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Exortação Apostólica Pós-Sinodal
ECCLESIA IN AMERICA

II. O ENCONTRO COM JESUS CRISTO NA AMÉRICA DE HOJE

«A quem muito se deu, muito será exigido» (Lc 12, 48)

A situação dos homens e mulheres da América e seu encontro com o Senhor

13. Nos Evangelhos narram-se os encontros com Cristo de pessoas nas mais distintas situações. Trata-se, às vezes, de situações de pecado, que revelam a necessidade da conversão e do perdão do Senhor. Em outras situações, emergem atitudes positivas de busca da verdade, de autêntica confiança em Jesus, que favorecem a criação de uma relação de amizade com Ele e estimulam o desejo de imitá-Lo. Não podem, da mesma forma, ser esquecidos os dons com os quais o Senhor prepara alguns para um encontro posterior. Assim é que Deus tornando Maria desde o primeiro instante «cheia de graça» (Lc 1, 28), preparou-A tendo em vista a realização nEla do seu mais elevado encontro com a natureza humana: o mistério inefável da Encarnação.

Visto que tanto os pecados como as virtudes sociais não existem em abstrato, mas provêm de atos pessoais, (31) é necessário ter presente que a América é hoje uma realidade complexa, fruto das tendências e modos de agir dos homens e mulheres que nela vivem. É nesta situação real e concreta que estes devem encontrar-se com Jesus.

A identidade cristã da América

14. O maior dom que a América recebeu do Senhor é a fé que forjou sua identidade cristã. Já são mais de quinhentos anos que o nome de Cristo foi anunciado no Continente. Fruto da evangelização que acompanhou os movimentos migratórios da Europa é a fisionomia religiosa americana, marcada por valores morais que, mesmo nem sempre vividos com coerência e em certas ocasiões postos em discussão, podem ser considerados, de certo modo, patrimônio de todos os habitantes da América, inclusive daqueles que não o reconhecem explicitamente. É evidente que a identidade cristã da América não pode ser considerada como sinônimo de identidade católica. A presença de outras confissões cristãs em grau maior ou menor nas diversas partes da América, torna particularmente urgente o empenho ecumênico, para procurar a unidade de todos os crentes em Cristo. (32)

Frutos de santidade

15. A expressão e os frutos mais sublimes da identidade cristã da América são os Santos. Neles, o encontro com Cristo vivo «é tão comprometedor e profundo [...] que se converte em fogo que os consuma totalmente e os leva a construir o seu Reino, a ponto de fazer dEle e da nova aliança o sentido e a alma [...] da vida pessoal e comunitária». (33) A América viu florescer os frutos da santidade desde os inícios da sua evangelização. É o caso de S. Rosa de Lima (1586-1617), «a primeira flor de santidade do Novo Mundo», proclamada padroeira principal da América em 1670 pelo Papa Clemente X. (34) Começando por ela, o santoral americano foi crescendo até alcançar sua atual extensão. (35) As beatificações e canonizações, com as quais muitos filhos e filhas do Continente foram elevados à honra dos altares, oferecem modelos heróicos de vida cristã segundo a diversidade de estados e dos ambientes sociais. A Igreja, beatificando-os ou canonizando-os, indica-os como poderosos intercessores unidos a Cristo, sumo e eterno Sacerdote, mediador entre Deus e os homens. Os Beatos e os Santos da América acompanham com fraterna solicitude os homens e mulheres seus conterrâneos, entre alegrias e sofrimentos, até o encontro definitivo com o Senhor. (36) Para facilitar uma sempre maior imitação deles e um mais freqüente e frutuoso recurso por parte dos fiéis à sua intercessão, considero muito oportuna a proposta dos Padres Sinodais de se preparar «uma coleção de breves biografias dos Santos e Beatos americanos. Isto poderá iluminar e estimular na América a resposta à vocação universal à santidade». (37)

Entre os seus Santos, «a história da evangelização da América conta numerosos mártires, homens e mulheres, bispos e presbíteros, religiosos e leigos que com o seu sangue banharam [...] [estas] nações. Como uma nuvem de testemunhas (cf. Hb 12, 1), eles nos estimulam a assumir hoje, sem medo e com ardor, a nova evangelização».(38) É preciso que os seus exemplos de dedicação sem limites à causa do Evangelho sejam não só preservados do esquecimento, mas mais conhecidos e difundidos entre os fiéis do Continente. A este respeito, eu escrevia na Tertio millennio adveniente: «As Igrejas locais tudo façam para não deixar perecer a memória daqueles que sofreram o martírio, recolhendo a necessária documentação». (39)

