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Autora: Evaristo Eduardo de Miranda Editora: Loyola Páginas: 280 Formato: 23 x 16 cm Preço: * * * Apresentação | O Autor | Conteúdo | Amostra | Maiores Informações | Pedidos via Internet |
» APRESENTAÇÃO
Nossa época explora o mistério da corporeidade, como outras exploraram o da
espiritualidade. Este livro visa àqueles que desejam viver seu corpo e não
somente cuidar dele. Para penetrar na riqueza da visão bíblica do universo
simbólico corporal, são necessárias chaves etimológicas, semânticas, culturais,
psicológicas e espirituais. Ninguém possui o monopólio da simbologia corporal.
A chave é um símbolo ambíguo: tem o duplo papel de abrir e fechar.
Este livro apresenta a simbologia de cada uma das principais partes e órgãos
do corpo humano, fundamentada na tradição mística judaica. De baixo para cima,
dos pés para a cabeça, do Reino (Malchút) para a Coroa (Ketér), no sentido do
chamado à verticalização, ele inicia o leitor num território que todos conhecem
e desconhecem.
Na perspectiva judeu-cristã, apesar dos séculos de desvios e avsurdos corporais,
o bem-estar do homem, seu estar bem, depende de um ser bem, ser mais. O
simbolismo do corpo é um instrumento para compreender seu dinamismo e sua
inteireza, caminho extraordinário de comunicação com o divino.
A riqueza simbólica e espiritual, vinculada a cada porção do território
corporal, não pode ser esgotada, mesmo se um livro inteiro fosse dedicado a
cada parte ou órgão. Na geografia do corpo, este livro é uma viagem de
exploração; um caminho iniciático. Para o leitor, a descoberta de outras
conexões, menos visíveis, desse território misterioso do imaginário e do
sagrado - o corpo humano - virá de imediato ou no futuro, como novos frutos
desta primícia.
» O AUTOR
Evaristo Eduardo de Miranda é mestre e doutor em ecologia pela
Universidade de Montpellier (França); é, além de cientista, profundo
conhecedor da teologia espiritual, agente da pastoral da esperança e autor
dos livros "Água, sopro e luz: a alquimia do Batismo", "Agora e na hora:
ritos de passagem à eternidade" e "A foice da lua no campo das estrelas:
ministrar exéquias". De sua aproximação às Escrituras nasceu este livro.
» CONTEÚDO
» AMOSTRA
A vivência e a superação das dualidades e oposições é um trabalho terapêutico,
e corporal. A mística judaica e cristã nos leva a realidades pouco conhecidas
e onde raramente penetramos. Mística em grego é um adjetivo (mystikós) da
palavra mistério (mystérion) que evoca manter fechado. A mística não conhece
confissões e perpassa todas as religiões. O místico vive de imediato a experiência da
unidade com Deus e da unidade de Deus no mundo, sempre numa dialética com um
transfundo de dualidade. Penetra no invisível pelo visível. Uma sinfonia, um
quadro, uma peça de teatro ou uma obra de arte são capazes de colocar-nos em
contato com uma realidade, com um sentimento ou um estado onde raramente
entraríamos por nós mesmos, em nosso cotidiano ordinário. Da mesma forma, a
meditação e a oração são caminhos para descobrir essa Realidade extraordinária,
muito mais rica e concreta do que a realidade de nosso dia-a-dia.
Na tradição judeu-cristã, existem instrumentos e caminhos para meditação
terapêutica, ainda pouco conhecidos do grande público. A meditação evoca a
"linguagem dos pássaros", capaz de elevar a pessoa e de melhorar seu equilíbrio
físico, espiritual e intelectual, como gozo do ser. As superar as dualidades
e contemplar o Uno, pode-se até atingir estados de êxtase (a experiência da mercabá
ou do hassidismo no judaismo e a experiência carmelitana no cristianismo).
