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SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA

Autor: Leon Clugnet
Fonte: Enciclopédia Católica (1913)
Tradução: Sandra Katzman

Virgem e mártir cuja festa é celebrada na Igreja Latina e em várias igrejas Orientais em 25 de novembro, e que por mais de seis séculos foi objeto de uma devoção bastante popular.

De berço nobre e letrada em ciências, quando tinha apenas 18 anos de idade, Catarina apresentou-se ao imperador Maximinus que tinha violentamente perseguido os cristãos, e repreendeu-lhe pela crueldade e tentativa de provar como era o culto aos falsos deuses. Surpreendido pela audácia da jovem moça, mas incompetente para disputar com ela em assuntos de cultura, o tirano deteve-na em seu palácio e convocou numerosos eruditos a quem ele ordenou que usassem todas as suas habilidades em raciocínio especial para que deste modo Catarina fosse levada a apostatar. Mas ela saiu vitoriosa do debate. Vários dos adversários dela, vencidos pela sua eloquência, declaram-se cristãos e foram mortos. Furioso e transtornado, Maximinus ordenou que Catarina fosse açoitada e depois aprisionada. Enquanto isso, a imperatriz, desejosa de ver esta jovem tão extraordinária, foi com Porfirio, o chefe das tropas, visitá-la em sua prisão; eles, por sua vez, ao ouvirem as exortações de Catarina, creram, foram batizados, e imediatamente receberam a coroa do martírio. Logo depois, a santa, que longe de abandonar a fé, realizara tantas conversões, foi condenada a morte na "roda", mas, ao seu toque, este instrumento de tortura foi milagrosamente destruído. O imperador, incontrolavelmente enfurecido, então ordenou que ela fosse decapitada e os anjos carregaram seu corpo para o Monte Sinai onde mais tarde uma igreja e um monastério foram construídos em sua honra. Estes foram os Atos de Santa Catarina.

Infelizmente, não possuímos estes atos em sua forma original, mas transformados e distorcidos pelas descrições fantásticas e difundidas que são devidos totalmente à imaginação dos narradores que eram mais negligentes na declaração dos fatos autênticos do que na maneira de encantar seus leitores pelos contos maravilhosos. A importância ligada a lenda desta mártir através da Idade Média explica o ardor e o cuidado com os quais nos tempos modernos os textos antigos gregos, latinos e árabes nos quais ela é contada são lidos e estudados atentamente, e uma preocupação que desde então os críticos têm expressado. Vários séculos atrás quando a devoção aos santos era estimulada pela leitura de narrações hagiográficas extraordinárias, cujo valor histórico ninguém era qualificado para questionar, Santa Catarina foi investida pelo povo católcio com uma auréola de poesia encantadora e poderes milagrosos.

Nivelada junto com Santa Margarete e Santa Bárbara como uma das catorze santas que mais ajudam no céu, ela foi incessantemente louvada por pregadores e cantada pelos poetas. É fato bastante conhecido que Bossuet dedicou a ela uma de suas mais belas panegíricos e que Adão de São Vitor escreveu uma poema magnificente em sua honra: "Vox Sonora nostri chori", etc. Em muitos lugares sua festa era celebrada com a mais extrema solenidade, com interrupção do trabalho servil e devoções dos povos. Em várias dioceses da França esta festa era observada como dia santo de obrigação até o começo do século dezessete, o esplendor do cerimonial ofuscava o das festas de alguns dos apóstolos. Capelas incontáveis foram colocadas sob sua proteção e sua estátua era encontrada em quase todas as igrejas, representando-na junto da roda, seu instrumento de tortura, de acordo com a iconografia medieval.

Devido a várias ocasiões em sua vida, São Nicolau de Mira, que foi considerado patrono dos jovens bachareus e estudantes, Santa Catarina tornou-se a padroeira das senhoritas e moças estudantes. Considerada como a mais santa e mais ilustre das virgens de Cristo, era natural que ela, entre todas as outras, fosse merecedora do posto de protetora das virgens da clausura e das jovens do mundo.

A roda pontuda, sendo o emblema da santa, fez com que mecânicos e consertadores de roda se colocassem sob sua proteção. Finalmente, de acordo com a tradição, ela não só permaneceu virgem e conquistou seus executores desgastando a paciência deles, mas também triunfou na ciência calando a boca dos sofistas, e assim sua intercessão era implorada pelo teólogos, apologistas, oradores de púlpito, e filósofos. Antes de estudar, escrever, ou pregar, eles suplicavam-lhe que iluminasse suas mentes, guiasse suas canetas, e colocasse eloquência nas suas palavras. Esta devoção a Santa Catarina que assumiu proporções tão vastas na Europa depois das Cruzadas, recebeu uma reputação adicional na França no começo do século XV, quando correram rumores de que ela tinha aparecido a Joana D'Arc e, junto com Santa Margarete, tinha sido divinamente designada conselheira de Joana D'Arc.

Embora hagiógrafos contemporâneos tenham considerado a autenticidade de vários textos contendo a lenda de Santa Catarina mais do que duvidosa, isto não significa que exista sombra de dúvida sobre a existencia da santa. Mas a conclusão alcançada quando estes textos foram cuidadosamente estudados é que, se os fatos principais que formam o perfil forem aceitos como verdade, a multidão de detalhes com os quais estes fatos quase são obscurecidos, a maioria da narrativas maravilhosas com as quais eles são adornados, e os discursos longos que são colocados na boca de Santa Catarina, devem ser rejeitados como invenção, pura e simples. Um exemplo para ilustrar: embora todos estes textos mencionem a translação do corpo da santa para o monte Sinai, os itinerários dos peregrinos antigos que visitavam o Sinai não contêm a mínima alusão a ele. Mesmo no século dezoito Dom Deforis, o beneditino que preparou uma edição das obras de Bossuet, declarou que a tradição seguida por este orador em seu panegírico sobre a santa, como sendo em grande parte falsa, e foi exatamente nesta época que a festa de Santa Catarina desapareceu do Breviário de Paris. Desde então a devoção a virgem de Alexandria perdeu sua popularidade anterior.