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Exortação Apostólica Pós-Sinodal
ECCLESIA IN AMERICA

IV. CAMINHO PARA A COMUNHÃO

«Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti» (Jo 17, 21)

A Igreja, sacramento de comunhão

33. «Diante de um mundo dividido e desejoso de unidade, é necessário proclamar com alegria e firmeza de fé que Deus é comunhão, Pai, Filho e Espírito Santo, unidade na distinção, o qual chama todos os homens a participar da mesma comunhão trinitária. É necessário proclamar que esta comunhão é o esplêndido projeto de Deus [Pai]; que Jesus Cristo, feito homem, é o centro desta mesma comunhão, e que o Espírito Santo age constantemente para criar a comunhão e reconstitui-la quando se rompe. É necessário proclamar que a Igreja é sinal e instrumento da comunhão querida por Deus, iniciada no tempo e destinada à perfeição na plenitude do Reino». (97) A Igreja é sinal de comunhão porque os seus membros, como os ramos, participam da mesma vida de Cristo, a verdadeira videira (cf. Jo 15, 5). Com efeito, mediante a comunhão com Cristo, Cabeça do Corpo místico, entramos em viva comunhão com todos os crentes.

Esta comunhão, existente na Igreja e essencial à sua natureza, (98) deve manifestar-se por sinais concretos, «como poderiam ser: a oração comunitária de uns pelos outros, o impulso ao relacionamento das Conferências Episcopais entre si, os contatos entre os Bispos, as relações fraternas entre as dioceses e as paróquias, e a mútua comunicação entre agentes de pastoral para atividades missionárias específicas». (99) A referida comunhão requer que se conserve o depósito da fé na sua pureza e integridade, bem como a unidade de todo o Colégio episcopal sob a autoridade do Sucessor de Pedro. Neste contexto, os Padres Sinodais declararam que «o fortalecimento do ministério petrino é fundamental para a preservação da unidade da Igreja», e que «o exercício pleno do primado de Pedro é fundamental para a identidade e vitalidade da Igreja na América». (100) A Pedro e aos seus sucessores compete, por mandato do Senhor, a tarefa de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22, 32) e de apascentar o inteiro rebanho de Cristo (cf. Jo 21, 15-17). Da mesma forma, o Sucessor do Príncipe dos Apóstolos é chamado a ser a pedra sobre a qual a Igreja está edificada, e a exercer o ministério devido ao fato de ser ele depositário das chaves do Reino (cf. Mt 16, 18-19). O Vigário de Cristo é, com efeito, «o perpétuo princípio de [...] unidade e o fundamento visível» da Igreja. (101)

Iniciação cristã e comunhão

34. A comunhão de vida na Igreja obtem-se mediante os sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia. O Batismo é a «porta de ingresso da vida espiritual; através dele, nos tornamos membros de Cristo e começamos a pertencer ao corpo da Igreja». (102) Os batizados, ao receberem a Confirmação, «são mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam obrigados a difundir e defender a fé por palavras e obras como verdadeiras testemunhas de Cristo». (103) O itinerário da iniciação cristã alcança o seu coroamento e o seu ápice com a Eucaristia, pela qual o batizado insere-se plenamente no Corpo de Cristo. (104)

«Estes sacramentos são uma excelente oportunidade para uma boa evangelização e catequese, quando a sua preparação é confiada a agentes dotados de fé e competência». (105) Apesar de haver nas diversas Dioceses da América um inegável progresso na preparação aos Sacramentos da iniciação cristã, os Padres Sinodais lamentaram que ainda «são muitos os que os recebem sem a suficiente formação». (106) Por sua vez, no caso do Batismo das crianças, não se deve omitir um esforço catequístico dirigido aos pais e aos padrinhos.

A Eucaristia, centro de comunhão com Deus e com os irmãos

35. A realidade da Eucaristia não se esgota no fato de ser o Sacramento cume da iniciação cristã. Se o Batismo e a Confirmação têm a função de iniciar e introduzir na mesma vida da Igreja, e não são reiteráveis, (107) a Eucaristia constitui o centro vivo e permanente, em volta do qual se congrega a inteira comunidade eclesial. (108) Os diversos aspectos deste Sacramento refletem sua riqueza inesgotável: ele é, ao mesmo tempo, Sacramento-sacrifício, Sacramento-comunhão, Sacramento-presença. (109)

A Eucaristia é o lugar privilegiado para o encontro com Cristo vivo. Por isso, os Pastores do Povo de Deus na América, mediante a pregação e a catequese, devem esforçar-se em «dar à celebração eucarística dominical uma nova força, como fonte e cume da vida da Igreja, garantia da comunhão no Corpo de Cristo e convite à solidariedade como expressão do mandato do Senhor: "Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros" (Jo 13, 34)». (110) Como sugerem os Padres Sinodais, tal esforço deve levar em consideração várias dimensões fundamentais. Primeiramente, é necessário despertar nos fiéis a consciência de que a Eucaristia é um dom imenso: isto os levará a fazer de tudo para participar nela, ativa e dignamente, pelo menos no domingo e nos dias de festa. Ao mesmo tempo, devem ser estimulados «os esforços dos sacerdotes para facilitar esta participação e torná-la possível às comunidades mais distantes». (111) É necessário recordar aos fiéis que «a participação plena, consciente e ativa, apesar de essencialmente distinta do ofício do sacerdote ordenado, é uma atuação do sacerdócio comum recebido no Batismo». (112)