A piedade popular

16. Uma característica particular da América consiste na existência de uma intensa piedade popular radicada nas diversas nações. Ela se encontra em todos os níveis e setores sociais, assumindo uma importância especial como lugar de encontro com Cristo para aqueles que, com espírito de pobreza e humildade de coração, buscam a Deus com sinceridade (cf. Mt 11, 25). Numerosas são tais expressões de piedade: «As peregrinações aos Santuários de Cristo, da Bem-aventurada Virgem e dos Santos, a oração pelas almas do purgatório, o uso dos sacramentais (água, óleo, círios...). Estas e muitas outras expressões de piedade popular oferecem aos fiéis a oportunidade de encontrar a Cristo vivo». (40) Os Padres Sinodais chamaram a atenção para a urgência de descobrir, nas manifestações da religiosidade popular, os verdadeiros valores espirituais, para enriquecê-los com os elementos da genuina doutrina católica, a fim de que tal religiosidade possa conduzir a um compromisso sincero de conversão e a uma experiência concreta de caridade. (41) A piedade popular, se for convenientemente orientada, contribui também para aumentar nos fiéis a consciência da própria pertença à Igreja, nutrindo o seu fervor e oferecendo assim uma válida resposta para os desafios atuais da secularização. (42)

Uma vez que, na América, a piedade popular é expressão da inculturação da fé católica e muitas das suas manifestações assumiram formas religiosas autóctonas, não se deve subestimar a possibilidade de recolher dela também, sempre iluminados pela prudência, válidas indicações para uma maior inculturação do Evangelho. (43) Isto possui suma importância especialmente entre as populações indígenas, para que as «sementes do Verbo» presentes na sua cultura alcancem a plenitude em Cristo. (44) O mesmo diga-se a respeito dos americanos de origem africana. A Igreja «reconhece que tem a obrigação de se aproximar destes americanos valendo-se da sua cultura, considerando seriamente as riquezas espirituais e humanas de tal cultura, que caracteriza o seu modo de celebrar o culto, o sentido de alegria e de solidariedade, sua língua e suas tradições».(45)

Presença católica-oriental

17. A imigração na América constitui quase uma constante da sua história, desde o início da evangelização até os nossos dias. No âmbito deste fenômeno complexo, convêm assinalar que, ultimamente, diversas regiões da América acolheram numerosos membros das Igrejas católicas orientais, que, por várias razões, abandonaram seu território de origem. Um primeiro movimento migratório provinha sobretudo da Ucrâina ocidental; depois, estendeu-se às nações do Oriente Médio. Tornou-se, assim, pastoralmente necessária a criação de uma hierarquia católica oriental para estes fiéis imigrados e seus descendentes. As normas, emanadas pelo Concílio Vaticano II e recordadas pelos Padres Sinodais, reconhecem que as Igrejas Orientais «têm o direito e o dever de se governarem segundo as próprias disciplinas particulares», cabendo-lhes a missão de dar testemunho de uma antiquíssima tradição doutrinal, litúrgica e monástica. Por outro lado, estas Igrejas devem conservar as próprias disciplinas, porque são «mais conformes aos costumes dos seus fiéis e resultam mais aptas para promover o bem das almas».(46) Se à Comunidade eclesial universal é necessária a sinergia entre as Igrejas particulares do Oriente e do Ocidente para permitir que respire com os dois pulmões, na esperança de que o faça plenamente através da perfeita comunhão entre a Igreja católica e as Igrejas orientais separadas, (47) só pode ser motivo de alegria a recente implantação na América das Igrejas orientais ao lado das latinas, ali presentes desde os começos, para que assim possa se manifestar melhor a catolicidade da Igreja do Senhor.(48)

