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Autor: Danilo Mondoni Editora: Loyola Páginas: 174 Formato: 19 x 13 cm Preço: * * * Apresentação | Os Autores | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Surgida do seio de uma cultura patriarcal e monoteísta, em que era vista como mais uma seita
judaica, a comunidade dos discípulos de Jesus Cristo - portadora da mensagem centrada na
auto-revelação de Deus em Jesus Cristo e na fraternidade dos filhos de Deus vivificados pelo
Espírito Santo - expandiu-se por um império pluricultural e politeísta, estabelecendo comunidades
estruturadas em torno ao bispo e reagrupadas em patriarcados, fundando mosteiros, forjando
liturgias variadas, elaborando tradições teológicas, produzindo e difundindo ampla literatura
dogmática, exegética, histórica e espiritual. Embora inicialmente não reconhecida como religião
legítima, transformou-se em religião oficial do Império Romano e lançou as bases da cristandade
medieval.
Neste livro, o autor descreve os acontecimentos principais desse período histórico e procura
compreende-los a partir de uma orientação historiográfica que reúne metodologicamente os aspectos
analíticos e sintéticos, as contribuições pessoais e as influências dos condicionamentos
do ambiente histórico.
» OS AUTORES
Danilo Mondoni é professor de História da Igreja na Faculdade de Teologia do Centro de
Estudos Superiores da Companhia de Jesus, co-editor da revista de filosofia "Síntese" e editor
da Edições Loyola
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
NESTÓRIO VERSUS CIRILO
A escola alexandrina, mais próxima da filosofia platônica e adepta da interpretação alegórico-mística
das Escrituras, acentuava a união íntima entre as naturezas humana e divina de Cristo, com o
perigo de que a natureza humana fosse absorvida pela natureza divina.
Apolinário bispo de Laodicéia (+390), amigo de Atanásio e Basilio e defensor da fé nicena, desde
352 concordava com os
arianos na minimização da humanidade de Cristo. Seguidor da doutrina platônica da tricotomia do
ser humano, começou a ensinar que em Jesus Cristo o Verbo se unia a um corpo privado de alma,
cujas funções eram desempenhadas pelo Logos - Cristo é a união do Verbo divino e da
carne, ou seja, da energia divina e de um corpo físico, sem a mediação de um psiquismo
propriamente humano; mais tarde, quando lhe foi demonstrado que tal tese contrastava com a
Escritura, que nos apresenta um Cristo dotado de uma vida humana autêntica, afirmou que o
Verbo assumiu um corpo e uma alma vegetativa e sensitiva, mas que o próprio Logos exercia
a função de princípio intelectivo. Para ele, somente admitindo-se uma diminuição da natureza
humana de Cristo se poderia explicar quer a unidade de sua pessoa - duas naturezas completas
não podem tornar-se um ente único; e como ele identificava natureza e pessoa, admitia em Cristo
uma só natureza -, quer a sua impecabilidade - porque onde há uma vontade humana o pecado aí está
presente; para ele o pecado reside na vontade; se é o Logos que domina e conduz a natureza,
Cristo fica livre da debilidade pecaminosa da natureza humana, - quer o versículo de João "E o
Verbo se fez carne" (carne e não homem). Tendeu a sublinhar preponderantemente a unidade de
Cristo, acentuando a natureza divina.
Sua tese foi condenada pelos sínodos de Alexandria (362) e Roma (377 e 382) e pelo concílio de
Constantinopla; o argumento dos nicenos era de que somente o que fora assumido pelo Logos
podia ser redimido por ele. Os apolinaristas foram exilados por Teodósio em 388, constituíram uma
comunidade em Antioquia e em 420 reintegraram-se à Igreja.
À tendência apolinarista opunha-se a escola antioquena que insistia não somente na exegese literal,
mas acentuava a distinção recíproca e a integridade das naturezas, com o perigo de distinguir
nelas duas pessoas em Cristo. Diodoro de Tarso falava de uma simples inabitação do Logos no
homem como num templo ou numa veste e distinguia dois filhos de Deus em Cristo: um natural e outro adotado por
graça e chamado Filho de Deus em sentido impróprio. Teodoro de Mopsuéstia não admitia uma
encarnação, pois isso importava na transformação do Logos num homem, e reconhecia apenas
uma inabitação do Verbo; sua persuasão, derivada de Aristóteles, de que nenhuma substância
é perfeita se carece de personalidade, levava-o a reconhecer duas pessoas em Cristo; falava de
uma pessoa, mas não como unidade física ou substancial, mas como unidade relativa ou
moral, unidade de vontade ou enlace exterior.
