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Declaração
DIRETÓRIO PARA O MINISTÉRIO E A VIDA DOS PRESBÍTEROS

II. ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL

Contexto Histórico actual

34. Interpretar os sinais dos tempos

A vida e o ministério dos sacerdotes desenvolvem-se sempre no contexto histórico, de vez em quando carregado de novos problemas e de recursos inéditos, em que a Igreja, peregrina neste mundo, vai vivendo.

O sacerdócio não nasce da história, mas da vontade imutável do Senhor. Todavia ele vai-se confrontando com as circunstâncias históricas e — embora permanecendo sempre fiel a si mesmo — configura-se, nas opções concretas, também através duma relação crítica e duma procura de evangélica sintonia com os «sinais dos tempos». Por isso, os presbíteros têm o dever de interpretar tais «sinais» à luz da fé e de os submeter a um discernimento prudente. Em todo o caso não poderão ignorá-los, sobretudo se se quere orientar dum modo eficaz e pertinente a própria vida de modo que o seu serviço e o seu testemunho sejam cada vez mais fecundos para o reino de Deus.

Na actual fase da vida da Igreja e da sociedade, os presbíteros são chamados a viver em profundidade o seu ministério, tendo em conta as cada vez mais profundas, numerosas e delicadas exigências de ordem não só pastoral mas também social e cultural, às quais devem fazer frente. (102)

Portanto, eles estão hoje empenhados nos diversos campos de apostolado que requerem generosidade e dedicação completa, preparação intelectual e, sobretudo, uma vida espiritual amadurecida e profunda, enraizada na caridade pastoral, que é a sua via específica para a santidade e que constitui também um autêntico serviço aos fiéis no ministério pastoral.

35. A exigência da nova evangelização

Daqui se conclui que o sacerdote está envolvido, de maneira muito especial, no empenhamento da Igreja inteira em ordem à nova evangelização. Partindo da fé em Jesus Cristo, Redentor do homem, tem a certeza de que n'Ele existe uma «imperscrutável riqueza» (Ef 3, 8) que nenhuma cultura, nenhuma época pode exaurir e da qual os homens sempre podem beber para se enriquecerem.(l03)

É esta, portanto, a hora duma renovação da nossa fé em Jesus Cristo, que é o mesmo «ontem, hoje e sempre» (Heb 13, 8). Por conseguinte, «a chamada à nova evangelização é antes de mais uma chamada à conversão». (104) Ao mesmo tempo é uma chamada à esperança, «que se apoia nas promessas de Deus, na fidelidade à sua Palavra, e que tem como certeza inabalávela ressurreição de Cristo, a sua vitória defintiva sobre o pecado e sobre a morte, primeiro anúncio e raiz de toda a evangelização, fundamento de toda a promoção humana, princípio de toda a autêntica cultura cristã». (105)

Em tal contexto, o sacerdote deve antes de mais reavivar a sua fé, a sua esperança e o seu amor sincero ao Senhor, de maneira a podê-lo apresentar à contemplação dos fiéis e de todos os homens como verdadeiramente é: uma Pessoa viva, afascinante, que nos ama mais do que ninguém porque deu a sua vida por nós; «não há maior amor do que dar a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).

Ao mesmo tempo o sacerdote, consciente de que toda a pessoa, de diferentes modos, vive à procura dum amor capaz de levá-la para lá dos estreitos limites da sua fraqueza, do seu egoísmo e, sobretudo, da sua morte, proclamará que Jesus Cristo é a resposta a todas estas ansias.

Na nova evangelização, o sacerdote é chamado a ser o arauto da esperança. (106)

36. O desafio das seitas e dos novos cultos

O proliferar das seitas e dos novos cultos, bem como a sua difusão mesmo entre os fiéis católicos, cultos constitui um particular desafio ao ministério pastoral.

Na base dum tal fenômeno existem motivações complexas. Em todo o caso, o ministério dos presbíteros deve responder com prontidão e dum modo incisivo à procura do sagrado e da autêntica espiritualidade que hoje dum modo particular, se nota.

Com efeito, nestes últimos anos, tornou-se evidente que são eminentemente pastorais as motivações que exigem o sacerdote como homem de Deus e mestre de Oração.

Ao mesmo tempo, impõe-se a necessidade de fazer com que a comunidade confiada aos seus cuidados pastorais seja realmente acolhedora de maneira que ninguém que a ela pertença se sinta anónimo ou objecto de indiferença.

Trata-se de uma responsabilidade que recai certamente sobre cada fiel mas, de maneira muito particular sobre o presbítero, que é o homem da comunhão.

Se ele souber acolher com estima e respeito todo aquele que o contactar valorizando-lhe a personalidade, então criará um estilo de autêntica caridade que se tornará contagioso e se estenderá gradualmente a toda a comunidade.

Para vencer o desafio das seitas e dos novos cultos, é particularmente importante uma catequese amadurecida e completa, a qual requer hoje um esforço especial por parte do sacerdote, a fim de que todos os seus fiéis conheçam realmente o significado da vocação cristã e da fé católica. De modo particular, os fiéis devem ser educados a conhecer bem a relação existente entre a sua vocação específica em Cristo e a pertença à Igreja, que devem aprender a amar filial e tenazmente.

Tudo isto se realizará se o sacerdote, na sua vida e no seu ministério, evitar tudo o que poderia provocar tibieza, indiferença ou identificação selectiva em relação à Igreja.

37. Luzes e sombras da actividade ministerial

É um motivo de grande conforto sublinhar que hoje os presbíteros de todas as idades e na sua maioria e desenvolvem com alegre empenho, muitas vezes fruto de silencioso heroísmo, o seu ministério, trabalhando até ao limite das próprias forças sem ver, por vezes, os frutos do seu trabalho.

Por este seu empenho, eles constituem hoje um anúncio vivo daquela graça divina que, conferida no momento da ordenação, continua a dar força renovada para o sacro ministério.

Junto com estas luzes, que iluminam a vida do sacerdote, não faltam sombras que tendem a enfraquecer a beleza e a tornar menos eficaz o exercício do ministério.

O ministério pastoral é uma empresa fascinante mas árdua, sempre exposta à incompreensão e à marginalização e, hoje, sobretudo ao cansaço, à desconfiança, ao isolamento e, por vezes, à solidão.

Para vencer os desafios que a mentalidade secularista continuamente lhe coloca o sacerdote terá o cuidado de reservar o primado absoluto à vida espiritual, ao estar sempre com Cristo e ao viver com generosidade a caridade pastoral, intensificando a comunhão com todos, em primeiro lugar, com os outros presbíteros

Estar com Cristo na Oração

38. Primado da vida espiritual

O sacerdote foi, por assim dizer, «concebido» na longa oração durante a qual o Senhor Jesus pediu ao Pai pelos seus apóstolos e, por todos aqueles que no decurso dos séculos iriam participar da sua missão (cf. Lc 6, 12; cf Jo 17, 15-20). A mesma oração de Jesus no Getsemani (cf Mt 26, 36-44 par.), toda orientada para o sacrifício sacerdotal do Gólgota, manifesta dum modo paradigmático «como o nosso sacerdócio deva ser profundamente vinculado à oração: enraizado na oração».(107)

Nascidos destas orações e chamados a renovar um Sacrifício que é inseparável delas, os presbíteros manterão vivo o seu ministério mediante uma vida espiritual, à qual darão absoluta preeminência, evitando esquecê-la por causa das diversas actividades. Precisamente para poder realizar frutuosamente o ministério pastoral, o sacerdote tem necessidade de entrar numa particular e profunda sintonia com Cristo bom Pastor, o qual permanece sempre o único protagonista principal de toda a acção pastoral.

