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Princípios
69. Necessidade da formação permanente
A formação permanente é exigência que nasce e que se desenvolve a partir da recepção do sacramento da Ordem, com o qual o sacerdote é não só «consagrado» pelo Pai, e «enviado» pelo Filho, como também é «animado» pelo Espírito Santo. Portanto, ela provém duma graça que liberta uma força sobrenatural, destinada a assimilar progressivamente, e em termos cada vez mais amplos e profundos, toda a vida e acção do presbítero na fidelidade ao dom recebido: «Recordo-te — escreve S. Paulo — que reavives o dom que está em ti» (2 Tim 1, 6).
Trata-se duma necessidade intrínseca ao próprio dom divino,(226) que deve ser quotidianamente vivificado para que o presbítero possa responder adequadamente à sua vocação. Com efeito, enquanto homem historicamente situado, ele tem necessidade de aperfeiçoar-se em todos os aspectos da sua existência humana e espiritual para poder alcançar aquela conformação com Cristo que é o princípio unificante de tudo.
As transformações rápidas e difundidas e um tecido social frequentemente secularizado, típicos do mundo contemporâneo, são factores que tornam absolutamente iniludível o dever do presbítero estar adequadamente preparado para não perder a sua identidade e para responder às necessidades da nova evangelização. A este dever grave corresponde um direito expresso por parte dos fiéis sobre os quais recaem positivamente os efeitos da boa formação e da santidade dos sacerdotes,(227)
70. Trabalho continuo sobre si mesmos
A vida espiritual do sacerdote e o seu ministério pastoral estão unidos ao contínuo trabalho de perfeição pessoal de modo a aprofundar e reunir em síntese harmoniosa quer a formação espiritual, quer a humana, intelectual e pastoral. Este trabalho, que deve ini ciar no tempo de seminário, deve ser promovido pelos Bispos a vários níveis: nacional, regional e, sobretudo, diocesano.
Constitui um motivo de encorajamento constatar que são já muitas as Dioceses e as Conferências Episcopais que actualmente estão a promover iniciativas prometedoras em ordem a realizar uma verdadeira formação permanente dos seus sacerdotes. Deseja-se que todas as Dioceses possam responder a esta necessidade. Todavia, onde isto ainda não for possível, è desejável que elas se metam de acordo com outras, ou entrem em contacto com instituições ou pessoas, particularmente preparadas para a realização de tarefa tão delicada.(228)
71. Instrumento de santificação
A formação permanente apresenta-se como um meio necessário ao presbítero de hoje para conseguir o fim da sua vocação, que é o serviço de Deus e do seu Povo.
Na prática, ela consiste em ajudar todos os sacerdotes a responder generosamente ao empenho requerido pela dignidade e responsabilidade que Deus lhe conferiu por meio do sacramento da Ordem; em guardar, defender e desenvolver a sua específica identidade e vocação; em santificar-se a si mesmos e aos outros mediante o exercício do ministério.
Isto significa que o presbítero deve evitar toda a espécie de dualismo entre a espiritualidade e a ministerialidade, origem profunda dalgumas crises.
É claro que para conseguir estas finalidades de ordem sobrenatural, devem ser descobertos e analisados os critérios gerais sobre os quais se deve estruturar a formação permanente dos presbíteros.
Tais critérios ou princípios gerais de organização devem ser pensados a partir da finalidade que nos propomos ou, melhor dizendo, devem ser procurados nela.
72. Dada pela lgreja
A formação permanente é um direito-dever do presbítero e dá-la é um direito-dever da Igreja. Por isso, ele está estabelecido na lei universal.(229) Com efeito, como a vocação ao sagrado ministério se recebe na Igreja, assim, só à Igreja compete ministrar a formação específica de acordo com a responsabilidade própria de tal ministério. Portanto, sendo a formação permanente uma actividade ligada ao exercício do sacerdócio ministerial, pertence à responsabilidade do Papa e dos Bispos. A Igreja tem por isso o dever e o direito de continuar a formar os seus ministros, ajudando-os a progredir na resposta generosa ao dom que Deus lhes concedeu.
Por sua vez, o ministro recebeu também, como exigência do dom conexo com a ordenação, o direito de ter a ajuda necessária por parte da Igreja para realizar eficaz e santamente o seu serviço.
