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HISTÓRIA DA IGREJA NA ANTIGÜIDADE
Autor: Danilo Mondoni
Editora: Loyola
Páginas: 174
Formato: 19 x 13 cm
Preço: * * *

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» APRESENTAÇÃO

Surgida do seio de uma cultura patriarcal e monoteísta, em que era vista como mais uma seita judaica, a comunidade dos discípulos de Jesus Cristo - portadora da mensagem centrada na auto-revelação de Deus em Jesus Cristo e na fraternidade dos filhos de Deus vivificados pelo Espírito Santo - expandiu-se por um império pluricultural e politeísta, estabelecendo comunidades estruturadas em torno ao bispo e reagrupadas em patriarcados, fundando mosteiros, forjando liturgias variadas, elaborando tradições teológicas, produzindo e difundindo ampla literatura dogmática, exegética, histórica e espiritual. Embora inicialmente não reconhecida como religião legítima, transformou-se em religião oficial do Império Romano e lançou as bases da cristandade medieval.

Neste livro, o autor descreve os acontecimentos principais desse período histórico e procura compreende-los a partir de uma orientação historiográfica que reúne metodologicamente os aspectos analíticos e sintéticos, as contribuições pessoais e as influências dos condicionamentos do ambiente histórico.

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» OS AUTORES

Danilo Mondoni é professor de História da Igreja na Faculdade de Teologia do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, co-editor da revista de filosofia "Síntese" e editor da Edições Loyola

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» CONTEÚDO

  1. Introdução
  2. A Igreja no trem da História
  3. Origens do Cristianismo
  4. Expansão do Cristianismo
  5. Relação Igreja-Estado na Antigüidade
  6. A Igreja em meio às transmigrações germânicas e às invasões árabes
  7. Aspectos relevantes da vida interna da Igreja
  8. Gênese, desenvolvimento e formas de vida consagrada
  9. Correntes cristãs: cismas, heresias e a via média eclesial
  10. Pré-história da formulação dogmática da Trindade
  11. Configuração do dogma trinitário
  12. Controvérsias cristológicas
  13. Controvérsias doutrinais pós-calcedonianas
  14. A controvérsia sobre a graça

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» AMOSTRA

A Polarização das Concepções Cristológicas

NESTÓRIO VERSUS CIRILO

A escola alexandrina, mais próxima da filosofia platônica e adepta da interpretação alegórico-mística das Escrituras, acentuava a união íntima entre as naturezas humana e divina de Cristo, com o perigo de que a natureza humana fosse absorvida pela natureza divina.

Apolinário bispo de Laodicéia (+390), amigo de Atanásio e Basilio e defensor da fé nicena, desde 352 concordava com os arianos na minimização da humanidade de Cristo. Seguidor da doutrina platônica da tricotomia do ser humano, começou a ensinar que em Jesus Cristo o Verbo se unia a um corpo privado de alma, cujas funções eram desempenhadas pelo Logos - Cristo é a união do Verbo divino e da carne, ou seja, da energia divina e de um corpo físico, sem a mediação de um psiquismo propriamente humano; mais tarde, quando lhe foi demonstrado que tal tese contrastava com a Escritura, que nos apresenta um Cristo dotado de uma vida humana autêntica, afirmou que o Verbo assumiu um corpo e uma alma vegetativa e sensitiva, mas que o próprio Logos exercia a função de princípio intelectivo. Para ele, somente admitindo-se uma diminuição da natureza humana de Cristo se poderia explicar quer a unidade de sua pessoa - duas naturezas completas não podem tornar-se um ente único; e como ele identificava natureza e pessoa, admitia em Cristo uma só natureza -, quer a sua impecabilidade - porque onde há uma vontade humana o pecado aí está presente; para ele o pecado reside na vontade; se é o Logos que domina e conduz a natureza, Cristo fica livre da debilidade pecaminosa da natureza humana, - quer o versículo de João "E o Verbo se fez carne" (carne e não homem). Tendeu a sublinhar preponderantemente a unidade de Cristo, acentuando a natureza divina.

Sua tese foi condenada pelos sínodos de Alexandria (362) e Roma (377 e 382) e pelo concílio de Constantinopla; o argumento dos nicenos era de que somente o que fora assumido pelo Logos podia ser redimido por ele. Os apolinaristas foram exilados por Teodósio em 388, constituíram uma comunidade em Antioquia e em 420 reintegraram-se à Igreja.