39. Instrumentos da vida espiritual

Tal vida espiritual deve ser encarnada na existência de cada presbítero mediante a liturgia, a oração pessoal, o estilo de vida e a prática das virtudes cristãs que contribuem para a fecundidade da acção ministerial. A própria conformação a Cristo exige, por assim dizer, o respirar um clima de amizade e de encontro pessoal com o Senhor Jesus e de serviço à Igreja, seu Corpo, que o sacerdote demonstrará de amar mediante o cumprimento fiel e incansável dos deveres do ministério pastoral. (108)

É necessário, portanto, que o presbítero programe a sua vida de oração de maneira a incluir: a celebração eucarística quotidiana, (109) com adequada preparação e acção de graças; a confissão frequente (110) e a direcção espiritual já praticada no seminário; (111) a celebração íntegra e fervorosa da liturgia das horas, (112) à qual é quotidianamente obrigado; (113) O exame de consciência; (114) a oração mental propriamente dita; (115) a lectio divina; (116) os momentos prolongados de silêncio e de colóquio, sobretudo nos Exercícios e retiros Espirituais periódicos; (117) as preciosas expressões da devoção mariana como o Rosário; (118) a «Via Sacra»e os outros pios exercícios; (119) a frutuosa leitura hagiográfica.(120)

Cada ano, como sinal do constante desejo de fidelidade, durante a Santa Missa crismal de Quinta Feira Santa, os presbíteros renovem perante o Bispo e juntamente com ele as promessas feitas no momento da ordenação. (121)

O cuidado da vida espiritual deve ser considerado pelo sacerdote como um dever que infunde alegria e ainda como um direito dos fiéis que procuram nele, consciente ou in-conscientemente, o homem de Deus, o conselheiro, o mediador de paz, o amigo fiel e prudente, o guia seguro em quem as pessoas confiam nos momentos duros da vida para encontrar conforto e segurança. (122)

40. Imitar Cristo que reza

Por causa de numerosos empenhos provenientes em larga medida da actividade pastoral, a vida do presbítero está exposta, hoje mais do que nunca, a uma série de solicitações que poderiam conduzi-la para um crescente activismo exterior, submetendo-a a um ritmo, por vezes, frenético e irresistível.

Contra tal «tentação», é necessário não esquecer que a primeira intenção de Jesus foi a de convocar à sua volta os Apóstolos para que antes de mais «estivessem com ele» (Mc . 3, 14)

O próprio Filho de Deus quis deixar-nos o testemunho da sua oração.

Com efeito, muito frequentemente, os Evangelhos apresentam-nos Cristo em oração: na revelação da sua missão por parte do Pai (cf Lc 3, 21-22) antes de chamar os Apóstolos (cf Lc 6, 12), ao dar graças a Deus na multiplicação dos p„es (cf Mt 14, 19; 15, 36; Mc 6, 41; 8, 7; Lc 9, 16; Jo 6, 11), na transfiguração no monte (cf Lc 9, 28-29), quando cura o surdo mudo (cf Mc 7, 34) e ressuscita Lázaro (cf Jo 11, 41ss), antes da confissão de Pedro (cf Lc 9, 18), quando ensina os discêpulos a rezar (cf Lc 11, 1) e quando eles regressam depois de ter cumprido a sua missão (cf Mt 11, 25 e ss; Lc 10, 21 e ss), ao abençoar as crianças (cf Mt 19, 13) e ao rezar por Pedro (cf Lc 22, 32).

Toda a sua actividade quotidiana derivava da oração. Assim ele retirava-se para o deserto ou para o monte para rezar (cf Mc 1, 35; 6, 46; Lc 5, 16; Mt 4, 114, 23), levantava-se de manh„ muito cedo (cf Mc 1, 35) e passava a noite inteira em oração a Deus (cf Mt 14, 23. 25; Mc 6, 46. 48; cf Lc 6, 12).

Até ao termo da sua vida, na ·ltima Ceia (cf Jo 17, 1-26), na agonia (cf Mt 26, 36-44 par.) e na cruz (cf Lc 23, 34. 46; Mt 27, 46; Mc 15, 34), o divino Mestre demonstrou que a oração animava o seu ministério messiânico e o seu êxodo pascal. Ressuscitado de entre os mortos, vive para sempre e intercede por nós (cf Heb 7, 25).(123)

A exemplo de Cristo, o sacerdote deve saber manter a vivência e a abundância dos momentos de silêncio e de oração para mediante eles cultivar e aprofundar uma relação existencial com a pessoa viva do Senhor Jesus.

41. Imitar a Igreja que reza

Para permanecer fiel ao empenho de «estar com Jesus», é necessário que o presbítero saiba imitar a Igreja que reza.

Proclamando a Palavra de Deus, que ele mesmo recebeu com alegria, o sacerdote recorde-se da exortação que o Bispo Ihe dirigiu no dia da sua ordenação: «Por isso, fazendo da Palavra o objecto da tua contínua reflexão, crê sempre no que lês, ensina o que crês, realiza na vida o que ensinas. Deste modo, enquanto com a doutrina dar·s alimento ao Povo de Deus e com o bom testemunho da vida Ihe servirás de conforto e sustento, tornar-te-ás construtor do templo de Deus, que é a Igreja». De forma semelhante em relação à celebração dos sacramentos e, em particular da Eucaristia: «Sê, portanto, consciente do que fazes, imita o que realizas e dado que celebras o mistério da morte e da ressurreição do Senhor, leva a morte de Cristo no teu corpo e caminha na sua novidade de vida». E, enfim, em relação à guia pastoral do Povo de Deus para o conduzir até ao Pai: «Por isso não deixes nunca de ter o olhar fixo em Cristo, bom Pastor, que veio não para ser servido mas para servir e para procurar e salvar os que estavam perdidos».(124)

42. Oração como comunhão

Fortificado pela especial ligação ao Senhor, o comunhão presbítero saber· enfrentar os momentos em que poderia sentir-se só no meio dos homens; renovando energicamente o seu estar com Cristo que na Eucaristia é o seu refúgio e o seu melhor repouso.

Como Jesus, que enquanto estava só estava continuamente com o Pai (cf Lc 3, 21; Mc 1, 35), assim também o presbêtero deve ser o homem que na solidão encontra a comunhão com Deus,(125) de modo a poder dizer com S. Ambrósio: «Nunca estou menos só do que quando pareço estar só»(126)

Caridade pastoral

43. Manifestação da Caridade de Cristo

A caridade pastoral constitui o principio interior e dinâmico capaz de unificar as múltiplas e diversas actividades pastorais do presbitério e, dado o contexto sócio-cultural e religioso no qual vive, é instrumento indispensàvel para conduzir os homens à vida da Graça.