A necessidade de que os fiéis participem na Eucaristia e as dificuldades ligadas à escassez de sacerdotes manifestam a urgência de promover as vocações sacerdotais. (113) É preciso também lembrar a toda a Igreja na América «o nexo existente entre a Eucaristia e a caridade», (114) nexo que a Igreja primitiva exprimia unindo o ágape com a Ceia eucarística. (115) A participação na Eucaristia deve levar a uma mais intensa ação caridosa, como fruto da graça recebida neste sacramento.

Os Bispos, promotores de comunhão

36. A comunhão na Igreja, precisamente por ser sinal de vida, deve crescer continuamente. Consequentemente, os Bispos, lembrando que «cada um deles é princípio e fundamento visível da unidade nas suas respectivas Igrejas», (116) devem sentir-se comprometidos a promover a comunhão nas suas Dioceses, para que seja mais eficaz o esforço da nova evangelização na América. A dimensão comunitária fica favorecida pelos organismos previstos pelo Concílio Vaticano II em apoio da atividade do Bispo diocesano, organismos que a legislação pós-conciliar especificou mais detalhadamente. (117) «Compete ao Bispo, com a cooperação dos sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos [...], realizar um plano de ação pastoral coordenada, que seja orgânico e compartilhado e que alcance todos os membros da Igreja e suscite neles a consciência missionária». (118)

Cada Ordinário não deixará de promover nos sacerdotes e nos fiéis a consciência de que a diocese é a expressão visível da comunhão eclesial, que se forma na mesa da Palavra e da Eucaristia em torno ao Bispo, unido com o Colégio episcopal e sob a sua Cabeça, o Romano Pontífice. Aquela, como Igreja particular, tem a missão de iniciar e incrementar o encontro de todos os membros do Povo de Deus com Jesus Cristo, (119) através do respeito e da promoção daquela pluralidade e diversificação que não impedem a unidade, mas lhe conferem o carácter de comunhão. (120) O espírito de participação e de corresponsabilidade na vida dos organismos diocesanos será certamente favorecido por um conhecimento mais profundo da natureza da Igreja particular. (121)

Uma comunhão mais intensa entre as Igrejas particulares

37. A Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, a primeira na história que reuniu Bispos de todo o Continente, foi por todos sentida como uma graça especial do Senhor à Igreja peregrina na América. Aquela reforçou a comunhão que deve haver entre as Comunidades eclesiais do Continente, deixando transparecer a todos a urgência de aumentá-la ainda mais. As experiências de comunhão episcopal, assíduas sobretudo após o Concílio Vaticano II por causa da consolidação e difusão das Conferências Episcopais, devem ser entendidas como encontros com Cristo vivo, presente nos irmãos reunidos em seu nome (cf. Mt 18, 20).

A experiência sinodal mostrou, também, as riquezas de uma comunhão que se estende para além do âmbito de cada Conferência Episcopal. Apesar de já existirem formas de diálogo que superam tais limites, os Padres Sinodais assinalaram a conveniência de intensificar as reuniões inter-americanas, já promovidas pelas Conferências Episcopais das diversas Nações americanas, como expressão de efetiva solidariedade e como lugar de encontro e estudo dos comuns desafios para a evangelização da América. (122) Será também oportuno definir com precisão o carácter de tais encontros, de maneira que constituam, sempre mais, expressão de comunhão entre todos os Pastores. Além destas reuniões mais amplas, pode ser útil, quando exigidas pelas circunstâncias, criar comissões específicas para aprofundar os temas comuns que se refiram a toda a América. Setores nos quais parece particularmente necessário «que se estimule a cooperação, são as mútuas comunicações pastorais, a cooperação missionária, a educação, as migrações, o ecumenismo». (123)

Os Bispos, aos quais cabe o dever de promover a comunhão entre as suas Igrejas particulares, estimularão os fiéis a viver sempre mais a dimensão comunitária, assumindo «a responsabilidade de estreitar os laços de comunhão com as Igrejas locais em outras zonas da América mediante a educação, a mútua comunicação, a fraterna união entre paróquias e dioceses, projetos de cooperação e de prevenção comum em temas de maior relevo, sobretudo naqueles que se referem aos pobres». (124)

Comunhão fraterna com as Igrejas católicas orientais

38. O recente fenômeno da instalação e do crescimento na América de Igrejas particulares católicas orientais, dotadas de hierarquia própria, foi objeto de especial atenção por parte de alguns Padres Sinodais. Um desejo sincero de abraçar cordial e eficazmente estes irmãos na fé e na comunhão hierárquica, sob a autoridade do Sucessor de Pedro, levou a Assembléia Sinodal a propor iniciativas concretas de fraterna ajuda por parte das Igrejas particulares latinas, respeito àquelas católicas orientais presentes no Continente. Assim, por exemplo, foi sugerida a hipótese que os sacerdotes de rito latino, sobretudo quando de origem oriental, possam oferecer sua cooperação litúrgica às comunidades orientais, carentes de um número suficiente de presbíteros. Igualmente, quanto aos edifícios sagrados, os fiéis orientais poderão utilizar, nos casos considerados convenientes, as igrejas de rito latino.