73. Formação Permanente
A actividade de formação baseia-se numa exigência dinamica, intrínseca ao carisma ministerial, que é em si mesmo permanente e irreversível. Por conseguinte, ela nunca se pode considerar terminada, nem por parte da Igreja que a dá, nem por parte do ministro que a recebe. É necessário, portanto, pensá-la e desenvolvê-la de maneira que todos os presbíteros pos sam recebê-la sempre, tendo em conta as possibilidades e características resultantes das variações da idade, da condição de vida e das tarefas atribuídas.(230)
74. Completa
Tal formação deve compreender e harmonizar todas as dimensões da formação sacerdotal; isto é, deve tender a ajudar cada presbítero: a conseguir o desenvolvimento da sua personalidade humana amadurecida no espírito de serviço aos outros, seja qual for o encargo recebido; a estar intelectualmente preparado nas ciências teológicas e também nas humanas enquanto conexas com o seu ministério, de modo a realizar com maior eficácia a sua função de testemunha da fé; apossuir uma vida espiritual profunda, alimentada pela realizar o seu ministério pastoral com empenho e dedicação.
Na prática, tal formação deve ser completa: humana, espiritual, intelectual, pastoral, sistemática e personalizada.
75. Humana
Esta formação é extremamente importante no mundo de hoje, como de resto sempre o foi. O presbítero não deve esquecer que é um homem escolhido de entre os homens para estar ao serviço do homem.
Para santificar-se e para ter êxito na sua missão sacerdotal deverá apresentar-se com uma bagagem de virtudes humanas que o tornem digno da estima dos seus irmãos.
Em especial deverá também praticar a bondade de coração, a paciência, a amabilidade, a força de alma, o amor à justiça, o equilíbrio, a fidelidade à palavra dada, a coerência com os empenhos livremente assumidos, etc.(231)
É importante também que o sacerdote faça uma reflexão sobre o seu comportamento social, se é correcto nas várias formas de relações humanas, sobre os valores da amizade, sobre a distinção no trato, etc.
76. Espiritual
Tendo presente tudo quanto foi já largamente exposto sobre a vida espiritual, limitamo-nos aqui a apresentar alguns meios práticos de formação.
Seria necessário antes de mais aprofundar os aspectos principais da existência sacerdotal fazendo referência, em particular, ao ensino bíblico, patrístico e hagiográfico, no qual o presbítero deve «especializar-se», não só através de leituras de bons livros, mas também participando em cursos de estudo, congressos, etc,(232)
Sessões particulares poderiam ser dedicadas à cura da celebração dos sacramentos, bem como ao estudo de questões de espiritualidade, como a auto-disciplina, os métodos de oração, etc.
Deverá acentuar-se também a espiritualidade mariana própria do sacerdote.
Mais em concreto, é de desejar que cada presbítero, talvez em concomitancia com os exercícios espirituas periódicos, elabore um projecto concreto de vida pessoal, possivelmente concordado com o director espiritual, para o qual se assinalam alguns pontos:
Dada a enorme influência que as correntes humanístico-filosóficas têm na cultura moderna, e bem assim o facto de alguns presbíteros não terem recebido uma preparação adequada em tais disciplinas, mesmo porque provenientes de diferentes alíneas escolares,é necessário que, nos encontros, se tenham em conta as mais importantes temáticas de caracter humanístico e filosófico, ou que de algum modo «tenham uma rela ção com as ciências sagradas, particularmente enquanto podem ser úteis no exercício do ministério pastoral». (233) Estas constituem também uma ajuda válida para tratar correctamente os principais argumentos de teologia dogmática e moral, de Sagrada Escritura, de liturgia, de direito canónico, de ecumenismo, etc., tendo presente que o ensino destas matérias não deve ser problemático nem só teórico ou informativo, mas deve levar a uma autêntica formação, isto é, à oração, à comunhão e à acção pastoral.
Proceda-se de modo que nos encontros sacerdotais os documentos do Magistério sejam estudados comunitariamente, sob a guia duma autoridade competente, de maneira a conseguir, na pastoral diocesana, a unidade de interpretação e de praxe que tanto ajuda à obra de evangelização.
Uma particular importância na formação intelectual deve ser dada aos temas que hoje têm mais relevo no impacto cultural e na prática pastoral, como por exemplo, os relativos à ética social, à bio-ética etc.
Uma atenção especial deve ser dada às questões postas pelo progresso científico, particularmente influentes na mentalidade e na vida dos homens contemporaneos. Os presbíteros não devem dispensar-se de estar adequadamente actualizados e prontos a responder às interrogações que a ciência pode colocar no seu progresso, consultando especialistas preparados e seguros.
