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Autor: Jesús Hortal Editora: Loyola Páginas: 272 Formato: 21 x 14 cm Preço: * * * Apresentação | O Autor | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
As páginas desta obra foram escritas com sofrimento e esperança. Sofrimento pelas divisões existentes
no Cristianismo, pelo contratestemunho prestado, pelas rivalidades e incompreensões... Esperança
pela ação silenciosa do Espírito Santo nas comunidades cristãs, pela graça de Deus que as impulsiona
a procurar a unidade, pelo caminho percorrido e os horizontes que se vislumbram.
A meta está certa porque a Palavra do Senhor não pode falhar: "Haverá um só rebanho e um só
pastor".
» O AUTOR
pe. Jesus Hortal é doutor em Direito Canônico e professor em faculdades de Teologia e Direito da PUC-RS e PUC-RJ; é também juiz do Tribunal Eclesiástico Regional do Rio de Janeiro.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
OS PROBLEMAS DA UNIDADE ECLESIAL VIVIDOS POR PAULO
A experiência de Paulo na primitiva comunidade cristã é de caráter único. Partindo de uma
rígida ortodoxia farisaica, o Apóstolo dos gentios experimenta, na visão às portas de Damasco,
a dimensão intrínseca do ser eclesial, a sua identificação com o Cristo a quem ele perseguia (At
9,3-5). Esse fato vai marcar profunda e duradouramente a sua teologia. Nunca mais será capaz de
olhar para uma comunidade cristã como para um simples agrupamento de pessoas. Lá há algo mais;
uma unidade indestrutível, fundamentada na unidade do próprio Cristo. Paulo não vai se cansar de
repetir essa lição. Por isso resultam tão dolorosas, para ele, as divisões entre os cristãos;
divisões de todos os tipos que ele teve de enfrentar. Primeiramente, na controvérsia entre
judaizantes e "modernizantes"; depois na rivalidade entre os diversos pregadores (Apolo, Cefas,
o próprio Paulo...); mais tarde, entre carismáticos e não-carismáticos; finalmente, entre
escravos e livres.
O princípio fundamental da teologia da unidade no pensamento paulino encontra-se formulado na
Epístola aos Gálatas: "Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem
mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus" (Gi 3,28). Aqui parecem emergir os problemas
concretos das comunidades paulinas: o elitismo judeu contra o espírito de dominação helenístico;
a sociedade desigual e escravocrata contra as revoltas libertárias; o machismo alicerçado pela
legislação romana contra a conduta extremamente livre das mulheres do patriciado. Diante dessas
diferenças aparentes, Paulo indica o único e verdadeiro centro de unidade: Cristo Jesus. Nele,
todos são uma coisa só. Quase parece escutar-se aqui o pedido do próprio Jesus: "Que todos
sejam uma coisa só!"
O FUNDAMENTO DA UNIDADE: A IDENTIDADE COM CRISTO, NO ÚNICO CORPO
Como dizíamos, para Paulo a experiência de Damasco foi o ponto de partida para sua construção
da teologia da unidade. A identificação que o próprio Cristo lhe manifestara ("Eu sou Jesus, a
quem tu estás perseguindo"; At 9,5) abriu, perante os seus olhos, um horizonte inesperado.
Havia um único Corpo, com uma única vida que se difundia por todos os membros. Havia uma comunicação
misteriosa, mas real. A rigor, nem se poderia falar de indivíduos, pois no Corpo todos ficam
unificados: "Assim também acontece com Cristo" (1Cor 12,12), exclama Paulo, quebrando o
ritmo da frase, que exigiria logicamente um "assim também acontece convosco". O sujeito da
unidade não é a soma dos cristãos, mas o Cristo que os incorpora e os faz seus. Ainda mais,
nesse Corpo, o princípio vital é o mesmo Espírito que impulsionou Jesus em sua vida: "Pois
fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres,
e todos bebemos de um só Espírito". E, ao lado do batismo, o outro grande sacramento, a
Eucaristia, participação no Corpo e no Sangue do Senhor, também alicerça a unidade: "Já que há
um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único
pão" (1Cor 10,17).