Dentro deste espírito de comunhão, merecem ser consideradas várias propostas dos Padres Sinodais: que, ali onde for preciso, seja criada, nas Conferências Episcopais nacionais e nos organismos internacionais de cooperação episcopal, uma comissão mixta encarregada de estudar os problemas pastorais comuns; que a catequese e a formação teológica para os leigos e os seminaristas da Igreja latina, incluam o conhecimento da tradição viva do Oriente cristão; que os Bispos das Igrejas orientais católicas participem nas Conferências Episcopais latinas das respectivas Nações. (125) Não há dúvida que esta cooperação fraterna, enquanto oferece uma preciosa ajuda às Igrejas católicas orientais constituídas recentemente na América, permitirá às Igrejas particulares latinas enriquecer-se com o patrimônio espiritual das tradições do Oriente cristão.

O presbitério como sinal de unidade

39. «Cada sacerdote, como membro de uma Igreja particular, deve ser sinal de comunhão com o Bispo sendo o seu colaborador imediato, unido aos seus irmãos no presbitério. Exerce seu ministério com caridade pastoral, principalmente na comunidade que lhe foi confiada, conduzindo-a ao encontro com Cristo, o Bom Pastor. A sua vocação requer que ele seja sinal de unidade. Por isto, deve evitar qualquer participação na atividade política de tipo partidário, que dividiria a comunidade». (126) Os Padres Sinodais auspiciam que «se fomente uma ação pastoral a favor do clero diocesano, para reforçar a sua espiritualidade, a sua missão e a sua identidade, que tem como centro o seguimento de Cristo Sumo e Eterno Sacerdote, sempre encaminhado a cumprir a vontade do Pai. Ele é o modelo da generosa dedicação, da vida austera e do serviço até a morte. O sacerdote tome consciência do fato que, pelo sacramento da Ordem, é portador de graça, que distribui aos irmãos nos sacramentos. Ele próprio santifica-se no exercício do ministério». (127)

É imenso o campo onde se desenrola a ação dos sacerdotes. Convem, portanto, «que estes ponham no centro da sua atividade o que é essencial para o ministério: deixar-se configurar a Cristo, Cabeça e Pastor, fonte de caridade pastoral, oferecendo-se eles próprios, todos os dias, com Cristo na Eucaristia, para ajudar os fiéis a viver o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo vivo». (128) Como testemunhas e discípulos de Cristo misericordioso, eles são chamados a fazer-se instrumentos de perdão e de reconciliação, empenhando-se generosamente a serviço dos fiéis, conforme o espírito do Evangelho.

Os presbíteros devem também prestar atenção, enquanto pastores do Povo de Deus na América, aos desafios do mundo atual e ser sensíveis aos problemas e as esperanças da sua gente, partilhando suas vicissitudes e, sobretudo, assumindo uma atitude de solidariedade com os pobres. Cuidarão de discernir os carismas e as qualidades dos fiéis capazes de contribuir para a animação da comunidade, escutando-lhes e dialogando com eles, estimulando, assim, a participação e a corresponsabilidade. Isto favorecerá uma melhor distribuição das tarefas, permitindo-lhes «dedicar-se àquilo que está mais diretamente ligado ao encontro e ao anúncio de Jesus Cristo, para poder representar melhor, no seio da comunidade, a presença de Jesus que reune o seu povo». (129)

Esta obra de discernimento dos carismas estender-se-á também à valorização daqueles sacerdotes que se revelam capazes de levar a cabo ministérios particulares. De resto, a todos os sacerdotes, pede-se de dar a própria ajuda fraterna ao presbitério, e de recorrer a este com confiança em caso de necessidade.

Diante da esplêndida realidade de tantos sacerdotes na América que, com a graça de Deus, se esforçam por dar saída a uma enorme quantidade de trabalho, faço meu o desejo dos Padres Sinodais de reconhecer e louvar sua «dedicação incansável de pastores, evangelizadores e animadores da comunhão eclesial, exprimindo-lhes gratidão e encorajando-os a continuar a oferecer sua vida a serviço do Evangelho». (130)

Promover a pastoral vocacional

40. O papel indispensável do sacerdote no meio da comunidade deve conscientizar todos os filhos da Igreja na América da importância da pastoral vocacional. O Continente americano possui uma numerosa juventude, rica de valores humanos e religiosos. Por isso, deve-se cultivar os ambientes onde nascem as vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada, e convidar as famílias cristãs a ajudar os filhos quando se sintam chamados a seguir este caminho. (131) Com efeito, as vocações «são um dom de Deus» e «nascem nas comunidades de fé, sobretudo na família, na paróquia, nas escolas católicas e em outras organizações da Igreja. Os Bispos e os presbíteros têm a especial responsabilidade de estimular tais vocações através do convite pessoal, e principalmente com o testemunho de uma vida de fidelidade, alegria, entusiasmo e santidade. A responsabilidade de promover vocações para o sacerdócio cabe a todo o Povo de Deus e se realiza principalmente na oração constante e humilde pelas vocações». (132)

