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Cultuamos Maria desconhecendo alguns fatos que enriqueceram a devoção que lhe dirigimos.
Inserimo-nos automaticamente na vivência da fé, perdendo de vista a história que foi o chão
para os dogmas, as festividades e piedades atuais. Convidamos você a descobrir conosco alguns
aspectos importantes, tais como: primeiros sinais dos cultos públicos a Maria, liturgias,
imagens, devoções e festas.
O CULTO NA IGREJA ANTIGA
Não nos surpreendamos se no princípio do Cristianismo não encontramos nenhuma festa em honra à
Maria Santíssima. O culto era centrado exclusivamente na festa da Páscoa e celebração dos
mártires.
Não se pode falar de um culto à Mãe de Deus, pois estava vivo em meio aos pagãos o culto a
Cibeles, a mãe dos deuses. A grande Mãe constituía uma das imagens mais antigas da divindade
que encontramos na história das religiões.
AS IMAGENS
No Oriente, a partir do século IV, desenvolveu-se uma piedade mariana que foi crescendo nos
séculos posteriores.
Juntamente com a construção das Igrejas, entrou em uso o culto litúrgico às imagens de Maria.
A mais antiga imagem (451) se atribuía a São Lucas e representava a Virgem com uma criança
entre os braços. Nesta época, os ícones marianos se converteram em um dos objetos favoritos
dos artistas e um elemento comum nas suas casas. Todos os fiéis tinham imagens em suas
residências, os monges em suas celas; os anacoretas acendiam velas diante delas; havia
inclusive imagens nas prisões para dar força aos infelizes.
AS FESTAS
As primeiras alusões a uma festa propriamente dita em honra de Maria encontramos na Síria, nos
finais do século IV. É seguro que deve ter surgido em Antioquia, por volta de 370, tendo por
objeto uma comemoração genérica de suas virtudes, especialmente de sua integridade virginal.
Não muito tempo depois do Concílio de Éfeso (431), o qual proclamou Maria Theotókos, "Mãe de
Deus", as festas em sua honra foram organizadas em relação com os principais fatos de sua
vida. Da Igreja bizantina, transmigraram à Roma por iniciativa do Papa Sergio I; e logo se
estenderam a todas as Igrejas do Ocidente.
O CULTO NA IGREJA MEDIEVAL
Com o florescer litúrgico do século IX, as variadas formas populares de devoção mariana,
nascidas nos mosteiros como práticas privadas, e assumidas pelos fiéis começaram a se
difundir.
Neste sentido, o "Oficio Parvo" da Bem Aventurada Virgem Maria despontou. Teve início entre os
beneditinos do Monte Casino, a partir do século VIII, mas se fez popular na metade do século
XI, sob o impulso de São Pedro Damião e depois do papa Urbano II. A piedade medieval criou uma
variedade de textos de diversos gêneros: hinos, antífonas, ritmos, seqüências, trovas e
responsórios. Os atuais textos marianos que rezamos em nossa liturgia são provenientes, em sua
maioria, desta época: a Salve Regina, a Ave Maris Stella, a Alma Redemptoris e, sobretudo, a
saudação angélica sem, naturalmente, a petição final, do princípio do século XVI.
A Ave-Maria, presente nos textos do Ofício Parvo e rezada com o rito de uma genuflexão ou
prostração, com a qual ordinariamente era acompanhada, adquiriu em breve tempo uma imensa
popularidade. Aqui encontra-se a raiz do Rosário e da oração vespertina do Angelus.
O CULTO NA IGREJA MODERNA
No século XV, começa o período mais fecundo em instituições de festividades marianas. Às
quatro principais (Natividade, Anunciação, Purificação e Assunção), pouco a pouco, se
acrescentaram outras secundárias ou instituídas para comemorar alguma especial virtude sua ou
privilégio; entre estas últimas, adquiriu uma excepcional importância nos tempos modernos,
depois da definição do dogma, feita por Pio IX (1854), a festividade da Imaculada Conceição,
tornando-se mais popular pelas famosas aparições da Virgem em 1858 em Lourdes, cuja comemoração
se estendeu depois a toda a Igreja.
A devoção ao Rosário, se aperfeiçoa e se enriquece, em meio à piedade mariana extra-litúrgica.
Um dos impulsos à esta prática, foi a introdução na Alemanha (séc. IV) e em outros lugares, a
prática de recordar, em cada Ave Maria e depois a cada dezena, um mistério da vida de Nosso
Senhor e da Virgem (nasce a contemplação dos mistérios do terço).
O MÊS DE MAIO
A piedade cristã católica fomentou a dedicação do mês de maio ao louvor de Maria. A memória
mais antiga de tal prática remonta ao princípio do século XVIII. Sabemos que o padre P.
Ansaloni, S.J. ( + 1713), nos últimos anos de sua vida, costumava dirigir-se todas as tardes
de maio à igreja de Santa Clara, em Nápoles, para ouvir cantos em honra a Virgem e receber a
bênção do Santíssimo Sacramento. Encontramos este exercício também: em 1734, em Grezzana
(Verona); em 1747, em Gênova; em 1744, em Verona; em meados do século XIX, já era quase geral
no meio cristão esta prática.
Desta forma, a devoção a Maria percorreu séculos, preenchendo muitos espaços vazios no
imaginário do povo em geral. Seu culto foi se estabelecendo de forma autêntica, principalmente
junto a cultura do povo. Maria tornou-se acessível àqueles que se achavam distante da divindade
e estabeleceu o contato com o transcendental sem deixar de ser perfeitamente humana, de ser
mãe, acolhedora, forte, mulher.