A g n u s D e i

APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS...
"Introdução à Teologia Patrística"

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INTRODUÇÃO À TEOLOGIA PATRÍSTICA

Luigi Padovese

ed. Loyola

204 páginas

Formato: 21 x 14 cm

Preço: * * *

Apresentação

 

 

"Quem não sabe que um anão, ao estar nos ombros de um gigante, tem um horizonte mais vasto e vê mais longe do que o próprio gigante?"

Assim escrevia Jean Daillé, em 1632, concluindo que, obviamente, "a maior parte dos conhecimentos do anão deve-se ao próprio gigante". Era uma forma original de justificar a necessidade dos estudos patrísticos, aqueles gigantes sobre cujos ombros se desenvolveu toda a reflexão teológica posterior.

Este livro de autoria de Luigi Padovese quer honrar esses gigantes, destacando a grande contribuição destes para a fé cristã, com relação à doutrina, à vida eclesial e à modalidade do anúncio missionário.

O livro é acompanhado de um valiosíssimo e abrangente quadro cronológico editado pelo pe. Gervais Dumeige (sj).

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O Autor

Luigi Padovese (ofm cap) nasceu em Milão em 1947; é professor de História da Espiritualidade e leciona no Instituto de Espiritualidade do Pontifício Ateneu Antonianum, do qual é diretor, e da Pontifícia Universidade Gregoriana. Entre outras obras de sua autoria, merecem destaque "Turquia" (1978), "Lo Scandalo della Croce" (1988), "Massimo di Torino" (1989) e "I Sacerdoti dei Primi Secoli" (1992).

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Conteúdo

A obra, dividida em 4 partes, aborda os seguintes assuntos

    Parte I - Nascimento e desenvolvimentos da disciplina Patrística
    • Origem e Desenvolvimento
    • Patrologia
    • A Transmissão dos Textos Patrísticos
    • Os Padres da Igreja Hoje

    Parte II - Doutrina
    • Os Padres e a Cristologia
    • Os Padres e a Doutrina Trinitária
    • Os Padres e a Pneumatologia
    • Os Padres e a Escatologia
    • Os Padres e a Eclesiologia
    • Os Padres e a Mariologia

    Parte III - Vida
    • Os Padres e a Moral
    • Os Padres e a Espiritualidade

    Parte IV - Anúncio
    • Os Padres e a Inculturação
    • Os Padres e o Problema das Línguas
    • Os Padres e a Primeira Missão Cristã

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Amostra

OS PADRES E A MARIOLOGIA

Para a história da mariologia, os séculos I e II foram decisivos. Naquela época, apenas grandes autores falaram de Maria, mas também diversos escritos apócrifos, produzidos, ao menos em parte, para satisfazer a necessidade popular de conhecer a vida de Cristo e de Maria. É significativo, a esse propósito, "Natividade de Maria" (fim do século II), também denominado "Proto-Evangelho de Tiago", que teve grande influência tanto nas lendas sucessivas da virgem como nas artes figurativas.

Em seu conjunto, os textos dos séculos I e II relativos a Maria não são muitos e - em nível teológico - não podemos esperar deles uma tematização orgânica sobre a pessoa e o papel salvífico de Maria.

Os elementos mariológicos da primeira pregação da Igreja

No século I, o centro do anúncio cristão é constituído pela fé em Cristo Filho de Deus, elevado à categoria de "Senhor" depois de sua morte e ressurreição. É um anúncio concentrado no essencial, baseado numa série de eventos, mediante os quais Cristo realizou a salvação, e vinculados à vida de cada um (pro nobis).

Na época subapostólica, acrescentar-se-á ao credo cristológico do Novo Testamento a menção de que Cristo nasceu de Maria virgem, que a partir daí aparecerá sempre nas profissões de fé. Como lemos no Símbolo da Traditio Apostolica (c. 215) de Hipólito, pergunta-se ao catecúmeno que está prestes a ser batizado: "Crês em Cristo Jesus, Filho de Deus, que por meio do Espírito Santo nasceu da virgem Maria...?".

Neste como em outros símbolos, Maria será sempre apresentadae citada em sua relação com Jesus por dois aspectos:

  1. a verdadeira maternidade (natus ex Maria...).
  2. a virgindade (virgine).