Os seminários, como lugares de acolhida e de formação dos chamados ao sacerdócio, devem preparar os futuros ministros da Igreja a viver «numa sólida espiritualidade de comunhão com Cristo Pastor, e de docilidade à ação do Espírito, que os tornará capazes de discernir as expectativas do Povo de Deus e distintos carismas, e de trabalhar juntos». (133) Por isso, nos seminários «deve-se insistir especialmente sobre a formação especificamente espiritual, a fim de que com a constante conversão, a atitude de oração, o recurso aos sacramentos da Eucaristia e da Penitência, os candidatos se formem no encontro com o Senhor e se preocupem de fortalecer-se para o generoso trabalho pastoral». (134) Cuidem os formadores de acompanhar e guiar os seminaristas para uma maturidade afetiva que os faça aptos a abraçar o celibato sacerdotal e capazes de viver em comunhão com seus coirmãos na vocação sacerdotal. Além disso, promovam neles a capacidade de observação crítica da realidade circunstante, para que sejam capazes de discernir os valores dos que não o são, sendo este um requisito indispensável para estabelecer um diálogo construtivo com o mundo de hoje.

Particular atenção será reservada às vocações provindas entre os indígenas: ocorre proporcionar uma formação inculturada no seu ambiente. Estes candidatos para o sacerdócio, ao receberem uma adequada formação teológica e espiritual para o seu futuro ministério, não devem perder as raízes da própria cultura. (135)

Os Padres Sinodais quiseram também agradecer e louvar todos aqueles que consagram a vida na formação dos futuros presbíteros nos seminários. Ao mesmo tempo convidaram os Bispos a destinar para esta tarefa os sacerdotes mais adequados, depois de os preparar com uma formação específica necessária para habilitá-los a uma missão tão delicada. (136)

Renovar a instituição paroquial

41. A paróquia é um lugar privilegiado onde os fiéis podem fazer a experiência concreta da Igreja. (137) Hoje em dia, tanto na América como em outras partes do mundo, a paróquia atravessa por vezes algumas dificuldades no desempenho da própria missão. Ela precisa de uma contínua renovação a partir do princípio fundamental de que «a paróquia deve continuar a ser acima de tudo comunidade eucarística». (138) Este princípio implica que «as paróquias são chamadas a ser acolhedoras e solidárias, lugar da iniciação cristã, da educação e da celebração da fé, abertas à variedade de carismas, serviços e ministérios, organizadas comunitária e responsavelmente, capazes de comprometer os movimentos de apostolado já atuantes, atentas às distintas culturas dos habitantes, abertas aos projetos pastorais e supraparoquiais e às realidades circunstantes». (139)

Merecem uma especial atenção, pela sua problemática específica, as paróquias nos grandes aglomerados urbanos, onde as dificuldades são tão grandes que as normais estruturas pastorais vem a ser inadequadas e as possibilidades de ação apostólica notavelmente reduzidas. Contudo, a instituição paroquial conserva a sua importância e deve ser mantida. Para alcançar este objetivo, ocorre «continuar na procura dos meios com os quais a paróquia e as suas estruturas pastorais se tornem mais eficazes nas zonas urbanas». (140) Um meio de renovação paroquial, particularmente urgente nas paróquias das grandes cidades, pode ser encontrado talvez considerando a paróquia como comunidade de comunidades e de movimentos. (141) Por isso, é oportuno a formação de comunidades e de grupos eclesiais de tal dimensão, que permitam estabelecer verdadeiras relações humanas. Isto permitirá viver mais intensamente a comunhão, preocupando-se em cultivá-la não somente «ad intra», mas também com a comunidade paroquial à qual pertencem tais grupos, e com toda a Igreja diocesana e universal. Desta forma será mais fácil, no âmbito deste contexto humano, reunir-se na escuta da Palavra de Deus, para refletir, à sua luz, sobre os vários problemas humanos e concluir opções responsáveis inspiradas no amor universal de Cristo. (142) A instituição paroquial assim renovada, «pode suscitar uma grande esperança. Pode formar comunitariamente as pessoas, oferecer ajuda à vida familiar, superar a condição de anonimato, acolher as pessoas e ajudá-las a inserir-se no âmbito local e da sociedade». (143) Deste modo, hoje cada paróquia, especialmente as sediadas nas cidades, poderá promover uma evangelização mais pessoal, e, ao mesmo tempo, aumentar as relações positivas com os outros agentes sociais, educacionais e comunitários. (144)

Mais, «este tipo de paróquia renovada requer uma figura de pastor que, sobretudo, cultive uma profunda experiência de Cristo vivo, com espírito missionário, coração paterno, que seja animador da vida espiritual e evangelizador, capaz de promover a participação. A paróquia renovada necessita da colaboração dos leigos, de um animador da atividade pastoral e da capacidade do pastor de trabalhar com os demais. As paróquias na América se devem notar pelo espírito missionário, que as levem estender a própria ação fora dos próprios limites». (145)

