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Autor: John O'Donnell Editora: Loyola Páginas: 118 Formato: 21 x 14 cm Preço: * * Apresentação | O Autor | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Este estudo de John O'Donnel tem como objetivo introduzir o leitor àquilo que a teologia dogmática
é e afirma. Para evitar o perigo de apresentar uma teoria meramente abstrata do que seja teologia
dogmática, o autor procura oferecer muitos exemplos concretos.
Por se ter dedicado nas últimas décadas ao ensino da doutrina católica sobre Deus, muitos dos
exemplos levarão à tematização de uma teologia trinitária. E isso se afigura como o mais positivo
da obra, afinal os teólogos têm como única missão falar da realidade de Deus.
» O AUTOR
John O'Donnell (sj) nasceu em Baltimore (EUA). Em dezembro de 1944 entrou na Companhia de
Jesus. Depois de doutorar-se em teologia na Universidade de Oxford, lecionou durante 4 anos no
Herythrop College, Universidade de Londres. Em 1984, assumiu a cátedra de teologia trinitária na
Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Dentre suas obras, destacam-se ainda "Trinity and Tempority"
(1983), "Hans Urs von Balthasar" (1992), "Il Mistero della Trinità" (1989).
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
Podemos dar início a este estudo esclarecendo a natureza de
nosso tema e situando-o no contexto das ciências teológicas.
Talvez fosse bom começar com certa modéstia. Por um lado, a
teologia sistemática nao se identifica nem com a revelação nem com
a fé. Num momento como o presente, que parece ser um período de
conflito e de confusão na Igreja, por vezes se ouvem críticas
severas dirigidas aos teólogos, considerados como a origem da
confusão e até mesmo como sabotadores da fé. Claramente, o
teólogo não é o dono da fé. Como todo cristão, recebe a fé como
dom, e a recebe na Igreja, em que os pastores têm a responsabilidade
de manter íntegra a fé.
Por outro lado, é igualmente claro que a revelação de Deus
em Cristo recebida na fé requer alguma mediação. Mesmo
quando voltamos à Escritura, vemos que o evento Cristo é mediado
por diferentes teologias, por exemplo, as quatro distintas
teologias da vida de Jesus apresentadas pelos diversos evangelistas. A
fé nunca é dada de forrna patente. É recebida por um sujeito
humano, dotado de inteligência e que por isso procura
compreender sua própria fé. Nesse sentido, cada fé gera uma
teologia.
Mas podemos perguntar-nos: por que não pode o cristão
contentar-se com o testemunho da Escritura? Certamente, ela é
suficiente para alimentar a vida de oração do crente. Certamente,
a Palavra de Deus fornecerá amplo material para que ele reflita
sobre a fé. Isto é verdade, mas tal abordagem deixa de lado um
fator importante, ou seja, que o ser humano está imerso no
tempo e, portanto, a fé testemunhada na Escritura precisa cada vez
ser pensada novamente, em cada época histórica, em cada situação
nova. Cada cultura e cada período da história tem suas próprias
interrogações. A teologia é a tentativa de traduzir o único e
irrepetível evento de Cristo em cada um dos períodos subseqüentes.
Nessa perspectiva, vemos que a teologia tem uma estrutura
bipolar. Por um lado, ela olha para o passado, o evento Cristo
e a Escritura, que faz parte desse evento. Por outro lado, olha
para o presente, com as perguntas e as necessidades da nossa cultura
atual. Maurice Wiles exprime a natureza da teologia dogmática
deste modo:
Um importante teólogo protestante da atualidade, Jurgen
Moltmann, chega à dialética entre o passado e o presente a
partir de outra perspectiva, quando nota que o teólogo vive e pensa na
tensão entre a relevância e a identidade. Por um lado, o
teólogo deve ser fiel ao passado, à tradição, à identidade da fé, que
deveria perdurar através do tempo. Por outro, deve perguntar-se:
qual é a relevância da mensagem cristã para os homens do
nosso tempo? Moltmann escreve:
À luz da necessidade de lançar uma ponte entre o passado e
o presente, Paul Tillich, autor de uma síntese magistral de
teologia sistemática, propôs como método para a teologia dogmática
o que ele define como o "método da correlação". Tillich
reconhece que a fé cristã perderia sua identidade se deixasse de
proclamar um evangelho capaz de resistir às vicissitudes da história.
Como afirma a Escritura: "Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e
sempre" (Hb 13,8). Jesus Cristo é a irrupção do Deus eterno na
história. Por isso, o evangeiho que a Igreja proclama encarna uma
mensagem eterna. Mas essa mensagem deve alcançar os homens
que se encontram numa situação temporal concreta. Em cada
situação histórica, os seres humanos se preocupam fundamentalmente
com a mesma questão, ou seja, qual é o significado da
existência humana. 0 teólogo, pois, tem a tarefa de estudar a
fundo a questao da existência humana, tal como ela se
apresenta numa determinada época. Mas deve, além disso, procurar compreender
como a mensagem eterna do evangelho dá uma resposta
à pergunta existencial tal como é entendida naquela época.
Para Tillich, ainda, o teólogo trabalha relacionando a questão
humana tal como se apresenta numa dada situação com a
resposta, tal como se encontra na revelação cristã. É claro que
esse método requer por parte do teólogo tanto uma grande
erudição quanto uma enorme criatividade. Nem sempre é possível
prever como essa correlação deva ser feita. 0 trabalho
teológico requer esforço, mas no final os grandes teólogos mostraram seu
gênio nos empreendimentos teológicos.