A Igreja no campo da educação e da ação social

18. Entre os fatores que favorecem o influxo da Igreja na formação cristã dos americanos, deve-se ressaltar sua vasta presença no campo da educação, especialmente no mundo universitário. As numerosas Universidades católicas espalhadas no Continente constituem um aspecto característico da vida eclesial na América. Da mesma forma, no âmbito do ensino primário e secundário, o elevado número de escolas católicas oferece a possibilidade de uma ação evangelizadora do mais alto alcance, desde que seja acompanhada por uma vontade decidida a fornecer uma educação realmente cristã. (49)

Outro campo importante onde a Igreja acha-se presente em toda parte da América é a assistência caritativa e social. As múltiplas iniciativas a favor dos idosos, dos enfermos e dos que passam necessidade, tais como asilos, hospitais, dispensários, refeições gratuitas e outros centros sociais, são testemunho palpável do amor preferencial que a Igreja na América nutre pelos pobres, movida pelo amor do Senhor e ciente de que «Jesus Se identificou com eles (cf. Mt 25, 31-46)». (50) Nesta tarefa que não conhece fronteiras, ela soube criar uma consciência de solidariedade concreta entre as diversas comunidades do Continente e do mundo inteiro, manifestando assim a fraternidade que deve caracterizar os cristãos de todos os tempos e lugares.

O serviço aos pobres, para que seja evangélico e evangelizador, deve ser um reflexo fiel da atitude de Jesus, que veio «para anunciar aos pobres a Boa Nova» (Lc 4, 18). Se realizado com este espírito, torna-se uma manifestação do amor infinito de Deus por todos os homens e um modo significativo de transmitir a esperança de salvação que Cristo trouxe ao mundo, e que resplandece de modo particular quando é comunicada aos abandonados ou rejeitados pela sociedade.

Esta constante dedicação pelos pobres e excluídos da sociedade se reflete no Magistério social da Igreja, que não se cansa de convidar a comunidade cristã a comprometer-se a superar toda forma de exploração e de opressão. Trata-se, de fato, não só de aliviar as necessidades mais graves e urgentes através de ações individuais ou esporádicas, mas de pôr em evidência as raízes do mal, sugerindo iniciativas que dêem às estruturas sociais, políticas e econômicas uma configuração mais justa e solidária.

Crescente respeito pelos direitos humanos

19. Na esfera civil, mas com diretas implicações morais, devem-se assinalar, entre os aspectos positivos da América de hoje, a crescente afirmação em todo o Continente de sistemas políticos democráticos e a progressiva redução dos regimes ditatoriais. A Igreja vê com simpatia esta evolução, na medida em que favorece cada vez mais claramente o respeito pelos direitos individuais, inclusive aqueles do inquirido e do réu, contra os quais não é legítimo recorrer a métodos de detenção e indagação — especialmente quando referidos à tortura — ofensivos à dignidade humana. «O estado de direito é, com efeito, a condição necessária para estabelecer uma verdadeira democracia». (51)

De resto, a existência de um estado de direito implica, nos cidadãos e mais ainda na classe dirigente, a convicção de que a liberdade não pode ser desvinculada da verdade.(52) De fato, «os graves problemas que ameaçam a dignidade da pessoa humana, a família, o matrimônio, a educação, a economia e as condições de trabalho, a qualidade da vida e a mesma vida, colocam a questão do direito».(53) Por este motivo, os Padres Sinodais afirmaram justamente que «os direitos fundamentais da pessoa humana estão inscritos na mesma natureza, são queridos por Deus e, portanto, exigem seu universal respeito e aceitação. Nenhuma autoridade humana pode transgredi-los, fazendo apelo a maiorias ou a consensos políticos, com o pretexto de que deste modo são respeitados o pluralismo e a democracia. A Igreja deve, por isso, empenhar-se na formação e acompanhamento dos leigos que atuam no âmbito legislativo, no governo e na administração da justiça, a fim de que as leis exprimam sempre princípios e valores morais que estejam de acordo com uma sadia antropologia e que tenham presente o bem comum».(54)

O fenômeno da globalização

20. A tendência à globalização é característica do mundo contemporâneo; fenômeno esse que, mesmo não sendo exclusivamente americano, é mais perceptível e tem maiores repercussões na América. Trata-se de um processo que fica a dever à maior comunicação existente entre as diversas partes do mundo, na prática levando à superação das distâncias, com evidentes efeitos nos mais distintos campos.

