A g n u s D e i

OS CANTOS DA IGREJA
Por: pe. Emmanuel André de Mesnil-St.Loup
Fonte: Lista "Reflexões"/Livro: "O Sacrifício Eucarístico"
Transmissão: Antonio Xisto Arruda

Para unir o homem a Deus, tão inclinado, desde o pecado, a se comprazer nos objetos sensíveis, a Igreja, por assim dizer, prende-o pelos sentidos. Ela impressiona os seus olhos com a beleza das cerimônias: difunde os perfumes do incenso, mas sobretudo emprega a harmonia dos cânticos sagrados.

Agindo assim, ela não sacrifica o lado interior do culto a uma pompa vã; é para adaptar-se à natureza do homem que ela reveste o culto interior dum aparato sensível, e por meio desta roupagem ela o salvaguarda. Isto é tão verdadeiro que o Concílio de Trento julgou dever defender contra o Protestantismo, por um decreto expresso, o uso das tochas do incenso, das vestes sagradas e em geral todas as cerimônias que compõem a Santa Missa. Ela recomenda todas estas coisas como provenientes da Tradição Apostólica, como muito próprias à contemplação das realidades invisíveis que constituem o seu fundo.

O Protestantismo, pelo contrário, suprimindo todas estas demonstrações exteriores, dissecava o culto, para dele afastar o povo.

Considerai por exemplo o canto. Que poder ele exerce sobre o coração do homem? Expressão de amor, ele excita a amar. Então a Igreja se dirige para o bem este formidável poder? Não lhe servirá o canto para exprimir os transportes do amor divino? Certamente que sim. Ela cantará e, cantando fará amar a Deus. E, para isso ela terá cânticos próprios e melodias próprias que não se assemelharão aos cânticos e às melodias do amor profano.

Santo Agostinho notava que os barqueiros africanos tinham um canto que lhes era peculiar, para cadenciar o movimento dos seus remos. Assim os cantos graves e religiosos, que ressoam no começo da Missa, regulam e moderam os afetos das almas, imprimindo-lhes um mesmo impulso para as coisas divinas. "A modulação destes hinos", diz São Dionísio, "depõe harmoniosamente as potências de nossa alma para a próxima celebração dos mistérios; ela reúne todas as almas juntamente, pondo-as em uníssono com as coisas divinas, submetendo-as como em cadência ao doce e unânime arrebatamento dum divino transporte"(De Eccl, hier,3,5).

Além disso, o canto, no pensamento da Igreja, traz consigo um começo de instrução; se se cantam logo no início versículos de salmos é porque segundo Dionísio, os salmos são um resumo misterioso das Escrituras, e apresentam e um quadro abreviado do símbolo, ao passo que produzem santos movimentos da alma.

Enfim, os cantos da Igreja são maravilhosamente variados, cada um tem o seu caráter próprio que o povo entende sem esforço. Ora o Sacredote que oficia, canta sozinho, ora ele entoa e o povo continua, ora deixa o povo cantar. Tudo isso, segundo Santo Tomás de Aquino, tem a sua razão de ser; se, por exemplo, o Sacerdote entoa o "Glória in Excelsis", é porque, sendo este hino uma revelação da glória celeste, compete ao sacerdote, como dispensador das coisas celestes, fazer ecoar os seus primeiros sons.

Em resumo, a Igreja procura imitar nos seus cantos a Jerusalém Celeste. São João, que a viu abrir-se aos seus olhos mortais, ouve aí ressoar o cântico novo: "era", diz ele, "como o estrondo do trovão, como a voz das grandes águias, como o concerto dos tocadores de harpa" (Apc 14,2). Este cântico novo é o cântico do amor divino; ele começa aqui na terra, misturado com gemidos: no Céu, é o eterno Aleluia.

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