Mas as formas de meditação são sempre corporais, quer sejam racionais e
auto-investigativas (como a cabalá luriânica ou os exercícios espirituais dos
jesuítas) ou baseadas em técnicas de meditação interior (recitações combinatórias
de palavras e nomes; técnicas respiratórias, visualização dinâmica de letras
hebraicas, movimentos e posturas do corpo e todas experiências da tradição
monástica contemplativa cristã: a meditação com os cinco sentidos, a hesicasta,
a heptonômica).
A oração é também um dos caminhos singulares para a descoberta do corpo,
tanto a oração pela cura quanto a meditação corpórea. Elas levam a dimensões
deconhecidas e pouco exploradas na pessoa. Existem técnicas para harmonizar
o corpo e a postura corporal com o despertar do espírito. A oração não deveria
ser atitude mental ou atividade mental. Para a tradição judaica trata-se da
saúde do Ser. Em hebraico saúde se diz "beriu". O adjetivo "são" ou "sadio" é
"bari". Essas palavras têm como raiz "beriya", que significa criação do
mundo, do verbo "bara", criar. Estar em boa saúde significa estar em criação,
em re-criação, no gozo incessante do mundo e de si. Para a tradição judeu-cristã,
é o Ser que ora e não sua cabeça. No cristianismo, em particular, o corpo tem
um papel decisivo na salvação e na cura do Homem. O Verbo se fez carne, o
divino se fez humano, anulando a maior e mais original (no sentido de começo,
fundamento) das dualidades. O mesmo Senhor está vivo ontem e hoje. A salvação
não se refere unicamente à "alma", mas ao Homem todo, em sua dimensão corporal.
Nesse campo, o evangelho não prega a resignação, mas muito pelo contrário, a
esperança. Estar com saúde significa sentir-se como criatura em criação, que
sente-se viva como num perpétuo nascimentop. Nessa perspectiva a cabalá pôs
em relação a dialética do Eu (Ani) e do Nada (Ain ou Ein). O papel da
meditação é manter essa dinâmica do Ser.
Para a cura, o fundamental é a conversão. Ser abertura e não fechamento. Movimento
e não estagnação. Dança e não estática. Ser dúvida e não certeza. Ser coxo e não
super-homem. Da presença da redenção na própria existência de cada pessoa
brota a força nova para enfrentar os males desta vida presente, passada e
futura. A conversão também promove uma cura da memória, expressão cara aos
carismáticos católicos. É a cura dos sentimentos subconsciente de ansiedade,
medo, vazio ou inutilidade. Atribui-se grande poder terapêutico à paz interior.
Quando a consciência está cheia de amor, alegria, paz, paciência, bondade,
benevolência, fé, doçura, domínio de si - o que Paulo chama de frutos do
Espírito (Gál. 5,22) - ela possui força de cura contra qualquer mal, inclusive
corporal. Quando uma dualidade é resolvida interiormente, ela não desce mais
aos domínios do tempo e do espaço e encontra sua harmonia no plano espiritual.
Na Bíblia, em nenhum caso, a alma significa um ser puramente espiritual,
independente do corpo. O Homem é sempre uma unidade multidimensional e como
tal deve ser tratado. "Paulo não apregoa a imortalidade e a eternidade da
alma, que com a morte se separaria do corpo e continuaria sobrevivendo sem
ele. Para Paulo, o homem é sempre uma existência corporal e como tal permanece
no mundo da ressurreição. O home inteiro - criatura de Deus - morre e chega,
com a nova criação, à salvação divina" (Mysterium Salutis, vol. 3, ed. Vozes).
Maimônides, na introdução de um capítulo sobre "a arte do tratamento médico
para a alma", dizia: "A alma pode estar sã ou doente, exatamente como o
corpo pode estar são ou doente. A saúde da alma consiste na sua condição e
de suas partes fazerem sempre ações bem recebidas pelas pessoas e executarem
ações nobres. A doença consiste na sua condição e de suas partes fazerem
sempre coisas ruins e feias e executarem ações desprezíveis. A saúde e a
doença do corpo são pesquisadas pela arte da medicina. Devido ao desvio de
seus sentidos, pessoas com o corpo doente imaginam o amargo como sendo doce
e o doce como sendo amargo. Têm ilusão de que o adequado é inadequado; têm
forte desejo e grande praze em coisas que não contêm prazer nenhum para os
saudáveis e podem até ser dolorosas... Do mesmo modo, pessoas com alma doente,
quero dizer homens ruins e imperfeitos, imaginam coisas ruins como sendo coisas
boas e coisas boas como sendo más. O homem ruim sempre almeja extremos que
na verdade são ruins. Por causa da doença de sua alma, imagina que são bons.