Os diáconos permanentes

42. Por sérios motivos pastorais e teológicos, o Concílio Vaticano II decidiu restabelecer o diaconado como grau permanente da hierarquia na Igreja latina, deixando às Conferências Episcopais, com a aprovação do Sumo Pontífice, avaliar a oportunidade de instituir os diáconos permanentes e em quais lugares. (146) Trata-se de uma experiência muita diferenciada não só entre as distintas zonas da América, mas inclusive entre as dioceses da uma mesma região. «Algumas dioceses formaram e ordenaram bastantes diáconos, e estão plenamente satisfeitas da sua integração e do seu ministério». (147) Comprova-se aqui com alegria como os diáconos, «amparados pela graça sacramental, no ministério (diaconia) da liturgia, da palavra e da caridade estão a serviço do Povo de Deus, em comunhão com o Bispo e o seu presbitério». (148) Dioceses há que não encetaram este caminho, enquanto em outras existem dificuldades na integração dos diáconos permanentes no âmbito da estrutura hierárquica.

Ressalvada a liberdade das Igrejas particulares de restabelecer, com o consentimento do Sumo Pontífice, o diaconado como grau permanente, está claro que o sucesso da sua restauração implica um diligente processo de seleção, uma séria formação e uma atenção escrupulosa aos candidatos, bem como um cuidadoso acompanhamento tanto destes ministros sagrados, como também, no caso dos diáconos casados, da sua família, da mulher e dos seus filhos. (149)

A vida consagrada

43. A história da evangelização na América constitui um testemunho significativo do esforço missionário realizado por tantas pessoas consagradas que, desde o início, anunciaram o Evangelho, defenderam os direitos dos indígenas e, com amor heróico a Cristo, dedicaram-se ao serviço do Povo de Deus no Continente. (150) A contribuição das pessoas consagradas ao anúncio do Evangelho na América, continua sendo de enorme importância; trata-se de uma contribuição diferenciada conforme os carismas próprios de cada grupo: «os Institutos de vida contemplativa que testemunham o absoluto de Deus, os Institutos apostólicos e missionários que tornam presente Cristo nos mais distintos campos da existência humana, os Institutos seculares que ajudam a resolver a tensão entre a abertura real aos valores do mundo moderno e a profunda entrega de coração a Deus. Nascem, também, novos Institutos e novas formas de vida consagrada, que exigem discernimento evangélico». (151)

«Dado que o futuro da nova evangelização [...] é impensável sem uma renovada contribuição das mulheres, especialmente das mulheres consagradas», (152) é urgente favorecer sua participação nos vários setores da vida eclesial, inclusive nos processos onde se elaboram as decisões, sobretudo naquilo que se refere diretamente a elas. (153)

«Também hoje o testemunho da vida plenamente consagrada a Deus é uma eloqüente proclamação do fato que Ele basta para realizar plenamente a existência de qualquer pessoa». (154) Esta consagração ao Senhor se deve prolongar no generoso serviço à difusão do Reino de Deus. Por este motivo, nos umbrais do terceiro milênio ocorre conseguir «que a vida consagrada seja ainda mais estimada e promovida pelos Bispos, sacerdotes e comunidades cristãs, e que os consagrados, conscientes da alegria e da responsabilidade da sua vocação, se integrem plenamente na Igreja particular à qual pertencem e promovam a comunhão e a mútua colaboração». (155)

Os fiéis leigos e a renovação da Igreja

44. «A doutrina do Concílio Vaticano II sobre a unidade da Igreja, como Povo de Deus reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, destaca que são comuns à dignidade de todos os batizados a imitação e o seguimento de Cristo, a comunhão recíproca e o mandato missionário». (156) É necessário, portanto, que os fiéis leigos se conscientizem de sua dignidade de batizados. Por seu lado, os Pastores tenham profunda estima «do testemunho e da ação evangelizadora dos leigos que, inseridos no Povo de Deus com espiritualidade de comunhão, conduzem os irmãos ao encontro com Jesus Cristo vivo. A renovação da Igreja na América não será possível sem a presença ativa dos leigos. Por isso, lhes compete, em grande parte, a responsabilidade do futuro da Igreja». (157)

Duplo é o âmbito em que se realiza a vocação dos fiéis leigos. O primeiro, e mais condizente com o seu estado laical, é o das realidades temporais, que são chamados a ordenar conforme a vontade de Deus. (158) «De fato, com seu peculiar modo de agir, o Evangelho é levado dentro das estruturas do mundo e, "agindo em toda parte santamente, consagram a Deus o próprio mundo"». (159) Graças aos fiéis leigos, «a presença e a missão da Igreja no mundo se realiza, de modo especial, na variedade dos carismas e ministérios que possui o laicato. A secularidade é a nota característica e própria do leigo e da sua espiritualidade, que o leva a agir nos vários âmbitos da vida familiar, social, profissional, cultural e política, em vista da sua evangelização. Num Continente em que convivem a competição e a agressividade, o consumo desenfreado e a corrupção, os leigos são chamados a encarnar valores profundamente evangélicos como a misericórdia, o perdão, a honestidade, a transparência de coração e a paciência nas situações difíceis. Dos leigos espera-se uma grande força criadora em gestos e obras que manifestem uma vida coerente com o Evangelho». (160)

