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No dia 28, Luigi e Maria Beltrami, marido e mulher, em Roma foram elevados à honra dos altares. Há 20 anos, mais exatamente
a 22 de novembro de 1981, então solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, o papa João Paulo II assinava sua célebre Exortação
Apostólica Familiaris Consortio, sobre a missão da família cristã no mundo de hoje. Além de um casal – esposo e esposa – ser
proclamado bem-aventurado, outras celebrações marcam a efeméride. Destaco duas: a primeira ocorreu entre os dias 18 a 20 de
outubro, no Centro de Congressos do Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor (imediações de Roma) sobre a Família como
sujeito social – raízes, desafios e projetos, com a participação de mais de 1.200 delegados de várias dioceses e associações
familiares italianas. Realizar-se-á a segunda neste, de 22 a 24. Será o Congresso teológico-pastoral sobre a Familiaris Consortio,
no seu vigésimo aniversário, a sua dimensão antropológica e pastoral. Promovido pelo Pontifício Conselho para a Família, Dom
José Romer, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro e eu participaremos do mesmo.
Na carta de apoio ao evento ocorrido no Centro dos Congresso sobre a Família, dirigida ao cardeal Cornélio Ruini, com data de 15
de outubro, escreveu João Paulo II: “É da família que depende o destino do homem, a sua felicidade, a capacidade de dar sentido
à sua existência”. Referindo-se à Familiaris Consortio, diz: “Há 20 anos da Exortação Apostólica, devemos agradecer a Deus os
copiosos frutos que dela derivaram para a Igreja e para a sociedade e devemos recolher os rebentos de bem que brotaram no
coração das famílias”. A correspondência acima referida trazia o título: É da família que depende o destino do homem, a sua
felicidade, a capacidade de dar sentido à sua existência.
Na variada e profunda gama de problemas que nos angustiam, em vez de apenas deplorar ou protestar, muito mais produtivo é
procurar soluções. Para isso, urge ir às raízes do mal, fortalecer os aspectos positivos que existem e, assim, enfrentar a crise
social que nos aflige. Quando descemos às origens de toda essa problemática, sempre encontramos uma causa presente nas
mais variadas situações negativas que nos afligem. Refiro-me à família, instituição que precede o Estado. Ela tem o direito de ser
protegida dos assaltos e amparada na reconstrução, quando destruída. Ao se tomar consciência de sua importância, as pessoas
devem se unir para buscar o bem-estar. Caso alcance esse objetivo, o rumo da História tomará uma outra direção. Custam – mas
vale a pena – todos os esforços nesse sentido. Antes de tudo, precisamos ter coragem para enfrentar as mais insidiosas e
violentas reações. Funciona com perfeição o que se denomina patrulhamento ideológico; usam, com habilidade, a mídia, utilizam
a opinião pública, para exercer poderosa pressão, e com êxito, junto a indivíduos de caráter fraco.
Convém lembrar que nós temos uma grande força, a verdade. A defesa dos valores da família, independente do credo religioso,
pois a sociedade doméstica tem por alicerce o direito natural. A instituição familiar merece nosso esforço, de modo particular
nesses dias em que a Exortação Apostólica Familiaris Consortio completa 20 anos. Para isso, juntamente com a ação de graças
pelos benefícios prodigalizados à humanidade, faz-se mister recordar seus ensinamentos e propugnar pela sua observância,
denunciar as investidas negativas e proclamar as normas que Deus inscreveu no coração de todo homem bem-formado. Elas
integram também as orientações e preceitos da Revelação divina.
Na Introdução (nº 3) desse valioso e oportuno documento pontifício, lemos: “A Igreja, sabedora de que o bem da comunidade
humana está profundamente ligado ao bem da família, sente, de modo mais vivo e veemente, a sua missão de proclamar a todos
o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família, para lhes assegurar a plena vitalidade e promoção humana e cristã.” O
Santo Padre trata, na Familiaris Consortio, das luzes e sombras da família, hoje, e os desígnios divinos sobre o matrimônio. Os
deveres da família cristã se fundamentam na formação antes do casamento e são aperfeiçoados nele. Há também o lar como
comunidade de pessoas a serviço da vida, ao transmiti-la e ao educar a prole. A família cristã, responsável pela cooperação no
desenvolvimento da sociedade e na missão da mesma Igreja, nesse caso, deve ser evangelizadora. Uma comunidade em diálogo
com Deus e a serviço do homem. Merece atento exame tudo o que se refere à Pastoral Familiar, como etapas, estruturas dessa
atividade e seus responsáveis. Como proceder em casos difíceis? Encontramos as orientações do magistério para situações
irregulares, até onde é possível ajudar fraternalmente. No caso de matrimônios de experiência, uniões livres, de fato, católicos
unidos só no casamento civil, os separados e divorciados em segundas núpcias ou que contraíram nova união. E, por fim, os
sem-família, que o Santo Padre considera “particularmente junto ao Coração de Cristo, dignos de afeto e de solicitude da Igreja e
dos Pastores” (nº 85).
“O futuro da humanidade passa pela família!”, diz o papa na conclusão do documento. Sem dúvida, os males em que se debate o
mundo na atualidade desaparecerão nas futuras gerações ou serão amenizados no presente, pela influência de uma família sadia.
Pensemos no terrorismo, na violência, nas drogas, nos assaltos, na corrupção política, no procedimento dos legisladores, nos
distribuidores da justiça, nos que servem à religião... todos, enfim, pecadores, hoje, recuperados total ou parcialmente, amanhã.
Um ambiente familiar sadio, com a graça de Deus, transforma o coração do homem.