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Decreto
LAMENTABILI SINE EXITU

II. SAGRADA ESCRITURA

9. Demasiada simplicidade ou ignorância revelam os que crêem que Deus é verdadeiramente o autor das Sagradas Escrituras.

10. A inspiração do livros do Antigo Testamento consistiu em terem os escritores israelitas ensinado doutrinas religiosas sob um aspecto peculiar, desconhecido ou pouco conhecido dos pagãos.

11. A inspiração divina não se estende a toda Sagrada Escritura a ponto de preservar de todo erro todas e cada uma de suas partes.

12. O exegeta, se quiser aplicar-se com proveito aos estudos bíblicos, deve antes de tudo abstrair de qualquer opinião preconcebida sobre a origem sobrenatural da Sagrada Escritura e interpretá-la do mesmo modo que os outros documentos meramente humanos.

13. Foram os próprios Evangelistas e os cristãos da segunda e terceira geração, que artificiosamente elaboraram as parábolas evangélicas e assim deram a razão do pouco fruto da pregação de Cristo entre os judeus.

14. Em diversas narrações, os Evangelistas referiram não tanto o que era verdade, quanto o que, embora falso, julgaram ser mais proveitoso a seus leitores.

15. Os Evangelhos sofreram continuas adições e correções até que fosse estabelecido e constituído o cânon definitivo; portanto, da doutrina cristã não subsiste neles senão um vestígio vago e incerto.

16. As narrações de São João não são propriamente história, são uma contemplação mística do Evangelho; os discursos contidos em seu Evangelho são meditações teológicas sobre o mistério da salvação, destituídas de verdade histórica.

17. O quarto Evangelho exagerou os milagres não só para que eles parecessem mais extraordinários, como também para que se tornassem mais aptos para revelar a obra e a glória do Verbo Encarnado.

18. É certo que João reivindica para si o caráter de testemunha de Cristo; na realidade, porém, ele foi apenas uma excelente testemunha da vida cristã, ou da vida de Cristo na Igreja, nos fins do primeiro século.

19. Os exegetas heterodoxos interpretaram o verdadeiro sentido das Escrituras com mais fidelidade que os exegetas católicos.