À tendência apolinarista opunha-se a escola antioquena que insistia não somente na exegese literal, mas acentuava a distinção recíproca e a integridade das naturezas, com o perigo de distinguir nelas duas pessoas em Cristo. Diodoro de Tarso falava de uma simples inabitação do Logos no homem como num templo ou numa veste e distinguia dois filhos de Deus em Cristo: um natural e outro adotado por graça e chamado Filho de Deus em sentido impróprio. Teodoro de Mopsuéstia não admitia uma encarnação, pois isso importava na transformação do Logos num homem, e reconhecia apenas uma inabitação do Verbo; sua persuasão, derivada de Aristóteles, de que nenhuma substância é perfeita se carece de personalidade, levava-o a reconhecer duas pessoas em Cristo; falava de uma pessoa, mas não como unidade física ou substancial, mas como unidade relativa ou moral, unidade de vontade ou enlace exterior.

No entanto, o representante mais notório desta escola foi Nestório, monge de Antioquia. Em 428, ele tornou-se bispo de Constantinopla e passou a divulgar as idéias de Teodoro de Mopsuéstia, de quem provavelmente fora discípulo, lançando a cristologia antioquena ao grande público. Ensinava que em Cristo as duas naturezas formam duas pessoas, dois sujeitos responsáveis ou agentes, unidos entre si apenas de modo extrínseco; trata-se de uma unidade moral, ou de vontade, de um elo exterior, análogo ao existente entre o homem e a mulher no matrimônio, ou entre o templo e o ídolo contido nele; o Verbo inabita o homem Jesus como numa tenda ou num templo; pode-se falar de uma única pessoa de Cristo, mas em sentido análogo, ou seja, de pessoa moral, resultante da união extrínseca de duas pessoas físicas; o Deus encarnado não morre, mas sim o homem no qual se encarnou; conseqüentemente considerava o termo Theotokos (mãe de Deus) aplicado a Maria e difundido no oriente desde o século II, como equívoco ou impróprio, uma vez que somente do homem que há em Cristo, não porém de Deus, se pode dizer que nasceu de Maria; ela não pode ser considerada como mãe de Deus, ou do Verbo, mas da pessoa humana de Cristo (não Theotokos, mas Christotokos); também temia que o termo Theotokos pudesse induzir a representaçôes míticas.

Tais idéias começaram a ser divulgadas pelas homilias de Anastásio, um presbítero antioqueno que se transferira para a capital imperial e que era apoiado por Nestório. A nova teoria causou comoção em Constantinopla, onde o povo se interessava pelas discussôes teológicas; durante uma celebração eucarística, o advogado Eusébio interrompeu a homilia de Anastásio, em que este negava o título de Theotokos a Maria, e mostrou-lhe teologicamente a propriedade deste termo.

O eco da controvérsia chegou a Alexandria, cujo bispo era Cirilo, homem de vasta doutrina e zeloso, mas combativo e duro, e que ainda não chegara à clareza terminológica acerca da distinção entre natureza e pessoa. Cirilo se opôs à doutrina de Nestório, enviando, já em 429, uma epístola pascal aos bispos egípcios; e para dissipar qualquer equivoco entre os monges do Egito, desorientados pelas teses nestorianas, enviou-lhes uma longa carta, remetendo-a também a Nestório. Entendia caracterizar a união das naturezas como união verdadeira, sem mistura nem transformação: o Verbo uniu a si hipostaticamente (em sua pessoa) a carne animada de alma racional, tornando-se homem de modo inexprimível e incompreensível (união hipostática, isto é, numa só pessoa, das duas naturezas); a natureza humana é instrumento da pessoa divina (para Nestório tal união era apenas acidental); as ações e os sofrimentos da natureza humana de Cristo podem ser atribuidos diretamente à pessoa divina do Verbo, porque a natureza humana foi assumida como própria pela pessoa divina. Sua forma de expressão, porém, não era unívoca: utilizava as expressões "união natural", no sentido de união real e não de fusão, e "uma natureza do Verbo encarnado", para sublinhar a união das naturezas; acreditava que essa fórmula fosse de Atanásio, mas, na realidade, provinha de um falso apolinarista com o nome do defensor da fé nicena. Era também estimulado pela rivalidade político-eclesiástica entre os patriarcados de Alexandria e de Constantinopla (este, desde 381, conseguira obter o primazia no oriente).

Os antioquenos viam na doutrina ciriliana uma espécie de apolinarismo ou monofisismo velado: uma cristologia dominada pela divindade, em que apenas se podia falar de forma inconseqüente acerca do ser humano de Jesus; a imagem de Cristo feito homem resultava incompleta e mutilada. Os alexandrinos interpretavam as considerações de Nestório como sendo uma negação da união das naturezas, resultando a imagem de um Cristo dividido.