Plasmada por tal caridade, a actividade ministerial deve ser uma manifestação da caridade de Cristo, da qual o presbítero saberá exprimir atitudes e comportamentos, até à doação total de si em benefício do rebanho que Ihe foi confiado.(127)

Assimilar a caridade pastoral de Cristo de maneira a torná-la forma da própria vida, é uma meta que exige do sacerdote empenhos e sacrificios contínuos, jà que ela não se improvisa, não conhece paragens nem pode ser conseguida duma vez para sempre. O ministro de Cristo deve sentir- se obrigado a viver e a testemunhar esta realidade sempre e em toda a parte, mesmo quando, por causa da idade, for desobrigado de encargos pastorais concretos.

44. Funcionalismo

A caridade pastoral corre, sobretudo hoje, o perigo de ser esvaziada do seu significado pelo assim chamado «funcionalismo». Com efeito, não é raro notar, mesmo em alguns sacerdotes, o influxo duma mentalidade que tende erroneamente a reduzir o sacerdócio ministerial só aos aspectos funcionais. Ser padre consistiria em realizar alguns serviços e em garantir algumas prestações de trabalho. Tal concepção redutora da identidade e do ministério do sacerdote, corre o risco de lançar a vida deste no vazio, que muitas vezes é preenchido por formas de vida que não estão de acordo com o próprio ministério.

O sacerdote, que sabe ser ministro de Cristo e da sua esposa, encontrar· na oração, no estudo e na leitura espiritual a força necess·ria para vencer também este perigo. (128)

Pregação da palavra

45. Fidelidade à palavra

Cristo confiou aos Apóstolos e à Igreja a missão de pregar a Boa Nova a todos os homens.

Transmitir a fé é revelar, anunciar e aprofundar a vocação cristã; isto é, a chamada que Deus dirige a cada homem manifestando-lhe o mistério da salvação e, contemporaneamente, o lugar que ele deve ocupar em relação a tal ministério, como filho de adopção no Filho. (129) Este duplo aspecto é evidenciado sinteticamente no Símbolo da Fé, uma das expressões mais autorizadas daquela fé com que a Igreja sempre respondeu ao apelo de Deus.(130)

Colocam-se, então, ao ministério presbiteral duas exigências que são como duas faces da mesma medalha. Há, em primeiro lugar, o carácter missionário da transmissão da fé. O ministério da palavra não pode ser abstracto ou distante da vida das pessoas; ao contrário, ele deve referir-se directamente ao sentido da vida do homem, de cada homem, e, portanto, deverá entrar nas questões mais vivas que se colocam à consciência humana.

Por outro lado, há uma exigência de autenticidade e de conformidade com a fé da Igreja, guardiã da verdade acerca de Deus e do homem. Isto deve ser feito com sentido de extrema responsabilidade, consciente de que se trata duma questão da máxima importância enquanto está em jogo a vida do homem e o sentido da sua existência.

Em ordem a um frutuoso ministério da Palavra, tendo presente tal contexto, o presbítero deve dar o primado ao testemunho de vida, que faz descobrir a potência do amor de Deus e torna persuasiva a sua palavra. Além disso, terá em conta a pregação explícita do mistério de Cristo aos crentes, aos não crentes e aos não cristãos; a catequese, que é a exposição ordenada e orgânica da doutrina da Igreja; a aplicação da verdade revelada à solução dos casos concretos.(131)

A consciência da absoluta necessidade de «permanecer» fiéis e ancorados à Palavra de Deus e à Tradição para ser verdadeiramente discípulos de Cristo e conhecer a verdade (cf. Jo 8, 31-32) acompanhou sempre a história da espiritualidade sacerdotal e foi sublinhada com autoridade também pelo Concêlio Ecuménico Vaticano II.(132)

Sobretudo na sociedade contemporanea, marcada pelo materialismo teórico e prático, pelo subjectivismo e pelo problematicismo, é necessário que o Evangelho seja apresentado como «a potência de Deus para salvar aqueles que crêem» (Rom 1, 16). Os presbíteros, recordando que «a fé depende da pregação e a pregação, por sua vez, se actua pela Palavra de Cristo» (Rom 10, 17), empenhar„o todas as suas energias para corresponder a esta missão que é primária no seu ministério. Com efeito, eles são não só as testemunhas, mas também os anunciadores e transmissores da fé.(133)

Tal ministério ó realizado na comunhão hierárquica ó habilita-os a exprimir com autoridade a fé católica e a dar testemunho oficial da fé da Igreja. Com efeito, o Povo de Deus «é reunido antes de mais mediante a palavra de Deus vivo, que todos têm o direito de procurar nos lábios dos sacerdotes».(134)

Para ser autêntica, a palavra deve ser transmitida «sem duplicidade e sem nenhuma falsificação, mas manifestando com franqueza a verdade diante de Deus» (2 Cor 4, 2). O presbêtero, com uma maturidade respons·vel, evitar· disfarçar, reduzir, distorcer ou diluir o conte·do da mensagem divina. Com efeito, a sua missão «não é de ensinar uma sabedoria própria, mas sim de ensinar a palavra de Deus e de convidar insistentemente a todos à conversão e à santidade».(135)

Portanto, a pregação não pode reduzir-se à comunicação de pensamentos próprios, à manifestação da experiência pessoal, a simples explicações de carácter psicológico, (136) sociológico ou filantrópico; nem sequer ser excessivamente condescendente ao fascênio da retórica, muitas vezes tão habitual na comunicação às multidões. Trata-se de anunciar uma Palavra de que não é permitido dispor,dado que foi confiada à Igreja para defender, compreender e transmitir fielmente.(137)

46. Palavra e vida

A consciência da própria missão de anunciador do Evangelho, deverá pastoralmente concretizar-se de modo que o presbítero cada vez mais possa vivificar, à luz da Palavra de Deus, as diversas situações e os diversos ambientes nos quais ele desenvolve o seu ministério.

Para ser eficaz e crêvel é importante que o presbítero ó na perspectiva da fé e do seu ministério ó conheça, com um sentido crítico construtivo as ideologias, a linguagem, os laços culturais, as tipologias difundidas através dos meios de comunicação e que, em grande parte condicionam as mentalidades.

Estimulado pelo Apóstolo que exclamava: «Ai de mim se não pregar o Evangelho!» (1 Cor 9, 16), saberá utilizar todos os meios de transmissão que as ciências e a tecnologia moderna Ihe oferecem.

Certamente que nem tudo depende de tais meios ou das capacidades humanas, já que a graça divina pode conseguir o seu efeito independentemente da obra dos homens. Mas, no plano de Deus, a pregação da Palavra é, normalmente, o canal privilegiado para a transmissão da fé e para a missão evangelizadora.

Para tantos que hoje estão fora ou longe do anúncio de Cristo, o presbítero sentirá como particularmente urgente e actual a pergunta angustiante: «como poderão acreditar sem ter ouvido falar? E como poderão ouvir falar sem alguém que Ihes anuncie?» (Rom 10, 14).

