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Autor: Johannes B. Bauer Editora: Loyola Páginas: 456 Formato: 23 x 16 cm Preço: * * * * Apresentação | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Obra de referência em teologia bíblica, completamente atualizada, esta edição se caracteriza
pela concisão e renovação, seguindo a tendência atual de transliterar de forma simplificada os
termos hebraicos e gregos, permitindo ao leigo no assunto pronunciá-los.
Abordando 174 verbetes, elaborados por 59 autores célebres, de maneira ecumênica, foi adaptada
ao público brasileiro, trazendo, de forma acessível e informativa, os recentes avanços da
ciência bíblica.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
O conceito de "demônio", de uso freqüente na história das religiões vem do grego (daimon,
que se encontra pela primeira vez em Homero (Ilíada 1,122; 3,420). Originariamente, esse termo
não evocava nenhuma apreciação, nem positiva nem negativa dos seres sobrenaturais assim nomeados.
Podemos dizer que somente uma teologia mais evoluída costuma levar a uma distinção explícita entre
deuses e demônios. Uma
"negativização" dos demônios ocorre apenas quando são degradados a seres inferiores ou hostis
aos "deuses". É nessa acepção da palavra que em grande parte dos escritos bíblicos aparecem
demônios, sendo que uma das formas em que seu componente originariamente positivo sobreviveu
são os anjos. A explicação mais plausível de sua origem conta com dois fatores: de um lado, os
demônios podem ser vistos como projeções de sensações internas que resultam das experiências
do homem, vivendo sempre de novo sua limitação diante das forças da natureza, diante da morte,
doenças ou desgraças; demônios, pois, são experiências personificadas que fazem medo ao homem,
já que continuam inexplicáveis suas imprevisíveis atuações. De outro lado, também tutores
externos podem entrar em jogo, fazendo surgir "demônios", p.ex. aspectos sociais, perdas ou
perigos que partem do ambiente humano. Essas causas externas, alheias à própria vida da pessoa,
podem, por serem estranhas e hostis, ser "demonizadas". Ambas as causas podem invadir as
crenças populares, concretizando-se em figuras antropomorfas ou teriomorfas.
Antigo Testamento
Os fenômenos acima mencionados entraram no AT porque o antigo Israel participou das concepções
do antigo Oriente e da região egéia oriental. Nesta base, podemos no AT distinguir alguns tipos
de demônios que quase não apresentam individualidade nenhuma: são bordas de forças desagradáveis,
tanto mais perigosas porque anônimas. Podemos mencionar, p.ex., os siyin (Is 13,21; 23,13;
34,14; Jr 50,39; Sl 72,9; 74,14) que apresentam intimas relações com o deserto e seus
habitantes. São mencionados também várias vezes os se'irim, os "cabeludos", espíritos em forma
de bodes (Lv 17,7; 2Cr 11,15; 2Rs 23,8[?]; Is 13,21; 34,14) e os sedim (Dt 32,17;
Sl 106,37), etimologicamente muito perto do acádico sedu ("anjo protetor"). Esses
siyin e se'irim provam também que não existe distinção nítida entre demônios e
animais; os próprios animais podem até ser vistos como demônios (p.ex., chacais, corujas,
avestruzes). Isso tem a ver também com o lugar onde os demônios atuam: encontram-se de
preferência em ermos e lugares fora da terra cultivada (cf. também Br 4,35); essa idéia
refletiu-se talvez em alguns topônimos "inóspitos", já que nomes como Sidim (Gn l4,3.8.10) ou
Setim (Shitim) (Nm 25,1; Os 5,2; Mq 6,5) podem ser derivados de sedim.
Ao lado desses grupos encontramos também figuras isoladas, p.ex. Lilit (Is 34,14, cf. Zc 5,9),
que tem sua origem numa demónia sumeriana da tempestade; mas, na base de uma etimologia popular
virou demônia da noite (cf hebr. layla) ganhando conotações sexuais.