Trata-se fundamentalmente de afirmações bíblicas assumidas por Lucas e Mateus, ausentes de outros escritos neotestamentários. Nelas se baseia a primitiva doutrina mariológica, que se firmará na luta em duas frentes opostas: o judeu-cristianismo heterodoxo e o gnosticismo. Para o primeiro - ao menos para uma certa linha de "ebionitas" - Jesus nasceu de Maria e José ou de um certo Pantera. Nessa perspectiva, nega-se a virgindade de Maria; de sua parte, o gnosticismo concorda com a fé da Igreja em reconhecer a concepção e o parto virginal, mas, ao atribuir a Jesus um corpo fantasmático ou não-material, compromete irremediavelmente a verdadeira maternidade.

O compromisso dos autores ortodoxos em relação à mariologia consistirá em salvaguardar as duas prerrogativas recebidas do querigma primitivo. Não é de admirar, então, que até o século II e contra o gnosticismo, mas também contra o paganismo, o nascimento virginal e a figura de Maria sejam vistos numa perspectiva dogmático-apologética. A partir do final do século II e por influência de crescentes tendências ascéticas, inclusive dentro da Igreja, observa-se, porém, um outro fenômeno: o nascimento virginal, na sua santidade, é assumido como contra-imagem da atividade sexual natural, e Maria, mãe virgem, aparece como a imagem primordial de pureza.

O primeiro documento que considera o nascimento virginal e a figura de Maria nesses termos é o já citado Proto-Evangelho de Tiago, cujo desconhecido autor, sem ser movido por orientações teológicas ou polêmicas, quer apenas glorificar Maria, ressaltando o ideal ascético da virgindade. A expansão de tendências encratistas na Igreja acentuará mais ainda esse ideal a ponto de ler - como fará o pseudo-Justino - o nascimento virginal de Jesus como a superação da geração, que devia ser entendido como algo mau. Em sua oposição ao gnosticismo e ao montanismo, bem como às tendências ascéticas radicais, a comunidade cristã não aceitou essa "leitura" do nascimento virginal, mas não se pode ignorar que ela permaneceu latente na mariologia sucessiva.

A verdadeira maternidade de Maria nos autores cristãos do século II

Entre os "Padres Apostólicos", Inácio de Antioquia é o único que fala de Maria e de sua maternidade virginal. Em oposição às tendências docetas presentes na Ásia Menor, Inácio ressalta a verdadeira maternidade de Maria mediante a qual Jesus é tido como pertencente à estirpe de Davi (Carta aos Tralianos 9; Esmirnenses 1). Gerado por ela (Efésinos 7), Jesus é levado em seu seio "como Deus tinha estabelecido" (Efesinos 18). No contexto apologético em que escreve, Inácio considera o realismo do nascimento de Jesus o aspecto mais importante. Para ele, esse nascimento pertente à tradição da Igreja, que se movimenta entre dois aspectos paradoxais: Deus que recebe a carne de uma mulher virgem, e que sofre a paixão e morre na cruz.

Com Justino, as referência a Maria não são propostas numa perspectiva anitdoceta, mas visam salvaguardar o caráter divino de Jesus contra pagãos e judaizantes que o consideravam fruto de um matrimônio normal. Daí a insistência maior na maternidade virginal, que confirma a precisão das profecias ("a virgem conceberá...": Is 7,14). Para valorizar a sua argumentação, Justino não hesita em recorrer à mitologia, que conhecia episódios de partenogênese: "Ao dizer que o Verbo... nasceu sem relação humana e que foi crucificado, não dizemos nada de novo em relação àqueles dentre vós que falam dos filhos de Zeus..." (Apologia I,21,1). Esse apelo à mitologia, se podia ser facilmente entendido pelo mundo pagão, foi, porém, evocado em âmbito hebraico para difamar o nascimento virginal como uma lenda.

Ireneu, por sua vez, em contraposição ao docetismo de matriz gnóstica, acentua a realidade humana da maternidade de Maria, mas dá início também a uma reflexão na qual ressalta o papel "voluntário" que ela teve no nascimento de Jesus.

O que influencia a doutrina mariana de Ireneu é a idéia de "recapitulação": "o que estava perdido (ou seja, Adão)" - escreve - "tinha carne e sangue, pois Deus plasmou o homem apanhando barro da terra e para ele foi estabelecida toda a economia da vinda do Senhor. Também ele, pois, teve carne e sangue para recapitular em si não uma outra obra, mas a obra plasmada inicialmente pelo Pai, para procurar o que estava perdido" (Contra as Heresias V,14,2). A aproximação que Ireneu - baseado em Paulo - estabelece entre Adão e Cristo estende-se a Eva e Maria. Aos "passos errados" dos progenitores contrapõe-se o novo comportamento da dupla Cristo-Maria.