À luz dessas reflexões, voltemos à nossa questão
fundamental: que procura fazer o teólogo sistemático? Resumindo, procura
interpretar a mensagem perene do evangelho com vistas à
situação presente. Permanece válida a clássica definição de Santo
Anselmo: a teologia é a fé que procura compreender. Compreen-
der significa aqui ao mesmo tempo compreensão do passado (a
Escritura e a tradição doutrinal) e compreensão do presente,
com suas perguntas.
Neste ponto, talvez fosse útil mencionar o papel da fé na
teologia. Dissemos que a teologia tem como objetivo compreender
e proclamar a eterna mensagem do cristianismo. A teologia,
portanto, pressupõe a fé, a fé que vê Deus visível no homem
Jesus e em sua cruz. No quarto Evangeiho, quando o soldado fere o
costado de Cristo com a lança, o evangelista cita as palavras
de Zacarias: "Olharão para aquele que trespassaram".
Presumivelmente, muitos espectadores olharam para a cruz de Jesus e viram
apenas o fim cruento de um criminoso justiçado. Mas a fé
olha para Cristo crucificado e nele vê o evento do amor salvífico de
Deus. Portanto, a proclamação e a compreensão da mensagem
cristã pressupõem a fé.
Ao mesmo tempo, o que distingue a teologia da pregação é
que o teólogo aplica sua inteligência investigadora àquilo em
que crê. Há, de sua parte, um esforço real em compreender. Em
outras palavras, o esforço do teólogo pressupõe uma fé crítica ou
reflexiva. Também aqui estamos diante de outra tensão que não
podemos permitir que se transforme numa dicotomia. Por um lado,
o teólogo traz consigo o compromisso da fé. Por outro, traz
consigo o desapego da razão. Para citar Maurice Wiles: "0 que se
requer de um teólogo, que é tambem um homem de fé, não é que
ele deva ter menos fé, mas que sua fé coexista com certo
grau de desapego". Assim como a arte crítica deve ter um olho
estético, além de um gosto crítico, também o teólogo deve combinar a
paixão da fé com o olho crítico da razão. Tal combinação é
sempre difícil, mas não impossível. Com efeito, a busca dessa
síntese é que torna estimulante a teologia.
Podemos agora concluir estas considerações introdutórias,
procurando situar a teologia dogmática no contexto das outras
disciplinas teológicas. 0 primeiro aspecto deveria ser
distinguir a teologia sistemática da teologia filosófica e da teologia
fundamental, por um lado, e da teologia pastoral, por outro.
Comecemos com algumas palavras sobre a teologia filosófica
e a teologia fundamental. Essas disciplinas têm a ver com
a fronteira entre a fé e a experiência humana em geral. Muitos
teólogos têm hoje consciência de um deslocamento fundamental
na natureza da teologia filosófica. Antes, o estudo da teologia
propriamente dita era precedido por um curso de teologia
natural. Nesse curso, a razão procurava elaborar uma doutrina sobre
Deus que em seguida seria integrada ao que a revelação ensina
acerca de Deus. Hoje, tal distinção entre conhecimento natural
e conhecimento revelado de Deus é considerada artificial. Se a
teologia natural de velho estilo era dedutiva e racionalista em
sua abordagem, a de estilo novo não procura provar a
existência de Deus, mas antes se atém a descrever nossa abertura
humana à transcendência. Procura mostrar como o discurso da
teologia sobre Deus está radicado na experiência humana
enquanto tal.
A teologia fundamental inicia-se com o acolhimento da
revelação de Deus em Cristo e se preocupa com a credibilidade da
fé nessa revelação. Ela pressupõe a aceitação, pela fé, do
evangelho e se interroga sobre as condições de possibilidade da verdade
da fé. A teologia fundamental interroga-se sobre como seja possível
a teologia enquanto tal.
A teologia pastoral ou prática, por sua vez, interroga-se sobre
o viver o testemunho de fé por parte da comunidade cristã. Ela
trata da relação entre fé e pratica, entre crer e testemunhar. Ocupa-se
de questoes como: que situação ou problema os cristãos devem
enfrentar? Que modo de viver o evangelho esta situação
histórica exige de mim? Em que deveria consistir o testemunho
da fé para ser decisivo a esta fé?
Concluindo, podemos notar a especificidade da teologia dogmática
no contexto das ciências humanas (Geisteswissenschaften).
0 conteúdo da teologia sistemática é o significado atual da
fé cristã para a existência humana. Como vimos, para esclarecer
o significado da fé, a teologia sistemática deve fazer referência à
tradição. Por isso ela deve fazer uso de outras ciências como a
história, a filologia e a exegese bíblica. Mas, em última análise,
a teologia sistemática preocupa-se, à luz dessas ciencias, em ex-
plorar o significado da fé para a cultura contemporânea. [...]
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Que é Teologia Dogmática?
"Grande parte do estudo teológico é uma forma de diálogo com o
passado. 0 estudo bíblico e a história da Igreja são nossa
tentativa de a1cançar uma compreensão acurada e simpática do passado
cristão. 0 teólogo dogmático relaciona a compreensão que obteve
desses estudos com as perguntas apresentadas pelo seu próprio
tempo, tanto por cristãos como por não-cristãos. Refletindo sobre a
correlação entre esses dois pólos, ele procura estar em condições de
responder à pergunta: que deveria dizer o cristão hoje?"
"A mediação entre a tradição do cristianismo e a cultura do tempo
presente é a tarefa mais importante da teologia. Sem uma
conexão viva com as possibilidades e os problemas do homem de hoje, a
teologia cristã torna-se estéril e irrelevante. Mas, sem uma
referência à tradição cristã, a teologia torna-se oportunista e
acrítica."
Texto retirado das páginas 9 a 14.
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