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De repente, acontece com vocês o que já se deu em milhões de lares como o
seu. Sua filha vai ser mãe e a criança não terá um pai. Ou porque o moço não
assume, ou porque ela não deseja casar, ou porque ela tem outro conceito de
família e de maternidade; o fato é que, com ou sem pílula, milhares de moças
(fala-se de 400.000 por ano no Brasil) tornam-se mães solteiras. Terão o
filho sozinhas.
Sua adrenalina corre solta, vocês choram, empalidecem, as pernas bambeiam,
vem aquele mau gosto na boca, a raiva, às vezes, toma conta sobretudo do
pai, a mãe se enche de amargura e os dois acabam dizendo coisas que
normalmente não diriam a uma filha, mas isso porque ela fez uma coisa que
normalmente uma filha sua não faria ... Todos entram em crise.
E daí? O que se faz quando isso acontece? O jeito é aprender junto com a
filha: ela descobrirá como ser mãe sem fundar um lar e vocês como ser pais
de mãe solteira e avós de neto sem pai. Não é tudo normal nem tranqüilo,
quanto certas revistinhas de artistas dão a entender, até porque a maioria
das moças não têm cabeça feita nem vida independente como as atrizes que se
vangloriam de não terem casado. Há que se ter estrutura para enfrentar o que
ainda é tabu e ainda é difícil, apesar da licenciosidade da atual sociedade
brasileira.
Uma coisa é certa: agredir a moça, puní-la desmensuradamente, é quase o
mesmo que punir a criança. Vocês tornariam a gravidez dela muito mais
difícil e teriam alguma responsabilidade, caso a criança sofresse as
conseqüências da tensão da mãe. São sábios os pais que assumem tudo com a
filha, mesmo sofrendo com ela e que suavizam ao máximo o drama da moça (elas
todas sofrem, mesmo que escondam o sofrimento). São imaturos os pais que se
desequilibram e descarregam sua frustração na filha grávida e, por tabela,
no neto ou neta intrusos ... Aquelas clássicas palavras sujas e feias não
podem, em absoluto, freqüentar o dicionário de sua casa. Não diga coisas
pesadas à moça. Não agrida, nem quando for agredido. Nem marido e mulher. E
não se agridam por causa dela. Se alguma coisa vai salvar esta filha, esta
criança e esta gravidez, esta coisa é a ternura e o perdão.
Está claro que vocês não devem cair no extremo da tolice, como expulsar a
filha, mandar para longe, ou fazer uma festa como se fosse a coisa mais
linda do mundo. Há maneiras bem mais lindas de se ter um filho e é bom que
sua filha saiba disso. Mas o clima de paz e de diálogo pode corrigir muito
sofrimento nesse assunto de família com filha grávida e sem marido.
Tabú ou bandeira, besteira ou tolice religiosa, preconceitos sociais tolos
ou não, o fato é que a psique da moça e a de vocês mudam muito na hora de
uma gravidez fora do lar. E o aprendizado dos pais da mãe solteira só tem
sentido quando param de se culpar ou de culpar a filha e assumem com a filha
as dores dessa maternidade fora do compasso religioso e social, mas nem por
isso, fora da religião ou da sociedade. É um desvio, mas e daí? Vai ser
corrigido com outro? Não. Por isso, pensem muito. Por um tempo, o lar de sua
filha mãe solteira é o lar dos pais. Um dia, ela terá o dela. Talvez até já
tenha o seu próprio apartamento, mas vai precisar de companhia naqueles dias
difíceis da gestação e do puerpério. Que estejam lá a mãe, a avó, o pai e o
avô. Sem lar é que a criança não poderá ficar.
E quando for a hora de desabafo sereno e meigo, desabafem. Mas por tudo o
que carregam de mais caro, olhem para a filha como mãe de uma criança e não
apenas como mulher sem marido. Do resto, Deus cuida. Só não deixem que a
decepção governe suas vidas. Pais de mãe solteira não podem ser cruéis, nem
ausentes. Sejam pais pela segunda vez ou terceira vez. Gestem outra vez esta
menina e assumam com ela o peso desse tipo de maternidade. Será bom para
ela, será bom para vocês. E o que é mais importante: será bom para a
criança.