No entanto, o representante mais notório desta escola foi Nestório, monge de Antioquia. Em 428,
ele tornou-se bispo de Constantinopla e passou a divulgar as idéias de Teodoro de Mopsuéstia,
de quem provavelmente fora discípulo, lançando a cristologia antioquena ao grande público.
Ensinava que em Cristo as duas naturezas formam duas pessoas, dois sujeitos responsáveis ou
agentes, unidos entre si apenas de modo extrínseco; trata-se de uma unidade moral, ou de
vontade, de um elo exterior, análogo ao existente entre o homem e a mulher no matrimônio, ou
entre o templo e o ídolo contido nele; o Verbo inabita o homem Jesus como numa tenda ou
num templo; pode-se falar de uma única pessoa de Cristo, mas em sentido análogo, ou seja, de
pessoa moral, resultante da união extrínseca de duas pessoas físicas; o Deus encarnado
não morre, mas sim o homem no qual se encarnou; conseqüentemente considerava o termo
Theotokos (mãe de Deus) aplicado a Maria e difundido no oriente desde o século II,
como equívoco ou impróprio, uma vez que somente do homem que há em Cristo, não porém de Deus, se
pode dizer que nasceu de Maria; ela não pode ser considerada como mãe de Deus, ou do Verbo, mas
da pessoa humana de Cristo (não Theotokos, mas Christotokos); também temia que o
termo Theotokos pudesse induzir a representaçôes míticas.
Tais idéias começaram a ser divulgadas pelas homilias de Anastásio, um presbítero antioqueno
que se transferira para a capital imperial e que era apoiado por Nestório. A nova teoria
causou comoção em Constantinopla, onde o povo se interessava pelas discussôes teológicas;
durante uma celebração eucarística, o advogado Eusébio interrompeu a homilia de Anastásio, em
que este negava o título de Theotokos a Maria, e mostrou-lhe teologicamente a propriedade
deste termo.
O eco da controvérsia chegou a Alexandria, cujo bispo era Cirilo, homem de vasta doutrina e
zeloso, mas combativo e duro, e que ainda não chegara à clareza terminológica acerca da
distinção entre natureza e pessoa. Cirilo se opôs à doutrina de Nestório, enviando, já em 429,
uma epístola pascal aos bispos egípcios; e para dissipar qualquer equivoco entre os monges do
Egito, desorientados pelas teses nestorianas, enviou-lhes uma longa carta, remetendo-a também a
Nestório. Entendia caracterizar a união das naturezas como união verdadeira, sem mistura
nem transformação: o Verbo uniu a si hipostaticamente (em sua pessoa) a carne animada de alma
racional, tornando-se homem de modo inexprimível e incompreensível (união hipostática, isto
é, numa só pessoa, das duas naturezas); a natureza humana é instrumento da pessoa divina (para
Nestório tal união era apenas acidental); as ações e os sofrimentos da natureza humana de
Cristo podem ser atribuidos diretamente à pessoa divina do Verbo, porque a natureza humana foi
assumida como própria pela pessoa divina. Sua forma de expressão, porém, não era unívoca:
utilizava as expressões "união natural", no sentido de união real e não de fusão, e "uma natureza
do Verbo encarnado", para sublinhar a união das naturezas; acreditava que essa fórmula fosse de
Atanásio, mas, na realidade, provinha de um falso apolinarista com o nome do defensor da fé
nicena. Era também estimulado pela rivalidade político-eclesiástica entre os
patriarcados de Alexandria e de Constantinopla (este, desde 381, conseguira obter o primazia no
oriente).
Os antioquenos viam na doutrina ciriliana uma espécie de apolinarismo ou monofisismo velado:
uma cristologia dominada pela divindade, em que apenas se podia falar de forma inconseqüente
acerca do ser humano de Jesus; a imagem de Cristo feito homem resultava incompleta e mutilada.
Os alexandrinos interpretavam as considerações de Nestório como sendo uma negação da união das
naturezas, resultando a imagem de um Cristo dividido.