As repercussões do ponto de vista ético podem ser positivas ou negativas. Existe, certamente, uma globalização econômica que traz em si algumas conseqüências positivas, tais como o fenômeno da eficiência e o aumento da produção e que, com o crescimento das relações entre os diversos países no âmbito econômico, pode reforçar o processo da unidade dos povos e prestar um melhor serviço à família humana. Porém, se a globalização é dirigida pelas puras leis do mercado aplicadas conforme a conveniência dos mais poderosos, as conseqüências só podem ser negativas. Tais são, por exemplo, a atribuição de um valor absoluto à economia, o desemprego, a diminuição e o deterioramento de alguns serviços públicos, a destruição do ambiente e da natureza, o aumento das diferenças entre ricos e pobres, a concorrência injusta que põe as nações pobres numa situação de inferioridade sempre mais acentuada. (55) A Igreja, mesmo estimando os valores positivos que comporta a globalização, vê com preocupação os aspectos negativos por ela veiculados.

E que dizer, então, da globalização cultural produzida por pressão dos meios de comunicação social? Estes impõem em toda a parte novas escalas de valores, com freqüência arbitrários e fundamentalmente materialistas, diante dos quais é difícil manter viva a adesão aos valores do Evangelho.

Urbanização crescente

21. Cresce também na América o fenômeno da urbanização. Desde alguns lustros o Continente está experimentando um contínuo êxodo do campo em direção à cidade. Trata-se de um fenômeno complexo, já descrito pelo meu predecessor Paulo VI. (56) As causas são distintas, mas dentre elas sobressaem principalmente a pobreza e o subdesenvolvimento das zonas rurais, onde faltam freqüentemente serviços públicos, comunicações, estruturas educacionais e sanitárias. Além disso, a cidade, apresentada amiúde pelos meios de comunicação social como lugar de diversão e bem-estar, exerce uma especial atração sobre o povo simples do campo.

A freqüente falta de planificação neste processo é fonte de muitos males. Como apontavam os Padres Sinodais, «em certos casos, algumas zonas das cidades são como ilhas onde se acumula a violência, a delinqüência juvenil e a atmosfera de desespero».(57) O fenômeno da urbanização apresenta grandes desafios para a ação pastoral da Igreja, a qual deve enfrentar o desenraizamento cultural, a perda dos costumes familiares, o abandono das próprias tradições religiosas, com o resultado bastante freqüente do naufrágio da fé, privada daquelas manifestações que contribuíam a sustentá-la.

Evangelizar a cultura urbana constitui um formidável desafio para a Igreja, que, assim como durante séculos soube evangelizar a cultura rural, da mesma forma é também chamada hoje a levar a cabo uma evangelização urbana metódica e capilar através da catequese, da liturgia e do mesmo modo de organizar as próprias estruturas pastorais. (58)

O peso da dívida externa

22. Os Padres Sinodais manifestaram sua preocupação pela dívida externa que aflige muitas nações americanas, solidarizando-se com elas. Eles chamam com vigor a atenção da opinião pública para a complexidade do tema, ao reconhecerem que «a dívida é, com freqüência, fruto da corrupção e da má administração». (59) Na linha da reflexão sinodal, tal reconhecimento não pretende concentrar somente num pólo as responsabilidades de um fenômeno extremamente complexo na sua origem e nas suas soluções. (60)

Assim, entre as causas que contribuíram para a formação de uma dívida externa opressiva, assinalam-se não só as elevadas taxas de juros, fruto de políticas financeiras especulativas, mas também a irresponsabilidade de alguns governantes que, ao contrair a dívida, não refletiram suficientemente sobre as reais possibilidades de saldá-la, com a agravante de que enormes somas, obtidas graças aos empréstimos internacionais, servem às vezes para enriquecer as pessoas individualmente, em vez de destiná-las a sustentar as mudanças necessárias para o desenvolvimento do país. Por outro lado, seria injusto fazer pesar as conseqüências de tais decisões irresponsáveis sobre quem não as assumiu. Compreende-se ainda melhor a gravidade da situação se se leva em conta que «só o pagamento dos juros já constitui para a economia das nações pobres um peso que priva as autoridades da disponibilidade do dinheiro necessário para o desenvolvimento social, a educação, a saúde e a instituição de um fundo gerador de empregos». (61)