A América necessita de cristãos leigos em grau de assumir cargos de dirigentes na sociedade. É urgente formar homens e mulheres capazes de influir, segundo a própria vocação, na vida pública, orientando-a para o bem comum. No exercício da política, considerada no seu sentido mais nobre e autêntico de administração do bem comum, aqueles podem encontrar o caminho da própria santificação. Em vista disto, é necessário que sejam formados quer nos princípios e nos valores da doutrina social da Igreja, quer nas noções fundamentais da teologia do laicato. O conhecimento mais profundo dos princípios éticos e dos valores morais cristãos lhes permitirá tornar-se paladinos no seu ambiente, proclamando-os inclusive em relação à assim chamada «neutralidade do Estado». (161)

Um segundo âmbito no qual muitos fiéis leigos são chamados a trabalhar, é aquele que se poderia definir «intra-eclesial». São muitos os leigos na América que nutrem a legítima aspiração de contribuir com os seus talentos e carismas «na construção da comunidade eclesial, como delegados da Palavra, catequistas, visitadores de enfermos ou de detentos, animadores de grupos, etc.». (162) Os Padres Sinodais fizeram votos de que a Igreja reconheça algumas destas tarefas como ministérios laicais, baseados nos sacramentos do Batismo e da Confirmação, ressalvada porém a especificidade própria dos ministérios do Sacramento da Ordem. Trata-se de um tema vasto e complexo para cujo estudo, já há algum tempo, constituí uma específica Comissão, (163) e sobre o qual os Organismos da Santa Sé têm vindo aos poucos oferecendo algumas diretrizes. (164) É necessário promover a profícua colaboração dos fiéis leigos, homens e mulheres, bem preparados nas diversas atividades dentro da Igreja, evitando, contudo, que haja confusão com os ministérios ordenados e com as ações próprias do sacramento da Ordem, para distinguir claramente o sacerdócio comum dos fiéis daquele ministerial.

A este propósito, os Padres Sinodais sugeriram que as tarefas confiadas aos leigos sejam bem «diferenciadas das que constituem etapas em direção ao ministério ordenado», (165) e que os candidatos ao sacerdócio recebem antes do Presbiterado. Foi também observado que tais tarefas laicais «não devem ser conferidas a não ser a pessoas, homens ou mulheres, que receberam a formação requerida, segundo critérios precisos: uma certa constância, uma disponibilidade real em relação a um determinado grupo de pessoas, a obrigação de prestar contas ao próprio Pastor». (166) De qualquer forma, mesmo devendo-se estimular o apostolado intra-eclesial, é preciso que este coexista com a atividade própria dos leigos, em que eles não podem ser substituídos pelos sacerdotes, isto é, o campo das realidades temporais.

Dignidade da mulher

45. Deve ser reservada especial atenção à vocação da mulher. Em outras ocasiões, eu quis exprimir o meu apreço pela contribuição específica da mulher no progresso da humanidade e reconhecer a legitimidade das suas aspirações a participar plenamente na vida eclesial, cultural, social e econômica. (167) Sem tal participação, viriam a faltar algumas riquezas que só o «gênio feminino» (168) pode contribuir à vida da Igreja e da mesma sociedade. Não reconhecê-lo constituiria uma injustiça histórica especialmente na América, se se leva em consideração a contribuição das mulheres no desenvolvimento material e cultural do Continente, como também na transmissão e conservação da fé. De fato, «o seu papel foi decisivo sobretudo na vida consagrada, na educação, na assistência sanitária». (169)

Infelizmente, em muitas regiões do Continente americano a mulher é ainda objeto de discriminação. Por isso, pode-se dizer que a face dos pobres na América é ainda a face de muitas mulheres. Eis porque os Padres Sinodais falaram de um «aspecto feminino da pobreza». (170) A Igreja sente-se no dever de insistir sobre a dignidade humana comum a toda pessoa. Ela «denuncia a discriminação, o abuso sexual e a prepotência masculina como ações contrárias ao plano de Deus». (171) De modo particular, ela deplora como abominável a esterilização, às vezes programada, das mulheres, sobretudo das mais pobres e marginalizadas, que está sendo praticada, com freqüência subreticiamente, à revelia das mesmas interessadas; mais grave ainda quando se recorrem a tais meios, para conseguir ajudas econômicas a nível internacional.

A Igreja no Continente sente-se levada a intensificar a atenção das mulheres e a defendê-las «para que a sociedade na América ajude ainda mais a vida familiar baseada sobre o matrimônio, proteja ainda mais a maternidade e tenha mais respeito pela dignidade de todas as mulheres». (172) Deve-se ajudar as mulheres americanas a tomar parte ativa e responsável na vida e na missão da Igreja, (173) como também é preciso reconhecer a necessidade da sua sabedoria e colaboração nas funções diretivas da sociedade americana.