Para tal fim, ele deve sentir-se empenhado pessoalmente em cultivar a Sagrada Escritura com o estudo duma s„ exegese, sobretudo patrística, e com a meditação feita segundo os diversos métodos comprovados pela tradição da Igreja, de maneira a obter dela uma compreensão animada pelo amor.(138) Por esse motivo, o presbítero tem o dever de reservar particular atenção à preparação, quer remota quer próxima, da homilia litúrgica, ao seu conteúdo, ao equilíbrio entre parte de exposição e de aplicação, à pedagogia e àtécnica de apresentar, até à boa dicção, que respeite a dignidade do acto e dos destinatários.(139)

47. Palavra e Catequese

A catequese é parte relevante desta missão evangelizadora, sendo instrumento privilegiado do ensino e da maturação da fé.(140)

O presbítero, enquanto colaborador e por mandato do Bispo, tem a responsabilidade de animar, coordenar e dirigir a actividade catequística da comunidade que Ihe est· confiada. È importante que ele saiba integrar tal actividade num projecto orgânico de evangelização garantindo, antes de mais, a comunhão da catequese da própria comunidade com a pessoa do Bispo, com a Igreja particular e com a Igreja universal. (141)

Dum modo particular, ele dever· saber suscitar a justa e oportuna responsabilidade e a colaboração em relação à catequese, quer dos membros dos Institutos de Vida consagrada e das Sociedades de vida apostólica, quer dos fiéis leigos, (142) adequadamente preparados, mostrando-lhes reconhecimento e estima pelo trabalho catequístico.

Deve pôr especial cuidado na cura da formação inicial e permanente dos catequistas. Na medida do possível, o sacerdote deverá ser o catequista dos catequistas, formando com eles uma verdadeira comunidade de discípulos do Senhor que sirva como ponto de referência para os catequisandos.

Mestre (143) e educador da fé, (144) o presbítero far· com que a catequese, sobretudo a sacramental, seja parte privilegiada da educação cristã na família, no ensino religioso, na formação dos movimentos apostólicos, etc., e que ela se dirija a todas as categorias de fiéis: crianças e jovens, adolescentes, adultos e idosos. Além disso, na transmissão do ensino catequético far· uso de todas as ajudas, subsídios didácticos e instrumentos de comunicação que possam ser eficazes a fim de que os fiéis, de maneira adaptada à sua índole, capacidade, idade e às condiçðes pràticas de vida, sejam capazes de apreender com maior plenitude a doutrina cristã e de traduzi-la na prática da maneira mais conveniente.(145)

Para tal fim, o presbítero não deixar· de ter como principal ponto de referência o Catecismo da Igreja Católica. Com efeito tal texto constitui norma segura e autêntica do ensino da Igreja.(146)

O Sacramento da eucaristia

48. O mistério eucarístico

Se o serviço da Palavra é elemento fundamental do ministério presbiteral, o coração e o centro vital desse é, sem dúvida, constituêdo pela Eucaristia, que é, sobretudo, a presença real, no tempo, do ·nico e eterno sacrifício de Cristo.(147)

Memorial sacramental da morte e ressurreição de Cristo, representação real e eficaz do único Sacrifício redentor, fonte e cume da vida cristã e de toda a evangelização,(148) a Eucaristia é princípio, meio e fim do ministério sacerdotal, uma vez que «todos os ministérios eclesiásticos e as obras de apostolado estão estrictamente unidos à Eucaristia e a ela estão ordenados».(149) Consagrado para perpetuar o Santo Sacrifício, o presbítero manifesta assim, de maneira mais evidente, a sua identidade.

Existe, com efeito, uma conexão íntima entre a centralidade da Eucaristia, a caridade pastoral e a unidade de vida do presbítero,(150) o qual encontra nela as indicações decisivas para o itinerário de santidade a que é especificamente chamado.

Se o presbítero empresta a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, a inteligência, a vontade, a voz e as mãos para, mediante o seu ministério, poder oferecer ao Pai o sacrifício sacramental da redenção, deverá fazer próprias as disposições do Mestre e viver, como Ele, sendo «dom» para os seus irmãos. Deverá por isso aprender a unir-se intimamente à oferta, colocando sobre o altar do sacrifício toda a sua vida como sinal manifestativo do amor gratuito e preveniente de Deus.

49. Celebracão

É necessário chamar a atenção para o valor cla Eucaristia insubstituível da celebração quotidiana da Santa Missa, mesmo sem a presença de fiéis.(151) Ele deve vivê-la como o momento central do dia e do ministério quotidiano, fruto dum desejo sincero e de ocasião de encontro profundo e eficaz com Cristo, e terá o máximo cuidado de ( celebrá-la com devoção e íntima participação da mente e do coração.

Numa civilização cada vez mais sensível à comunicação mediante os sinais e as imagens, o sacerdote concederá adequada atenção a tudo o que possa exaltar o decoro e a sacralidade da celebração eucarística. É importante que em tal celebração, se dê justo ressalto à qualidade e limpeza do lugar, à arquitectura do altar e do tabernáculo,(152) à nobreza dos vasos sagrados, dos paramentos,(153) do canto,(154) da música,(155) ao silêncio sagrado,(156) etc. Todos estes elementos podem contribuir para uma melhor participação no Sacrifício eucarístico. Com efeito, a escassa atenção aos aspectos simbólicos da liturgia e mais ainda o desleixo e a pressa, a superficialidade e a desordem, esvaziam-lhe o significado, enfraquecendo-lhe a função de incremento da fé. (157) Quem celebra mal manifesta a fraqueza da sua fé e não educa os outros na fé. Ao contrário, celebrar bem constitui uma primeira e importante catequese sobre o santo Sacrifício.

Por isso, o sacerdote, embora coloque ao serviço da celebração todos os seus dotes para a tornar viva e participada pelos fiéis, deve ater-se ao rito estabelecido nos livros litúrgicos aprovados pela autoridade competente, sem acrescentar, tirar ou mudar nada.(158)

Todos os Ordinários, os Superiores religiosos, os Directores das sociedades de vida apostólica e os outros Prelados, têm o dever grave, para além de dar o exemplo, de vigiar a fim de que as normas litúrgicas (concernentes à celebração da Eucaristia sejam fielmente observadas pelos seus fiéis em todos os lugares.

Os sacerdotes que celebram ou que concelebram são obrigados a usar as vestes sagradas prescritas pelas rubricas. (159)

50. Adoração eucarística

A centralidade da Eucaristia deverá mostrar-se não só mediante a celebração digna e vivida do Sacrifício, mas também mediante a adoração frequente do Sacramento, de maneira que o presbítero se apresente como modelo do rebanho também na atenção devota e na meditação assídua feita — sempre que seja possível — na presença do Senhor no tabernáculo. E desejável que os presbíteros encarregados da direcção de comunidades dediquem largos espaços de tempo à adoração comunitária e reservem ao Santíssimo Sacramento do altar, mesmo fora da missa, atenções e honras superiores a qualquer outro rito e gesto. «A fé e o amor à Eucaristia não podem permitir que a presença de Cristo no Tabernáculo permaneça solitária» (160)

Momento privilegiado da adoração eucarística pode ser a celebração da Liturgia das Horas, a qual constitui, durante o dia, o verdadeiro prolungamento do sacrifício de louvor e de acção de graças que tem na Eucaristia o centro e a fonte sacramental. A Liturgia das Horas, na qual o sacerdote, unido a Cristo, è a voz da Igreja para o mundo inteiro, será celebrada, também comunitáriamente, quando è possível e nas formas convenientes, de maneira a ser «intérprete e veículo da voz universal que canta a glóriade Deus e pede a salvação do homem» (161)

Os Capítulos canonicais devem reservar a tal celebração uma solenidade exemplar.

