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DIÁLOGO ECUMÊNICO d. Estêvão Bettencourt, osb ed. Lumen Christi 304 páginas Formato: 21 x 14 cm Preço: * * * |
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O livro "Diálogo Ecumênico" é destinado a fornecer ao clero e aos fiéis católicos em geral um instrumento que os habilite "a responder prontamente a quem lhes peça razões da sua esperança" (cf. 1Pd 3,15). Tem em vista também os cristãos não católicos que, conhecendo melhor a doutrina católica sobre a fé, as obras, a Tradição, a Eucaristia..., poderão tomar consciência mais nítida do fundamento bíblico destes artigos de fé e constatar que não é tão grande a diferença entre católicos e protestantes quanto se apregoa. Afinal de contas, nada há de mais eficaz do que o estudo para desfazer preconceitos. A ignorância gera o fanatismo, ao passo que a pesquisa serena e objetiva leva à descoberta da Verdade, que, na concepção cristã, é inseparável do amor.
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Dom Estevão, nascido em 1919, é um dos maiores teólogos católicos do Brasil. Sacerdote e religioso beneditino, no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro/RJ, é autor de diversas obras teológicas e apologéticas como "Católicos Respondem" (ed. Mensageiro de Santo Antonio), "15 Questões de Fé" (ed. Santuário) e "Ciência e Fé na História dos Primórdios" (ed. Agir). É também diretor, autor e redator dos artigos publicados na revista "Pergunte e Responderemos" (ed. Lumen Christi).
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"Diálogo Ecumênico" discute profundamente temas que suscitam controvérsias entre cristãos católicos e protestantes:
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SOMENTE A ESCRITURA? A questão criteriológica é básica no diálogo ecumênico: será a Escritura a única fonte de fé? Ou poder-se-á admitir a seu lado a Tradição oral? Uma análise serena e objetiva dos fatos evidenciará que o problema supõe um equívoco e se pode resolver sem grande dificuldade. I. Tradição Oral e Tradição Escrita A fé cristã procede do fato fundamental de que Deus quis revelar aos homens os mistérios de sua vida assim como seu desígnio de salvação; este inclui a participação do homem, elevado à dignidade de filho, na vida do próprio Deus: "Recebestes o Espírito pelo qual clamais: Abbá, Pai!" (Gl 4,6; Rm 8,15). A Revelação iniciada com o Patriarca Abraão (século XIX aC), continuada através dos séculos do Antigo Testamento, foi consumada por Jesus Cristo, o Logos (=Palavra) de Deus feito homem (cf. Jo 1,1.14). Ora sabe-se que a revelação de Deus aos Patriarcas, aos Profetas e aos Apóstolos se realizou sem o concurso da escrita: os antigos só rara e dificilmente escreviam, pois tal arte era árdua e dispendiosa; as mensagens eram transmitidas por via meramente oral. Detendo-nos, de modo especial, na revelação do Novo Testamento, verificamos que Jesus Cristo nada deixou escrito nem se preocupou com a redação de seus ensinamentos. Apenas mandou aos Apóstolos [para que] fossem pregar pelo mundo e se tornassem testemunhas da verdade (cf. Mt 10,7; 28,18-20; Mc 16,15). Acontece, porém, que os Apóstolos e seus discípulos, ao anunciarem a Boa-Nova, experimentaram a necessidade ocasional de escrever algo. Ora tratave-se de responder a dúvidas de cristãos recém-evangelizados ou de completar a catequese inacabada (tais foram as ocasiões que levaram São Paulo e os outros Apóstolos a escrever suas cartas). Ora tratava-se de deixar aos fiéis uma parcela ou uma síntese de quanto havia sido pregado pelos Apóstolos (tal foi a ocasião dos Evangelhos). É de notar, porém, que os autores de tais escritos (evangelistas, São, São João, São Pedro, São Tiago...) não tiveram em vista expor todo o depósito dos ensinamentos de Jesus, como eles mesmos declaram:
1. Tradição Divino-Apostólica Existe no Cristianismo uma Tradição oral que remonta ao próprio Cristo e aos Apóstolos e, por isto, é chamada divino-apostólica. Esta Tradição divino-apostólica é anterior à S[agrada} Escritura e se espelha ou exprime nesta. Tem-se indagado ultimamente, entre os teólogos, se existem verdades de fé que tenham ficado apenas na Tradição oral, não havendo sido consignadas pelos autores sagrados nos livros do Novo testamento. Em nossos dias admitem os teólogos que a S[agrada] Escritura contém, ao menos de modo implícito, todas as proposições de fé; estas encontram seu fundamento próximo ou remoto nos textos da Bíblia; admite-se, portanto, a suficiência da S[agrada] Escritura, desde que lida no contexto da Tradição viva que a berçou. Eis, por exemplo, a sentença de M. Schmaus: "Se com o termo suficiência se indica que a Sagrada Escritura oferece a palavra de Deus com plenitude suficiente para a salvação, certamente temos de aceitar sua suficiência. A tradição não escrita não apresenta conteúdos revelados que não já estejam na Escritura. Ela é somente um desenvolvimento da Escritura, que se baseia no sentido literal e só pode basear-se nele... Queremos ressaltar uma vez mais que a Escritura contém toda a revelação. Os hagiógrafos, especialmente os evangelistas, atuavam guiados pela intenção de escrever e comunicar a totalidade e pureza do conteúdo da palavra de Deus. Em certos conteúdos revelados, porém, somente se fixou por escrito um núcleo fundamental, de modo que a totalidade de seus elementos não aparecem com clareza antes que a Igreja os explique. Por isso, há certos conteúdos revelados que formalmente só estão na Tradição, porém, fundamentalmente encontram-se nas Escrituras. Isto é válido, por exemplo, com relação ao dogma da glorificação corporal de Maria" (A Fé da Igreja, vol. 1, p. 151s). 2. Identificação e Interpretação da Bíblia A Bíblia só poderá ser lida e explicada autenticamente à luz do depósito oral que a precedeu e que é a grande fonte donde os escritores sagrados tiraram o material histórico-dogmático que eles redigiram. Esse depósito meramente oral continuou a ser transmitido ininterruptamente e incontaminado (em virtude da prometida assistência de Cristo e do Espírito [Santo]) até hoje, identificando-se com a voz oficial dos sucessores dos Apóstolos ou com o ensinamento da Igreja. É esta, portanto, quuem, haurindo de um cabedal que começa a existir antes da própria Escritura, é apta a intepretar as Escrituras. O ponto em que mais aparecem a função e a necessidade de recurso a algo anterior à S[agrada] Escritura mesma, é o que se refere ao cânon bíblico ou ao catálogo dos livros inspirados: como saber se um livro é ou não inspirado ou fonte de fé? - Procuraram os reformadores do século XVI estipular critérios como o da sublimidade do conteúdo, o da beleza do estilo, os frutos de piedade e edificação suscitados pela leitura de tais livros, mas nenhum critério é eficaz, pois na verdade existem livros na Bíblia de conteúdo violento, "escabroso" (cf. Jz), de estilo pouco burilado (cf. Ap, Mc), aparentemente estéreis ou áridos ao leitor (cf. Lv, Nm). - Somente a palavra da Tradição oral que entrega ao povo de Deus tais e tais livros e não outros, palavra confirmada pelo magistério da Igreja, é capaz de servir de critério válido para definir o catálogo sagrado. A Igreja, guiada pelo Espírito Santo, à medida que a literatura cristã ia surgindo, tomava consciência (ora mais cedo, ora mais tarde) de que tal ou tal escrito era inspirado e, por isto, merecedor de ser agregado à coleção dos livros sagrados, ao passo que a mesma consciência cristã rejeitava outros escritos como espúrios ou apócrifos. Nunca este testemunho foi consignado por escrito antes do século IV. Quando em 393 um Concílio regional reunido em Hipona definiu pela primeira vez a lista dos livros sagrados, foi a Tradição oral, anterior aos escritos bíblicos, quem falou por esse Sínodo; o Concílio não era um novo órgão de ensinamento dentro do Cristianismo (órgão criado simplesmente pelos homens da Igreja), mas era, ao lado da Escritura, outra expressão do depósito de verdade que Cristo e os Apóstolos transmitiram verbalmente às gerações cristãs. 