Os desafios para a família cristã

46. «Deus Criador, formando o primeiro homem e a primeira mulher, e ordenando-lhes "sede fecundos e multiplicai-vos" (Gn 1, 28), constituiu definitivamente a família. Neste santuário nasce a vida e é acolhida como um dom de Deus. A Palavra divina, lida assiduamente na família, edifica-a aos poucos como igreja doméstica e fá-la fecunda em humanidade e virtudes cristãs; ali se encontra a fonte das vocações. A devoção mariana, alimentada pela oração, conservará unida a família em atitude de oração com Maria, como os discípulos de Jesus antes de Pentecostes (cf. At 1, 14)». (174) São muitas as insídias que ameaçam a solidez da instituição familiar na maior parte dos Países da América, e constituem iguais desafios para os cristãos. Entre outros, deve-se mencionar o aumento dos divórcios, a difusão do aborto, do infanticídio e da mentalidade antinatalista. Diante desta situação é preciso reafirmar «que o fundamento da vida humana é a relação conjugal entre o marido e a mulher, relação que entre os cristãos é sacramental». (175)

É urgente, portanto, uma ampla obra de catequese acerca do ideal cristão da comunhão conjugal e da vida familiar, que inclua uma espiritualidade da paternidade e da maternidade. Maior atenção pastoral vai dirigida ao papel dos homens como maridos e como pais, bem como a responsabilidade que compartilham com as esposas respeito ao matrimônio, à família e à educação dos filhos. Tampouco se omita uma séria preparação dos jovens antes do casamento, na qual seja apresentada com clareza a doutrina católica sobre este sacramento, a nível teológico, antropológico e espiritual. Num Continente caracterizado por um notável crescimento demográfico, como é a América, devem-se aumentar continuamente as iniciativas pastorais dirigidas às famílias.

Por ser verdadeiramente «igreja doméstica», (176) a família cristã é chamada a constituir o âmbito em que os pais transmitem a fé, devendo ser «para seus filhos, com a palavra e com o exemplo, os primeiros anunciadores da fé». (177) Não falte na família a prática da oração realizada pelos conjuges, em união com os filhos. Devem ser favorecidos, a este respeito, momentos em comum de vida espiritual: a participação à Eucaristia nos dias de preceito, a prática do sacramento da Reconciliação, a oração quotidiana em família e gestos concretos de caridade. Assim será consolidada a fidelidade no matrimônio e a unidade da família. Num ambiente familiar com estas características, não será difícil que os filhos saibam descobrir sua vocação ao serviço da comunidade e da Igreja e que aprendam, especialmente à luz do exemplo dos seus pais, que a vida familiar é um caminho para realizar a vocação universal à santidade. (178)

Os jovens, esperança do futuro

47. Os jovens são uma grande força social e de evangelização. Eles «constituem uma numerosíssima parte da população em muitas nações americanas. No seu encontro com Cristo vivo, se alicerçam as esperanças e expectativas por um futuro de maior comunhão e solidariedade para a Igreja e as sociedades na América». (179) São evidentes os esforços empregados pelas Igrejas particulares no Continente, para acompanhar os adolescentes no itinerário catequético antes da Confirmação e dos outros apoios que lhes oferecem, a fim de que progridam na aproximação a Cristo e no conhecimento do Evangelho. O itinerário formativo dos jovens deve ser constante e dinâmico, apto para ajudá-los a encontrar seu lugar na Igreja e no mundo. A pastoral da juventude, portanto, deve estar entre as preocupações primárias dos Pastores e das comunidades.

Na verdade, muitos são os jovens americanos que vão em busca de um autêntico significado a dar à própria vida e que vivem sedentos de Deus, faltam porém, com freqüência, as condições adequadas para fazer frutificar suas capacidades e realizar suas aspirações. Infelizmente, a falta de maturidade e de perspectivas para o futuro os leva, às vezes, à marginalização e à violência. A sensação de frustração, que experimentam por tudo isso, não raro os conduz a abandonar a busca de Deus. Diante de uma situação tão complexa, «a Igreja empenha-se em manter sua opção pastoral e missionária pelos jovens, para que possam encontrar hoje a Jesus Cristo vivo». (180)

A ação pastoral da Igreja logra alcançar muitos destes adolescentes e jovens, mediante a animação cristã da família, a catequese, as instituições educacionais católicas e a vida comunitária na paróquia. Mas existem muitos outros, especialmente entre os que sofrem várias formas de pobreza, que se situam fora âmbito da atividade eclesial. Devem ser os jovens cristãos, formados numa consciência missionária amadurecida, os apóstolos dos seus coetâneos. Faz falta uma ação pastoral que alcance os jovens nos seus vários ambientes: nos colégios, nas universidades, no mundo do trabalho, nos ambientes rurais, com uma adaptação apropriada à sua sensibilidade. Será também oportuno desenvolver, no âmbito paroquial e diocesano, uma atividade pastoral da juventude que leve em conta a evolução do mundo dos jovens, que procure dialogar com eles, que não exclua as ocasiões propícias para encontros mais amplos, que anime as iniciativas locais e valorize o que já se realiza à nível interdiocesano e internacional.

