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O SAQUE A ROMA
Durante a segunda guerra entre Carlos V e Francisco,
a Cidade Eterna foi invadida e saqueada pelas tropas
do Imperador. Luteranos e espanhóis protagonizaram a
mais triste das jornadas da história moderna.
Resgatamos este episódio do esquecimento e
recordamos com honra a origem da Guarda Suíça papal.
É curioso: a recente polêmica sobre em relação ao
saque a Constantinopla não trouxe à baila outro
saque acaso mais sangrento e que aconteceu no
coração mesmo do mundo civilizado. Trata-se do
ataque a Roma por parte do Imperador Carlos V, em
meio à segunda guerra contra o rei Francisco I.
O exército imperial se compunha de uns 18.000
mercenários, entre os quais a maioria era de
luteranos, com o consagrado ódio irrefreável contra
a Santa Igreja.
Em 6 de maio de 1527, tomam de assalto à Cidade
Eterna. as cenas de violência e crueldade são
inexprimíveis. O saque é cometido por tropas
ensandecidas e caotizadas pela falta de líderes. A
ambição pelo lucro e o ódio contra a religião se
convertia em uma orgia de pilhagem, violações e
torturas contra a população civil. Um manuscrito
veneziano contemporâneo relata: "O Inferno não é
nada se comparado com a visão que oferece a Roma de
hoje".
Erasmo de Roterdã, um humanista pouco suspeito de
fanatismo religioso pro-católico, escreve: "Roma não
era só a fortaleza da religião cristã, a
sustentadora dos espíritos nobres e o mais sereno
refúgio das musas; era também a mãe de todos os
povos. Porque, para muitoso, Roma era mais querida,
mas doce, mais benfazeja que seus próprios países.
Em verdade, esse episódio não constituiu tão-somente
o ocaso desta cidade, mas o do mundo".
Há cinco séculos desse triste fato, ninguém exige ao
Rei da Espanha que peça perdão à Igreja ou ao Papa
por esse atropelo. Nem nós católicos guardamos
ressentimento contra o povo espanhol ou alemão. Nos
ataques à Santa Igreja por parte de cismáticos,
hereges ou pecadores, brilha a veracidade e
autenticidade exclusivamente católica: a Igreja é
una no tempo e no espaço. Enquanto o resto das
instituições humanas se renovam, nascem e morrem, a
Igreja é eterna e imutável.
A ORIGEM DA GUARDA SUÍÇA PONTIFÍCIA
Pouco anos antes, em 1506, formava-se a Guarda Suíça
Pontifícia. Três anos antes, sua Santidade o papa
Júlio II havia solicitado a proteção dos nobres
suíços. 150 dos melhores e mais valentes nobres
desse país, procedentes dos cantões de Zurique e
Lucema, chegam à Cidade Eterna sob o comando do
capitão Kaspar von Silenem.
Esse 6 de maio de 1527, quando as tropas invasoras
assaltavam Roma, ficou marcado como o mais épico e
glorioso dentre os numerosos feitos da Guarda Suíça.
Frente à basílica de São Pedro, os cento e cinqüenta
soldados da Guarda se enfrentam com mais de mil
soldados alemães e espanhóis. Combatem ferozmente
protegendo a augusta pessoa do Soberano Pontífice. A
contenda se desenvolve nas escadas do Altar-Mor.
A bravura dessa Guarda ficou marcada a fogo na
memória da humanidade: só sobreviveram 42 dos 150
guardas papais. Formados em círculo em torno de sua
Santidade o Papa Clemente VII, logrando criar uma
via de escape a fim de colocá-lo a salvo no castelo
de Santo Ângelo. A violência do combate e o zelo
pelo Santo Padre ficou manifesto no quão caro
venderam suas vidas ao inimigo: para cada um deles,
morreram cinco oponentes; 800 inimigos caíram mortos
ante as armas suíças.
Rememorando esse heróico gesto, a cada 6 de maio os
novos "alabarderos" prestam juramento diante do Papa
e são empossados. Com a mão direita levantada, os
três dedos abertos recordam os três primeiros
cantões suíços que se reuniram em confederação:
Zurique, Uri Unterwalden e Lucema.
A bandeira da escolta pontifícia porta, desde então,
no quartel inferior as armas de Júlio II e no
superior as do Papa reinante.