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2. Do Concílio de Nicéia ao início da Idade Média [tomo I] Autor: Claudio Moreschini / Enrico Norelli Editora: Loyola Páginas: 456 Formato: 21 x 14 cm Preço: * * * * Apresentação | Os Autores | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Esta obra pretende dar relevo aos aspectos literários característicos dos escritos dos primeiros
séculos cristãos. Tais aspectos são freqüentemente transcurados em obras análogas.
A produção literária cristã é quase sempre considerada ou como instrumento para a história da
Igreja antiga ou como aspecto menor da história do pensamento patrístico. Este livro propõe
reconsiderar a constribuição do cristianismo nascente para a formação da cultura ocidental. É
claro que o termo "cultura" deve ser entendido em sentido lato, e não como identificação
exclusiva à produção artística. "Cultura" compreende o pensamento, as problemásticas, as
soluções que o cristianismo antigo produziu e pelos quais viveu. Desse modo, recupera-se,
observando-a de um ângulo específico, a peculiaridade da mensagem evangélica, núcleo
insubstituível de toda forma literária cristã. Os conteúdos e gêneros dessa literatura eram
ao mesmo tempo antigos e novos, e sua elaboração configurou a passagem da civilização antiga
para a medieval.
O segundo volume, dividido em 2 tomos devido sua amplidão, mostra a complexidade das temáticas
e o empenho que sua discussão pressupôs. Partindo da controvérsa ariana, para chegar à Alta
Idade Média, tentando superar a divisão esquemática entre mundo romano e mundo medieval, esta
História conduz o leitor da antiguade tardia ao século VI bizantino e às primeiras décadas do
século VII, no ambiente da Espanha visigoda, com Isidoro de Sevilha. Este é o período de ouro
da literatura cristã: as grandes figuras de Ambrósio, Jerônimo e Agostinho são sucedidas pelos
escritores de língua grega, que devem ser recuperados com urgência pela espiritualidade do
Cristianismo: Atanásio, os padres capadócios, João Crisóstomo...
» OS AUTORES
Claudio Moreschini é professor de literatura latina na Universidade de Pisa. Publicou
edições críticas de Tertuliano e Gregório Nazianzeno para "Sources Chrétiennes", de Jerônimo
para o "Corpus Christianorum" e de Apuleio para a "Teubner"; traduções de Tertuliano, Gregório
de Nissa e Gregório Nazianzeno, além de numerosos ensaios sobre Apuleio, Boécio, o neoplatonismo
latino, os Padres Capadócios. É membro do comitê científico do Centro di Ricerche di Metafisica
na Universidade Católica de Milão.
Enrico Norelli é professor de literatura cristã apócrifa na Faculdade de Teologia da
Universidade de Genebra. Entre suas publicações figuram edições do "A Dioneto", do "Anticristo"
de Hipólito e, para o "Corpus Christianorum", um comentário histórico literário 'a "Ascenção de
Isaías". Publicou ainda numerosos estudos sobre a literatura cristã dos dois primeiros séculos
e organizou a coletânea "La Biblia Nell'Antichità Cristiana". É co-editor da coleção "Poches
Apocryphes", da Brepols.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
De muito maior interesse, por outro lado, é "A Peregrinação de Egéria"
embora seu nome preciso varie (no passado foi lido "Etéria" e também -
mas sem um verdadeiro fundamento, a não ser uma conjectura sobre o
texto - "Sílvia"), originária da Aquitânia. O título da obra também é
conjectural: a única coisa que se pode dizer com certeza, com base no
conteúdo, é que se trata de um "itinerário".
O texto foi descoberto recentemente em 1887 por Gamurrini, num
manuscrito do século XI conservado em Arezzo, que continba também o
"Livro dos Mistérios" e os hinos de Hilário de Poitiers. Essas obras de Hilário
nos chegaram fragmentadas, assim como é incompleta essa Peregrinação, à
qual faltam o início e o fim, de modo que não sabemos quem era nem de
onde partiu (e para onde voltou) essa anônima escritora. Notícias
biográficas sobre essa peregrina nos são dadas por dois testemunbos indiretos:
o "Livro dos Lugares Santos" (Liber de Locis Sanctis) de Pedro Diácono, abade
de Montecassino, que consultou o códice de Arezzo antes de sua mutilação,
e a epístola de um monge, de nome Valério, que viveu no século VII,
enviada aos confrades de um mosteiro situado na região de Bierzo, na
Galiza (esta carta nos assegura, entre outras coisas, que o nome exato da
peregrina era Egéria).