Que fazer com os jovens que revelam atitudes imaturas de certa inconstância, e dificuldade para assumir compromissos sérios e definitivos? Diante desta carência de maturidade é necessário convidar os jovens a serem corajosos, formando-os para apreciar o valor do compromisso para toda a vida, como no caso do sacerdócio, da vida consagrada e do matrimônio cristão. (181)

Acompanhar a criança no seu encontro com Cristo

48. As crianças são dom e sinal da presença de Deus. «É preciso acompanhar a criança no seu encontro com Cristo, desde o Batismo até a primeira Comunhão, pois ela faz parte da comunidade viva de fé, esperança e caridade». (182) A Igreja agradece a dedicação dos pais, dos mestres, dos agentes da pastoral, sociais e da saúde, e a todos os que estão a serviço da família e das crianças com a mesma atitude de Jesus Cristo que diz: «Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais. Porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham» (Mt 19, 14).

Com razão os Padres Sinodais lamentam e condenam a triste condição de muitas crianças em toda a América, privadas da dignidade, da inocência e inclusive da vida. «Esta condição inclui a violência, a pobreza, a falta de casa e de uma adequada assistência sanitária e educacional, os prejuízos da droga e do álcool e outros estados de abandono e de abuso». (183) A este respeito, no Sínodo foi especialmente mencionada a problemática do abuso sexual das crianças e da prostituição infantil, e os Padres lançaram um fervente apelo «a todos os que estão constituídos de autoridade na sociedade, a fim de que, como exigência prioritária, façam tudo o que está ao seu alcance para aliviar o sofrimento das crianças na América». (184)

Elementos de comunhão com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais

49. Entre a Igreja católica e as outras Igrejas e Comunidades eclesiais existe um esforço de comunhão que se enraiza no Batismo administrado em cada uma delas. (185) É um esforço que se alimenta pela oração, o diálogo e a ação comum. Os Padres Sinodais quiseram exprimir uma especial vontade de «colaboração no diálogo já encetado com a Igreja ortodoxa, com a qual temos muitos elementos em comum de fé, de vida sacramental e de piedade». (186) São múltiplas as propostas concretas da Assembléia Sinodal, sobre o conjunto das Igrejas e Comunidades eclesiais cristãs não católicas. Se sugere, em primeiro lugar, «que os cristãos católicos, pastores e fiéis, promovam o encontro dos cristãos das diferentes confissões, na colaboração, em nome do Evangelho, para responder ao grito dos pobres, com a promoção da justiça, a oração em comum pela unidade e a participação na Palavra de Deus e na experiência da fé em Cristo vivo». (187) Deve-se estimular também, quando for oportuno e conveniente, as reuniões de peritos das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais para facilitar o diálogo ecumênico. O ecumenismo deve ser objeto de reflexão e de comunicação de experiências entre as distintas Conferências Episcopais católicas do Continente.

Apesar de que o Concílio Vaticano II se refira a todos os batizados e crentes em Cristo como a «irmãos no Senhor», (188) é necessário saber distinguir com clareza as comunidades cristãs, com as quais é possível estabelecer relações inspiradas na dinâmica ecumênica, das seitas, cultos e outros movimentos religiosos falazes.

Relação da Igreja com as comunidades hebraicas

50. Na sociedade americana existem também comunidades de hebreus, com as quais a Igreja instaurou nestes últimos anos uma ampla colaboração. (189) Na história da salvação, é evidente a nossa especial relação com o povo hebraico. Dele faz parte Jesus, que deu início à sua Igreja dentro da Nação judaica. Grande parte da Sagrada Escritura, que nós cristãos lemos como Palavra de Deus, constitui um patrimônio espiritual comum com os hebreus. (190) Deve-se, portanto, evitar qualquer atitude negativa a seu respeito, pois, «para abençoar o mundo, é necessário que os Hebreus e os Cristãos sejam primeiramente bênção uns aos outros». (191)

Religiões não cristãs

51. Quanto às religiões não cristãs, a Igreja católica não rejeita nada do que há nelas de verdadeiro e de santo. (192) Por isso, com relação às outras religiões, os católicos pretendem ressaltar os elementos de verdade onde quer que estejam, mas, ao mesmo tempo, testemunham com vigor a novidade da revelação de Cristo conservada na sua integridade pela Igreja. (193) Coerentemente com esta atitude, eles rejeitam como alheia ao espírito de Cristo qualquer discriminação ou perseguição contra pessoas devido à sua raça, cor, condição de vida ou de religião. A diferença de religião jamais deve ser motivo de violência ou de guerra. Pelo contrário, pessoas de distintas crenças devem sentir-se levadas, precisamente por causa da própria adesão a elas, a trabalhar unidas pela paz e pela justiça.

«Os muçulmanos, como os cristãos e os hebreus, chamam a Abraão seu pai. Este fato deve garantir que, em toda a América, estas três comunidades vivam em harmonia e trabalhem juntas pelo bem comum. Da mesma forma, a Igreja na América deve esforçar-se por incentivar o mútuo respeito e as boas relações com as religiões nativas americanas». (194) Análoga atitude deve ser promovida com relação aos grupos de induistas e budistas ou de outras religiões, que os recentes fluxos migratórios, provindos de países orientais, levaram à terra americana.