Todavia tanto na celebração comunitária como na individual, dever-se-à evitar sempre reduzi-la a um puro «dever» a cumprir mecanicamente como simples e apressada leitura sem a necessária atenção ao sentido do texto.

O Sacramento da penitência

51. Ministro da Reconciliação

O Espírito Santo para a remissão dos pecados é um dom do Ressuscitado aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo; a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados e a quem os retiverdes ser-lhe-ão retidos» (Jo 20, 21-23). Cristo confiou a obra de reconciliação do homem com Deus exclusivamente aos seus Apóstolos e àqueles que lhes sucedem na mesma missão. Os sacerdotes são, portanto, por vontade de Cristo, os únicos ministros do sacramento da reconciliação.(162) Como Cristo, são enviados a chamar os pecadores à conversão e a reconduzí-los ao Pai, mediante o julgamento de misericórdia.

A Reconciliação sacramental restabelece a amizade com Deus Pai e com todos os seus filhos na sua família que é a Igreja, a qual, portanto, rejuvenesce sendo edificada em todas as suas dimensões: universal, diocesana, paroquial.(163)

Não obstante a triste constatação da perda do sentido do pecado, que caracteriza largamente as culturas do nosso tempo, o sacerdote deve praticar, com alegria e dedicação, o ministério da formação das consciências, do perdão e da paz.

É, portanto, necessário que ele saiba identificar-se, em certo sentido, com este sacramento e, assumindo a atitude de Cristo, saiba abeirar-se misericordiosamente, como bom samaritano, da humanidade ferida, mostrando a novidade cristã da dimensão medicinal da Penitência, que existe em ordem à cura e ao perdão.(164)

52. Dedicacão ao ministério da Reconciliação

Em virtude do seu munus, (165) e por causa da ordenação sacramental o presbítero deverá dedicar tempo e energias a ouvir as confissões dos fiéis, os quais, como a experiência demonstra, de boa vontade vão receber este Sacramento onde houver sacerdotes disponíveis. Isto vale para toda a parte mas, sobretudo, para as Igrejas das zonas mais frequentadas e para os Santuários, onde é possível uma colaboração fraterna e responsável com os sacerdotes religiosos e com os idosos.

Cada sacerdote deve ater-se à norma eclesial que defende e promove o valor da confissão individual e a pessoal e íntegra acusação dos pecados em colóquio directo com o confessor,(166) reservando o uso da confissão e da absolvição comunitária só para os casos extraordinários e com as condições requeridas, contemplados pelas disposições vigentes.(167)

O confessor encontrará maneira de iluminar a consciência do penitente com uma palavra, que, embora breve, seja apropriada à situação concreta, de maneira a contribuir para uma renovada orientação pessoal à conversão com uma incidência profunda no caminho espiritual, também mediante a imposição duma satisfação conveniente.(168)

Em todo o caso, o sacerdote saberá manter a celebração da Reconciliação ao nível sacramental, superando o perigo de reduzi-la a uma actividade puramente psicológica ou simplesmente formalística.

Isto se manifestará, entre outras coisas, em viver fielmente a disciplina vigente acerca do lugar e ambiente das confissões.(169)

53. Necessidade de confessar-se

Como todo o bom fiel também o presbítero tem necessidade de confessar os próprios pecados e as próprias fraquezas. Ele é o primeiro a saber que a prática deste sacramento o fortalece na fé e na caridade para com Deus e para com os irmãos.

Para se encontrar nas melhores condições de mostrar com eficácia a beleza da Penitência, é essencial que o ministro do sacramento ofereça um testemunho pessoal precedendo os outros fiéis no fazer a experiência do perdão. Isto constitui também a primeira condição para a revalorização pastoral do sacramento da Reconciliação. Deste modo, é uma boa coisa para os fiéis saber e dar-se conta de que os seus sacerdotes se confessam com regularidade.(170) «toda a existência sacerdotal sofre uma queda inexorável, se lhe falta, por negligência ou por qualquer outro motivo, o recurso, periódico e inspirado por uma autêntica fé e devoção, ao Sacramento da Penitência. Num padre que não se confessasse mais ou se confessasse mal, o seu ser padre e o seu trabalho de padre ressentir-se-iam muito brevemente, e dar-se-ia conto disso a Comunidade, de que ele é pastor».(171)

54. Direccão espiritual para si e para os outros

Paralelamente ao Sacramento da Reconciliação, para o presbítero não deixará de exercer o ministério da direccão espiritual. A descoberta e a difusão desta prática, em momentos dlversos da administração da Penitência, é um grande benefício para a Igreja no tempo presente.(172) A disponibilidade generosa e activa os presbíteros para praticá-la constitui também uma ocasião importante para determinar e sustentar as vocações ao sacerdócio e às várias formas de vida consagrada.

Para contribuir para o melhoramento da sua espiritualidade é necessário que os presbíteros recebam eles mesmos a direcção espiritual. Colocando nas mãos dum sábio colega a formação da sua alma, a partir dos primeiros anos de ministério, crescerão na consciência da importancia de não caminhar sozinhos pelos caminhos da vida espiritual e do empenho pastoral. Recorrendo a este meio eficaz de formação, tão experimentado na Igreja, os presbíteros terão plena liberdade na escolha da pessoa a quem confiar a direcção da sua vida espiritual.

Guia da comunidade

55. Sacerdote para a comunidade

O sacerdote é chamado a confrontar-se com as exigências típicas dum outro aspecto do seu ministério, para além daqueles já referidos. Trata-se do cuidado da comunidade que lhe foi confiada e que se exprime sobretudo no testemunho da caridade.

Pastor da comunidade o sacerdote existe e vive para ela; por ela reza, estuda, trabalha e se sacrifica; por ela está disposto a dar a vida, amando-a como Cristo, dirigindo para ela todo o seu amor e a sua estima,(173) prodigando-se com todas as forças e sem limites de tempo por torná-la, à imagem da Igreja esposa de Cristo, cada vez mais bela e digna da complacência do Pai e do amor do Espírito Santo.

Esta dimensão esponsal da vida do presbítero como pastor fará com que ele guie a sua comunidade servindo com dedicação todos e cada um dos seus membros esclarecendo as suas consciências com a luz da verdade revelada, defendendo com autoridade a autenticidade evangélica da vida cristã, corrigindo os erros, perdoando, sanando as feridas, consolando as aflições, promovendo a fraternidade.(174)

Este conjunto de atenções, delicadas e complexas, para além de garantir o testemunho de caridade cada vez mais transparente e eficaz, manifestará também a profunda comunhão que deve estabelecer-se entre o presbítero e a sua comunidade, como prolongamento e actualização da comunhão com Deus, com Cristo e com a Igreja.(175)

56. Sentir com a Igreja

Para ser bom «guia» do seu Povo, o presbítero estará também atento a conhecer os sinais dos tempos: dos mais vastos e profundos que dizem respeito à Igreja universal e ao seu caminho na história dos homens, aos mais próximos da situação concreta da sua comunidade.

Este discernimento requer a constante e correcta actualização no estudo dos problemas teológicos e pastorais, o exercício duma sábia reflexão sobre os dados sociais, culturais e científicos que caracterizam o nosso tempo.