Embora apenas uma vez mencionada na Biblia, ela ficou conhecida mais tarde, no judaísmo, como
a primeira mulher de Adão e como figura simplesmente demoníaca; afinal, sobreviveu até na Idade
Média, em forma de bruxa. É preciso citar também Azazel (Lv 16,8.10.26), mencionado como
demônio do deserto no rito purificador do Dia da Expiação. A história das religiões permite ligar
esta figura a ritos de purificação do norte da Síria e dos hurritas; de acordo com os
pressupostos israelíticos que formaram a tradição de Lv 16, Azazel foi demonizado. Asmodeu
(Tb 3,8.17; cf. 6,8s.15s; 8,2s) é outro demônio citado nomeadamente no AT, proveniente, ao que
parece, do ideário do antigo Irá; é apresentado como matador de homens, mas pode ser afastado
pela fumaça do coração e do fígado queimados. Como também doenças podem ser demonizadas, temos
de citar ainda Hab 3,5 e 51 91,5s, onde são mencionadas a peste e outras epidemias; há
reminiscências das velhas divindades; demônios Dabir e Réshef, da Síria antiga. O salmo
mostra também que meio-dia e meia-noite podem ser considerados momentos perigosos, quando os
demônios podem se tornar ativos. Ainda deve ser lembrado o anjo exterminador de YHWH, que traz
a peste sobre Jerusalém (2Sm 24,16s) ou destroça o exército de Senaquerib (2Rs 19,35; Is 37,36).
Apesar da aniquilação, fala-se de um "anjo de YHWH"; isso prova que, na origem, não existia a
alternativa excludente entre anjos bons e demônios maus. Um lugar à parte na demonologia do AT
ocupam os espíritos dos mortos ('ittim, yid'onim, re'faim). Na base da rejeição, no
AT, do culto aos antepassados, eles também foram demonizados; seu culto era proibido e o
contato com eles estigmatizado como idolatria (cf. p.ex. Lv 19,31, Dt 18,11; Is 8,19; 19,3;
lSm 28,13; 2Rs 21,6, 23,24). O desenvolvimento do monoteísmo e a exclusividade sempre mais
absoluta de YHWH, desde o tempo dos últimos reis, levou durante o exílio a uma teologia
definitivamente normativa, em que a demonologia do AT ganhou novo peso. De um lado, a
progressiva transcendência de YHWH teve por conseqüência que o cosmo se encheu com seres que
mediavam entre Deus e os homens. A avaliação dos demônios dependeu diretamente dessa evolução.
Textos isolados ainda deixam supor que eram considerados como seres sobrenaturais, porém
neutros, dos quais o homem podia se aproximar com veneração cultual para obter sua ajuda, como
os espíritos protetores do Oriente Antigo. Textos como Lv 17,7; Dt 32.17; 2Cr 11,15; Br 4,7;
Is 65,3.11 (LXX) ou Sl 106,37 ainda deixam transparecer claramente que "demônios" recebem
sacrificios, tanto quanto os deuses (já rejeitados pela teologia pós-exílica). A LXX, em Sl
96,5, completa finalmente a equiparação: "Todos os deuses dos povos são demônios". Outra
contribuição para a negativação dos demônios deve ter sido, desde esta época, a influência iraniana sobre a religião
de Israel; o dualismo absoluto iraniano, com deuses bons e antideuses maus, não foi adotado
nesta forma radical, pois para Israel tanto a felicidade como a desgraça vêm de YHWH (Is 45,7;
cf. Am 3,6). O dualismo relativo do bem e do mal, porém, possibilitou a evolução de idéias a
respeito de um mundo de demônios claramente subordinados a YHWH, mas extremamente ativos como
antagonistas de suas obras. Assim os últimos tempos do AT e, mais ainda, o subseqüente judaísmo
resultaram num número de demônios substancialmente acrescido, sendo que a figura de Satanás
foi se destacando como príncipe dos demônios. Ainda devemos pelo menos citar os espíritos
"maus" ou "impuros", muitas vezes mencionados na literatura intertestamentária (p.ex., Jub
10,5.8; 11,4s; l9,28; Hen et. 15,10-12; 19,1; 99,7; TestSim 4,9; TestBenj 5,2), bem como os
"vigilantes" e os "gigantes" da literatura sobre Henoc, que desempenham papel importante na
interpretação de Gn 6,1-4 (cf., p.ex., Hen et. 6ss). Entre as figuras individualizadas merece
atenção a de Beliar/Belial (p.ex., Jub 1,20; 15,33; TestIss 7,7; TestDan 1,7; TestJos 7,4;
cf 2Cor 6,15) ou Mastema (p.ex. Jub 10,8; 11,5; 17,16; 19,28; 48,2,9ss; 49,2; 1QM 13,11; 1QS
3,23; CD 16,5; cf. também Os 9,7s); os dois são identificados com o diabo, como chefes dos
demônios. Essa literatura elabora o que já tem sua base no AT: os demônios seduzem os homens a
praticar atos perversos, idolatria, derramamento de sangue; causam dano ao homem e podem tomar
posse dele; surge a idéia da possessão demoníaca. Na base de Gn 6,1-4, sua origem é explicada
pela união dos anjos com as filhas dos homens; ou então, eles são vistos como anjos decaídos
(Hen et. 6-11; Jub 5,1-10; TestRub 5,5-7).
