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APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS...
"Comentário Bíblico"

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COMENTÁRIO BÍBLICO
(3 Volumes)

Autores Vários

ed. Loyola

1.128 páginas (total)

Formato: 23 x 16 cm

Preço: * * * * *

Apresentação

 

 

Introdução à Bíblia na forma de comentário completo, prático e acessível. Caracteriza-se pela simplicidade, objetividade e abertura a leitores de diversos credos ou simplesmente interessados em compreender melhor a experiência de fé expressa no documento primordial das tradições judaica e cristã.

A publicação desse Comentário Bíblico é uma resposta ao interesse crescente pela Bíblia verificado no Brasil. Vemos hoje que os não-especialistas, os simples leitores dos livros bíblicos demonstram-se insatisfeitos com uma compreensão meramente religiosa da Bíblia e passam a fazer perguntas literárias, históricas e teológicas que exigem resposta.

Um dos objetivos primordiais desse Comentário Bíblico é trazer as descobertas da cultura contemporânea ao alcance do principiante em estudos bíblicos. Por causa da ampla seleção de autores, os comentários a cada livro oferecem uma variedade de posições teológicas e abordagens metodológicas, como parte de um processo permanente de interpretação da Bíblia.

À primeira vista, o material apresentado pode parecer esotérico e interessante apenas para o estudioso profissional da Escritura. Entretanto, depois de um exame mais rigoroso, ficará claro que as perguntas mais básicas sobre a Bíblia serão respondidas nessas páginas sem a misteriosa linguagem dos especialistas.

A abrangência da obra permite ao leitor consultar com facilidade a análise de todos os livros bíblicos. O livro poderá ser usado no estudo bíblico, na preparação de homilias e nas reuniões de oração bíblica.

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Os Autores

Na verdade, esta bela obra foi composta por diversos autores coordenados por Dianne Bergant, csa (coordenador geral para o Antigo Testamento), e Robert J. Karris, ofm (coordenador geral para o Novo Testamento), de maneira que a unidade dos textos foi atingida.

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Conteúdo

O livro encontra-se organizado em três volumes, seguindo a ordem da Tradução Ecumênica da Bíblia (TEB; ed. Loyola), a saber:

    Volume I - Antigo Testamento
    • Introdução Geral à Bíblia
    • Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt)
    • Profetas Anteriores (Js, Jz, 1-2Sm, 1-2Rs)

    Volume II - Antigo Testamento (cont.)

    • Profetas Posteriores (Is, Jr, Ez, Os, Jo, Am, Ab, Jn, Mq, Na, Hab, Sf, Ag, Zc, Ml)
    • Escritos (Sl, Jó, Pr, Rt, Ct, Ecl, Lm, Est, Dn, Esd, Ne, 1-2Cr)
    • Deuterocanônicos (Jud, Tb, 1-2Mc, Sb, Eclo, Bar)

    Volume III - Novo Testamento

    • Evangelhos e Atos (Mt, Mc, Lc, Jo, At)
    • Cartas (Rm, 1-2Cor, Gl, Ef, Fl, Col, 1-2Tes, 1-2Tim, Tt, Fm, Hb, Tg, 1-2Pd, 1-3Jo, Jd)
    • Apocalipse (Ap)

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Amostra

A NARRATIVA DO DILÚVIO (Gn 6,1-9,29)

A história do Dilúvio no Gênesis tem notável semelhança com os relatos mesopotâmicos do dilúvio, em especial a versão babilônica da epopéia de Guilgamesh. Guilgamesh, o herói dessa epopéia, inicia uma busca da imortalidade que o leva a um ancestral antigo chamado Utnapishtim, que é imortal. Quando Utnaposhtim relata como se tornou imortal, imediatamente reconhecemos paralelos com a narrativa do Dilúvio contida no Gênesis.