É do máximo interesse estudar, aprofundar e difundir a doutrina social da Igreja. Seguindo o estímulo do magistério, é necessário que o interesse de todos os sacerdotes e, por meio deles, de todos os fiéis a favor dos necessitados, não fique apenas ao nível do piedoso desejo, mas que se converta num concreto empenho de vida. «Hoje, mais do que nunca, a Igreja est· consciente de que a sua mensagem social encontrará credibilidade no testemunho das obras, antes de a encontrar na sua coerência e lógica interna»(234)
Uma exigência imprescindêvel para a formação intelectual dos sacerdotes é o conhecimento e a utilização, na sua actividade pastoral, dos meios de comunicação social. Estes, se bem utilizados, constituem um instrumento providencial de evangelização, podendo não só atingir uma massa enorme de fiéis e de afastados, mas também incidir profundamente sobre a sua mentalidade e sobre o seu modo de agir.
A este propósito, seria conveniente que o Bispo ou a própria Conferência Episcopal preparassem programas e instrumentos técnicos aptos para tal fim.
78. Pastoral
Os encontros deveriam ter como objectivo principal a reflex„o sobre o plano pastoral da Diocese, não deveria faltar também a tratação de todas as questões respeitantes à vida e à prática pastoral dos presbíteros como, por exemplo, a moral fundamental, a ética na vida profissional e social, etc.
Um cuidado especial deve ser reservado ao conhecimento da vida e da espiritualidade dos diáconos permanentes -onde eles existam - dos religiosos e das religiosas, bem como dos fiéis leigos.
Outros temas, particularmente úteis a tratar para uma adequada formação pastoral, podem ser os respeitantes à catequese, à famêlia, às vocações sacerdotais e religiosas, aos jovens, aos idosos, aos enfermos, ao ecumenismo, aos «afastados», etc.
É muito importante para a catequese, nas actuais circunstâncias, organizar ciclos especiais para aprofundar e assimilar o Catecismo da Igreja Católica que, sobretudo para os sacerdotes, constitui um instrumento precioso de formação quer para a pregação, quer, em geral, para a obra de evangelização.
79. Sistemática
Para que a formação permanente seja completa, é necessário que ela seja estruturada «não como qual quer coisa de episódico, mas como uma proposta sistemática de conteúdos, que se desenrola por etapas e se reveste de modalidades precisas»(235) Isto comporta a necessidade de uma certa estrutura organizativa que estabeleça oportunamente instrumentos, tempos e conteúdos para a sua concreta e adequada realização.
Tal organização deve ser acompanhada pelo hábito do estudo pessoal, uma vez que mesmo os cursos periódicos teriam escassa utilidade se não fossem acompanhados da aplicação ao estudo.(236)
80. Personalizada
Embora seja para todos, a formação permanente tem como objectivo directo o serviço de cada um dos que a recebem. Assim, ao lado dos meios colectivos ou comuns, devem existir todos aqueles outros meios que tendem a personalizar a formação de cada um.
Por este motivo deve ser promovida, sobretudo entre os responsáveis, a consciência de dever atingir cada sacerdote pessoalmente, tomando cuidado de cada um, não se contentando em colocar à disposição de todos as diversas oportunidades.
Por sua vez, cada presbêtero deve sentir-se encorajado, com a palavra e com o exemplo do seu Bispo e dos seus irmãos no sacerdócio, a assumir a responsabilidade da sua própria formação, sendo ele o primeiro formador de si mesmo(237)
Organização e meios
81. Encontros sacerdotais
O itinerário dos encontros sacerdotais deve ser unitário e progressivo.
Tal característica unitária deve convergir para a conformação com Cristo, de modo que a verdade de fé, a vida espiritual e a actividade ministerial conduzam ao amadurecimento progressivo de todo o presbitério.
O caminho formativo unitário caracteriza-se por etapas bem definidas. Isto exigirá uma atenção específica às diversas faixas de idade dos presbíteros, sem esquecer nenhuma, bem como uma verificação das etapas realizadas, tendo o cuidado de fazer concordar entre elas os caminhos de formação comunitários com os pessoais, sem os quais os primeiros não poderiam surtir efeito.
Os encontros dos sacerdotes devem ser considerados necessários para crescer na comunhão para uma cada vez maior tomada de consciência e para uma adequada resolução dos problemas próprios de cada faixa etária.
Acerca do conteúdo de tais reuniões pode recorrer-se aos temas eventualmente propostos pelas Conferências Episcopais nacionais e regionais. Em todo o caso, é necessário que eles sejam estabelecidos num plano preciso de formação na Diocese, possivelmente cada ano.(238)
A sua organização e o seu desenvolvimento poderão ser prudentemente confiados pelo Bispo a Faculdades ou institutos teológicos e pastorais, ao Seminário, a organismos ou federações empenhados na formação sacerdotal (239) a qualquer outro Centro ou Instituto especializado que, segundo as possibilidades e oportunidades, poderá ser diocesano, regional ou nacional, desde que seja verificada a correspondência às exigências da ortodoxia doutrinal, de fidelidade ao Magistério e à disciplina eclesiástica, bem como a competência científica e o conhecimento adequado das situações pastorais de facto.