Quando as pessoas não competentes na arte da medicina se conscientizam de sua
doença, elas vão procurar os médicos... Aqueles com a alma doente precisam
procurar os sábios, que são os médicos da alma".
Os enfermos podem ser curados. Essa é a crença e aprática terapêutica dos
cristãos, desde os tempos de Jesus (1Cor. 12,4-11). Mas a cura, mesmo extraordinária,
não quer dizer milagre. Não se reza para pôr o poder de Deus a serviço do
homem. Nisso reside uma das maiores idolatrias dos dias de hoje: as seitas
que vendem - pela televisão - essa imagem de Deus. Elas constroem e vendem
esse ídolo, essa imagem mecanicista de um Deus comerciante. Apresentam o
sacrifício a Deus como sinônimo da entrega de dinheiro para os cofres da
seita. São pastores que vivem da gordura de suas magras ovelhas. "Ai dos
pastores que apascentam a si mesmos! Não é o rebanho que eles devem apascentar?
Comeis as partes gordas, vos vestis com a lã, sacrificando os animais cevados,
mas o rebanho não o apascentais!" (Ez. 34,2-3).
É o próprio Deus, e não seus dons, que interessa para o verdadeiro crente.
Prefere-se o encontro pessoal ao resultado de nossa ambição, a ação de graças
à súplica. A fé que cura é a que cria relações de comunhão e abre ao amor. A
comunidade dos crentes se descobre possuidora de uma função terapêutica singular.
Não se trata de oferecer asilo ou estímulo aos "curadores", mas de acolher os
doentes, deficientes, idosos e sofredores no corpo e no espírito, para que neles
possam agir as verdadeiras forças de cura. Assim também, todas as comunidades
cristãs poderiam ser um reflexo fiel daquele que "passou fazendo o bem e curando"
(At. 10,38) e não um território de alienação, lavagem cerebral e banca de
negócios.
A palavra grega "therapeuèn" tem um sentido mais amplo do que o simples curar.
Os terapeutas, de que falava Fílon de Alexandria, eram maios do que restabelecedores
de saúde. Eles eram iniciadores. Existem uma impressionante proimidade fonética
entre a palavra grega "terapia" e seu equivalente em hebraico, "terufa", usado
para designar a cura. É o termo que surge nas profecias de Ezequiel: "Às
margens da torrente, de ambos os lados, crescerão todas as espécies de
árvores frutíferas; suas folhas não murcharão e seus frutos não acabarão; a cada
mês darão uma nova colheita, porque a água da torrente sai do santuário. Seus
frutos servirão de alimento e suas folhas de remédio (=vealeu literufa)"
(Ez. 47,12). Vários mestres do Talmud interpretam a palavra "literufa" como
desatamento. A dividem em duas "lehatir pé": desatar a boca.
Para a Igreja, os cristãos tornam-se sábios e médicos da alma quando, diante
de doentes e dos que sofrem, podem não somente curá-los "mas também iniciá-los
no sentido da vida e do sofrimento" (CDC, cân. 771, parágrafo 2). Até porque,
em muitos casos, a doença é apenas o sintoma de uma enfermidade muito mais
essencial, um esquecimento de si e do Ser, da alegria de existir. Quantos
doentes não são de fato os autores de sua doença? O papel do terapeuta é o
de permitir à pessoa sofredora o reencontro com a saúde total, tanto físico-psíquica
como espiritual.