No paralelismo entre Eva e Maria, esta última é contraposta à "primeira mulher" por causa da obediência, que não se limita à anunciação, mas tem início a partir daquele momento. Ireneu observa que Maria, "mediante a sua obediência, foi causa de salvação para si e para todo o gênero humano... O nó da desobediência de Eva teve solução graças à obediência de Maria. O que Eva amarrou com sua incredulidade Maria desatou por sua fé" (Contra as Heresias III,22,4). Ambas intervêm responsavelmente, carregando todo o peso de sua escolha, que é prenhe de conseqüências para si próprias e para os outros e merece condenação ou apreço justamente por ser escolha livre. Para Ireneu, como o pecado se aninha na livre vontade do homem e os progenitores recusaram livremente seu assentimento a Deus, a redenção deverá configurar-se como um retorno à perfeita obediência, da qual Cristo nos dá um exemplo.

Nessa perspectiva, a tensão volitiva torna-se fundamental. É o coração que conta, e é este que Cristo busca tanto em seus discípulos como, sobretudo, em sua mãe (cf. Lc 11,28; Mt 12,50).

Deve-se acrescentar que, não obstante as reflexões tipológicas e o paralelismo Eva/Maria, Ireneu não considera esta última num plano supra-histórico, não a afasta da realidade humana. Pelo contrário, justamente por causa de sua obediência, Maria é a junção enttre Cristo e a Igreja, tornando-se figura e modelo tanto para a comunidade dos crentes como para cada um em particular. O seu significado religioso feminino e inaugural" consiste em ser a mãe eleita de Jesus, mas também a nova mãe da humanidade. Esboça-se assim a idéia da maternidade universal de Maria. Todavia, seria inútil buscar na Igreja antiga uma interpretação mariológica da "mulher vestida de sol" (Ap 12). O mesmo se diga também para a profecia de Gênesis 3,15 sobre a decendência da mulher que esmagará a cabeça da serpente, sempre referida a Cristo, jamais a Maria.

Maria Mãe de Deus

Do século III ao V, a reflexão mariológica concentra-se em quatro aspectos: o reconhecimento de Maria "Mãe de Deus", a sua virgindade in partu e post partum, [e] a sua santidade.

Em relação à maternidade divina, o reconhecimento de Maria Theotokos é fartamente atestado a partir do Concílio de Nicéia. O primeiro testemunho seguro nos é dado pelo bispo Alexandre de Alexandria (+325) em carta endereçada a Alexandre de Constantinopla, na qual esclarece que o Senhor Jesus "não teve apenas a aparência, mas tinha carne de verdade recebida da Theotokos Maria". É provável que a expressão não tenha sido cunhada por Alexandre. Não há dúvida, porém, que a partir dessa época os testemunhos sobre a "deípara" se encontram em autores pertencentes a diferentes orientações doutrinais: Eusébio de Cesaréia, Atanásio, Dídimo o Cego, mas também em Efrém o Sírio, nos capadócios, Cirilo de Jerusalém, Apolinário de Laodicéia, Teodoro de Mopsuéstia, João Crisóstomo, bem como nos autores latinos desde a metade do século IV.

A controvérsia no Concílio de Éfeso (431) a respeito do título "Theotokos" contestado por Nestório, que preferia falar de "mãe de Cristo" ou de "mãe do Homem", foi precedida por um século no qual esse título se impusera sem contestações. Isso justifica por que os Padres do concílio efesino, concílio mais cristológico que mariológico, puderam apelar, a propósito desse ponto, aos "Padres" anteriores.

A Virgindade de Maria

A afirmação da virgindade de Maria in partu e post partum encontra vozes discordantes na Igreja dos primeiros séculos. Reconhecida por autores como Ireneu e Orígenes, ela tem, contudo, opositores naqueles que, como Tertuliano e Elvídio, tiveram de enfrentar a instrumentalização dessas prerrogativas.