82. Ano pastoral
Estará ao cuidado do Bispo, mesmo através de eventuais cooperadores prudentemente escolhidos, providenciar a fim de que no ano sucessivo à ordenação presbiteral e à diaconal seja programado um ano chamado pastoral que facilite a passagem gradual da vida indispensável de seminário ao exercício do ministério sagrado, facilitando um progressivo harmónico amadurecimento humano e especificamente sacerdotal.(240)
Durante o curso deste ano, será necessário evitar que os recém ordenados sejam colocados em situações excessivamente duras ou delicadas, bem como se deverão também evitar lugares onde eles se encontrem a trabalhar longe dos colegas. Pelo contrário, será bom, se for possível, propôr alguma forma conveniente de vida comum.
Este período de formação poderia ser passado numa residência de propósito destinada a esse fim (Casa do Clero) ou num lugar que possa ser um ponto de referência preciso e sereno, para todos os sacerdotes que realizam as primeiras experiências pastorais. Isto facilitará o colóquio e o diálogo com o Bispo e com os colegas sacerdotes, a oração comum (Liturgia das Horas, concelebração e adoração eucarística, Santo Rosário, etc.), a troca de experiências, o encorajamento recíproco, o florescer de boas relações de amizade.
Seria conveniente que o Bispo enviasse os neo-sacerdotes para junto de colegas de vida exemplar e zelo pastoral. O primeiro cargo, não obstante as frequentes urgências pastorais graves, deveria sobretudo ter em vista encaminhar correctamente os jovens presbíteros. O sacrifício de um ano poderá então frutificar largamente no futuro.
Não é supérfluo sublinhar o facto de que este ano, delicado e precioso, deverá ajudar o amadurecimento pleno do conhecimento entre o presbítero e o Bispo, que, iniciado no Seminário, deve tornar-se uma verdadeira relação de filho para com o pai.
No que se refere à parte intelectual, este ano não deverá ser tanto um período de aprendizagem de novas matérias, quanto sobretudo de profunda assimilação e interiorização do que se estudou nos cursos institucionais, de maneira a ajudar a formação de uma mentalidade capaz de avaliar as particularidades à luz do desígnio de Deus.(241)
Em tal contexto, poderão oportunamente ser organizadas lições e seminários sobre prática da confissão, de liturgia, de catequese e de pregação, de direito canónico, de espiritualidade sacerdotal, laical e religiosa, de doutrina social, da comunicação e dos seus meios, de conhecimento das seitas e das novas religiosidades, etc. Na prática, o ano pastoral deve constituir um trabalho de síntese. Cada elemento deve corresponder ao projecto fundamental de amadurecimento da vida espiritual.
O êxito do ano pastoral é de qualquer modo e sempre condicionado pelo empenho pessoal do próprio interessado que deve tender cada dia à santidade, procurando continuamente os meios de santificação que o ajudaram desde o tempo de seminário.
83.Tempos «sabáticos»
O perigo do hábito, o cansaço físico devido ao excesso de trabalho a que sobretudo hoje são submetidos os presbíteros por causa das fadigas pastorais, o próprio cansaço psicológico, causado, frequentemente, pelo ter de lutar continuamente contra a incompreensão, o equívoco, os preconceitos, a oposição contra forças organizadas e poderosas que tendem a dar a impressão de que hoje o sacerdote pertence a uma minoria culturalmente obsoleta, constituem alguns factores que podem insinuar mal-estar no animo dos pastores.
Não obstante as urgências pastorais, antes precisamente para as enfrentar de modo adequado, é conveniente que aos presbíteros sejam concedidos tempos mais ou menos amplos ó de acordo com as possibilidades de facto ó para mais longa e intensamente poder estar com o Senhor Jesus, retomando força e coragem para continuar o caminho de santificação.
Para responder a esta exigência particular, em muitas dioceses já foram experimentadas, muitas vezes com resultados prometedores, diversas iniciativas.
Estas experiências são válidas e podem ser tomadas em consideração, não obstante as dificuldades que se encontram em algumas zonas onde mais se sofre a carência numérica dos presbíteros.
Para esse fim, poderiam ter uma função notável os mosteiros, os santuários ou outros lugares de espiritualidade, possivelmente fora dos grandes centros, deixando o presbítero livre de responsabilidades pastorais directas.
Em certos casos poderá ser útil que estas paragens tenham finalidade de estudo ou de actualização nas ciências sagradas, sem esquecer, entretanto, o objectivo do fortalecimento espiritual e apostólico.
Em todo o caso, seja cuidadosamente evitado o perigo de considerar o período sabático como um tempo de férias ou de reivindicá-lo como um direito.