3. Duas Fontes ou Uma? O Concílio do Vaticano II (1962-65) enfrentou sinceramente a questão discutida: existem duas fontes de Revelação Divina - a Tradição oral e a S[agrada] Escritura (como diziam alguns católicos)? Ou existe apenas uma fonte - a S[agrada Escritura] (como dizem os protestantes)? Após longos estudos, a assembléia conciliar se exprimiu afirmando haver uma só fonte de Revelação - a Palavra de Deus - e dois canais de transmissão da mesma - a S[agrada] Escritura e a Tradição oral. Estes dois canais se harmonizam mutuamente: "A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura relacionam-se e comunicam estreitamente entre si. Com efeito, derivando-se ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo objetivo" (Constituição 'Dei Verbum', nº 9). O Concílio refere-se, logo a seguir, ao magistério da Igreja como órgão assistido pelo próprio Cristo para interprretar autenticamente a Palavra de Deus transmitida pos seus dois canais: "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida por via oral foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal Magistério evidentemente não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, piamente auscula aquela Palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe. E deste depósito único da fé tira o Magistério o que propõe para ser acreditado como divinamente revelado" ('Dei Verbum', nº 10). É importante notar que o Magistério da Igreja não é uma terceira instância ao lado da Palavra escrita e da Tradição oral, que transmita as verdades da fé, mas, em última análise, não é senão a Tradição oral que continua a falar autenticamente através dos séculos; o Magistério só se pronuncia depois de auscultar a Palavra de Deus oral e escrita existente no depósito da Igreja, procurando, com a assistência do Espírito Santo (cf. Mt 16,16-19; Lc 22,32; Jo 21,15-17), deduzir desse depósito as conclusões nele contidas para ser desdobradas no decorrer da história do Cristianismo. Dizia Jesus:
O próprio Protestantismo, que afirma só reconhecer a fonte bíblica, recorre necessariamente à Tradição oral em duas ocasiões:
Os reformadores do século XVI encontraram na Igreja de seu tempo tradições secundárias, infelizes ou inadequadas, ao lado da Tradição divino-apostólica. No intuito de cancelar tais tradições, Lutero e Calvino rejeitaram a própria Tradição - o que se tornou nocivo para o Cristianismo, em vez de o beneficiar. Com efeito, originou-se assim um cisma que até hoje perdura e tem gerado outros cismas; o Protestantismo, em conseqüência da sua própria índole, desligada da Tradição e entregue ao subjetivismo de "mestres" e leitores da Bíblia, vai-se esfacelando cada vez mais. Muito a propósito vêm as ponderações de Peter Langsfeld em 'Mysterium Salutis' I/2, p.16: "A Reforma, iniciada como movimento de retorno à fidelidade ao Evangelho, desagüou em divisão da própria Igreja que queria reformar. A repulsa às práticas indevidas e aos costumes tradicionais na Igreja não afastou apenas a tradição eclesiástica que contrariava o Evangelho, mas também a própria tradição que afeta a fé, enquanto continuação e prolongamento da Escritura. Não nos compete expor aqui a história e as conseqüências desta controvérsia. Tem contudo a teologia católica a impressão de que, do lado da Reforma, a criança, que se amava e se procurava salvar, lhe foi roubada, ao dar-se-lhe o banho que, sem dúvida, deveria reformá-la; com a tradição, os costumes e os ensinamentos opostos e estranhos à Bíblia, a tradição firmada na Bíblia e a autoridade eclesiástica, que guarda a tradição e a Escritura, foram repelidas..." Já em 1907, Adolf v. Harnack descrevia, com exatidão, a situação atual da referida controvérsia: "...Escritura e tradição: quanto se debateu a autoridade destas duas realidades, no século XVI e depois dele! Através de quantos e quão profundos escritos se doutrinou sobre este assunto! Presentemente, contudo, e já desde muito tempo, perceberam os teólogos protestantes que a Escritura