A corrupção

23. A corrupção, muitas vezes presente entre as causas da dívida pública opressora, é um grave problema que deve ser considerado com atenção. A corrupção, «sem limites de fronteiras, envolve a pessoas, estruturas públicas e privadas de poder, e as classes dirigentes». Trata-se de uma situação que «favorece a impunidade e a acumulação ilícita de dinheiro, a falta de confiança nas instituições públicas, sobretudo na administração da justiça e nos investimentos públicos, nem sempre transparentes, iguais para todos e eficazes». (62)

A este respeito, desejo lembrar aqui o que escrevi na Mensagem para Jornada Mundial da Paz de 1998, ou seja que a praga da corrupção deve ser denunciada e combatida com tenacidade pelos que detêm a autoridade, e com «o apoio generoso de todos os cidadãos, sustentados por uma forte consciência moral». (63) Apropriados órgãos de controle e a transparência das transações econômicas e financeiras servem para melhor prevenir e evitam em muitos casos o aumento da corrupção, cujas nefastas conseqüências terminam atingindo principalmente os mais pobres e abandonados. São sempre os pobres os primeiros que sofrem com os atrasos, a ineficiência, a falta de uma adequada defesa e das carências estruturais, quando a corrupção atinge a mesma administração da justiça.

O comércio e o consumo de droga

24. O comércio, com o conseqüente consumo de substâncias entorpecentes, constitui uma séria ameaça para as estruturas sociais das nações americanas. Isto «contribui para a criminalidade e a violência, para a destruição da vida familiar e da vida física e psicológica de muitos indivíduos e comunidades, sobretudo dos jovens. Além disso, corrói a dimensão ética do trabalho, favorecendo o aumento de pessoas recluídas em cárceres, numa palavra, o envilecimento da pessoa criada à imagem de Deus». (64) Um comércio tão funesto como este causa, ademais, a «destruição de governos, corroendo a segurança econômica e a estabilidade das nações». (65) Nos encontramos aqui diante de um dos desafios mais urgentes que muitas nações no mundo devem enfrentar: é, de fato, um desafio que põe em causa grande parte das vantagens conseguidas nos últimos tempos pelo progresso da humanidade. Para algumas nações na América, a produção, o tráfico e o consumo de drogas constituem fatores que comprometem seu prestígio internacional, pois reduzem sua credibilidade e tornam mais difícil aquela auspiciada colaboração com outros países, tão necessária em nossos dias para o desenvolvimento harmônico de todos os povos.

A preocupação pela ecologia

25. «E Deus viu que isto era bom» (Gn 1, 25). Estas palavras que lemos no primeiro capítulo do livro do Gênesis, oferecem o sentido da obra realizada por Ele. O Criador entrega ao homem, coroação de todo o processo criador, o cultivo da terra (cf. Gn 2, 15). Daí nascem para cada indivíduo específicas obrigações no que diz respeito à ecologia. O seu cumprimento supõe a abertura para uma perspectiva espiritual e ética que supere as atitudes e «os estilos de vida egoístas que acarretam o esgotamento das reservas naturais». (66)

Também neste setor, de tanta atualidade hoje em dia, a intervenção dos fiéis crentes é muitíssimo importante. É necessária a colaboração de todos os homens de boa vontade com as instâncias legislativas e governamentais, para conseguir uma proteção eficaz do ambiente, considerado como dom de Deus. Quantos abusos e prejuízos ecológicos não há inclusive em muitas regiões americanas! Pense-se na emissão descontrolada de gases nocivos ou no dramático fenômeno dos incêndios florestais, provocados por vezes intencionalmente por pessoas movidas por interesses egoistas. Estas devastações podem conduzir a uma real desertificação em muitas zonas da América, com as inevitáveis conseqüências de fome e miséria. O problema chega atingir especial entidade na floresta amazônica, imenso território que interessa a várias nações: do Brasil à Guiânia, ao Suriname, à Venezuela, à Colômbia, ao Equador, ao Perú e à Bolívia. (67) Trata-se de um dos espaços naturais mais apreciados no mundo pela sua diversidade biológica, que o torna vital para o equilíbrio ambiental de todo o planeta.