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Na noite do Sábado Santo, damos início à festa da Páscoa, cujo domingo coroa o tempo litúrgico da Quaresma, iniciado na
Quarta-feira de Cinzas. Ela é de extraordinário valor para a vida religiosa, pois nos faz viver a vitória de Cristo, que nos
garante a salvação. Fomos remidos, o pecado foi derrotado, nasce para a humanidade uma nova época. Lavados pelo
sangue de Jesus, infinitos horizontes se abrem. Embora continuem os efeitos do mal, este foi superado. O cristão, com o
Ressuscitado, caminha seguro, confiante no poder de Quem derrotou a morte. Essa solenidade, colocada no ápice do ano
litúrgico, nos convida ao otimismo em meio às provações da vida presente.
Há indícios de que os fiéis já celebravam essa festa na era apostólica. A partir do século II, encontramos documentação que
nos mostra sua existência no calendário religioso. As informações se referem à doutrina e à cerimônia litúrgica. No governo
do papa Vítor, morto no ano 199, surgiu um problema, uma divisão. A data deveria ser o dia da morte ou da ressurreição?
No século IV, foi introduzida, na quinta-feira anterior, a lembrança da instituição da Eucaristia.
No decorrer dos séculos, recebe aperfeiçoamentos. A Páscoa permanece sempre o ponto alto da solenidade iniciada pela
Vigília. As trevas são vencidas pela luz do dia e nós vivemos o significado do grande acontecimento: a Ressurreição do
Senhor.
Em conseqüência, hoje nós nos inserimos em fatos ocorridos à época dos apóstolos. E nos é transmitida a mesma
mensagem de então: Páscoa, fonte de esperança e otimismo! A vitória de Cristo não deve ser vista apenas como a
superação da morte, último e indecifrável desfecho da passagem de cada ser humano, no tempo. Inclui todas as
contradições, ilusões, derrotas, decepções que marcam o percurso entre o nascimento e a morte.
O Concílio Vaticano II, na sua Constituição Pastoral Gaudium et Spes (nº 10), diante das interrogações mais profundas do
gênero humano, nos ensina: "A Igreja, porém, acredita que Cristo, morto e ressuscitado para todos, pode oferecer ao
homem, por seu Espírito, a luz e as forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema".
Nas aflições de uma sociedade que parece ter enlouquecido, pensemos em Jesus, traído por um de seus amigos (Judas),
negado por outro (Pedro), abandonado por todos os apóstolos, menos um, o mais jovem, João. Experimentou a solidão e
angústia de tantos doentes sem amparo, velhos, esquecidos pelos seus familiares mais próximos, um mundo sem esperança.
Paulo sintetiza os dias do Salvador, que antecederam sua morte e Ressurreição, com essas palavras: "Ele, que não conhecia
o pecado, foi feito pecado" (2 Cor 5,21). Só uma coisa lhe restava, o Pai. E este se calava. Ninguém, nessa noite de
sofrimento, de cruel agonia, poderá destruir a confiança de Jesus, e esta foi confirmada na hora de sua gloriosa Ressurreição.
A Páscoa é o atestado de garantia do ensinamento de Jesus, do exemplo dado durante toda a sua vida. Dela, surgem
verdadeiramente a esperança, o abandono total ao Senhor, a paz autêntica, a força para sempre recomeçar, quando
erramos o caminho e nos afastamos de Deus. Por isso, ao sair do túmulo e aparecer a seus apóstolos, envergonhados por
seu comportamento, o Mestre lhes apresenta a incomparável mensagem pascal, na qual tudo se resume: "A paz esteja
convosco! A paz!" (Lc 24,36; Jo 20,21.26).
O homem moderno, ofuscado pelo progresso e, ao mesmo tempo, confuso pela descoberta de ser falso o brilho do ouro
que o encanta, constata o erro. A Páscoa lhe oferece o fato histórico de Cristo ressuscitado, vencedor da morte, a única
resposta que não engana: eu carreguei teu pecado, eu me curvei sob o peso de tua culpa, eu vivi tua agonia, abri a porta do
céu, o caminho até o coração do Pai."Eu vos dou a paz, a minha paz, não como o mundo a dá" (Jo 14,27).
Na Ressurreição de Cristo, encontramos a fonte do otimismo, ao receber a certeza de que a culpa do mundo pode ser
absolvida. Há bondade no coração dos homens, pois o Nazareno inspira, no íntimo dos que amam a luz eterna, o amor e o
perdão do Pai eterno. Ao morrer, não estamos mais sob o signo da maldição. Somos participantes da força redentora de
Jesus. No Calvário foi acesa a chama da esperança, que jamais se extinguirá. O túmulo aberto inaugurou uma nova era para
a humanidade. O homem, mesmo pecador, ao arrepender-se de sua falta, é capaz de renová-la. A mais profunda solidão
desaparece em contacto com o Cristo vitorioso. A paz da Páscoa esteja convosco!
A festa máxima da Liturgia nos faz reviver a certeza da superação do bem sobre o mal e nos aponta um múnus a cumprir:
Cristo foi enviado pelo Pai com a missão de salvar o gênero humano, desviado pela desobediência. E, ao mesmo tempo,
esse tesouro adquirido pelo Sangue do Cordeiro imaculado é confiado à Igreja, com a ordem de fazê-lo chegar aos confins
da terra. O Concílio Vaticano II em Sacrosanctum Concilium (nº 6): "Ele enviou os apóstolos cheios do Espírito Santo , não
só para que, pregando o Evangelho (...), mas também para que realizassem a obra da salvação que anunciavam, mediante o
sacrifício e os sacramentos".
Por tradição apostólica, esse fato extraordinário da vitória do Messias sobre a morte, a Igreja celebra, ao longo do ano, "o
mistério pascal todos os oito dias, no dia que se denomina "dia do Senhor", o domingo" (idem, nº 106).
A Ressurreição de Cristo assegura a cada um de nós, seus humildes seguidores, a certeza de superar os males, no presente
e alcançar a paz eterna do seio de Deus.