Eis a narrativa babilônica: o conselho de deuses decide destruir a humanidade. Ea, o deus da sabedoria, aparece a Utnapishtim em um sonho e avisa-o do desastre iminente. Instrui Utnapishtim para que construa um barco e salve a si e a sua família. Utnapishtim traz a bordo do barco sua família, animais selvagens e domesticados e artesãos. Os deuses desencadeiam uma tempestade que não demora a ficar fora de controle e os próprios deuses encolhem-se de medo nas esferas superiores do céu. Quando a tempestade acaba, o barco pousa em um monte e Utnapishtim envia pássaros do barco para determinar até onde as água retrocederam. Ao sair do barco, os sobrevivente da tempestade oferecem um sacrifício agradável aos deuses, que, por sua vez, abençoan Utnapishtim e sua família com a imortalidade.

É evidente que a versão do Gênesis é, em essência, a mesma história, mas há algumas diferenças significativas. No relato do Gênesis não há nenhuma insinuação de politeísmo. Deus, e só Deus, está no comando, o tempo todo; a tempestade jamais fica fora de controle. O Dilúvio não resulta de um capricho; é enviado como castigo pelo pecado. Noé não ganha a imortalidade, mas faz uma aliança com Deus.

Ao contrário de Gn 1-5, onde as tradições javista e sacerdotal estão quase sempre separadas, em Gn 6-9, as duas versões estão amplamente entrelaçadas. Isso é evidente nas duplicações e contradições na forma atual da narrativa. As duplicações são estas:

  • Deus nota a pecaminosidade do gênero humano (6,5 / 6,12).
  • Deus decide destruir a humanidade (6,7 / 6,13).
  • Deus anuncia o Dilúvio (7,4 / 6,17).
  • Noé recebe ordens para entrar na barca (7,1-3 / 6,18-20).
  • Noé obedece (7,5 / 6,22).
  • Noé entra na arca (7,1-3 / 7-18ss).
  • Todas as criaturas vivas da terra morrem (7,22 / 7,21).
  • As águas se acalmam (8,1 /8,3a).
  • Deus promete nunca mais destruir a criação por meio do Dilúvio (8,21 / 9,11).

Eis as contradições do texto:

  • O número de animais levados à arca (7,2 / 6,19-20; 7,15-16).
  • A causa do Dilúvio (7,14.12; 8,2b / 7,11; 8,2).
  • A duração do Dilúvio (7,24; 8,2a.3b; 8,13 / 7,4.10.12; 8,8-12).

As diferenças nas duas versões ficarão claras no comentário a seguir:

  • 6,1-4 (J) O casamento do divino com o humano - Esta é, sem dúvida, uma das histórias mais estranhas do Antigo Testamento. Parece ser um mito abreviado, assumido pelo autor javista e reescrito para servir de introdução ao relato do dilúvio. Os "filhos de Deus" são certamente deuses, não anjos como muitas vezes se presume. Na mitologia antiga, os filhos de Deus eram considerados membros do conselho celeste, divindades menores que prestavam serviços ao deus supremo.

    O que parece estar em debate aqui não é o comportamento licencioso, mas o casamento entre deuses e seres humanos. Se eliminássemos o v.3, a narrativa pareceria simplesmente uma etiologia para explicar uma raça de gigantes ou heróis sobre-humanos de antigamente. O v.3 leva-nos a interpretar a ação descrita no v.2 como um grande pecado. O javista usa o mito para ilustrar a extensão do pecado; até transgride os limites entre os reinos celeste e terreno. É interessante que o castigo seja dirigido à humanidade, cuja vida é abreviada, e não aos deuses que iniciaram a ação. Isso se explica se reconhecemos que o javista usa a história para introduzir sua versão do dilúvio, o meio pelo qual o gênero humano é punido por sua maldade.

  • 6,5-8 (J) A decisão do Senhor de destruir todas as criaturas vivas - Neste parágrafo, o javista chama ainda mais a atenção para a amplitude do pecado. É universal. Tudo que é concebido no coração humano é mau. Na antropologia hebraica, o coração não é, em princípio, o centro das emoções, mas a fonte do intelecto e da vontade. Todos os pensamentos e atos humanos são maus. A aflição do Senhor pela criação dá um toque bastante humano à descrição javista de Deus. A resolução do Senhor de destruir o que foi criado é reação ao comportamento da humanidade e, como tal, não é decisão arbitrária. O Dilúvio é o julgamento da humanidade pelo Senhor, mas este julgamento é contrabalançado pelo desejo do Senhor de salvar, que se expressa na preservação de Noé e sua família. A escolha de Noé pelo Senhor permanece um mistério na versão javista da narrativa do Dilúvio.