De uma forma mais profunda, as grandes tradições religiosas ensina e crêem:
todo homem possui em si mesmo o poder de curar. O terapeuta está no interior
de cada um de nós. É o Vivente que deseja "que nós tenhamos vida e a vida
em abundância" em todas as dimensões de nosso ser e de nossa família. Cuidar
do Ser implica devolver ao humano o corpo que lhe falta e a palavra perdida.
Ninguém deve destruir ou degolar. "O ladrão não vem senão para roubar, degolar,
destruir; e eu, venho para que tenhais vida, e a tenham em abundância" (Jo
10,10) Basta uma atitude justa: a abertura espiritual e o acolhimento caridoso
que permita ao Espírito agir em nós e através de nós. Essa energia interior em
hebraico é chamada de "Simha", alegria, a alegria, "hasimha", cujas letras
hebraicas significam também o Messias, "machiah". Quem leva o Messias dentro
de si é desejo e vontade de ser, como na bela expressão do rabino Marc-Alain
Ouaknin.
A presença do Santo Espírito deve fazer-nos pessoas cada vez mais simples
(etimologicamente sem dobras, sem pregas, sem rugas), não recurvadas sobre si
mesmas, abertas ao transcendente e mais espontâneas. Maravilhadas com o perfume
das flores, etasiadas diante do sorriso das crianças e do vôo dos pássaros.
A aventura da alegria é nossa teerapia. Nossa perfeição reside em nossa
perfectibilidade. A vida espiritual, a vida simplesmente, deveria ficar distante
de práticas religiosas, sociais ou terapêuticas que tornam as pessoas
complicadas, culpabilizadas e culpabilizantes. Esse tipo de atitude só distancia
das forças vivas do Vivente e dos irmãos.
O primeiro passo terapêuticoé a abertura para receber, para conhecer. O desejo
de receber é inerente à criatura, assim como o impulso à doação. Nossos olhos
buscam sempre novas realidades. Nossos sentidos aspiram a novas impressões. O
infinito do desejo, insaciável no humano, deve ajudá-lo a contatar com o
Infinito. E o corpo é um território de encontro. Conhecer o próprio corpo é
vivê-lo. A verdadeira tradição judeu-cristã liberta o homem das dualidades
espírito/matéria, corpo/alma e amor/lei. Elas esgarçam, rasgam e diabolizam
o humano. Assim como o sorriso e a gargalhada sacodem o espaço sonoro, a
alegria rompe as cadeias dos pensamentos pré-fabricados e as correntes das
doutrinas mumificantes. A alegria do Humano é sua capacidade de inventar-se.
Para muitos rabis, sobretudo do hassidismo, todas as doenças só têm uma origem:
a tristeza, a degradação da alegria, a perda do objetivo que significa a alegria
de existir. Por isso, para a via terapêutica judeu-cristã não se trata de negar o
corpo ou a matéria, mas, graças à não-identificação e à não-apropriação desses
planos do Real, poder santificá-los e transfigurá-los, como o fizeram Maria,
Maria Madalena e José de Arimatéia nos evangelhos. Ser capaz de colocar o amor
onde ele não está, onde ele não está mais, transformando a água cinzenta do
cotidiano no vinho embriagante das núpcias, da alegria, das bonas de Caná. Os
sentidos existem para nos despertar para realidades situadas além dos sentidos.
O apelo dos sentidos é de nos levar além dos sentidos. Não fixar, limitar ou
reduzir a pessoa aos sentidos e aos desejos que a alimentam. A tragédia é a de
tomar por única realidade o que os sentidos e desejos percebem. Existe uma
Realidade, bem maior e mais extraordinária do que o que as pessoas chamam
cotidianamente de realidade. Quem identifica o Real com o mundo e a experiência
dos sentidos está destinado ao sofrimento. É na força do desejo impulsionado
do interior, do eros, do "deus alado do Amor", que vem o convite para, de olhos
vendados, ver-se além dos sentidos. A liberdade está em entender o campo dos
sentidos como símbolos e sentimentos interiores desse corpo, reduzido por
tantos a uma grande e estéril exterioridade. Munamo-nos de arco, flechas e
carcás.
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A Terapia Corporal
Texto retirado das páginas 30 a 35.
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