Na prática do seu ministério, os presbíteros saberão traduzir esta exigência numa constante e sincera atitude em sentir com a Igreja, de modo a trabalhar sempre em comunhão com o Papa, com os Bispos, com os outros irmãos no sacerdócio, bem como com os fiéis consagrados pela profissão dos conselhos evangélicos e com os fiéis leigos.

Além disso, no exercício da sua actividade, não deixarão de pedir a cooperação dos fiéis consagrados e dos fiéis leigos, de acordo com as formas legítimas e tendo em conta as capacidades de cada um.

O Celibato sacerdotal

57. Firme vontade da Igreja

Convencida das profundas motivações da Igreja teológicas e pastorais que sustentam a relação entre celibato e sacerdócio e iluminada pelo testemunho que, não obstante casos dolorosos e negativos, ainda hoje confirma o seu valor espiritual e evangélico em tantas existências sacerdotais, a Igreja reafirmou no Concílio Vaticano II e repetida mente no sucessivo Magistério Pontifício a «firme vontade de manter a lei que exige o celibato livremente escolhido e perpétuo para os candidatos à ordenação sacerdotal no rito latino» (176)

O celibato, com efeito, é um dom que a Igreja recebeu e quer guardar,convencida que ele é um bem para ela e para o mundo.

58. Motivação teológico espiritual do celibato

Como todo o valor evangélico, também o celibato consagrado deve ser vivido como novida delibertadora, como particular testemunho de radicalismo na sequela de Cristo e sinal da realidade escatológica.

«Nem todos podem compreendê-lo, mas só aqueles aos quais foi concedido. Pois, há eunucos que nasceram assim do ventre materno; há outros que foram feitos eunucos pelos homens e há outros que se fizeram eunucos por amor do reino dos céus. Quem pode compreender, compreenda» (Mt 19, 10-12 ). (177)

Para viver com amor e generosidade o dom recebido, é particularmente importante que o sacerdote compreenda desde o tempo da formação seminarística a motivação teológica e espiritual da disciplina eclesiástica sobre o celibato. (178) Este, como dom e carisma particular de Deus, requer a observância da castidade, portanto da continência perfeita e perpétua por amor do Reino dos céus, para que os ministros sagrados possam aderir mais facilmente a Cristo com coração indiviso e dedicar-se mais livremente ao serviço de Deus e dos homens.(179) A disciplina eclesiástica manifesta, antes da vontade do sujeito expressa pela sua disponibilidade, a vontade da Igreja e encontra a sua razão última no laço estreito que o celibato tem com a ordenação sagrada, que configura o sacerdote a Jesus Cristo Cabeça e Esposo da Igreja.(180)

A carta aos Efésios (cf 5, 25-27) coloca em relação estreita a oblação sacerdotal de Cristo (cf 5, 25) com a santificação da Igreja (cf 5, 26), amada com amor esponsal. Inserido sacramentalmente neste sacerdócio de amor exclusivo de Cristo pela Igreja, sua Esposa fiel, o presbítero exprime com o seu empenho celibatário esse amor que se torna também fonte fecunda de eficácia pastoral.

Portanto, o celibato não é um influxo que do exterior recai sobre o ministério sacerdotal, nem pode ser ser considerado simplesmente uma instituição imposta por lei, até porque quem recebe o sacramento da Ordem a isso se empenha com plena consciência e liberdade,(181) depois duma preparação de muitos anos, de profunda reflexão e de oração assídua. Juntamente com a firme convicção de que Cristo lhe concede este dom para o bem da Igreja e para o serviço dos outros, o sacerdote assume-o para toda a vida, reforçando esta sua vontade na promessa já feita durante o rito da ordenação diaconal.(182)

Por estas razões, a lei eclesiástica, por um lado confirma o carisma do celibato mostrando que ele está em íntima conexão com o ministério sagrado na sua dupla dimensão de relação com Cristo e com a Igreja, e por outro tutela a liberdade daquele que o assume.(183)

Por isso, o presbítero consagrado a Cristo com um novo e excelso título,(184) deve estar bem consciente de que recebeu um dom sancionado por um preciso vínculo jurídico do qual deriva a obrigação moral da observância. Tal vínculo, livremente assumido, tem um carácter teologal e moral, antes de ser jurídico, e é sinal daquela realidade esponsal que se actua na ordenação sacramental. O presbítero adquire também aquela paternidade espiritual, mas real, que se alarga de modo universal e, em particular, se concretiza na relação com a comunidade que lhe é confiada.(185)

59. Exemplo de Jesus

O celibato é, portanto, dom de si «em» e «com» Cristo à sua Igreja e exprime o serviço do sacerdote à Igreja «em» e «com» o Senhor.(186)

Permanecer-se-ia numa imaturidade permanente se o celibato fosse visto como «um tributo que se paga ao Senhor» para ser introduzido às Ordens sagradas e não, como «um dom que se recebe da sua misericórdia»,(187) como escolha de liberdade e acolhi mento agradecido de uma vocação especial de amor a Deus e aos homens.

O exemplo é o do próprio Senhor o qual, indo contra aquela que se pode considerar a cultura dominante do seu tempo, escolheu livremente viver celibatário. Na sua sequela os discípulos deixaram «tudo» para realizar a missão que Ihes foi confiada (Lc 18, 28-30).

Por esse motivo, a Igreja, desde os tempos apostólicos quis conservar o dom da continência perpétua dos clérigos e se orientou a escolher os candidatos às Ordens sagradas entre os celibatários (cf 2 Tess 2, 15; 1 Cor 7, 5; 9, 5; 1 Tim 3, 2. 12; 5, 9; Tit 1, 6. 8).(188)

60. Dificuldades e objecções

No actual clima cultural, condicionado muitas vezes por uma visão do homem destituída de valores e, sobretudo, incapaz de dar um sentido pleno, positivo e libertador à sexualidade humana, coloca-se frequentemente a pergunta sobre o valor e o significado do celibato sacerdotal ou, ao menos sobre a oportunidade de afirmar o seu vínculo estricto e a sua profunda sintonia com o sacerdócio ministerial.

Dificuldades e objeções acompanharam sempre ao longo dos séculos a escolha da Igreja Latina e de algumas Igrejas Orientais de conferir o sacerdócio ministerial só àqueles homens que receberam de Deus o dom da castidade no celibato. A disciplina das outras Igrejas Orientais que admitem o sacerdócio dos esposados, não se contrapõe à da Igreja latina. Com efeito, as mesmas Igrejas Orientais exigem todavia o celibato aos Bispos. Além disso, não permitem o matrimónio dos sacerdotes e nem permitem núpcias sucessivas aos que ficaram viuvos. Trata-se sempre e só da ordenação de homens já casados.

As dificuldades que alguns hoje apresentam,(189) fundamentam-se muitas vezes quer em argumentos pretextuosos, como por exemplo a acusação de espiritualismo desencarnado ou que a continência comporte desconfiança ou desprezo da sexualidade, ou ainda valendo-se de casos difíceis e dolorosos, quer na generalização de casos particulares. Pelo contrário, esquece-se o testemunho dado pela imensa maioria dos sacerdotes, que vivem o seu celibato com liberdade interior, com fortes motivações evangélicas, em fecundidade espiritual, num horizonte de convencida e contente fidelidade à própria vocação e missão.

