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O "MAL MENOR"
A Igreja e o Uso do Preservativo

Autor: Rafael Vitola Brodbeck
Fonte: Lista "Tradição Católica"
Transmissão: Antonio Xisto Arruda

Com a chegada do Carnaval, a polêmica retorna. Campanhas do Ministério da Saúde incentivando o uso da chamada camisinha, explodem aos montes. Do outro lado, bispos e prelados católicos nacionais condenam a excelsa confiança num instrumento não tão confiável para o controle da disseminação da doença, e que, ao mesmo tempo, motiva a população a continuar em sua irresponsabilidade: "posso fazer o que quiser, desde que use preservativo."

Os inimigos da Igreja, os acostumados a não prestar atenção na voz dos seus pastores, e os "católicos à sua moda" (ditos liberais, agnósticos, modernistas e outros bichos), armam-se de vários argumentos para contra-atacar a denúncia católica. Alguns desses raciocínios, concedo, são algo inteligentes. A grande maioria, entretanto, é totalmente desprovida de qualquer noção de lógica, ferindo o bom senso de quem ainda o conserva nesses tempos difíceis de imbecilidade coletiva.

A primeira grande desculpa que se ouve é que a Igreja deveria cuidar dos seus assuntos religiosos e não se meter em questões de saúde. Ora, com isso é bastante fácil concordar. E o faço. Ocorre que o uso do preservativo e o seu incentivo por parte de organismos governamentais, não é mera questão de saúde pública, mas de moral, pois trata do comportamento humano. E o tópico moral faz parte da gama dos assuntos religiosos. Tratar da camisinha é assunto religioso sim. Podem o Ministério da Saúde e os apregoadores do sexo livre não concordar com a posição católica, mas devem, ao menos, dar liberdade para que a Igreja fale e expresse não uma opinião, mas aquilo que ela julga ser a vontade de Deus.

Muito me espanta que não-católicos e católicos não-praticantes (uma falácia) recebam, não sei de quem, uma investidura para julgar a Igreja e dizer o que ela deve ou não fazer. Não sabem eles que a Igreja não deve pregar aquilo que agrada, mas o que ela recebeu como doutrina e pensa ser o correto. Seria incoerente se, de uma hora para outra, mudassem o Papa e os bispos todo o objeto da fé.

Como segundo artifício, pretendem demonstrar - principalmente os católicos liberais, como alguns sacerdotes não afinados com a Teologia clássica - que o uso da camisinha encontra guarida na própria Filosofia cristã, amparado pelo princípio do mal menor. Se há dois males, dizem, deve-se optar pelo menor, pois o maior é o risco de ser contaminado pelo HIV.

Permita-me, caro leitor, a fim de não ofender sua inteligência, demonstrar em que consiste, de verdade, a doutrina do mal menor. Sempre que há duas ou mais situações, em que delas somente se espera o mal como fruto, deve-se optar pela ação ou omissão que gere um de menor potencial. Note: não se trata de aprovação do mal menor, mas de aceitação de que não se pode evitá-lo e tentativa de impedir um dano maior.

Transportemos o princípio do mal menor para a questão em debate. Há um mal: o pecado contra a Lei de Deus, que consiste em usar de método artificial para impedir a gravidez, associado a outro, a luxúria. E um segundo mal: uma eventual morte pela contaminação da doença. Se fossem apenas essas as opções, teríamos dois males. E pretendem nossos adversários que o mal menor, em face da AIDS, seja o uso do preservativo. Ora, entre a morte do corpo e a morte da alma (o pecado), optar por essa segunda é mal maior! O pecado é sempre um mal maior! Ainda mais quando a contaminação é algo não certo, e a ofensa a Deus o seja (some-se a isso, que o uso do preservativo, segundo vários estudos internacionais, não é completamente seguro para prevenir a AIDS).

Não bastando, todavia, a demonstração do equívoco na mudança radical da valoração dos males, apresento meu desfecho: mesmo que meu argumento estivesse errado, o princípio do mal menor não pode ser invocado no caso em tela. Se houvesse apenas condutas más, seria justo. Contudo, além de usar o preservativo (pecando, pois, contra a fidelidade, e contra a pureza pelo sexo antes do matrimônio), e expor-se à contaminação (o que também é um mal, não nego, mas menor do que a ofensa a Deus), existe uma terceira opção, que o mundo aprendeu a esquecer. É a castidade, o uso das faculdades sexuais segundo cada estado de vida: ao casado, a vivência plena do amor matrimonial responsável, com o sexo como uma entrega mútua dos esposos; ao celibatário, a renúncia do prazer venéreo para a santificação pessoal; ao solteiro, a abstinência rumo a um casamento santo.

Pode a Igreja pregar no deserto, sem uma só alma a escutá-la. Mas, ela não irá trair a vocação que recebeu de seu Divino Fundador, Nosso Senhor Jesus Cristo.