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DEVOÇÃO MARIANA
Autores: Antônio Neto e Jovanês Vitoriano (sds)
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Transmissão: José Augusto

Cultuamos Maria desconhecendo alguns fatos que enriqueceram a devoção que lhe dirigimos. Inserimo-nos automaticamente na vivência da fé, perdendo de vista a história que foi o chão para os dogmas, as festividades e piedades atuais. Convidamos você a descobrir conosco alguns aspectos importantes, tais como: primeiros sinais dos cultos públicos a Maria, liturgias, imagens, devoções e festas.

O CULTO NA IGREJA ANTIGA

Não nos surpreendamos se no princípio do Cristianismo não encontramos nenhuma festa em honra à Maria Santíssima. O culto era centrado exclusivamente na festa da Páscoa e celebração dos mártires.

Não se pode falar de um culto à Mãe de Deus, pois estava vivo em meio aos pagãos o culto a Cibeles, a mãe dos deuses. A grande Mãe constituía uma das imagens mais antigas da divindade que encontramos na história das religiões.

AS IMAGENS

No Oriente, a partir do século IV, desenvolveu-se uma piedade mariana que foi crescendo nos séculos posteriores.

Juntamente com a construção das Igrejas, entrou em uso o culto litúrgico às imagens de Maria. A mais antiga imagem (451) se atribuía a São Lucas e representava a Virgem com uma criança entre os braços. Nesta época, os ícones marianos se converteram em um dos objetos favoritos dos artistas e um elemento comum nas suas casas. Todos os fiéis tinham imagens em suas residências, os monges em suas celas; os anacoretas acendiam velas diante delas; havia inclusive imagens nas prisões para dar força aos infelizes.

AS FESTAS As primeiras alusões a uma festa propriamente dita em honra de Maria encontramos na Síria, nos finais do século IV. É seguro que deve ter surgido em Antioquia, por volta de 370, tendo por objeto uma comemoração genérica de suas virtudes, especialmente de sua integridade virginal.

Não muito tempo depois do Concílio de Éfeso (431), o qual proclamou Maria Theotókos, "Mãe de Deus", as festas em sua honra foram organizadas em relação com os principais fatos de sua vida. Da Igreja bizantina, transmigraram à Roma por iniciativa do Papa Sergio I; e logo se estenderam a todas as Igrejas do Ocidente.

O CULTO NA IGREJA MEDIEVAL

Com o florescer litúrgico do século IX, as variadas formas populares de devoção mariana, nascidas nos mosteiros como práticas privadas, e assumidas pelos fiéis começaram a se difundir.

Neste sentido, o "Oficio Parvo" da Bem Aventurada Virgem Maria despontou. Teve início entre os beneditinos do Monte Casino, a partir do século VIII, mas se fez popular na metade do século XI, sob o impulso de São Pedro Damião e depois do papa Urbano II. A piedade medieval criou uma variedade de textos de diversos gêneros: hinos, antífonas, ritmos, seqüências, trovas e responsórios. Os atuais textos marianos que rezamos em nossa liturgia são provenientes, em sua maioria, desta época: a Salve Regina, a Ave Maris Stella, a Alma Redemptoris e, sobretudo, a saudação angélica sem, naturalmente, a petição final, do princípio do século XVI.

A Ave-Maria, presente nos textos do Ofício Parvo e rezada com o rito de uma genuflexão ou prostração, com a qual ordinariamente era acompanhada, adquiriu em breve tempo uma imensa popularidade. Aqui encontra-se a raiz do Rosário e da oração vespertina do Angelus.

O CULTO NA IGREJA MODERNA No século XV, começa o período mais fecundo em instituições de festividades marianas. Às quatro principais (Natividade, Anunciação, Purificação e Assunção), pouco a pouco, se acrescentaram outras secundárias ou instituídas para comemorar alguma especial virtude sua ou privilégio; entre estas últimas, adquiriu uma excepcional importância nos tempos modernos, depois da definição do dogma, feita por Pio IX (1854), a festividade da Imaculada Conceição, tornando-se mais popular pelas famosas aparições da Virgem em 1858 em Lourdes, cuja comemoração se estendeu depois a toda a Igreja.

A devoção ao Rosário, se aperfeiçoa e se enriquece, em meio à piedade mariana extra-litúrgica. Um dos impulsos à esta prática, foi a introdução na Alemanha (séc. IV) e em outros lugares, a prática de recordar, em cada Ave Maria e depois a cada dezena, um mistério da vida de Nosso Senhor e da Virgem (nasce a contemplação dos mistérios do terço).

O MÊS DE MAIO

A piedade cristã católica fomentou a dedicação do mês de maio ao louvor de Maria. A memória mais antiga de tal prática remonta ao princípio do século XVIII. Sabemos que o padre P. Ansaloni, S.J. ( + 1713), nos últimos anos de sua vida, costumava dirigir-se todas as tardes de maio à igreja de Santa Clara, em Nápoles, para ouvir cantos em honra a Virgem e receber a bênção do Santíssimo Sacramento. Encontramos este exercício também: em 1734, em Grezzana (Verona); em 1747, em Gênova; em 1744, em Verona; em meados do século XIX, já era quase geral no meio cristão esta prática.

Desta forma, a devoção a Maria percorreu séculos, preenchendo muitos espaços vazios no imaginário do povo em geral. Seu culto foi se estabelecendo de forma autêntica, principalmente junto a cultura do povo. Maria tornou-se acessível àqueles que se achavam distante da divindade e estabeleceu o contato com o transcendental sem deixar de ser perfeitamente humana, de ser mãe, acolhedora, forte, mulher.