido Emanuel, Deus-com-os-homens.
Ele é para nós como a nuvem luminosa do Êxodo: "Eu
sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas
terá a luz da vida" (Jo 8,12). Ele é a luz das gentes (Lc 2,32),
o sol nascente que ilumina os que estão nas trevas (Lc 1 ,78s.).
"Eu, a luz, vim ao mundo para que aquele que crê em mim não
permaneça nas trevas" (Jo 12,46).
Texto retirado das páginas 49 a 56.
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