A g n u s D e i

APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS...
"Mulher e Homem em Paulo"

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MULHER E HOMEM EM PAULO

Norbert Baumert

ed. Loyola

428 páginas

Formato: 23 x 16 cm

Preço: * * * *

Apresentação

 

 

Paulo nutria uma postura de inimizade ao corpo? Muitas pessoas estão convencidas disso, pois ele trabalha o tema da sexualidade muitas vezes sob o aspecto do pecado, e o casamento parece ter um valor menor se comparado com o celibato. Conhecemos a história da influência desses textos. Por isso devemos dizer: as afirmações de Paulo muitas vezes dificultaram o acesso à Boa Nova.

Neste livro descobre-se outra imagem de Paulo. Em muitos casos, a tradução usual dos textos paulinos é questionada e outra significação é trazida à luz. Por meio desse procedimento podem-se minimizar muitas acusações contra Paulo.

O autor mostra como novas perspectivas, desenvolvidas a partir do trabalho com o texto, podem ter influência hoje em dia, por exemplo, em questões como a indissolubilidade do casamento, o celibato e suas motivações, os conselhos evangélicos ou o sacerdócio feminino.

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O Autor

Norbert Baumert (sj) nasceu em 1932; é jesuíta e professor de Exegese do Novo Testamento na Philosophisch-Teologischen Hoschule St. Georgen, em Frankfurt/Main, Alemanha.

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Conteúdo

A obra é composta de 4 grandes partes e uma conclusão, abordando os seguintes tópicos:

    Parte A - Principais Epístolas de Paulo
    1. Relações Cordiais
    2. Proteção do Casamento diante do Rigorismo Religioso
    3. A Vocação Pessoal como Critério
    4. O Celibato dos Noivos
    5. "O Corpo para o Senhor e o Senhor para o Corpo"
    6. O Pecado Maior
    7. A Mulher na Comunidade

    Parte B - As Chamadas Epístolas Deuteropaulinas

    1. Subordinação Unilateral
    2. A Mulher nas Epístolas Pastorais: Ascensão ou Declínio?

    Parte C - Sobre a Visão Bíblica do Ser Humano

    1. O Dualismo Greco-Ocidental
    2. O Pensamento Integral dos Semitas
    3. Aplicação Teológica de Conceitos Antropológicos
    4. Pensamento Semita e Grego: Incomensurável
    5. Homem e Mulher como Imagem de Deus

    Parte D - Deus do Passado e do Futuro. Perspectivas

    1. A Soberania de Deus e a Sociedade Humana
    2. Mulher e Homem no Povo Sacerdotal de Deus
    3. Salvação e Sexualidade
    4. Indissolubilidade do Casamento
    5. O Celibato e suas Motivações
    6. A Hermenêutica dos Conselhos Apostólicos

    Conclusão: Paulo Aberto aos Novos Caminhos de Deus

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Amostra

A MULHER SILENCIE - ONDE? (1Cor 14,33b-36)

Dificilmente algum texto das epístolas principais, com relação a nossas questões, é mais citado - e sobrepuxado! Todos o conhecem. Muitas leitoras ainda hoje se sentem inseguras com ele - isso abstraído da prática da "prédica" de uma agente de comunidade. Nossa análise chega ao resultado de que a "reunião/ekklesia" cristã pode se dar de cinco formas distintas:

  1. Culto da Palavra de Deus: 1Cor 14,26-33.
  2. Partir do pão: 1Cor 10,16.
  3. Refeição comunitária - "ágape": 1Cor 11,20.33.
  4. Ensino - "casa de ensino": cf. At 17,11.
  5. Aconselhamento e decisão: cf. At 6,1-5; 15; 20,17-38.

O último é, em sentido estrito, "reunião da comunidade", onde perguntas sobre a vida da comunidade eram discutidas e decididas. Tal revisão corresponde ao conceito ekklesia, que provém do âmbito profano - (originalmente soberana) "reunião do povo" de uma cidade grega, conforme mencionado em At 19,39. Assim, na escolha dessa palavra reflete-se justamente o fato de a reunião cristã no meio deste mundo entender-se como o "povo de Deus" soberano, como a universal e estendida qahal jahwe. Tais "reuniões" são também os endereços primeiros das cartas do Apóstolo. Estas não foram pensadas como textos litúrgicos no culto (ao lado da Torá?). Elas geralmente exigem um diálogo e uma decisão. Em tais "reuniões do povo" com caráter de discussão e decisão, as mulheres, pelo menos entre os gregos, não deveriam estar presentes; e menos ainda falar publicamente. As sociedades cúlticas helenistas diferenciavam as chamadas "reuniões principais" e as reuniões cúlticas e, de acordo com o tipo de sociedade, poderiam ter uma diferenciação semelhante sobre a participação das mulheres. Para a reunião comunitária cristã, o exemplo judeu-cristão é normativo, e nele as mulheres de fato não tinham direito de participação. Desse modo, representou um verdadeiro "passo à frente" quando no âmbito helenista mulheres puderam estar presentes nos aconselhamentos. Isso certamente tem algo a ver com a nova fraternidade e irmandade em Cristo, bem como a maior autonomia da mulher helenista. Outro motivo poderia residir no fato de cada tipo de "reunião" acontecer em casas privadas. Mas a exclusão da mulher em reuniões de conselhos masculinos, mesmo dentro da própria casa, até hoje não é algo incomum.