Cirilo e Nestório recorreram a Celestino. O papa condenou Nestório como herético (sínodo de Roma de 11.8.430), ameaçou-o com a deposição caso não se retratasse no prazo de dez dias e encarregou Cirilo da execução da sentença. Cirilo, ultrapassando os limites da instrução recebida, reuniu um sínodo em Alexandria (430); os sinodais aprovaram uma nova carta a Nestório, na qual, além de uma parte doutrinal, condenavam a doutrina nestoriana em doze pontos ou anátemas (fórmulas breves de condenação); o primeiro anatematizava quem não reconhecesse que o Emanuel fosse verdadeiramente Deus, e a Santa Virgem, a Mãe de Deus. A escola nestoriana replicou, excomungando quem sustentasse que o Emanuel fosse verdadeiramente Deus, e não Deus conosco.

O CONCÍLIO DE ÉFESO (22.06 a 17.07.431)

Em 19 de novembro de 430, o imperador Teodósio II convocou os metropolitas orientais e alguns bispos ocidentais para um concílio geral em Éfeso.

O papa enviou dois legados como assistentes de Cirilo, seu verdadeiro representante. À data estabelecida para a abertura do concílio, Pentecostes de 431, faltavam os legados pontifícios, atrasados devido ao mal tempo, e o patriarca João de Antioquia, fautor de Nestório. Cirilo, sem esperar a chegada deles, desafiando a oposição de cerca de setenta bispos, e não obstante o protesto do comissário imperial, procedeu à abertura do concílio no dia 22 de junho, na presença de cento e cinquenta e três bispos.

Nestório, embora intimado, não compareceu à primeira sessão e, por causa de sua doutrina, foi destituído. Os bispos, em unanimidade, aprovaram a segunda carta de Cirilo a Nestório - união real das duas naturezas em Cristo e a propriedade do uso do termo Theotokos, sem os doze anátemas. O povo acolheu com alegria a sentença e acompanhou festivamente os bispos de volta às casas onde estavam hospedados.

Em 26 de junho, chegou o patriarca João de Antioquia. Ele convocou os quarenta e três bispos dissidentes e excomungou Cirilo e os que aderiram a ele, dentre os quais Menão de Éfeso, com o pretexto de terem renovado, com os doze anatematismos, os erros de Ário e Apolinário. Em 10 de julho, chegaram os legados papais e compuseram-se com Cirilo: aprovaram a deposição de Nestório e, nas sessôes seguintes, assistiram à excomunhão do patriarca João e adeptos.

Cirilo e João apelaram ao imperador. Teodósio II, num primeiro momento, condenou o concílio presidido por Cirilo; depois tentou um compromisso, reconhecendo as deposiçôes de Nestório e de Cirilo, mandando prender a ambos e convocando as partes contrastantes para uma reunião em sua residência de Calcedônia. Cirilo enviou donativos aos dignatários da corte e era apoiado por Pulquéria, a irmã mais velha do imperador. Teodósio II flnalmente decidiu-se contra Nestório, relegando-o a um mosteiro, e deixou Cirilo ir em paz.

No entanto, o episcopado oriental permaneceu cindido: os antioquenos pronunciaram novamente a excomunhão contra Cirilo e seus seguidores. O papa Sisto III e o imperador esforçaram-se pelo restabelecimento da paz, e também o fizeram Cirilo e João. Em 433, chegou-se à reconciliação (união de 433): João aceitou as decisões de 431, acatando a deposição de Nestório, e Cirilo abandonou as fórmulas ambíguas, aceitando uma proflssào de fé antioquena redigida por Teodoreto de Ciro. O acordo foi anunciado por Cirilo ao povo de Alexandria com a carta Laetentur coeli: esta fórmula de união acentuou tanto a distinção entre divindade e humanidade em Cristo, como também a unidade que nele se dá.

Cirilo foi criticado por ter tolerado expressões de sabor nestoriano, enquanto os partidários de João recusaram-se a aceitar a condenação de Nestório. Somente a autoridade imperial, com ameaças de destituição, obteve o reconhecimento universal do acordo.

O nestorianismo extinguiu-se rapidamente no Império Romano, mas difundiu-se pela Pérsia, e daí chegou à Índia e à China. Atualmente existem núcleos de nestorianos na Síria, em Chipre e no Iraque.


Texto retirado das páginas 137 a 143.

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