Para Paulo, essa união íntima, profunda entre os membros da Igreja, não fica num vago afeto ou
numa realidade escondida, que permaneça conhecida unicamente por Deus. Ao contrário, trata-se
de algo que, pela sua própria natureza, deve traduzir-se também na ordem externa, visível. A
primeira Epístola aos Coríntios, que acabamos de citar, tem uma meta muito clara: "Eu vos
exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo: guardai a concórdia uns com os outros,
de sorte que não haja divisões entre vós; sede estreitamente unidos no mesmo espírito e no
mesmo modo de pensar" (1Cor 1,10). As divisões, quando existem, têm, de acordo com a
teologia paulina, um efeito purificador: "Ouço dizer que, quando vos reunis em assembléia, há
entre vós divisões, e, em parte, o creio. É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim
de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados" (1Cor 11,18-19). A meta,
porém, é a unidade no único Corpo, a comunhão em torno ao Cristo. "Cristo estaria dividido?"
(1Cor 1,13).
TODA A OBRA DE CRISTO TEM UM SENTIDO RECONCILIADOR
A teologia do Corpo se desenvolve nas grandes epístolas paulinas (Romanos e Coríntios), em
torno da solidariedade dos membros, porque participantes de uma única vida. Mas essa teologia
atinge um desenvolvimento ulterior nas chamadas "epístolas do cativeiro" sobretudo Efésios e
Colossenses. Nelas aparece uma nova argumentação. Já não se trata de fundamentar a unidade
entre os cristãos e referi-la a Cristo. Há algo mais. Toda a criação passa a ter sentido
na medida em que se unifica na "recapitulação" em Cristo. Este é "a cabeça" e já não se
identifica pura e simplesmente com o Corpo. O cristão continua a ser membro de um único corpo,
mas esse corpo é a Igreja, como que a mediar a unidade. A Cabeça dá a vida ao Corpo, mas se
distingue dele.
Não vamos entrar na polêmica sobre a autoria destas cartas, se diretamente de Paulo ou não,
sobretudo a carta aos Efésios, embora a crítica atual tenha revisto, em grande parte, suas
posições e se incline majoritariamente pela afirmativa. O que nos interessa sublinhar é que
representam uma evolução ulterior e harmônica da teologia paulina do Corpo e que, para as
comunidades cristãs, foram e são parte integrante do cânon do Novo Testamento.
Pois bem, nessa teologia evoluída, não só a vida da comunidade cristã mas a criação inteira
tem um sentido de unidade em Cristo. O mistério da vontade eterna do Pai, "para levar o tempo
a sua plenitude", consiste em "em Cristo encabeçar (ou recapitular) todas as coisas, as que
estão nos céus e as que estão na terra" (Ef 1,10).
Daí se deduz bem claramente que todo esforço para construir a unidade, não só interna e na
caridade, mas também externa e social, é parte do plano eterno de Deus. A própria paixão de
Cristo tem um sentido reconciliador e unificador. "Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um
só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade - a Lei dos
mandamentos expressa em preceitos - a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a
paz, e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo, por meio da cruz, na qual ele matou a
inimizade. Assim, ele
veio e anunciou paz a vós que estáveis longe e paz aos que estavam perto, pois, por meio dele,
nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso junto ao Pai" (Ef 2,14-18).
A mesma visão unitária se repete na Epístola aos Colossenses: "Ele (Cristo) é a cabeça da
Igreja, que é o seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dos mortos (tendo em tudo a
primazia), pois nele aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e reconciliar por ele e para
ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue de sua cruz" (Cl
1,18-20). A conseqüência que daí se tira é a mesma das grandes Epístolas: "Aí não há mais
grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, mas
Cristo é tudo em todos" (Cl 3,11).