Novo Testamento
No NT, o termo mais usado é daimonion (63x), mas freqüente é também a palavra espirito
(pneuma) junto com algum epíteto pejorativo, p.ex., "mau" ou "impuro"; nos escritos mais
tardios do NT as "potestades" não são claramente distintas dos demônios. Primeiramente podemos
dizer que no NT se encontram as mesmas idéias formuladas no AT e no judaísmo: o habitat dos
demônios são desertos e ermos (Mt 12,43; Lc 8,29; 11,24; Ap 18,2), e eles são claramente
relacionados com animais impuros (Mt 8,3ls par.; Ap 16,13). Seduzem (lTm 4,1) e destroem (Ap
16,14); podem se apoderar de um ser humano (possessão). Culto aos demônios equivale a culto
idolátrico (1Cor 10,20s; Ap 9,20). Em At 17,18, daimonion é usado no sentido de
"divindade"; é um eco do sentido originariamente neutro do termo grego.
A posição de Jesus com relação aos demônios é sem dúvida a do judaismo de seu tempo; seu modo
de ver está provavelmente formulado no sumário demonológico de Mt 12,43-45 (Lc 11,24-26).
Nos sinóticos, Jesus é descrito como poderoso exorcista que derrota os demônios e destroça sua
força (Mt 9,33; 17,18; Mc 7,29s; 9,25; Lc 9,42; 1l,l4s); o número de demônios expulsos de
um ser humano pode ser de até sete (Mc 16,9; Lc 8,2) ou mesmo incontável (Mc 5,9; Lc 8,30).
Ao mesmo tempo Jesus é qualificado por seus adversários como possuído por um demônio ou
espírito impuro (Mc 3,22.30; Jo 7,2O; 8,48s.52; 10,20s) ou como aliado do príncipe dos demônios
(Satanás), a fim de eliminá-lo da comunidade (religiosa) como possesso (Mt 9,34; 12,24.26s par.).
Já que Jesus expulsa demônios por sua poderosa palavra (Mc 1,25s; etc.), e isso, simultaneamente
com a cura de outros doentes (Mc 1,34.39 par.; Lc 12,32), aparece claramente a conclusão
teológica: o poder de Jesus sobre os demônios torna-se o símbolo da salvação e do Reino de
Deus (Mt 12,28; Lc 11,20), que com ele se iniciou. O poder antidivino está quebrado; até os
demônios reconhecem Jesus como Filho de Deus (Mc 3,11; 5,7 par.; Lc 4,41) e tremem diante
dele (Mc l~24s. par.; cf. também Tg 2,19).
A fim de que possam colaborar com Jesus, os apóstolos recebem a missão de expulsar demônios e
curar enfermos, em seu nome (Mt l0,l.8; Mc 3,15; 6,7.13; Lc 9,1; 10,17), e depois da Páscoa
a comunidade há de continuar essa obra de salvação (Mc 16,17; cf. At 5,16; 8,7). Assim continua
a luta contra os demônios, que podem ser vistos como personificação de tudo o que é
contra Deus; o NT relacionando os demônios com o Reino de Deus, que pela atividade de Jesus
chegou, deu ensejo para se ir combatendo as tão espalhadas fantasias populares sobre demônios.
Assim o próprio demonismo pode ser superado bem como a crença na força do feitiço demoníaco, a
tal ponto que doenças não são mais interpretadas como efeitos de uma ação de demônios (cf. p.ex.
Jo 9,1-3; Gl 4,13s). Mas, a luta contra este fenômeno não havia chegado ao fim; mostra-o o
monaquismo da Igreja antiga: o asceta retira-se no deserto, a fim de poder vencer os poderes
antidivinos dentro de seu próprio domínio.
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Demônio
Texto retirado das páginas 92 a 94.
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