84. Casa do Clero
Onde for possêvel, é desejável a erecção de uma «Casa do Clero» que poderia ser também um lugar onde se pudessem reunir para aê realizar os mencionados encontros de formação, e também um ponto de referência para numerosas outras circunstâncias. Tal casa deveria apresentar estruturas organizativas de modo a tornar-se confortável e atraente. Onde ainda não existir e as necessidades o sugerirem, é aconselhável criar, a nível nacional ou regional, estruturas aptas para a recuperação fêsico-psêquico-espiritual de sacerdotes com necessidades especiais.
85. Retiros e Exercícios Espirituais
Como demonstra a longa experiência espiritual da Igreja, os Retiros e os Exercícios Espirituais são um instrumento idóneo e eficaz para uma adequada formação permanente do clero. Eles conservam ainda hoje toda a sua necessidade e actualidade. Contra a praxe que tende a esvaziar o homem de tudo o que é interioridade, o sacerdote deve encontrar Deus e a si mesmo fazendo paragens espirituais para mergulhar na meditação e na oração.
Por isso a legislação canónica estabelece que os clérigos: «são obrigados a participar nos retiros espirituais, segundo as disposições do direito particular» (242) As duas modalidades mais usuais, que poderiam ser prescritas pelo Bispo na própria diocese, são o retiro espiritual de um dia, possívelmente mensal e os Exercícios Espirituais anuais.
É muito oportuno que o Bispo programe e organize os Retiros e os Exercícios Espirituais de maneira que cada sacerdote possa escolher entre aqueles que normalmente são feitos na Diocese ou fora, por sacerdotes exemplares ou por Institutos religiosos particularmente experimentados pelo seu carisma na formação espiritual ou em mosteiros.
É também aconselhável a organização de um retiro especial para os sacerdotes ordenados nos últimos anos, no qual participe activamente o próprio Bispo.(243)
Durante tais encontros, é importante que se tratem temas espirituais, que haja largos espaços de silêncio e de oração e celebrações litúrgicas bem feitas, o sacramento da Penitência, a adoração eucarística, a direcção espiritual e os actos de veneração e de culto à Bem-Aventurada Virgem Maria.
Para conferir mais importância e eficácia a estes meios de formação, o Bispo poderia nomear um sacerdote com o encargo de organizar os tempos e os modos do seu desenvolvimento.
Em todo o caso, é necessário que os retiros e especialmente os Exercícios Espirituais anuais sejam vividos como tempos de oração e não como cursos de actualização teológico-pastoral.
86. Necessidade da.programação
Embora reconhecendo as dificuldades que a formação permanente costuma encontrar, sobretudo por causa das numerosas e difíceis tarefas a que os sacerdotes são chamados, é necessário dizer que todas as dificuldades são superáveis se se empenham a conduzi-las com responsabilidade.
Para manter-se à altura das circunstâncias e afrontar as exigências do trabalho urgente de evangelização, torna-se necessária - entre outros meios - uma corajosa acção de governo pastoral com o fim de tratar dos sacerdotes dum modo particular. É indispensável que os Bispos exijam, com a força da caridade, que os seus sacerdotes ponham em prática generosamente as legítimas instruções emanadas acerca desta matéria.
A existência dum «plano de formação permanente» comporta que ele seja, não só concebido ou programado, mas também realizado. Por isso, é necessária uma clara organização do trabalho, com objetivos,corteúdo e meios para realizá-lo.
Responsáveis
87. O Presbítero
O próprio presbítero é o primeiro e principal responsável da sua formação permanente. De facto, sobre cada sacerdote incumbe o dever, de ser fiel ao dom de Deus e ao dinamismo de conversão quotidiana que provém do mesmo dom.(244)
Tal dever deriva do facto de que ninguém pode substituir cada um dos presbíteros no «vigiar sobre si mesmo» (cf 1 Tim 4, 16). Com efeito, participando no único sacerdócio de Cristo, cada um deles é chamado a revelar e a pôr em prática, segundo uma sua vocação única e irrepetível, qualquer aspecto da sua extraordinária riqueza de graça.
Por outro lado, as condições e situações de vida de cada um dos sacerdotes são tais que, mesmo do ponto de vista simplesmente humano, exigem que ele se empenhe pessoalmente na sua formação, de maneira a fazer frutificar as próprias capacidades e possibilidades.
Portanto, ele participará activamente nos encontros de formação, dando o próprio contributo com base nas suas competências e nas possibilidades concretas e deve comprar e ler livros e revistas de doutrina segura e de utilidade experimentada para a sua vida espiritual e para a realização frutuosa do seu ministério.