Cirilo e Nestório recorreram a Celestino. O papa condenou Nestório como herético (sínodo de
Roma de 11.8.430), ameaçou-o com a deposição caso não se retratasse no prazo de dez dias
e encarregou Cirilo da execução da sentença. Cirilo, ultrapassando os limites da instrução
recebida, reuniu um sínodo em Alexandria (430); os sinodais aprovaram uma nova carta a Nestório,
na qual, além de uma parte doutrinal, condenavam a doutrina nestoriana em doze pontos ou
anátemas (fórmulas breves de condenação); o primeiro anatematizava quem não reconhecesse que o
Emanuel fosse verdadeiramente Deus, e a Santa Virgem, a Mãe de Deus. A escola nestoriana
replicou, excomungando quem sustentasse que o Emanuel fosse verdadeiramente Deus, e não Deus
conosco.
O CONCÍLIO DE ÉFESO (22.06 a 17.07.431)
Em 19 de novembro de 430, o imperador Teodósio II convocou os metropolitas orientais e alguns
bispos ocidentais para um concílio geral em Éfeso.
O papa enviou dois legados como assistentes de Cirilo, seu verdadeiro representante. À data
estabelecida para a abertura do concílio, Pentecostes de 431, faltavam os legados pontifícios,
atrasados devido ao mal tempo, e o patriarca João de Antioquia, fautor de Nestório. Cirilo, sem
esperar a chegada deles, desafiando a oposição de cerca de setenta bispos, e não obstante o
protesto do comissário imperial, procedeu à abertura do concílio no dia 22 de junho, na
presença de cento e cinquenta e três bispos.
Nestório, embora intimado, não compareceu à primeira sessão e, por causa de sua doutrina, foi
destituído. Os bispos, em unanimidade, aprovaram a segunda carta de Cirilo a Nestório -
união real das duas naturezas em Cristo e a propriedade do uso do termo Theotokos, sem
os doze anátemas. O povo acolheu com alegria a sentença e acompanhou festivamente os bispos de
volta às casas onde estavam hospedados.
Em 26 de junho, chegou o patriarca João de Antioquia. Ele convocou os quarenta e três bispos
dissidentes e excomungou Cirilo e os que aderiram a ele, dentre os quais Menão de Éfeso,
com o pretexto de terem renovado, com os doze anatematismos, os erros de Ário e Apolinário. Em
10 de julho, chegaram os legados papais e compuseram-se com Cirilo: aprovaram a deposição de
Nestório e, nas sessôes seguintes, assistiram à excomunhão do patriarca João e adeptos.
Cirilo e João apelaram ao imperador. Teodósio II, num primeiro momento, condenou o concílio
presidido por Cirilo; depois tentou um compromisso, reconhecendo as deposiçôes de Nestório e de
Cirilo, mandando prender a ambos e convocando as partes contrastantes para uma reunião em sua
residência de Calcedônia. Cirilo enviou donativos aos dignatários da corte e era apoiado por
Pulquéria, a irmã mais velha do imperador. Teodósio II flnalmente decidiu-se contra Nestório,
relegando-o a um mosteiro, e deixou Cirilo ir em paz.
No entanto, o episcopado oriental permaneceu cindido: os antioquenos pronunciaram novamente a
excomunhão contra Cirilo e seus seguidores. O papa Sisto III e o imperador esforçaram-se
pelo restabelecimento da paz, e também o fizeram Cirilo e João.
Em 433, chegou-se à reconciliação (união de 433): João aceitou as decisões de 431, acatando a
deposição de Nestório, e Cirilo abandonou as fórmulas ambíguas, aceitando uma proflssào de fé
antioquena redigida por Teodoreto de Ciro. O acordo foi anunciado por Cirilo ao povo de
Alexandria com a carta Laetentur coeli: esta fórmula de união acentuou tanto a distinção
entre divindade e humanidade em Cristo, como também a unidade que nele se dá.
Cirilo foi criticado por ter tolerado expressões de sabor nestoriano, enquanto os partidários de
João recusaram-se a aceitar a condenação de Nestório. Somente a autoridade imperial, com ameaças
de destituição, obteve o reconhecimento universal do acordo.
O nestorianismo extinguiu-se rapidamente no Império Romano, mas difundiu-se pela Pérsia, e daí
chegou à Índia e à China. Atualmente existem núcleos de nestorianos na Síria, em Chipre
e no Iraque.
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A Polarização das Concepções Cristológicas
Texto retirado das páginas 137 a 143.
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