É claro que para garantir e defender este dom num clima de sereno equilíbrio e de progresso espiritual, devem ser postas em prática todas as medidas que afastem o sacerdote das dificuldades possíveis.(190)

É necessário portanto que os presbíteros se comportem com a devida prudência nas relações com as pessoas cuja familiaridade pode colocar em perigo a fidelidade ao dom ou então suscitar o escandalo dos fiéis. (191) Nos casos particulares deve atender-se ao parecer do Bispo que tem obrigação de estabelecer normas precisas sobre o assunto.(192)

Além disso, os sacerdotes não deixem de seguir aquelas regras ascéticas garantidas pela experiência da Igreja e que são ainda mais exigidas nas circunstâncias actuais, pelo que evitem prudentemente frequentar lugares e assistir a espectáculos ou praticar leituras que constituam uma insídia à observância da castidade celibatária.(193) No uso dos meios de comunicação social, como agentes ou como usufrutuários, observem a discrição necessária e evitem tudo o que pode prejudicar a vocaçao.

Para guardar com amor o dom recebido, num clima de exasperado permissivismo sexual, eles deverão encontrar na comunhão com Cristo e com a Igreja, na devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria, e na consideração dos exemplos dos sacerdotes santos de todos os tempos, a força necessária para superar as dificuldades que encontram no seu caminho e agir com aquela maturidade que os torna críveis perante o mundo.(194).

A obediência

61. Fundamento da obediência

A obediência é um valor sacerdotal de primária importância. O próprio sacrifício de Jesus na Cruz adquiriu valor e significado salvífico por causa da sua obediência e da sua fidelidade à vontade do Pai. Ele «foi obediente até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 8). A carta aos Hebreus sublinha também que Jesus «aprendeu por experiência a obediência pelas coisas que sofreu» (Heb 5, 8). Pode, por isso, dizer-se que a obediência ao Pai está no próprio coração do Sacerdócio de Cristo.

Como para Cristo, assim também para o presbítero, a obediência exprime a vontade de Deus que é manifestada ao presbítero através dos legítimos Superiores. Esta disponibilidade deve ser entendida como uma verdadeira realização da liberdade pcssoal, consequência duma escolha amadurecida constantemente diante de Deus na oração. A virtude da obediência, requerida intrinsecamente pelo sacramento e pela estrutura hierárquica da Igreja, é claramente prometida pelo clérigo, primeiro no rito da ordenação diaconal e depois no da ordenação presbiteral. Mediante ela o presbítero fortalece a sua vontade de submissão entrando assim, na dinâmica da obediência de Cristo feito Servo obediente até à morte de Cruz (cf Fil 2, 7-8).(195)

Na cultura contemporânea acentua-se o valor da subjectividade e da autonomia da pessoa individual, como intrínseco à sua dignidade. Este valor, em si positivo, se absolutizado e reivindicado fora do seu justo contexto, resulta negativo.(196) Isto pode manifestar-se também no ambito eclesial e na própria vida do sacerdote, no momento em que as actividades que realiza a favor da comunidade, forem reduzidas a um facto puramente subjectivo.

Na realidade o presbítero está, pela natureza do seu ministério, ao serviço de Cristo e da Igreja. Portanto, estará disponível a acolher quanto lhe é justamente indicado pelos Superiores e dum modo particular, se não estiver legitimamente impedido, deverá aceitar e cumprir fielmente o encargo que lhe foi confiado pelo seu Ordinário.(197)

62. Obediência hierárquica

O presbítero deve uma «especial obrigação de respeito e obediência» ao Sumo Pontífice e ao Ordinário próprio.(198) Pelo facto de pertencer a um determinado presbitério, o presbítero está agregado ao serviço duma Igreja particular, cujo princípio e fundamento de unidade é o Bispo (199) que tem sobre ela todo o poder ordinário, próprio e imediato, necessário para o exercício do seu munus pastoral.(200) A subordinação hierárquica requerida pelo sacramento da Ordem, encontra a sua actuação eclesiológico-estrutural na referência ao Bispo próprio e ao Romano Pontífice, o qual detém o primado (principatus) do poder ordinário sobre todas as Igrejas particulares.(201)

A obrigação de adesão ao Magistério em matéria de fé e de moral está intrinsecamente ligada a todas as funções que o sacerdote deve desenvolver na Igreja. O procedimento contrário neste campo deve considerar-se grave, dado que produz o escandalo e a desorientação dos fiéis.

Ninguém mais do que o presbítero está consciente que a Igreja tem necessidade de normas. Com efeito, uma vez que a sua estrutura hierárquica e organica é visível, o exercício das funções que Deus lhe confiou, especialmente a de guia e a da celebração dos sacramentos, deve ser adequadamente organizado.(202)

Enquanto ministro de Cristo e da sua Igreja, o presbítero assume generosamente o empenho de observar fielmente todas e cada uma das normas, evitando aquelas formas de adesão parcial, segundo critérios subjectivos, que criam divisão e se repercutem, com notável dano pastoral, também sobre os fiéis leigos e sobre a opinião pública. Pois «as leis canónicas, por sua mesma natureza, exigem a observãncia» e requerem «que quanto é mandado pela cabeça seja observado nos membros».(203)

63. Autoridade exercida com caridade

Para que a observância da obediência se dê e para ela poder alimentar a comunhão eclesial, todos os que estão constituídos em autoridade — os Ordinários, os Superiores religiosos, os Directores de Sociedades de vida apostólica —, para além de oferecer o necessário e constante exemplo pessoal, devem exercer com caridade o seu carisma institucional, quer prevendo, quer pedindo, nos modos e ocasiões convenientes, a adesão a todas as disposições no âmbito magislerial e disciplinar.(204)

Tal adesão é fonte de liberdade, enquanto não impede, mas estimula a expontaneidade amadurecida do presbítero, que saberá assumir uma atitude pastoral se rena e equilibrada, em relação ao que está estabelecido, criando a harmonia na qual o génio pessoal se funde numa unidade superior.

64. Respeito das normas litúrgicas

Entre os vários aspectos do problema, de que das normas hoje mais nos damos conta, mereça notar-se o do respeito convicto das normas litúrgicas.

A liturgia é o exercício do sacerdócio de Cristo,(205) «o cume para o qual tende a acção da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual provém toda a sua virtude».(206) Ela constitui um âmbito onde o sacerdote deve ter particular consciência de ser ministro e de obedecer fielmente à Igreja. «Regular a sagrada liturgia compete unicamente à autoridade da Igreja, que reside na Sé Apostólica e no Bispo, segundo as normas do direito». (207) Portanto, em tal matéria, ele não acrescentará, tirará ou mudará seja o que for por iniciativa própria.(208)

Dum modo particular, isto vale para a celebração dos sacramentos, que são por excelência actos de Cristo e da Igreja, e que o sacerdote administra em nome da pessoa de Cristo e em nome da Igreja para o bem dos fiéis (209)

Estes têm um verdadeiro direito de participar nas celebrações litúrgicas tal qual como as quere a Igreja e não segundo os gostos pessoais de cada ministro e nem sequer segundo os particularismos rituais não aprovados, expressões de grupos particulares que tendem a fechar-se à universalidade do Povo de Deus.