Com isso resolve-se primeiramente a contradição surgida com 1Cor 11, segundo o qual a mulher podia falar. Mas lá se pressupõe um orar em voz alta e uma fala profética. Trata-se, pois, de uma contribuição para o culto, enquanto aqui a mulher quer "experimentar algo". Esse é certamente só o primeiro nível para o "falar junto" em aconselhamentos. Porém tal perguntar (ainda) é malvisto não somente na "vida pública" judaica, mas também na grega. E é isso que se quer dizer com "falar na reunião" (en ekklesia) no v. 35. Nesse contexto, ekklesia tem três significados:

  • "Comunidade" como corporação (v. 33b);
  • "Reunião da comunidade" (v. 34a) conforme o modelo de nosso conselho comunitário (se esse fosse ao mesmo tempo uma reunião plena dos homens); e
  • O abstrato "em reunião" = público.

A partir da "ordem comunitária" (cf. 14,36 com 11,16) a todos conhecida, não "é permitido" às mulheres tomar a palavra "em aconselhamentos" (publicamente). A referência à Lei, porém, não significa aqui um retrocesso ao pensamento legalista paulino, mas apresenta, ao lado do "sentimento" comum, as regras vigentes entrte os gregos e a ordem comunitária cristã, bem como a tradição judaica, como pontos de orientação - assim como em 1Cor 9,8s. Nesse caso não se quer comprovar um "mandamento" na Escritura, mas somente uma ordem evidente (por assim dizer, uma lei não-escrita) da tradição judaica. Com isso Paulo justamente esclarece não se tratar aqui de uma questão de fé, nem de um elemento de revelação sobre a essência do homem e da mulher, mas apenas de regras de comportamento humano que se orientam pela tradição e por certo são temporalmente condicionadas, mas ainda assim não são de todo sem significado para a consciência.

O texto:

"33bAssim como em todas as comunidades dos santos, 34as mulheres devem silenciar nas reuniões comunitárias; a elas não é permitido (a partir da ordem vigente) falar. Antes devem se sujeitar, assim como a tradição judaica também o afirma. 35Mas, se elas querem se informar sobre algo, devem perguntar em casa a seus maridos; pois choca se uma mulher toma publicamente a palavra. 36Ou será que a Palavra de Deus saiu de vocês ou chegou somente a vocês?" (1Cor 14,33b-36).

Apesar da valorização da mulher na comunidade cristã (recebe agora no batismo o mesmo "sinal da aliança" que o homem: At 5,14; 8,12; 16,15), com isso obviamente não se revoluciona todo o comportamento de gênero na comunidade. O fato de que devem perguntar "em casa" não exclui a própria dona da casa como provável referência; en oiko significaria então: na casa = na atmosfera familiar privada, não na reunião "pública" (sua casa). Em todo caso, Paulo não quer restringir uma tendência emancipatória básica, mas tomar posição acerca do fato de algumas mulheres, com base nas novas liberdades, extrapolarem os limites - o que também era sentido assim pelas outras mulheres. Ele não conta com o protesto de toda a comunidade feminina, mas, de forma semelhante a 11,16, com aquelas pessoas que "buscam discussões" (mulheres e homens). devem submeter-se primeiramente à reunião comunitária. Apenas de forma mediada isso significa também uma submissão aos maridos, o que também valia para mulheres não-casadas e viúvas.

Hoje gostaríamos de perguntar: por que Paulo não questiona radicalmente a "ordem"? Por que não pensa a liberdade em Cristo até o fim? Obviamente, tanto nele como na proclamação de Jesus a ênfase não está no engajamento por transformações sociais. [...] Aqui, antes de mais nada, queremos dizer que Paulo compreendeu muito bem que a ação salvífica de Deus é "histórica". Com isso, deixa as pessoas em sua situação para conduzi-las adiante passo a passo, a partir do centro de seu ser. Para tanto, porém, é preciso ter sensibilidade para proporções. Antes de atestarmos a ele, Apóstolo da liberdade, uma ruptura em sua personalidade, deveríamos perguntar se esse homem tomado por Deus não possuía a melhor sabedoria de ensino, pondo-nos a confiar que ele conhecia a situação concreta melhor que nós. Assim obtemos indiretamente em nosso texto, por ocasião de uma liberalização em uma comunidade paulina, informação sobre a forma de comportamento comum na igreja primitiva.

Assim como em 1Cor 11, a partir da fundamentação daquela admoestação acerca da cabeça, não podemos fazer uma questão de fé, da mesma forma não se proclama em 1Cor 14,33b-36 uma ordem de essência. Paulo somente não quer que essas mulheres façam algo comunitariamente considerado aischron/indecente, assim como no soltar o cabelo durante a fala profética. E, pelo fato de ser indecente e contradizer à ordem da comunidade, pessoas que fazem tais coisas são espiritualmente imaturas. Por trás disso há um princípio básico: em caso de comportamento alterado, fazer o considerado adequado! Assim, pelo mesmo princípio segundo o qual Paulo em sua época proibiu o "falar junto", hoje ele não somente permitiria tal coisa, mas até a recomendaria. De outro modo, todos os nossos conselhos paroquiais seriam "não-bíblicos". Aqui, o autor certamente reage de forma impulsiva, tal como em 1Cor 11. Mas essa impulsividade no final vem antes testemunhar a favor de Paulo como autor, mesmo que a posição atual da passagem (em 1Cor 14) remonte ao trabalho de um compilador.


Texto retirado das págs. 178 à 181. As notas de rodapé, de mera referência bibliográfica, foram omitidas na presente amostra.

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