A g n u s D e i

SEM TRABALHO... POR QUÊ?
por: dom David Picão (bispo da Diocese de Santos)
fonte: Informativo UniSantos nº 164 - Mar/1999

Há 36 anos, a Igreja, no Brasil, passou a dar ao tempo da Quaresma uma nota original para motivar e levar à conversão cada batizado. Não só: a comunidade como um todo, deve converter-se - É a Campanha da Fraternidade. Esta poderia ser chamada a campanha do amor. Amor a Deus. Amor aos irmãos. Deseja-se uma nova civilização que supere o egoísmo, o ódio, a vingança. Paulo VI a denominou: "civilização do amor".

Para isso, é preciso trabalhar, a fim de que seja vencido tudo aquilo que se torna um obstáculo à fraternidade. Daí, haver em cada ano, um tema especial para aprofundamento. Somos chamados a ver a realidade daquele determinado problema. Buscamos na Palavra de Deus qual o verdadeiro plano divino, as orientações do Evangelho a propósito, a fim de partirmos para novas posturas (Método Ver, Julgar e Agir).

Neste ano de 1999, a proposta de estudo, reflexão e ação é em torno da problemática do desemprego. Essa situação vem gerando fome, instabilidade e desajustes na família e na sociedade, escalada da violência, traduzida em roubos, assaltos, assassinatos...

"Sem trabalho... por quê?" - é a pergunta espontânea face ao tema "a fraternidade e os desempregados" (cf. Mt 20,1-7).

Para podermos entender bem este tema, é preciso distinguir com clareza os termos trabalho e emprego. Trabalho é condição essencial da vida humana: "dominai a terra" (cf. Gn 1,28) foi a determinação do Senhor. Por isso, temos direito ao trabalho. Devemos fazer como Deus: trabalhar sempre (cf. Jo 5,17). O emprego é a ocupação específica e remunerada em serviço particular ou público.

Assim todos temos que trabalhar. Nem todos temos que ter empregos. Para viver, porém, temos que trabalhar. Para a quase totalidade das pessoas, no entanto, a subsistência vem, em geral, por força do trabalho remunerado, através do emprego.

É preciso, pois, que a sociedade, como um todo, não permita que o emprego falte para aquelas [pessoas] que não conseguem, normalmente, trabalhar para comer.

Isso não impede que, pelo trabalho, se consiga os bens necessários. Sempre haverá alguma coisa a fazer em bem próprio, ou da família ou da comunidade...

O trabalho, de fato, foi confundido com o castigo dado por Deus: "comerás o teu pão com o suor do teu rosto" (cf. Gn 3,19) - o que significa o "peso" do trabalho é a pena. O trabalho, porém, é bênção.

Se procurarmos as causas do desemprego, analisando-as, encontraremos solução. De fato, debruçando-nos, detidamente, sobre a questão do trabalho, do desemprego, da remuneração, do sustento pessoal e familiar, veremos que todos têm direito a viver pela distribuição do fruto do trabalho, que é direito de todos. Entende-se bem isso, quando se realiza a solidariedade plena, universal.

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