  • 6,9-22 (P) Decisão divina de enviar o Dilúvio e instruções para construir a arca - A fórmula "Eis a família de..." indica que voltamos ao autor sacerdotal. Nota-se imediatamente a justiça de Noé; por causa dela, ele é preservado, como acontece na narrativa javista. Não é apenas a humanidade que está corrompida, mas a própria terra. Como no relato javista, o desejo que Deus tem de destruir é em reação ao pecado. Como é característico do autor sacerdotal, vemos que é dada grande atenção aos detalhes, tais como a construção da arca e a datação do Dilúvio. Noé deve levar para a arca sua família e os machos e fêmeas de cada espécie de animais, além da comida suficiente para alimentá-los toda a duração do Dilúvio.

  • 7,1-5.7-10.12.16b.17b.22-23 (J) Instruções a Noé e a chegada do Dilúvio - A ordem para construir a arca foi omitida da versão javista, provavelmente para dar lugar à versão sacerdotal. Em vista da afirmação em 7,1 de que só Noé foi considerado justo, é possível que a construção da arca sirva de teste para ele. Noé é instruído para levar para a arca sete casais de todos os animais puros e um casal de todos os animais impuros, em óbvia discordância com Gn 6,19. Para o autor sacerdotal, a distinção entre animais ritualmente aceitáveis e inaceitáveis (puros e impuros) só poderá ser feita depois que Moisés introduzir as leis rituais na narrativa do Sinai. O javista não tem problema para apresentar o culto sacrifical como parte da história mais primitiva da humanidade (4,3-4; 8,20-22). O estilo antropomórfico (que descreve Deus em termos humanos) do autor javisa está evidente na descrição do Senhor fechando a porta da arca (7,16b). Aqui o Dilúvio é o resultado de 40 dias e noites de chuva. O relato sacerdotal apresenta outra explicação.

  • 7,6.11.13-16a.17a.18-21.24 (P) Reversão ao caos primevo - No relato sacerdotal, o Dilúvio não é causado pela chuva, mas pelo encontro das águas que estão acima do céu com as que estão abaixo da terra. Em outras palavras, o mundo volta ao caos aquoso que existia antes da criação (1,2). A extensão do Dilúvio é muito maior no relato sacerdotal, pois provoca a destruição de todo o cosmos e a reversão ao caos primevo.

  • 8,2b.3a.6.8-12.13b.20-22 (J) O retrocesso das águas, o sacrifício de Noé, a promessa do Senhor - As águas permanecem na terra um total de 61 dias. Noé solta aves para determinar se as águas haviam baixado o suficiente para ele poder desembarcar. O uso de aves por marinheiros com propósitos de navegação não era desconhecido no mundo antigo. O javista, em bom estilo de contador de histórias, leva o tema de envio de aves ao clímax, fazendo Noé soltar 3 aves, a última das quais é bem-sucedida. Como no mito babilônico, ao sair da arca Noé oferece um sacrifício agradável ao Senhor. Não podem ser esquecidas as sugestões mitológicas da frase "O Senhor aspirou o perfume aplacador" (v.21). A expressão tem origem em uma noção primitiva de que os deuses comiam realmente o alimento a eles oferecido. Essa idéia foi mais tarde rejeitada por Israel. Em nossa história, o detalhe serve para mostrar que o sacrifício foi aceito pelo Senhor e, assim, efetuou-se a reconciliação com a humanidade. Assim como a narrativa do javista começou com a reflexão do Senhor sobre a humanidade (6,5-8), agora ela termina com reflexões comparáveis. A humanidade é a mesma "que se inclina para o mal desde a sua juventude" (v.21), mas a maldade da humanidade nunca mais será a base para o Senhor destruir a terra. A ordem da criação é assegurada pelo Senhor.