Dada a incompletude da obra, ela começa (na
forma em que podemos lê-la) num momento seguramente avançado da
viagem, quando a escritora está subindo o monte Sinai. Já estivera em
Jerusalém e já visitava a Palestina e o Egito. De Jerusalém estava se
dirigindo, precisamente, ao Sinai, seguindo as indicações do Êxodo. Na
verdade, para todas as viagens nos diversos lugares santos da Palestina, Egéria
partia de Jerusalém, como sua base. Dessas viagens, posteriores, ela
informa na seqüência de seu relato. Sua estada em Jerusalém já
durava três anos, diz-nos ela, quando resolveu regressar à pátria,
embora quisesse visitar os lugares dos santos monges na Mesopotâmia e o
sepulcro do apóstolo Tomé em Edessa. Apesar disso, a peregrina retomou a
estrada de Constantinopla sem ulteriores desvios rumo à Mesopotâmia.
Uma vez chegada à capital do império, pôs por escrito suas
lembranças de viagem, mas não pelo desejo profano de relatar coisas maravilhosas, e
sim para uso e edificação das mulheres cristãs de sua pátria.
Devido à sua longa temporada em Jerusalém, e ao seu interesse pelos
hábitos litúrgicos dos lugares, o texto de Egéria, sobretudo na segunda
parte (caps. 24-49), é de fundamental importância para conhecer a liturgia
da cidade santa. A escritora, de fato, seguindo sua
devoção pessoal é minuciosissima ao relatar os dias e os particulares das
várias cerimônias e os costumes religiosos daqueles lugares. A devoção é o
sentimento predominante dessa escritora e se manifesta na contínua identificação
dos lugares que vê pessoalmente com os indicados na sagrada Escritura.
O texto bíblico, assim, é considerado só deste ponto de vista, mas com os
interesses da interpretação ou da erudição, à maneira de Eusébio ou de
Jerônimo. A peregrina não possuía uma cultura particular; conhecia pouco o grego e
escreve num latim não-literário, provavelmente na "língua comum" do
Ocidente do século IV.
Sua província de origem parece ter sido a Gália meridional, segundo
aqueles que se baseiam no fato de Egéria instituir uma comparação entre o
Eufrates e o Ródano. Segundo outros, porém, baseados na carta de
Valério de Bierzo, Egéria seria originária da Galiza. Essa hipótese
estaria apoiada também no fato de que o latim da escritora mostraria características
típicas da área hispânica. A certeza quanto a isso, no
entanto, não foi alcançada, dado que, como já dissemos, a peregrina fala uma "língua
comum" no seio do latim do século IV e não quer dar a seu escrito uma
forma literária. Isso não significa que a língua de Egéria
seja vulgarizante.
A escritora procura ser correta, mas não tende de propósito a uma elevação
estilística e literária. Naturalmente, o forte interesse pelos temas
ascéticos e cristãos caracteriza a linguagem de Egéria, com marcadas influências
do latim bíblico. É, de todo modo, um documento interessante
de uma língua de condição média, a meio caminho entre a elaboração
literária dos grandes escritores como Ambrósio e Jerônimo e a linguagem
comum e vulgar.
A autora não era de origem humilde, mas de condição social bastante
elevada. Viaja com um grande séquito e é acolhida com notável cortesia
por monges e bispos, sendo acompanhada por eles por mais de um dia,
como sinal de deferência. É até mesmo escoltada por certo número de
guardas, que lhe são designados pelas autoridades militares do lugar. Pelo
modo como se dirige às amigas, chamando-as "irmãs", é provável que
Egéria pertencesse a um convento, mas não foram encontradas ainda
provas mais convincentes dessa hipótese. O termo "irmã", como o equivalente
"irmão", pode indicar simplesmente a "irmã na fé". O interesse pelo
monaquismo, que dissemos caracterizar Egéria, não faz dela necessariamente
uma monja: poderia ser também simplesmente uma mulher devota
e asceta. Provavelmente a escritora, mulher de família nobre, ou pelo
menos abastada, era amiga de outras mulheres de análoga condição social
e análogos interesses.
A viagem (e o conseqüente relato escrito) ocorre nos anos 385-388.
Mas em que âmbito literário são descritas todas essas "coisas notáveis"
da Palestina? Parece que o gênero literário em que se situam esses relatos
de viagem e de peregrinação é o da epístola. Assim teria sido, portanto,
a obra de Egéria: uma epístola enviada por ela às mulheres piedosas
permanecidas na pátria, embora não se possa negar que tal epístola seria
bastante longa. Epístolas desse gênero - de informação do que se viu na
Terra Santa - encontram-se também no epistolário de Jerônimo, cuja
Epístola 46 contém o convite de Paula e Eustóquio a Marcela para que
também se dirija à Palestina, e uma descrição dos lugares santos. Tem-se,
ademais, uma descrição da peregrinação de Paula na Epístola 108 do mesmo
Jerônimo, que contém o epitáfio da piedosa mulher.
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A Peregrinação de Egéria
Texto retirado das páginas 444 a 446.
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