Entre as leituras, o primeiro lugar deve ser ocupado pela Sagrada Escritura; depois pelos escritos dos Padres, dos Mestres de espiritualidade antigos e modernos, e pelos Documentos do Magistério eclesiástico, os quais constituem a fonte mais autorizada e actualizada da formação permanente. Por isso, os presbíteros os estudarão e aprofundarão directa e pessoalmente para podê-los apresentar adequadamente aos fiéis leigos.
88. Ajuda dos colegas
Em todos os aspectos da existência sacerdotal virão ao de cima os «especiais vínculos de caridade dos colegas apostólica, de ministério e de fraternidade»,(245) sobre os quais se funda a ajuda recíproca que os presbíteros darão uns aos outros.(246) É desejável que cresça e se desenvolva a cooperação de todos os presbíteros no cuidado da sua vida espiritual e humana e bem assim no serviço ministerial. A ajuda, que neste campo deve ser dada aos sacerdotes, pode encontrar um sólido apoio nas diversas Associações sacerdotais, aprovadas pela Igreja, que tendem a formar uma espiritualidade verdadeiramente diocesana. Trata-se de Associações que «tendo estatutos aprovados pela autoridade competente, mediante uma regra de vida adaptada e convenientemente aprovada e mediante a ajuda fraterna, estimulam à santidade no exercêcio do ministério e promovem a unidade dos clérigos entre si e com o próprio Bispo» (247)
Deste ponto de vista, é necessàrio respeitar, com todo o cuidado, o direito de cada sacerdote diocesano organizar a própria vida espiritual na maneira que julgar mais conveniente, sempre de acordo - como é óbvio - com as características da própria vocação e dos vínculos que dela derivam.
O trabalho que estas Associações, bem como os Movimentos aprovados, realizam em favor dos sacerdotes é tido em grande consideração pela Igreja, (248) que o reconhece hoje como um sinal da vitalidade com que o Espírito Santo continuamente a renova.
89. O Bispo
Por maior e difícil que seja a porção do Povo de Deus que Ihe foi confiada, o Bispo deve reservar uma solicitude muito particular à formação permanente dos seus presbíteros.(249)
Existe, com efeito, uma relação especial entre estes e o Bispo, devido ao «facto de que os presbíteros recebem através dele o seu sacerdócio e partilham com ele a solicitude pastoral pelo Povo de Deus»(250) Isto determina também responsabilidades específicas do Bispo no campo da formação sacerdotal.
Tais responsabilidades manifestam-se quer em relação a cada um dos presbíteros, para o qual a formação deve ser o mais personalizada possível, quer em relação a todos enquanto componentes do presbitério diocesano. Neste sentido, o Bispo não deixar· de cultivar cuidadosamente a comunicação e a comunhão entre os presbíteros, em especial, tendo o cuidado de guardar e promover a verdadeira índole da formação permanente, de educar a sua consciência acerca da sua importància e necessidade e, enfim, de programá-la e organizá-la estabelecendo um plano de formação com as estruturas necessárias e as pessoas aptas para realizá-lo.(251)
Provendo à formação dos seus sacerdotes, é necessàrio que o Bispo se comprometa mediante a sua própria formação permanente pessoal. A experiência ensina que quanto mais o Bispo, começando por ele, estiver convencido e empenhado na sua formação, tanto mais saberá estimular e sustentar a do seu presbitério.
Para este trabalho delicado, o Bispo, embora realizando um papel insubstituível e indelegável, pedirá a colaboração do Conselho presbiteral o qual, pela sua natureza e finalidades, parece o organismo idóneo a coadjuvá-lo especialmente no que se refere, por exemplo, à elaboração do plano de formação.
Depois, cada Bispo deve sentir-se apoiado e ajudado na sua missão pelos outros irm„os Bispos, reunidos em Conferência (252).
90. A formação dos formadores
Não é possível nenhuma formação se, além do sujeito que se deve formar, não existe também o sujeito que forma, o formador. O valor e a eficácia dum plano de formação dependem em parte das estruturas, mas, principalmente das pessoas dos formadores. É evidente que relativamente a tais formadores é particularmente delicada e importante a responsabilidade do Bispo.
Portanto, é necessário que o próprio Bispo nomeie um «grupo de formadores» e que as pessoas sejam escolhidas entre aqueles sacerdotes altamente qualificados e estimados pela sua preparação e maturidade humana, espiritual, cultural e pastoral. Com efeito, os formadores devem ser antes de mais homens de oração, docentes com forte sentido do sobrenatural de profunda vida espiritual, de conduta exemplar, com adequada experiência no ministério sacerdotal, capazes de conjugar, como os Padres da Igreja e os santos mestres de todos os tempos, as exigências espirituais com as exigências mais propriamente humanas do sacerdote. Eles podem ser escolhidos também entre os membros dos Seminários, dos Centros ou Instituições académicas aprovadas pela Autoridade eclesiástica, bem como naqueles Institutos cujo carisma é próprio o da vida e espiritualidade sacerdotal. Em todo o caso devem ser garantidas a ortodoxia da doutrina e a fidelidade à disciplina eclesiástica. Além disso, os formadores devem ser colaboradores de confiança do Bispo, que permanece o último responsável da formação dos seus mais preciosos colaboradores.