CONSEQÜÊNCIAS DA TEOLOGIA PAULINA DA UNIDADE
A teologia paulina da unidade representa um desafio a todas as nossas divisões, porque elas se
apresentam como a maior contradição possível com a obra de Cristo e com seu "mistério". No
fundo acabam por negar todo o sentido da criação. Quem tem o Espírito de Cristo deve procurar
a unidade com todas as suas forças. Por isso, brota espontânea a exortação de Ef 4,1-6:
"Exorto-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, a andardes de modo digno da vocação
a que fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns
aos outros com amor, procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só
Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados: há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por
meio de todos e em todos". As razões invocadas pelo autor da Epístola,
para uma comunidade concreta (a de Colossos) continuam válidas
para nós, hoje. Também hoje devemos dizer que há um só Corpo.
E é evidente que não se trata de algo invisível, mas de algo bem
concreto, daquilo que a Constituição dogmática Lumen Gentium,
sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II chama "a única Igreja de
Cristo, que no Símbolo confessamos una, santa, católica e apostó-
lica... constituída e organizada neste mundo como uma sociedade
visível" (n. 8). É uma "comunidade de fé, esperança e caridade
constituída como organismo visível pelo qual Cristo difunde a
verdade e a graça a todos" (ibid.).
Por que, pois, buscar a unidade? Porque não há como fugir à
tarefa de continuar a obra de Cristo.
O ideal, de acordo com a teologia paulina, não é o triunfo de um extremo contra o outro, de
uma parte contra a outra. Do que se trata é de reconciliar, unificar, recapitular tudo em
torno do Cristo, centro verdadeiro de unidade para todo o universo.
RECONCILIAÇÃO E LIBERTAÇÃO
A reconciliação que Paulo propõe não é uma ignorância dos conflitos. As duras palavras com
que ele condena, por exemplo, as divisões em Corinto não se referem unicamente à própria
divisão, mas também a suas raízes: a soberba de ter sido ensinado por um pregador mais famoso,
de ter maior quantidade de bens e permitir-se assim uma refeição mais
abundante, de possuir carismas superiores aos dos outros etc.
No nosso tempo, na América Latina, desenvolveu-se, cada vez mais claramente, a consciência de
que a raiz da maioria das divisões se encontra na injustiça social, alicerçada no egoísmo
humano. A opressão, a marginalização, a exploração impedem a unidade entre
opressores e oprimidos, entre marginalizantes e marginalizados,
entre exploradores e explorados. Por isso, se queremos verdadeiramente
promover a reconciliação entre todos os homens, teremos de empenhar-nos
ativamente na libertação de toda injustiça e de toda opressão.
Já Paulo, na Epístola aos Gálatas, enumera, entre as "obras da carne", "ódio, rixas, ciúmes,
ira, discussões, discórdia, divisões, invejas..." (Gl 5,20). Numa visão semelhante, as
Conclusões da 3ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Documento
de Puebla) afirmam:
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A Unidade da Igreja no Pensamento Paulino
A procura da unidade não se restringe às questões intra-eclesiais. O que divide não são só
problemas teológicos ou de organização eclesiástica. A própria história das divisões entre os
cristãos mostrou quantos elementos geográficos, políticos e culturais se
misturaram no aparecimento das diversas confissões. Um sadio ecumenismo não poderá nunca
esquecer que a unidade que pretendemos é, sim, externa e visível, além de animada pela
caridade e alicerçada na vida única de Cristo. Mas, por isso mesmo, nunca poderemos
deixar de lutar para que sejam removidos os obstáculos para a
unidade, também na ordem temporal. A luta pela justiça entre os
homens de todas as raças e cores, de todas as culturas e
latitudes é também uma luta por essa unidade que deve culminar na recapitulação de
tudo em Cristo. Por isso, o movimento ecumênico não
pode ficar restrito ao diálogo teológico. Também deve promover o
encontro entre os cristãos no campo dos direitos humanos, da defesa
dos oprimidos, da promoção da justiça, da libertação
integral do homem. Como veremos, o testemunho comum de cristãos de
diversas denominações não se restringe à recitação de fórmulas
de fé comuns, mas abrange também a ação em favor da justiça. Ecumenismo
e Teologia da Libertação se encontram num objetivo comum:
defender a dignidade da pessoa humana, para conseguir a
unidade em Cristo.
Texto retirado das páginas 143 a 148.
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