Com efeito, a virgindade in partu encontrava apoio no docetismo gnóstico, que atribuía a Cristo um nascimento aparente. A virgindade post partum era defendida pelo maniqueísmo, que nela encontrava um apoio ao desprezo pelas realidades materiais e, no caso, pelo matrimônio. Era preciso desvincular a virgindade in partu e post partum dos falsos princípios aos quais estava ligada, mas deviam igualmente ser conciliadas, em âmbito cristão ortodoxo, duas exigências da fé por si inconciliáveis: a maternidade física, completa, de Maria e a sua virgindade física, completa. A resposta dos Padres parte da cristologia e não representa um panegírico dos "privilégios" de Maria. Está, antes, ligada à idéia do nascimento de Deus, que não anula ou renega a carne, mas lhe comunica o penhor de sua renovação escatológica. Como declara Ambrósio: "No próprio (Cristo) encontrarás muitas coisas de acordo com a natureza e acima dela..., mas sobretudo o fato de que a virgem concebeu e gerou para que tu cresses que era Deus que renovava a natureza e era homem aquele que, de acordo com a natureza, nascia do homem" (De Incarnatione 54). Como sustentáculo da virgindade in partu e post partum concorreu a idéia, presente nos Padres, dos três nascimentos do Verbo: nascimento do Pai, nascimento da Virgem, nascimento no cristão. O segundo nascimento participa de ambos: do primeiro, que atesta e repete temporalmente, do terceiro, do qual se torna penhor e exemplar. Maternidade e virgindade se tornam assim o ideal do cristão.

A Santidade de Maria

Superando a idéia quase mágica de uma santidade por contato, alguns Padres ressaltam que apenas a maternidade divina não seria de grande valor, uma vez que Deus espera uma resposta livre e responsável. "Se de nada teria servido a Maria" - observa João Crisóstomo - "ter dado à luz o Cristo se não fosse interiormente rica em virtude, muito menos nos ajudará...". Nessa perspectiva de resposta livre e responsável a Deus, as palavras de Jesus: "Todo aquele que fizer a vontade do Pai... é meu irmão e minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50) referem-se principalmente a Maria e enfatizam o que é importante para Cristo: o parentesco espiritual constituído pela comunhão de vontades. "Ela (Maria)" - comenta Agostinho - "fez a vontade do Pai e a fez totalmente; e, por isso, vale mais para Maria ter sido discípula de Cristo do que mãe de Cristo". Essa adequação, se em nível de disponibilidade parece total desde a anunciação, revela-se cada vez mais consciente com o passar do tempo e segue um caminho de progressividade que, de acordo com alguns Padres, como Orígenes, Basílio e João Crisóstomo, comporta a presença e a superação de imperfeições humanas, como a vanglória, a incerteza e a presunção. "Se Cristo" - observa João Crisóstomo - "se preocupava com os outros e não descurava nada para que tivessem dele uma opinião adequada, com maior razão devia se comportar assim com sua mãe".

Também essa prerrogativa da "santidade" tornar-se-á de certo modo objeto de polêmica no século V. Foi o monge irlandês Pelágio quem a iniciou. Reagindo ao pessimismo maniqueu, passou a afirmar a bondade natural do homem não compreendida pelo pecado original. Contra Pelágio interveio Agostinho, que, embora sem negar a santidade de Maria, reconheceu, porém, seu caráter excepcional. A posição de Pelágio foi ulteriormente aprofundada pelo bispo Juliano de Ecland. Contestava ele a doutrina agostiniana segunda a qual o ato gerativo jamais está isento de pecado por causa da concupiscentia que o acompanhava. Cristo, portanto, não podia nascer senão de uma mulher "virgem". Nessa visão, os motivos cristológicos com base na mariologia primitiva pareceriam fundidos com os ascéticos, originariamente distintos e pelos quais a virgindade de Maria não parece tanto prova da "excepcionalidade" de Jesus quanto expressão de uma latente desestima pela realidade sexual.

Não é de admirar que Juliano, bispo casado, tenha reagido, defendendo a bondade natural do matrimônio e da concupiscência e negando a existência do pecado original. Nesse contexto, Maria surgiu como exemplo de criatura não manchada pelo pecado original.

A afirmação da "imaculada conceição" defendida por Juliano, contra Agostinho, que insistia mais no domínio universal do pecado original, explica as dificuldades que essa doutrina encontrará para se afirmar na Igreja medieval do Ocidente, fortemente marcada pelo pensamento do bispo de Hipona.

Este breve apanhado demonstra que as atribuições marianas - justamente por sua ressonância doutrinal - tiveram um caminho difícil que obrigou a uma reflexão teológica. Por isso, também em relação à mariologia, pode-se afirmar que a polêmica, em boa parte, levou a um notável aprofundamento, embora a tenha fixado em pistas que não são as únicas. De qualquer modo, o recurso aos Padres nesse âmbito - como demonstrou a encíclica Redemptoris Mater - é obrigatório.


Texto retirado das págs. 107 à 115. As notas de rodapé, embora numerosas e muito bem detalhadas (em destaque especial para as de nº 1, 3, 4, 5, 6, 8, 10, 12, 13, 14, 18 e 20), foram omitidas na presente amostra.

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