não se pode separar da tradição e que a coleção e o cânon dos escritos neotestamentários fazem parte da tradição. Por seu turno, viram também os teólogos católicos que nenhuma tradição deve ser admitida sem a devida crítica e que o Novo Testamento, no tocante aos problemas mais importantes do Cristianismo primitivo, é a única fonte indispensável. A grande controvérsia perdeu, portanto, não somente seu caráter agudo, mas até sua razão de ser, desde que se entenda a própria Escritura como tradição, e que não se admita tradição nenhuma sem a devida prova..." (Protestantismus und Katholizismus in Deutschland, pp. 18-19). Vê-se, pois, assim que a questão da Sola Scriptura (somente a Escritura como fonte de fé) se resolve sem dificuldade desde que haja sinceridade de parte a parte entre católicos e protestantes. Em verdade:
Um atento exame das páginas bíblicas manifesta que a própria S[agrada] Escritura atesta a existência da autêntica Tradição oral, da qual a Bíblia se originou e da qual recebe sua interpretação. Tenham-se em vista as seguintes passagens:
"Na atualidade a própria teologia protestante reconhece em grande parte que a Tradição é indispensável para interpretar a Escritura. Assim, por exemplo, P. Althus diz que é impossível qualquer acesso imediato à Escritura, se se prescinde do modo histórico como a Igreja tomou posse do Evangelho. De maneira parecida manifestam-se E, Kinder e H. Rückert. Porém, entre os protestantes, a Tradição é entendida mais como o fato atual de transmitir, do que como um desenvolvimento do conteúdo da Sagrada Escritura. Contudo há também teólogos protestantes de nosso tempo que defendem a última concepção. Assim H. Diem, por exemplo, afirma que há um autêntico desenvolvimento das declarações doutrinais da Escritura. E W. Pannenberg diz que, através da doutrina dogmática, se desenvolve o significados dos fatos transmitidos" (A Fé da Igreja I, p. 150). III. O Cristianismo Antigo Passando agora aos testemunhos dos antigos escritores cristãos, verificamos que, embora tivessem em mãos todos os livros do Novo Testamento, não desprezavam, mas, ao contrário, continuavam a estimar, como fonte primordial da fé, a Tradição oral. Seja mencionado em primeiro lugar Papias (+ cerca de 130), bispo de Hierápolis na Ásia Menor: "Caso viesse alguém que tivesse convivido com os presbíteros, eu procurava saber os ditos dos presbíteros, isto é, o que haviam ensinado André, Pedro, Filipe, Tomé, Tiago, João, Mateus ou outro dos discípulos do Senhor... Estava convencido de que da leitura dos livros não retiraria tanto proveito quanto da voz viva e permanente" (fragmento citado por Eusébio, História da Igreja 3,39, ed. Migne gr. 20,300). E Papias conhecia bem os Evangelhos escritos, como o demonstram as referências que a eles faz em seus escritos. S[anto] Irineu (+220) é muito explícito no seu testemunho: "Se os Apóstolos nada tivessem deixado escrito, dever-se-ia igualmente seguir a ordem da Tradição por eles confiada aos dirigentes da Igreja. Este método é seguido por muitos povos bárbaros que crêem em Cristo. Sem papel e sem tinta, estes trazem inscrita em seus corações a salvação por obra do Espírito Santo; conservam fielmente a antiga Tradição" (Adv.Haer. 3,4,2, ed. Migne gr. 7,855). Naturalmente, pode haver tradições meramente humanas, que deturpem o depósito sagrado. Existem, porém, critérios para distingüi-las das autênticas tradições; estas:
Uma das principais razões por que o homem moderno concebe dificuldades para aceitar a tradição meramente oral como regra válida, é o fato de que as instituições modernas, desde a época de sua fundação, costumam ter seus estatutos escritos, os quais definem com precisão a orientação doutrinária e disciplinar da respectiva instituição; quem formula os estatutos, se empenha por incluir neles tudo que deva ser observado como norma, de sorte que fora do código escrito nada pode haver de importante para a configuração de tal sociedade. Tal praze é possível (e só se tornou possível) após a descoberta da imprensa por Gutemberg (+1468). Antes disto, quanto mais se retrocede na série dos séculos, tanto mais se verifica que tal praxe era inexeqüível, pois a escrita constituia uma arte difícil, mormemente nos tempos anteriores e imediatamente subseqüentes a Cristo: o instrumento apto para ensinar e legislar devia forçosamente ser a palavra oral. Os historiadores ensinam que principalmente no setor da religião o ensinamento oral foi sempre grandemente estimado. Com efeito, sendo a religião um fenômeno muito antigo, verifica-se que cada um dos grandes sistemas religiosos da humanidade depende de um patrimônio doutrinário transmitido de geração a geração por via meramente oral, depósito oral que, em época tardia e em virtude de necessidades mais ou menos acidentais, foi parcialmente (não por inteiro) consignado em livros sagrados; em certas religiões os fiéis se negaram sempre a escrever algumas de suas proposições mais caras. A tradição oral é, pois, elemento essencial de todas as crenças religiosas, elemento que, mesmo após a redação dos códigos sagrados, continuava a ser auscultado com carinho. Em suma, cada uma das grandes religiões é mais antiga do que seus respectivos livros sagrados. Chama a atenção, por exemplo, nos escritos oficiais da primitiva religião chinesa (de que se derivaram o Taoísmo e o Confucionismo), a fórmula assaz freqüente: "Eu ouvi..." Para assegurar a fidelidade na transmissão oral de suas crenças, os antigos costumavam, de um lado, disciplinar a memória e, de outro lado, redigir as suas sentenças sob forma de frases breves, ritmadas ou cantantes, o que muito facilitava a aprendizagem de cor. Pois bem: foi no mundo habituado a proceder desta forma que o Filho de Deus anunciou o Evangelho. A Revelação ou o depósito de fé do Cristianismo foi, por conseguinte, transmitido aos homens pelas vias comuns do magistério de outrora: palavra oral parcialmente cristalizada na palavra escrita em ocasiões esporádicas. A título de ilustração, vai aqui transcrito um trecho das chamadas "Recognitiones Clementinae", romance cristão oriundo provavelmente do séc. III. O episódio, embora fictício, é contudo ótima expressão de quanto as primeiras gerações cristãs estimavam a palavra oral: "Ao despontar do dia que fora escolhido para a disputa com Simão (Mago), Pedro (Apóstolo), levantando-se aos primeiros cantos do galo, despertou também a nós; todos juntos éramos treze a dormir no mesmo aposento... À luz da candeia... sentamo-nos todos. Pedro, vendo-nos alertas e bem atentos, saudou-nos e começou sua alocução: 'É surpreendente, irmãos, a elasticidade de nossa natureza, a qual me parece ser adaptável e maleável a tudo. Digo-o apelando para o eu mesmo tenho experimentado. Logo depois da meia-noite, costumo acordar-me espontaneamente e não consigo mais conciliar o sono. Isto me acontece porque me habituei a evocar em minha memória as palavras que ouvi de meu Senhor Jesus Cristo; desejo de as revolver no espírito, incitei o meu ânimo e a minha mente a se despertarem, a fim de que, em estado de vigília, recorde cada palavra de Jesus em particular e as guarde todas ordenadamente na memória. Já que desejo com profundo deleite meditar no meu coração as palavras do Senhor, adquiri o hábito de ficar em vigília, mesmo que nada, fora deste intento, me preocupe o espírito" (Pseudo-Clemente, II,1, ed Migne gr. 1,1247-9). Este texto não nos interessa pela sua narrativa como tal, mas antes por pressupor que de fato os antigos cristãos estimavam extraordinariamente a decoração e a repetição industriosas (auxiliadas por métodos mnemotécnicos) das palavras do Divino Mestre. Tal mentalidade privilegiava o ensinamento transmitido de boca em boca.
1Entenda-se por graça o dom gratuito, soberano e objetivo de Deus, ao qual deve responder, da parte do homem, uma atitude subjetiva, que é a fé. Graça e fé são inseparáveis uma da outra, ao menos na teologia protestante dos primeiros tempos da Reforma.
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