A g n u s D e i

ENSINAI-NOS A AMAR VOSSA MÃE!
por: d. Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Maringá-PR
fonte: Informativo RedeVida nº 24 - mai/99

"Será que a Igreja Católica não fala demais de Nossa Senhora? O importante não é Jesus Cristo? Por que é que eu deveria amá-la?"

Participava do programa "Tribuna Independente", da RedeVida, e respondia a perguntas sobre "A Virgem Maria no Mistério de Cristo e da Igreja". O último bloco estava quase no seu final, quando veio essa pergunta de uma telespectadora que, tudo indicava, mais do que atacar a devoção à Virgem Maria, expunha-me com franqueza sua dúvida.

Minha resposta precisava ser breve e objetiva. Disse-lhe: "No centro de nossa fé está Jesus Cristo. Ser cristão é fazer o que Ele fez, e amar o que Ele amou. Pouco antes de sua morte, ao final, pois, de uma convivência de três anos com os apóstolos, disse-lhes: 'Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo' (Jo 15,12). Portanto, minha irmã, você erraria se amasse Nossa Senhora mais do que Jesus a amou aqui na terra. Enquanto, porém, não amá-la como Jesus, não poderá ficar tranqüila, porque não atingiu o ideal".

Não sei qual a repercussão que minha resposta teve na vida daquela jovem. E nem poderia sabê-lo, pois não guardei nem seu nome nem a cidade de onde era. Apesar disso, lembrei-me dela recentemente, ao ler o final da exortação apostólica pós-sinodal "Ecclesia in America", de João Paulo II. A exortação termina com uma oração a Jesus Cristo pelas famílias de nosso continente e, no final dessa prece, somos convidados a pedir: "Ensinai-nos a amar vossa Mãe, Maria, como a amastes Vós!".

Para aprendermos a amar Maria como Jesus, só há uma maneira: entrar na Escola de Nazaré. Ali, como Jesus, seremos discípulos de Maria. Que privilégio, não? Ter como Mestra sua Mãe. Maria nos ensinará que a fé "é um contato com o mistério de Deus" (RM 17); que o fato de ter sido a primeira entre as criaturas humanas admitidas à descoberta de Cristo, a ponto de ter dado início, com o Sim da Anunciação, à Nova Aliança, nem por isso seu caminho foi menos difícil: dia a dia precisou avançar "na peregrinação da fé" (LG 58). Ensinar-nos-á também que seu trabalho estará completo quando cada qual puder fazer sua a afirmação: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!" (Gl 2,20). Acredito que sua maior alegria será nos ensinar a penetrar no coração de seu Filho, para conhecer seu amor (cf. Ef 3,19) e ter seus sentimentos (cf. Fl 2,5). Na Escola de Nazaré teremos também condições de saber como Jesus olhava para Maria; que lugar ela ocupava em seu coração; como Ele espera que nós a amemos. Percebemos, com uma clareza sempre maior, que a Virgem Santíssima viveu para Ele; viveu unicamente para Ele.

Aos poucos, descobriremos que, na verdade, em sua Escola, a lição é sempre a mesma - repetitiva sim; jamais monótona: apontando-nos Jesus, nos dirá o que outrora disse aos serventes do casamento de Caná da Galiléia: "Fazei tudo o que Ele vos disser!" (Jo 2,5). E precisará nos ensinar outra coisa? ...

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