É conveniente que se crie também um grupo de programação e de realização com o fim de ajudar o Bispo a fixar o conteúdo a desenvolver todos os anos em cada um dos âmbitos da formação permanente; a preparar os subsídios necessários, os cursos, as sessões, os encontros, e os retiros; a organizar oportunamente os horários, de maneira a prever as ausências e as substituições dos presbíteros, etc. Para uma boa programação pode também consultar-se qualquer especialista sobre temas determinados.
Enquanto é suficiente um só grupo de formadores, é ao contrário possível que existam, se as necessidades o exigirem, vários grupos de programação e de realização.
91. Colaboracão entre as Igrejas
No que se refere sobretudo aos meios colectivos, a programação dos diferentes meios de formação permanente e do seu conteúdo concreto pode ser estabelecida de comum acordo entre as várias Igrejas particulares, quer a nível nacional e regional - através das respectivas Conferências dos Bispos - quer, principalmente, entre Dioceses limítrofes ou mais vizinhas. Assim, por exemplo, poder-se-iam utilizar, se se retiverem adaptadas, as estruturas interdiocesanas, como as Faculdades e os Institutos teológicos e pastorais, bem como os organismos ou as federações empenhadas na formação presbiteral.Tal união de forças, para além de realizar uma autêntica comunhão entre as Igrejas particulares, poderia proporcionar a todos, mais qualificadas e estimulantes possibilidades para a formação permanente.(253)
92. Colaboração de centros acadêmicos e de espiritualidade
Além disso, os Institutos de estudo e de investigação, bem como os Mosteiros de observância exemplar e os Santuários constituem outros tantos pontos de referência para a actualização teológica e pastoral, para espaços de silêncio, oração, confissão sacramental e direcção espiritual, para um salutar repouso físico e mental, para momentos de fraternidade sacerdotal. Deste modo, também as famílias religiosas poderiam colaborar na formação permanente e contribuir para aquela renovação do clero que é exigida pela nova evangelização do Terceiro Milénio.
Necessidades no tocante às idades e a situações especiais
93. Primeiros anos de sacerdócio
Durante os primeiros anos depois da ordenação, os sacerdotes deveriam ser sumamente ajudados a encontrar aquelas condições de vida e de ministério que lhes permitam pôr em prática os ideais aprendidos duranteo período de formação no seminário.(254) Estes primeiros anos, que constituem uma avaliação necessária da formação inicial depois do primeiro impacto com a realidade, são os mais decisivos para o futuro. Por isso, eles requerem um amadurecimento harmónico para fazer frente, com fé e fortaleza, aos momentos de dificuldade. Para isso os jovens sacerdotes devem ter um contacto pessoal com o seu Bispo e com um sábio padre espiritual; e gozar de momentos de repouso, de meditação, de retiro mensal.
Tendo presente quanto já se disse sobre o ano pastoral, é necessário organizar, nos primeiros anos de sacerdócio, encontros anuais de formação nos quais se tratem e aprofundem adequados temas teológicos, jurídicos, espirituais e culturais, sessões especiais dedicadas a problemas de moral, de pastoral, de liturgia, etc. Tais encontros podem servir também de ocasião para renovar a faculdade de confessar, segundo o que está estabelecido pelo Código de Direito Canónico e pelo Bispo.(255) Seria útil também que fosse promovida a convivência fami-liar entre os jovens presbíteros e com os mais amadurecidos, de maneira a permitir a troca de experiências, o conhecimento recíproco e também a delicada prática evangélica da correcção fraterna.
É necessário, enfim, que o clero jovem cresça num ambiente espiritual de verdadeira fraternidade e delicadeza, que se manifesta na atenção pessoal, mesmo no que diz respeito à saúde física e aos diversos aspectos materiais da vida.
94. Depois dum certo número de anos
Depois dum certo número de ano de ministério,os presbíteros adquirem uma grande experiência e grande mérito de se terem gasto pela dilatação do Reino de Deus no trabalho quotidiano.