65. Unidade de planos pastorais

É necessário que os sacerdotes, no exercício do seu ministério, não só participem responsavelmente na definição aos planos pastorais que o Bispo — com a colaboração do Conselho Presbiteral (210) — determina, mas também harmonizem com eles as realizações práticas na própria comunidade.

A sábia criatividade, o espírito de iniciativa próprios da maturidade dos presbíteros, não só não serão anulados como poderão ser adequadamente valorizados com grande vantagem para a fecundidade pastoral. Seguir por caminhos separados neste campo pode significar, não só rotura da comunhão necessária, mas também enfraquecimento da própria obra de evangelização.

66. Obrigação do hábito eclesiástico

Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, onde também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero — homem de Deus, dispensador dos seus mistérios — seja reconhecível pela comunidade, também pelo hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade de detentor dum ministério público.(211) O presbítero deve ser reconhecido antes de tudo pelo seu comportamento, mas também pelo vestir de maneira a ser imediatamente perceptível por cada fiel, melhor ainda por cada homem, (212) a sua identidade e pertença a Deus e à Igreja.

Por este motivo,o clérigo deve trazer um hábito eclesiástico decoroso, segundo as normas emanadas pela Conferência Episcopal e segundo os legítimos costumes locais.(213) Isto significa que tal hábito, quando não è o talar, deve ser diverso da maneira de vestir dos leigos e conforme à dignidade e à sacralidade do ministério. O feitio e a cor devem ser estabelecidos pela Conferência dos Bispos, sempre de harmonia com as disposições do direito universal.

Pela sua incoerência com o espírito de tal disciplina, as praxes contrárias não se podem considerar legítimas e devem ser removidas pela autoridade eclesiástica competente.(214)

Salvas excepções completamente excepcionais, o não uso do hábito eclesiástico por parte do clérigo pode manifestar uma consciência débil da sua identidade de pastor inteiramente dedicado ao serviço da Igreja(.215)

Espírito sacerdotal de pobreza

67. Pobreza como disponibilidade

A pobreza de Jesus tem uma finalidade salvífica. Cristo sendo rico fez-se pobre por nós, para que nos tornássemos ricos pela sua pobreza (2 Cor 8, 9), A carta aos Filipenses mostra a relação entre despojamento de si e o espírito de serviço que deve animar o ministério pastoral. Diz, com efeito, S. Paulo que Jesus não considerou «um bem precioso o ser igual a Deus, mas humilhou-se a si mesmo assumindo a forma de servo» (2, 6-7) Na verdade, dificilmente o sacerdote se tornará verdadeiramente servo e ministro dos seus fiéis, se estiver excessivamente preocupado com as suas comodidades e com um excessivo bem estar.

Através da condição de pobre, Cristo manifesta que tudo recebeu do Pai desde a eternidade e tudo lhe restitui até à oferta total da sua vida.

O exemplo de Cristo deve levar o presbítero a conformar-se com Ele, na liberdade interior, em relação a todos os bens e riquezas do mundo.(216) O Senhor ensina-nos que o verdadeiro bem é Deus e que a verdadeira riqueza é ganhar a vida eterna: «Que aproveita, com efeito, ao homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a sua alma?. E que coisa poderia o homem dar em troca da sua alma?» (Mc 8, 36-37).

O sacerdote, cuia parte de herança é o Senhor (cf Num 18, 20), sabe que a sua missão, como a da Igreja, se realiza no seio do mundo e que os bens criados são necessários para o desenvolvimento pessoal do homem. Porém ele usará tais bens com espírito de responsabilidade, moderação, recta intenção e distância, próprio de quem tem o seu tesouro nos céus e sabe que tudo deve ser usado para a edificação do reino de Deus (Lc 10, 7; Mt 10, 9. 10; 1 Cor 9, 14; Gal 6, 6).(2l7) Portanto, abster-se-á daquelas actividades lucrativas, que não estão de harmonia com o seu ministério.(218)

Recordando, além disso, que o dom que recebeu é gratuito, esteja disposto a dar gratuitamente (Mt 10, 8; Act 8, 18-25) (219) e a empregar para o bem da Igreja e para obras de caridade o que recebe por ocasião do exercício do seu munus, depois de ter providenciado à sua honesta sustentação e ao cumprimento dos deveres do próprio estado.(220)

O presbítero, embora não tenha assumido a pobreza com uma promessa pública, é obrigado a levar uma vida simples e a abster-se de tudo o que pode ter sabor de vaidade, (221) abraçando assim a pobreza voluntária, para seguir de mais perto Cristo.(222) Em tudo (habitação, meios de transporte, férias, etc. ), o presbítero elimine todo o tipo de requinte e de luxo.(223)

Amigo dos mais pobres, reservará para ele as mais delicadas atenções da sua caridade pastoral, com uma opção preferencial por todas as pobrezas velhas e novas, tràgicamente presentes no mundo, recordando sempre que a primeira miséria de que deve ser libertado o homem é o pecado, raiz última de todo o mal.

Devoção a Maria

68. As virtudes da Mãe

Existe uma «relação essencial... entre a mãe de da Mãe Jesus e o sacerdócio dos ministros do Filho», derivante daquela que existe entre a maternidade divina e o sacerdócio de Cristo.(224)

Nesta relação se enraíza a espiritualidade mariana de todo o presbítero. A espiritualidade sacerdotal não pode dizer-se completa se não toma seriamente em consideração o testamento de Cristo crucificado, que quis entregar a mãe ao discípulo predilecto e, mediante ele, a todos os sacerdotes chamados a continuar a sua obra de redenção.

Como a João aos pés da Cruz, assim a cada presbítero é confiada, de modo especial, Maria como mãe (cf. Jo 19, 26-27).

Os sacerdotes, que estão entre os discípulos predilectos de Jesus crucificado e ressuscitado, devem acolher Maria como sua mãe na própria vida, fazendo dela objecto de contínua atenção e oração. A sempre Virgem torna-se então a mãe que os conduz a Cristo; que os faz amar autenticamente a Igreja, que intercede por eles e os guia para o Reino dos céus.

Todo o presbítero sabe que Maria, porque mãe, é também a mais eminente formadora do seu sacerdócio, uma vez que é Ela que sabe modelar o seu coração sacerdotal, protegê-lo dos perigos, dos cansaços, dos desencorajamentos e de vigiar, com materna solicitude, para que ele possa crescer em sabedoria, idade e graça, diante de Deus e dos homens (cf Lc 2, 40).

Mas não se pode ser filho devoto se não se sabem imitar as virtudes da mãe. Portanto, para ser ministro humilde, obediente, casto e para testemunhar a caridade na doação total ao Senhor e à Igreja, o presbítero deve considerar a figura de Maria.(225)

Obra prima do Sacrifício sacerdotal de Cristo, Nossa Senhora representa a Igreja no modo mais puro, «sem mancha nem ruga», toda «santa e imaculada» (Ef 5, 27). Esta contemplação da bem-aventurada Virgem coloca diante do presbítero o ideal para o qual tender no ministério da sua comunidade, a fim de que esta seja «Igreja toda gloriosa» (ibid) mediante o dom sacerdotal da sua própria vida