  • 8,1-2a.3b.4-5.7.13a.15-19; 9,1-17.28-29 (P) Deus se lembra de Noé - No relato sacerdotal, o dilúvio dura todo um ano mais dez dias, e a restauração acarreta uma recriação. O "sopro de Deus" que começa a se mover sobre as águas ecoa o "sopro de Deus" que atuou de modo semelhante em Gn 1. O momento decisivo da narrativa será quando Deus se lembrar de Noé. É a "lembrança"de Deus que põe em movimento esse novo ato de criação. O tema do envio das aves não está integrado na narrativa sacerdotal com tanto sucesso quanto na versão javista. Na verdade, é Deus que diz a Noé para sair da arca. Noé não confia nas informações obtidas por meio das aves. As primeiras palavras de Deus a Noé e seus filhos reiteram a bênção dada na criação: "Sede fecundos e prolíficos". No mundo pós-diluviano, a bênção da procriação continua em vigor. O que se altera é o relacionamento da humanidade com os animais. Reconhecendo a natureza violenta da humanidade, Deus permite que os animais sejam mortos e comidos, mas o sangue, por causa de sua ligação com a vida, que pertence só a Deus, não deve ser comido. A proibição de tirar a vida humana continua em vigor. É interessante notar que a razão dada para isso é que a humanidade foi criada "à imagem e semelhança de Deus". Se a lei de Deus contra o homicídio for transgredida, será a humanidade, não Deus, quem terá a responsabilidade de punir o crime. É provável que a fórmula legal antiga em 9,6 se destinasse à estabelecer limites para a vingança de sangue.

    Na conclusão sacerdotal da narrativa, a promessa divina de nunca mais destruir a terra pelo dilúvio assume a forma de uma aliança. A aliança era a maneira de regular as relações entre indivíduos e grupos na sociedade antiga. Essa aliança é introduzida pelo autor sacerdotal como antecipação da futura aliança entre Deus e Israel. A iniciação da aliança e a responsabilidade de mantê-la dependem inteiramente de Deus. O arco-íris é sinal dessa aliança. É um lembrrete a Deus da promessa de preservar o mundo; é um lembrete à humanidade da fidelidade e da misericórdia de Deus.

    A narrativa conclui em 9,28-29. Estes vv. revelam a preocupação do autor sacerdotal com a cronologia. O v.29 recorda a genealogia do capítulo 5, interrompida pela história do Dilúvio, e, por sua vez, proporciona uma transição para o quadro dos povos do capítulo 10.

  • 9,18-27 (J) A maldição de Canaã - Mais uma vez vemos o autor javista adaptar uma narrativa que originalmente serviu a outro propósito. A história original atuou como etiologia para explicar a origem da vinicultura e a descoberta dos efeitos inebriantes do vinho. Como tal, não há nenhum julgamento moral da condição de Noé. Simplesmente é constatado que ele se embriagou. O interesse do javista não está na bebedeira de Noé, mas na maldição de Canaã e nas bênçãos de Shem e Iéfet, que resultaram do comportamento deles em relação ao pai durante o entorpecimento deste devido à bebida. Não está clara, exatamente o que Ham fez a Noé, mas com certeza envolveu mais do que apenas olhar para a nudez do pai (veja 9,24). Nem fica claro por que Canaã é amaldiçoado quando, segundo a narrativa, Ham é o culpado. A frase "Ham é o pai de Canaã" (v.18) certamente tem o propósito de pôr a maldição em harmonia com a história, mas não elimina a dificuldade.

    A maldição de Canaã e as bênçãos de Shem e Iéfet procuram justificar as relações entre os povos que descendiam desses ancestrais. Os canaanitas tornaram-se realmente servos dos israelitas (descedentes de Shem). A identificação dos descendentes de Iéfet não é certa. Talvez sejam os filisteus, que "habitavam entre as tendas de Shem", ou os hititas, que desapareceram da terra logo depois da chegada de Israel. Em todo caso, são apresentados como participantes do domínio de Israel na terra de Canaã.


Texto retirado das págs. 65 à 67 (ref. Gn 6,1-9,29).

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