Estes sacerdotes constituem um grande recurso espiritual e pastoral. Eles têm necessidade de encorajamento, de inteligente valorização, de aprofundamento da formação em todas as suas dimensões, em ordem a uma revisão de si mesmos e do seu próprio agir; de reavivar as motivações do sagrado ministério; de reflectir sobre as metodologias pastorais à luz do essencial, da comunhão presbiteral; da amizade do seu Bispo; de superar eventuais manifestações de cansaço, de frustração, de solidão; e enfim, de redescobrir a veia donde nasce a espiritualidade sacerdotal.(256)
É importante, por isso, que estes presbíteros beneficiem de especiais e aprofundadas sessões de formação nas quais, para além do conteúdo teológico-pastoral, se examinem todas as dificuldades psicológicas e afectivas que podem nascer em tal período. É, pois, aconselhável que em tais encontros tomem parte não só o Bispo mas também especialistas que possam dar um contributo válido e seguro à solução dos problemas referidos.
95. Idade avançada
Os presbíteros anciãos ou de idade avançada, para os quais devem convergir todos os sinais de afectuosa consideração, entram também no circuito vital da formação permanente, não tanto como empenho de estudo aprofundado e de debate cultural, quanto «pela confirmação serena e tranquilizadora do papel que são chamados ainda a realizar no Presbitério»,(257) Para além da formação organizada para os padres de meia idade, eles poderão fruir de convenientes momentos, de ambientes e de encontros especiais para aprofundar o sentido contemplativo da vida sacerdotal, para redescobrir e saborear as riquezas doutrinais de tudo o que estudaram, para se sentirem úteis — como o são de, facto —, podendo ser valorizados em ordem a formas adaptadas de verdadeiro e próprio ministério, sobretudo como confessores e directores espirituais experimentados. Dum modo particular, eles poderão partilhar com outros as suas experiências, encorajar, acolher, ouvir e dar serenidade aos colegas, estar disponíveis sempre que se lhes peça o serviço de «eles mesmos se tornarem mestres válidos e formadores de outros sacerdotes».(258)
96. Sacerdotes em situações especiais
Independentemente da idade, os presbíteros podem encontrar-se «numa condição de debilidade especiais física ou de cansaço moral».(259) Com a oferta do seu sofrimento, contribuem dum modo eminente para a obra da redenção, dando «um testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal». (260)
A esta categoria de presbíteros a formação permanente deve oferecer estímulos para «continuar de maneira serena e forte o seu serviço à Igreja».(261) e ser sinal eloquente do primado do ser sobre o agir, do conteúdo sobre a técnica, da graça sobre a eficiência exterior. Deste modo, poderão viver a experiência de S. Paulo: «Estou contente com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo, em favor do seu Corpo que é a Igreja» (Col 1, 24).
O Bispo e os colegas sacerdotes não deixarão de visitar periodicamente estes irmãos doentes, que poderão ser informados, sobretudo, sobre os acontecimentos da diocese, de maneira a fazer-lhes sentir que são membros vivos do presbitério e da Igreja universal, que edificam com o seu sofrimento.
Com um particular e afectuoso cuidado devem ser circundados os presbíteros já próximos a concluir os seus dias neste mundo e que consumaram no serviço de Deus para a salvação dos irmãos.
Ao contínuo conforto da fé, à solicitude na administração dos Sacramentos, devem seguir-se os sufrágios por parte de todo o presbitério.
97. Solidão do sacerdote
O sacerdote pode experimentar em qualquer idade e em qualquer situação o sentimento da solidão.(262) Esta, longe de compreender-se como isolamento psicológico, pode ser perfeitamente normal e consequente à sincera sequela evangélica e constituir uma dimensão preciosa da própria vida. Porém, em alguns casos, poderia ser devida a dificuldades especiais, como marginalização, incompreensões, desvios, abandono, imprudências, limitações do próprio carácter ou do dos outros, calúnias, humilhações, etc. Daí pode derivar um sentimento pungente de frustração que seria extremamente nocivo.
Todavia, também estes momentos de dificuldade podem tornar-se, com a ajuda do Senhor, ocasiões privilegiadas de crescimento no caminho da santidade e do apostolado. Com efeito, neles o padre pode descobrir que «se trata duma solidão habitada pela presença do Senhor»,(263) É claro que isto não deve fazer esquecer a grave responsabilidade do Bispo e de todo o presbitério em evitar toda a solidão produzida pelo desleixo na comunhão sacerdotal.
Nem sequer se deverão esquecer os irmãos que deixaram o ministério, oferecendo-lhes a ajuda necessária, sobretudo da oração e da penitência. A devida atitude de caridade para com eles não deve todavia transigir dalguma maneira com a consideração em confiar-lhes funções eclesiais que podem criar confusão e desconcerto, sobretudo, entre os fiéis, precisamente por causa da sua situação.